Capítulo 938: A Vigília do Campeão

O Campeão observava o planeta.

Ele sabia que o Trapaceiro teria que agir em algum momento.

O Trapaceiro era a maior ameaça atual à humanidade.

Mesmo que o Sol não o tivesse nomeado como uma das provações que a humanidade teria de superar, ele certamente era a maior provação enfrentada no momento.

Eles já haviam lidado com todos os outros Espectros, exceto os Eternos, e o Trapaceiro continuava causando problemas.

Ainda por cima, os danos que ele causava à Égide podiam ser comparados aos que a Morte causava quando ainda estava solta.

“Em algum momento, você vai atacar um dos meus Escudos de novo. Eu sei disso”, pensou o Campeão. “Três Escudos não são suficientes pra você. Você precisa de mais.”

“E quando isso acontecer, você vai morrer.”

Os Escudos espalhados pelo planeta ficavam, na maior parte do tempo, em um só lugar, mas de tempos em tempos mudavam de local.

Os Escudos eram os líderes da Égide, e era dever deles comandar toda a organização.

Por isso, o Campeão não podia simplesmente ordenar que eles ficassem fixos em um único local o tempo todo.

Eles precisavam de liberdade para comandar a Égide de forma eficaz.

Além disso, o Trapaceiro não agia havia vários séculos.

Manter todos os Escudos sob vigilância e restrição durante séculos causaria um dano imenso à Égide.

Na verdade, fazer isso talvez até ajudasse o Trapaceiro a crescer mais rápido do que se ele simplesmente capturasse mais um ou dois Escudos.

O impacto do Trapaceiro na Égide precisava ser minimizado o máximo possível.

Eles precisavam tratá-lo como tratavam um Eterno.

Os Escudos ainda não podiam brincar com suicídio, entrar na escuridão sem proteção, subir mais de 30 quilômetros no céu ou tentar obter informações sobre o Nulo.

Os Eternos impunham regras, e até mesmo a Égide precisava segui-las.

Agora, o mesmo valia para o Trapaceiro.

Eles não podiam se deixar abalar demais pelas ações dele.

Infelizmente, emoções não podiam ser controladas. Se algo ruim acontecia, as pessoas se sentiam mal, e não havia nada que pudessem fazer quanto a isso.

Então, a melhor opção era simplesmente agir como se ele não existisse e, se atacasse, fazer de tudo para matá-lo.

A armadilha estava montada.

Cada Escudo havia incorporado uma habilidade que emitia passivamente um tipo especial de Zephyx, rastreável por diversos dispositivos e pelo próprio Campeão.

O Trapaceiro podia até ler memórias, mas isso não ajudaria muito.

Sim, ele saberia da habilidade especial, mas não seria capaz de alterá-la.

Era possível que ele conseguisse manipular a habilidade, mas, para isso, precisaria atacar o Escudo.

Todas as vezes que o Trapaceiro se infiltrava na Égide, ele interceptava algum Agente, Protetor ou Escudo para assumir sua identidade.

Isso significava que, provavelmente, ele precisava de contato físico para ler memórias ou controlar a mente de alguém.

Toda manipulação era precedida por alguma demonstração física de controle.

Essas demonstrações eram muito visíveis, e o Campeão observava atentamente todos os Escudos o tempo todo.

Os Escudos mudavam de local, e o Campeão continuava vigiando.

Ele fazia isso havia séculos.

Dessa vez, ele mataria o Trapaceiro.

Então, algo aconteceu.

Uma nuvem escura surgiu ao redor de um dos Escudos.

O Campeão imediatamente disparou da sede da Égide.

Ao mesmo tempo, vários feixes de luz apareceram ao redor da nuvem negra e a atravessaram.

Tudo ao redor foi aniquilado, a nuvem negra e o Escudo incluídos.

Quando o Campeão apareceu sobre o local onde o Escudo havia estado, ele olhou para baixo.

Usou uma de suas habilidades próprias para rastrear o Zephyx especial do Escudo.

Mas não encontrou nada.

Isso porque ele havia matado o Escudo por acidente.

O Campeão atacou para matar, mas não pretendia matar.

Ele queria parecer que estava realmente tentando matar o Trapaceiro.

Se atacasse de forma branda, o Trapaceiro poderia perceber que havia algo errado e abortar a missão.

Por isso, o Campeão atacou com força total, acreditando que o Trapaceiro encontraria alguma forma de escapar e levar o Escudo com ele.

E mesmo assim, o Trapaceiro havia falhado.

O Campeão ficou desconfiado, mas não teve tempo para pensar.

BOOOOM!

Bombas contendo Energia Estelar disruptiva explodiram simultaneamente em todas as fortalezas.

As bombas não mataram nenhum humano, e não eram fortes o suficiente para destruir as Unidades de Contenção.

Mas esse nem era o objetivo.

Mais da metade das fortalezas começou a desmoronar após as explosões!

Essas bombas não tinham muito poder bruto, mas a Energia Estelar que emitiam desestabilizava o Zephyx dentro dos materiais infundidos com ele.

Espectros, Extratores, estruturas e Unidades de Contenção eram extremamente pesados, e, quando todo o Zephyx foi retirado das paredes das fortalezas, elas ruíram sob o próprio peso.

Unidades de Contenção despencaram pelo chão.

Paredes desabaram.

Máquinas quebraram.

Além disso, as bombas também tinham efeitos disruptivos na percepção.

Era difícil perceber qualquer coisa ali por causa das energias violentas em movimento.

Contudo, a percepção do Campeão foi interrompida por apenas um segundo.

Logo em seguida, ele já conseguia enxergar tudo novamente e entender o que havia acontecido.

Viu diversos membros da Égide saindo dos escombros e inspecionando as Unidades de Contenção.

Se essas Unidades se quebrassem, as coisas poderiam sair do controle rapidamente.

Mas todas ainda estavam intactas.

Nenhum Espectro escapou.

Ao ver isso, o Campeão rangeu os dentes.

Sim, eles haviam perdido a parte das fortalezas construída com materiais infundidos em Zephyx, mas esse não era o pior problema.

O pior era que nenhum dos Escudos estacionados ali foi encontrado!

Todos haviam sumido!

Oito Escudos!

Desaparecidos!

E o pior: isso incluía os Escudos das fortalezas que sobreviveram à explosão.

Por sorte, esses Escudos não conseguiram desaparecer tão rápido quanto os outros, pois precisaram sair pelas portas.

Isso permitiu que o Campeão visse o que aconteceu.

Aparentemente, assim que a explosão ocorreu, todos os Escudos correram para fora das fortalezas, destruídas ou não.

E então…

Eles correram direto para o subsolo.