Capítulo 449: Que horas são?

Nick parou diante da Unidade de Contenção e se preparou.

Ele respirou fundo.

Então, fechou os olhos e abriu a porta.

Nick não conseguia ver nada dentro da Unidade de Contenção devido aos olhos fechados, o que o deixou bastante nervoso.

Caminhar em direção a uma ameaça de olhos fechados ia contra todos os instintos humanos.

Nick fechou a porta atrás de si e caminhou para a direita com os braços estendidos.

Squelch!

De repente, Nick tocou algo viscoso e macio, e fez o possível para não abrir os olhos.

Ele moveu a mão ao redor, tentando passar por aquela coisa pegajosa.

No entanto, a gosma parecia não ter fim.

— KI KI KRRR KI KRRR KIKI KI KRRRKII KI KI!

Um som alienígena, semelhante ao de um inseto, veio diretamente à sua frente.

Era extremamente agudo, abrupto e alto.

Nick não fazia ideia de que tipo de criatura poderia emitir tal som.

No entanto, ele manteve os olhos fechados e continuou procurando pela parede.

Eventualmente, ele passou por qualquer coisa que estivesse à sua frente e finalmente conseguiu tocar a parede.

— O que você está fazendo aqui? — a voz inocente de uma garotinha perguntou ao lado de Nick.

No entanto, Nick não respondeu e apenas continuou procurando com a mão.

— NÃO TOQUE ISSO! — a voz grave de um homem gritou.

A mão de Nick se contraiu por um instante, mas, um momento depois, ele voltou a procurar.

Finalmente, encontrou o canto!

Nick caminhou até o canto e se sentou.

— A morte não passa de um alívio temporário da tortura — um coro de vozes falou atrás de Nick.

Nick não se virou.

BOOOOOM!

O som de uma explosão massiva ecoou atrás de Nick, e ele até sentiu seu cabelo ser sacudido pela onda de choque.

Ainda assim, ele não se virou.

Squelch.

— AAAAAHHHH!

O som de algo afiado perfurando carne ecoou por toda a Unidade de Contenção, acompanhado pelo grito estridente de uma mulher agonizante.

— Me desculpa! Me desculpa! Por favor, não me ignore! Eu nunca mais vou fazer isso! — um garotinho gritou.

No momento seguinte, Nick sentiu algo incomparavelmente macio tocar a parte de trás de seu pescoço.

Seu corpo estremeceu, mas Nick não se moveu.

— Ah, vamos lá — uma voz rouca feminina sussurrou em seu ouvido. — Você não quer dar uma espiada?

— Eu posso ser o que você quiser.

Nick não fez nada.

— Ah, a propósito. Que horas são? — uma voz masculina casual perguntou.

Silêncio.

— Alô? Estou falando com você!

Silêncio.

— Cara, eu não estou fazendo meu truque agora. Eu genuinamente só quero saber as horas. Você pode olhar sem ser atacado.

Silêncio.

Um suspiro.

— Eu entendo que você não quer me olhar, já que eu sempre ataco quem me olha, mas, poxa. Eu só quero saber as horas. Você nem precisa me olhar. Só me diz.

Silêncio.

— Só confia em mim uma vez, tá? Você é bem forte. Eu posso sentir isso. Na pior das hipóteses, temos um pequeno embate e pronto. Se isso acontecer, pelo menos você vai saber que não deveria ter olhado ou algo assim.

— Eu só quero saber que horas são. É meio importante.

Silêncio.

— Vamos lá, cara. Eu fico sozinho aqui o dia todo. Você sabe o quão entediante isso é? Só quero conversar um pouco.

Silêncio.

Mais silêncio.

Minutos de silêncio.

— AAAAAAAAAAHHHHHHH!

Um grito aterrorizantemente alto diretamente no ouvido de Nick.

Seu corpo tremeu, mas foi só isso.

Silêncio.

— AAAAAHHH!

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

— AAAAAHHH!

— AAAAHHHH!

Silêncio.

“Acho que essa é a última fase”, Nick pensou.

Ele sabia o que estava acontecendo, mas ainda assim estava agitado.

Esse Espectro ganhava poder ao ser percebido, mas ignorado, o que era engraçado, já que fazia de tudo para não ser ignorado.

Se quisesse ser percebido, mas ignorado, bastaria continuar sussurrando atrás de Nick ou movendo lentamente qualquer coisa ao longo de suas costas.

Em vez disso, usava todas as artimanhas possíveis para fazer Nick responder ou olhá-lo, exceto atacá-lo diretamente.

De acordo com a documentação, era excepcionalmente hábil em imitar todos os tipos de sons e vozes, e usava essa habilidade para fazer suas vítimas olharem para ele.

Depois disso, as matava.

Provavelmente, esse era um dos Espectros mais estranhos que existiam devido à sua natureza contraditória.

Agia como se quisesse matar sua única fonte de poder, o que era bizarro.

Todo outro Espectro queria manter sua fonte de alimento estável e constante.

Mas esse ativamente provocava as pessoas para que olhassem para ele, o que ia contra o que qualquer outro Espectro queria: se tornar mais poderoso.

De certa forma, esse Espectro era muito parecido com o Carente de Atenção, embora a semelhança se baseasse no contraste entre os dois.

Era engraçado e irônico como o que queria ser visto na verdade não dizia ou fazia nada para chamar atenção, enquanto o que queria ser ignorado fazia de tudo para ser notado.

“Sério, esse aqui é quem deveria se chamar Carente de Atenção. Não o outro”, Nick pensou enquanto mais um grito estridente soava ao lado de seu ouvido direito.

Trabalhar com esse Espectro era sempre a mesma coisa.

Primeiro, ele fazia o possível para chamar a atenção de alguém.

Usava gritos, sons, súplicas, ameaças e todo tipo de distração.

E quando percebia que não conseguiria atenção, voltava-se para a estratégia mais irritante do mundo.

Ninguém sabia se fazia isso porque achava que era sua melhor chance de ganhar atenção ou se era apenas para se vingar e perturbar o Extrator trabalhando com ele.

Ele simplesmente ficava em silêncio e imperceptível por um período aleatório de tempo, variando de um segundo a uma hora.

Então, soltava um grito ensurdecedor no ouvido da pessoa e ficava em silêncio novamente.

E repetia isso indefinidamente.

Trabalhar com ele não era muito perigoso, já que manter os olhos fechados era algo relativamente fácil, mas era provavelmente uma das coisas mais frustrantes e exasperantes de se fazer.

Os sustos constantes de alguém gritando em seu ouvido eram absurdamente irritantes.

“Agora eu entendo por que a Anatomy nomeou esse de O Irritante.”

— AAAAAHHH!