Índice de Capítulo

    — Papai! — gritou animado um garotinho quando seu pai entrou pela porta.

    O homem riu um pouco ao empurrar de leve o filho ansioso para o lado. — Espera o papai tirar o manto primeiro.

    O garoto deu um passo para trás, pulando de expectativa para abraçar o pai.

    O homem pendurou o casaco no cabide antes de erguer o filho nos braços.

    Deu um beijo rápido em sua testa, e o menino envolveu o pescoço do pai com os bracinhos.

    — Você precisa aprender um pouco de paciência — disse o pai. — Com paciência suficiente, tudo vem naturalmente.

    Mas o garoto não se importava com isso.

    Depois de se saudarem, o pai colocou o filho no chão e seguiu para a sala de estar.

    Ao entrar, teve que assobiar, impressionado.

    — É alguma ocasião especial, ou por que tem tanta comida assim aqui? — perguntou ao olhar para a mesa farta.

    Uma bela mulher de cabelos negros estava ao lado da mesa com um sorriso convencido.

    — Impressionante, né? — disse ela. — Tive vontade de cozinhar um pouco mais hoje.

    O homem riu e se aproximou da esposa.

    Trocaram um beijo rápido e se abraçaram com carinho.

    — Posso comer agora? — perguntou o garoto, ansioso.

    — Querido, o que seu pai acabou de te dizer? — perguntou a mulher, olhando para o filho.

    — Paciência… — resmungou o menino.

    O pai riu e se sentou. — Não vamos deixá-lo esperando demais. Estou morrendo de fome.

    Os três começaram a comer.

    — Isso está maravilhoso — disse o pai.

    — Eu sei — respondeu a mãe com um sorriso convencido. — Como foi o trabalho?

    O pai suspirou. — Difícil. Ainda não encontrei nenhuma pista. Alguém pensaria que haveria toneladas de Espectros na Cidade Externa, mas mal tem algum.

    — Por que não está procurando nos Dregs? — perguntou a mãe.

    — Não é uma opção. Há ainda mais Investigadores nos Dregs, e as gangues complicam tudo.

    O pai parou de comer.

    — Além disso, dói só de olhar para as pessoas que vivem lá. Há sofrimento por todo lado.

    O clima na sala ficou um pouco mais pesado.

    — Ah, você fez mais desenhos? — perguntou o pai ao filho.

    Os olhos do garoto brilharam ao lembrar dos desenhos.

    Ele devorou a comida rapidamente e saltou da mesa.

    — Está tudo bem? — perguntou a mãe, aproveitando a ausência do filho para questionar o marido mais diretamente.

    — O trabalho está garantido — disse o pai, sem olhar para ela. — Isso é o que importa.

    A mãe olhou para o marido com uma expressão de dor.

    Ela sabia que ele fazia coisas bastante controversas e obscuras.

    Tentara perguntar mais sobre isso, mas ele sempre evitava o assunto.

    Sempre dizia que seu dever era sustentar a família, e que o trabalho não deveria envolvê-los.

    Um momento depois, o garoto voltou correndo com alguns desenhos.

    O pai riu e pôs o filho no colo.

    — Essa é uma Besta de Sangue! — disse o menino, mostrando o primeiro desenho.

    O pai olhou e viu um animal vermelho.

    O menino era muito bom para sua idade, e o contorno realmente lembrava um animal.

    Infelizmente, o desenho não era muito detalhado.

    — O que ela faz? — perguntou o pai.

    — A mesma coisa que todos os Espectros de Sangue! Ela se regenera super rápido e é muito forte! — disse o menino.

    O pai assentiu. — Gostei do desenho. E os outros?

    O menino mostrou todos os outros desenhos, que representavam ideias diferentes de Espectros.

    Então, chegaram ao último.

    Era apenas uma folha completamente preta.

    — E esse aqui? — perguntou o pai, olhando para a página preta.

    — É o nada! — disse o menino com orgulho.

