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    — Você não pode fazer isso! — a mãe gritou com seu filho de doze anos.

    — Por que não? — o menino perguntou, erguendo a sobrancelha e cruzando os braços. — Ele te insultou.

    — Sim, isso é ruim, mas você não pode simplesmente dar uma cotovelada na garganta de alguém só porque insultou alguém que você ama! — a mãe gritou. — Você poderia tê-lo matado!

    O menino bufou. — Eu defendi sua honra, e é assim que você me agradece? Eu fiz isso por você!

    — Anor, não jogue seus truques pra cima de mim! — a mãe gritou. — Nós dois sabemos que esse não foi o motivo.

    — Então qual motivo você quer ouvir? — o menino perguntou.

    — A verdade — disse a mãe.

    O menino fez uma careta de leve, com certo nojo.

    Ele realmente não queria dizer a verdade, já que sabia que seria punido.

    A mãe suspirou. — Eu sei que as coisas podem ser difíceis pra você. Só me diga a verdade.

    O menino desviou o olhar.

    Ao pensar no garoto que quase tinha matado, não conseguiu impedir um sorriso de escárnio de surgir no rosto.

    — Eu andei meio estressado com a escola ultimamente — disse o menino. — Precisava extravasar.

    Aquilo não era toda a verdade, mas era verdade o bastante para que a mãe acreditasse.

    — Anor, você não pode usar a violência pra aliviar tédio ou estresse! — a mãe gritou.

    — Tá, tá, eu sei — respondeu o menino, irritado.

    Ele realmente não entendia qual era o problema da mãe.

    Aquele garoto tinha insultado sua mãe.

    Sua cuidadora.

    Seus pais eram altamente respeitados, e aquele garoto atacou esse status.

    Ele não era filho de algum bastardo qualquer!

    Como filho de dois pais importantes, merecia ser tratado com respeito!

    Alguém que tinha uma opinião dessas sobre ele e seus pais não tinha valor algum.

    E se morresse, e daí?

    Não ia contribuir com a sociedade de qualquer forma.

    Enquanto a mãe continuava a repreendê-lo, o menino apenas virou o rosto.

    Lembrou de como foi excitante acertar a garganta daquele garoto.

    Quando ele tentou puxar o ar em pânico, foi hilário!

    Tão patético e fraco.

    O menino não tinha certeza se já tinha visto algo tão engraçado.

    Era como uma mosca com as asas arrancadas, rastejando pelo chão feito um inseto burro e sem asas.

    Ele tinha sentido uma excitação intensa ao ver como alguém sofria sob seu poder.

    Foi tão divertido!

    — Sim, eu não vou fazer de novo. Eu prometo, tá bom? — disse o menino, após uma longa bronca.

    A mãe olhou para ele por um tempo.

    — Desde que não aconteça de novo — ela disse.

    — Não vai — respondeu o menino.

    — Eu te amo — disse a mãe, abraçando o filho.

    — Eu também te amo — disse ele, retribuindo o abraço.

    Porém, apenas reproduziu o gesto, soltando logo em seguida.

    Quando ouviu seu filho dizer que a amava, a mãe sentiu uma dor profunda no coração.

    Era um lembrete.

    Ela sabia que o filho não a amava.

    Ele não podia amá-la.

    Também percebeu que ele não tinha sido completamente honesto, mas fingiu acreditar.

    Ela simplesmente não queria ouvir o verdadeiro motivo.

    Seu filho era assustadoramente inteligente e já tinha entendido, desde muito novo, que meias verdades eram o melhor jeito de conseguir o que queria.

    Ele mentia sem sentir culpa, o que fazia dele um excelente mentiroso.

    — Já entrou o dinheiro do trabalho do pai? — Anor perguntou.

    A mãe suspirou. — Sim.

    — Ótimo! — disse o menino com um sorriso. — Pelo menos ele serve pra alguma coisa.

    — Anor! — a mãe gritou. — Eu já te falei várias vezes que você não pode falar assim do seu pai.

    O menino apenas zombou. — E daí? Ele nem me ama de verdade. Quem me ama é você, não ele. O trabalho dele não é ser pai. É ser provedor.

    — Você me ama, né? — o menino perguntou, olhando para a mãe com olhos assustados.

    O coração da mãe doeu ao ver a expressão dolorida e assustada do filho.

    Ela sabia que era só um truque.

    Sabia que ele não se importava.

    E mesmo assim…

    — Sim, eu te amo — disse com a voz trêmula.

    O menino sorriu e abraçou a mãe com força.

    — Enquanto estivermos juntos, vamos superar tudo. Nós somos uma equipe. Pai traz o dinheiro, mas nós dois sabemos que ele não traz amor nenhum.

    — E amor é tudo o que importa, certo?

    A mãe respirou fundo.

    — Anthony ama nós dois — ela disse.

    Então, seus olhos se estreitaram. — E eu já te disse: pare de tentar isolar seu pai da família.

    — Eu não tô! — Anor gritou.

    — Está, sim! — a mãe gritou. — Eu vi você crescer. Conheço seus truques.

    — Não, eu juro que não quero isso! — Anor gritou. — Pensa só! Se eu isolasse o pai da família, a gente perderia metade da nossa renda. Isso não seria do meu interesse.

    A mãe estreitou os olhos.

    Seu filho era assustadoramente bom em convencer os outros, mesmo tão jovem.

    Mas ela não se deixava enganar.

    Ele usava argumentos que ridicularizavam a verdade e faziam parecer estúpido pensar diferente.

    Mas Anor sabia que era estúpido.

    Sim, ele queria isolar o pai da família.

    Talvez perdessem metade do dinheiro, mas ele simplesmente não suportava aquele desgraçado.

    E daí se perdessem dinheiro?

    A recompensa emocional de ver aquele idiota sendo traído pela única pessoa que amava valeria a pena.

    Mãe e filho discutiram por mais um tempo, mas o filho acalmou as coisas quando percebeu que não estava conseguindo avançar com a mãe.

    Eventualmente, saiu para brincar com seus ‘amigos’.

    Nick assistia a tudo isso em segredo.

    “Tudo segue como previsto”, pensou. “Ele é jovem e o cérebro ainda não está totalmente desenvolvido.”

    “Talvez não queira agir como um ser humano decente agora, mas um dia vai perceber que precisa fazer isso.”

    “As intenções dele serão completamente egoístas, mas suas ações beneficiarão a humanidade.”

    Nick respirou fundo.

    Por causa da pele acinzentada e da imunidade natural ao Pesadelo, Nick decidiu chamar esse novo tipo de humano de Noturnos.

    Os Noturnos eram ferozmente inteligentes, mas não se importavam muito com os outros.

    Sabiam que precisavam ajudar o coletivo maior, porque sofreriam se o coletivo sofresse.

    Mas só isso.

    Eles só queriam ter uma vida boa.

    Nesse aspecto, os Noturnos eram como os humanos normais.

    A única diferença era que sua ideia de uma vida boa… era diferente.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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