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    — Quem vai fazer isso? — Wyntor perguntou, olhando fixamente para o Caixão Gritante.

    Era quase como se estivesse olhando para um caixão de verdade.

    — Eu posso fazer isso.

    Todos se viraram para Trevor.

    — Você me contratou para esse tipo de missão, afinal — Trevor disse com um suspiro.

    Naturalmente, como alguém vindo das Favelas, Trevor já havia passado por muita coisa na vida, mas matar alguém era algo que ele nunca tinha feito antes.

    E agora, ele estava disposto a fazer isso.

    Ainda mais sabendo que o alvo era um garoto de 14 anos.

    Jenny olhou para Trevor e se sentiu mal.

    Ela já estava se sentindo culpada por ter suspeitado que Trevor fosse um traidor, e vê-lo se voluntariar para matar uma criança só piorava as coisas.

    — Esse não é o seu trabalho — Nick disse com um suspiro.

    — Lidar com funcionários é meu trabalho — ele acrescentou.

    Então, Nick olhou para o chão com uma expressão quase apática.

    — Além disso, Pator não é a primeira pessoa que matei — ele sussurrou.

    Jenny respirou fundo.

    Ela já tinha ouvido rumores de que Nick poderia ter matado alguém antes, mas era difícil conciliar o conceito de assassino com a imagem que ela tinha de Nick.

    Nick era sempre tão descontraído, disposto a se esforçar pelos outros, honesto, amigável e quase brincalhão.

    E, ainda assim, ele já tinha matado várias pessoas.

    O contraste era extremo.

    — Tem certeza? — Trevor perguntou com uma expressão preocupada enquanto se aproximava de Nick.

    Nick assentiu em silêncio enquanto levantava a cabeça para olhar Trevor.

    Ou, mais precisamente, para olhar através dele.

    — Claro — Nick disse com um tom neutro, seus olhos desfocados parecendo olhar para o vazio.

    Era quase como se Nick estivesse vendo nada e falando com ninguém.

    Um calafrio percorreu as costas de Trevor ao ver a expressão de Nick.

    Quando Jenny viu a mesma expressão, finalmente conseguiu combinar o conceito de assassino com Nick.

    Antes, ela não conseguia imaginar Nick matando alguém, mas agora podia visualizá-lo estrangulando alguém com apatia, sem nenhuma emoção em seu rosto.

    Era desprovido de vida, distante, e quase assustador.

    Era quase como se Nick tivesse sido substituído por um fantoche.

    — Certo — Trevor disse, conseguindo manter a voz estável. — Vou deixar isso com você.

    Nick apenas assentiu.

    Perto do caixão, Wyntor respirou fundo.

    Ele havia se virado para olhar Nick naquele momento e também tinha visto sua expressão.

    “Ele não merece isso”, Wyntor pensou. “Ele está completamente dissociado.”

    “Será que realmente quero confiar meus funcionários a alguém nesse estado?”

    Wyntor virou-se novamente, com uma expressão pensativa.

    “Não tenho escolha. Além disso, ele é confiável.”

    “Talvez dissociar assim não arruíne sua visão positiva da vida.”

    Wyntor suspirou novamente, abaixando a cabeça.

    “Eu sou patético”, Wyntor pensou com um sorriso amargo.

    “Só queria testar a lealdade deles e lidar com Pator eu mesmo. Afinal, fui eu que trouxe Pator.”

    Os punhos de Wyntor se cerraram.

    “Mas eu não consigo fazer isso.”

    “Simplesmente não consigo.”

    Wyntor se virou e olhou para Nick.

    Nick apenas assentiu mecanicamente em direção a Wyntor.

    Ao ver a expressão dissociada de Nick novamente, Wyntor sentiu-se como o maior canalha da Terra.

    Ele viu o efeito que matar pessoas tinha sobre Nick.

    E, mesmo assim, sabia que Nick podia lidar com isso.

    Nick já havia matado tantas pessoas.

    O que era mais uma?

    Que diferença faria?

    A Wyntor realmente precisava se preocupar tanto com o fato de ser ruim ou não enviar Nick para matar Pator?

    Wyntor tentou racionalizar seus sentimentos, mas isso não ajudou.

    “No fim, estou fugindo da minha própria fraqueza”, Wyntor pensou.

    Wyntor assentiu para Nick com uma expressão neutra, sem deixar transparecer seu conflito interno.

    “Não consigo resolver esse problema, por isso mando Nick lidar com ele por mim.”

    Nick se virou e abriu a porta de acesso da Unidade de Contenção do Caixão Gritante.

    Naquele momento, Wyntor se lembrou da conversa que teve com Nick após Horua ter recusado trabalhar com o Sonhador.

    “Essa é a responsabilidade dele, né?” Wyntor pensou, sentindo nojo de sua própria hipocrisia.

    “Eu disse a ele para lidar com seus problemas e responsabilidades.”

    “Mas aqui estou eu, colocando minhas responsabilidades nos ombros dele.”

    “Desculpe, Nick”, Wyntor pensou enquanto voltava a olhar para o caixão.

    “Vou compensar isso no futuro.”

    Jenny e Trevor observaram Nick sair com expressões solidárias.

    Trevor queria fazer isso ele mesmo, mas simplesmente não conseguia se manifestar.

    Nick parecia tão jovem.

    Ele tinha apenas 16 anos.

    Enquanto isso, Trevor tinha mais de 20.

    Na mente de Trevor, era como um garoto matando outro garoto.

    Se algo assim precisava ser feito, deveria ser feito por um adulto.

    E, mesmo assim…

    Trevor suspirou.

    Simplesmente não conseguia.

    Não conseguia.

    Enquanto isso, Jenny apenas sentia pena de Nick.

    Nick era seu chefe, e coisas assim eram de sua responsabilidade.

    Ela sabia disso, mas ainda sentia muito por ele.

    Depois que Nick saiu, ninguém disse uma palavra por muito tempo.

    Jenny e Trevor também não quiseram sair dali.

    Sentiam que deveriam esperar pelo retorno de Nick.

    Mesmo que não pudessem resolver os problemas dele, pelo menos podiam mostrar que estavam ao lado dele.

    Enquanto isso, Nick saiu da Sonho Sombrio com uma expressão vazia no rosto.

    Como uma máquina, Nick atravessou a rua e entrou no hotel.

    — Bem-vindo de volta, Nick! — uma recepcionista gritou.

    Nick apenas assentiu enquanto entrava na escada.

    Depois de subir os degraus, Nick caminhou até o quarto de Horua.

    No momento, Pator provavelmente estava cuidando de Horua.

    Com base no horário, as roupas de Horua e a roupa de cama precisavam ser trocadas, já que o café da manhã havia ocorrido cerca de uma hora atrás.

    Por um momento, Nick parou em frente à porta.

    Então, colocou a mão na maçaneta, abriu-a e entrou.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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