    — Nada? — perguntou o pai.

    — É! Eu queria inventar o Espectro mais assustador, mas não consegui pensar em nada assustador o suficiente.

    — Então, fiz uma página preta. Se eu não consigo ver, não sei como é. E isso é super assustador!

    O pai assentiu. — Bastante profundo. Você usou o medo do desconhecido.

    — Medo do desconhecido? — perguntou o menino.

    — Muitas pessoas têm medo do que não conhecem. Se elas não sabem o que é, não sabem como lidar. Isso torna as coisas assustadoras.

    — Ooohh — disse o garoto.

    Então, seus olhos se arregalaram.

    — Tive uma ideia! — gritou, pulando do colo do pai.

    Pegou uma folha de papel e desenhou apenas um pequeno ponto preto no centro.

    — Pronto! — disse, mostrando para o pai.

    — O que é isso? — perguntou o pai.

    — Algo! — disse o menino com orgulho. — É algo, mas a gente não sabe o que é. É tudo, e é nada. Pode se tornar o que você mais teme, mas nunca dá pra encontrar porque é nada!

    O pai pareceu interessado no desenho.

    A essa altura, a mãe também havia se interessado.

    — Isso teria que ser um Espectro de Força — disse o pai. — Um Espectro de Força que pode ser basicamente qualquer coisa e nada ao mesmo tempo.

    — Realmente assustador.

    O pai ficou olhando o desenho por mais um tempo.

    Então, seus dedos soltaram o papel, e seus olhos se arregalaram de horror.

    — O que… — a mãe começou a dizer, mas o mesmo aconteceu com ela.

    Os dois começaram a suar.

    — AAAAAAAHHH!

    E então, começaram a gritar.

    A criança arregalou os olhos em horror e correu, ainda com o lápis na mão.

    Não sabia o que estava acontecendo.

    Mas estava com medo.

    Muito medo.

    Ficou parada no meio do quarto, olhando para a porta com horror.

    Chamas começaram a surgir na casa.

    A criança não entendia o que estava acontecendo.

    Então, algo se aproximou.

    A coisa se revelou.

    Era o pai, mas ele parecia muito diferente.

    Seus olhos estavam fundos, e havia perdido metade do peso.

    Quando viu seu filho, caminhou em sua direção com todas as forças que lhe restavam.

    A criança apenas ficou ali, congelada.

    O pai arrancou um cano de metal da estrutura metálica da casa.

    Enquanto a criança permanecia imóvel, finalmente entendeu o que estava acontecendo.

    O Espectro que ela havia criado.

    Era real!

    E então, uma dor profunda surgiu dentro de seu corpo e mente.

    Agora, sabia por que os pais estavam gritando.

    A criança gritava como seus pais.

    E então, parou de gritar quando o pai a atingiu na cabeça com o cano de metal.

    Uma ferida profunda se abriu na cabeça da criança.

    Com suas últimas forças, o pai lançou a criança pela janela.

    Depois, caiu no chão, gritando de dor.

    Usara tudo o que lhe restava.

    O pai sabia o que havia acontecido.

    Eles aprenderam algo sobre o Nulo.

    A única maneira de salvar seu filho era fazê-lo esquecer.

    Um período desconhecido depois, a criança acordou.

    Ainda estava desorientada e não entendia nada.

    Não sabia o que era, onde estava, nem quem era.

    Apenas olhava para o prédio em chamas com confusão.

    Viu algumas pessoas chegando perto da casa para conter o fogo, e algumas outras se aproximaram dela.

    Mas então, a criança perdeu a consciência de novo.

    Muitas horas depois, acordou mais uma vez.

    Estava em um beco qualquer, e todas as suas roupas haviam sumido.

    — Ei, garoto.

    A criança olhou ao ouvir uma voz.

    Um momento depois, um rato saiu das sombras.

    — A vida te derrubou?

    — Talvez eu possa ajudar.

    — Posso acabar com toda a sua dor.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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