Capítulo 944: Nick Nick, a Ovelha
Nick estava trabalhando com nove Escudos ao mesmo tempo.
Mas sua atenção não estava neles.
Estava nos feixes que saíam de seu corpo.
Eles vinham mudando de cor nos últimos anos.
Vários feixes vermelho-claros haviam se tornado um pouco mais escuros.
Nick sabia que isso representava os Escudos aprendendo mais sobre suas habilidades, algo esperado.
No entanto, havia um feixe em particular que preocupava Nick.
O feixe ligado ao Campeão.
Ele oscilava quase constantemente.
Às vezes ficava azul-claro antes de voltar a vermelho-claro.
Depois, se tornava um vermelho puro.
Ainda não era vermelho-escuro, mas sua tonalidade era semelhante à do feixe do Sol.
Em certos momentos, ficava ainda mais vermelho que o do Sol.
O mais preocupante era quando se tornava azul.
Isso só poderia acontecer se o Campeão suspeitasse que Nick fosse humano, o que não fazia sentido.
“Ele está me testando? Quer me atrair?”
No fim, o feixe se estabilizou em um tom vermelho relativamente escuro.
Mais vermelho do que o feixe do Sol.
“Ele sabe demais”, pensou Nick. “Esperava que o feixe do Campeão ficasse mais vermelho, mas não tanto assim.”
“Não há nenhum feixe tão vermelho quanto o do Campeão.”
“Isso significa que ninguém contou nada a ele sobre mim.”
“Devem haver registros que eu deixei passar.”
“O banco de dados antigo?”
“É possível, mas não havia razão para mantê-lo ou descriptografá-lo. Seria perda de tempo.”
“As memórias dos Escudos que conseguiram escapar também não deviam conter pistas.”
“Não sei o que exatamente o Campeão descobriu sobre mim, mas isso não é um bom sinal.”
“Comparado ao antigo Campeão, o novo é um seguidor leal do Sol.”
“Ele acredita que o Sol protege a humanidade.”
Nick cerrou os punhos.
“Eu odeio isso.”
“Não há nada que eu possa fazer.”
“O Campeão é mais poderoso do que eu, e mesmo que tivesse força para assassiná-lo, não teria como explicar isso ao Sol.”
“Estou impotente.”
“Se o Campeão souber o suficiente sobre mim, poderá contar ao Sol, e eu morrerei.”
“E então, a humanidade estará condenada a uma eternidade escravizada neste centro de reciclagem corrompido que é a Terra.”
Nick se sentia impotente.
O dado já havia sido lançado.
O resultado era claro, e era a vez de seu oponente jogar.
Tudo que Nick podia fazer era esperar.
Nos anos seguintes, o feixe parou de mudar de cor.
A espera era agonizante.
Todos os dias, Nick temia que o Sol decidisse matá-lo.
Mas isso nunca aconteceu.
Mesmo dez anos depois, nada havia mudado.
“Se o Campeão tivesse descoberto meu passado, eu já estaria morto.”
“A menos que tenha descoberto, e não me veja mais como inimigo.”
“Preciso investigar.”
Nick pausou seu trabalho e reapareceu na superfície.
Depois, leu as mentes de vários pesquisadores e Protetores poderosos para aprender como acessar o novo banco de dados.
Claro, por questões de segurança, apenas três pessoas tinham acesso para escrever código ou editar artigos importantes.
Se Nick quisesse esse tipo de acesso, teria que interagir com a máquina física do banco de dados.
Mas ela ficava na sede da Égide, e ir até lá seria uma sentença de morte.
Nick leu os artigos mais recentes.
Nada fora do comum.
Mas então, seus olhos se estreitaram.
Na seção de cultura histórica, Nick encontrou uma fábula curta.
“Nick Nick, a ovelha”, pensou Nick.
Ver seu nome antigo no banco de dados da Égide não podia significar coisa boa.
Ninguém daria importância a essa fábula ou acreditaria que estava relacionada a eventos reais.
Afinal, quem teria um nome tão idiota?
Nick leu rapidamente a fábula e, ao terminar, apenas olhou na direção da sede da Égide.
“Ele sabe.”
“Ele sabe quase tudo.”
“Mas como?!”
“Como ele descobriu?!”
“Por que agora?!”
“Ele não tinha motivo para questionar os fundamentos do Trapaceiro.”
Nick franziu o cenho.
“A menos que o antigo Braço Direito e o Inferno tenham dito coisas que não deviam.”
“Eu não mandei eles dizerem nada ao Campeão.”
“Eles deveriam atacá-lo imediatamente e morrer.”
“Mas eu não controlei tanto suas mentes.”
“E eles também não lembravam de nada importante.”
“Será que plantaram dúvidas no Campeão?”
Nick respirou fundo.
“Eles eram humanos, como todos nós.”
“Talvez só quisessem ajudar.”
A fábula de Nick Nick, a Ovelha basicamente recontava os eventos ocorridos na Cidade Carmesim.
Nick Nick, a Ovelha, vivia em um cercado protegido dos lobos.
O cercado era propriedade de um fazendeiro poderoso e gentil que contratava um capataz para cuidar dos negócios.
“O Sol e o Campeão.”
O fazendeiro dizia que só criava as ovelhas por sua lã, e o capataz seguia todas as ordens do fazendeiro com alegria.
A fábula terminava quando Nick Nick, a Ovelha, morria, e se encerrava com um gancho revelando que uma nova ovelha muito competente havia aparecido na fazenda.
Ela tinha um nome direto.
Nick, o Fim da Fazenda.
“Nick Dusk.”
“O Campeão sabe o suficiente para me matar, mas não fez isso.”
“Isso significa que está indeciso.”
“Ele não quer agir sem certeza.”
Quando Nick percebeu que aquele artigo podia ser editado por qualquer um, entendeu o que o Campeão queria fazer.
Ele queria se comunicar com Nick.
Nick respirou fundo.
“Se eu não agir, o Campeão pode me matar.”
Nick apertou o botão de edição e adicionou mais à história.
Nick, o Fim da Fazenda, chegou e imediatamente começou a agir de forma horrível.
Matou ovelhas e subjugou outras.
E ainda assim, o dono da fazenda não fez nada a respeito.
O dono apenas levava os corpos para um lugar desconhecido.
O capataz odiava Nick, o Fim da Fazenda, mas sem a permissão do dono, não podia impedir seu massacre.
Um dia, o capataz secretamente seguiu o dono da fazenda, e foi então que viu algo chocante.
O fazendeiro eviscerava os corpos e os dava aos lobos.
Como era uma fábula, lobos e ovelhas podiam falar.
Em troca da carne das ovelhas, os lobos recompensavam o fazendeiro com ouro.
O ouro que davam era muito mais valioso do que a lã.
— Nós os assustamos — disse o lobo-chefe. — Você os protege.
— Assim, eles permanecem no mesmo lugar, e temos uma refeição fácil.
O fazendeiro concordou.
Mas antes de partir, o lobo-chefe deu um último aviso.
— Seu rebanho está crescendo demais para o cercado. Consiga um maior ou abata alguns.
O lobo sorriu de canto.
— Mas se for matar, nos dê toda a carne!
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