Capítulo 966: Mundo Sem Vida
Kiran acordou.
Ele mal se lembrava de qualquer coisa das onze vidas que havia vivido.
Ainda assim, lembrava-se de todas as emoções que sentira, e os aspectos-chave de suas vidas passadas ainda estavam ali.
Não tinha certeza de quem era mais.
Por muito tempo, apenas ficou sentado no chão, olhando para os azulejos escuros abaixo de si.
Pensava nas vidas que vivera.
Quem ele era?
Percebeu que, pouco a pouco, os detalhes desapareciam.
Suas memórias reais se tornavam mais nítidas.
Sua família verdadeira.
Seu desejo.
Seu propósito.
Após um período indefinido, levantou o olhar.
E, pela primeira vez, pôde realmente ver onde estava.
Estava num grande salão, e no centro do salão havia uma estátua imponente.
— Você sobreviveu — disse a voz.
Desta vez, Kiran podia sentir que era a estátua que falava com ele.
Kiran não respondeu.
— Todos têm um propósito — disse a estátua. — Todos têm desejos e anseios.
— Sobrevivência, amor, companhia, vingança, comida, luxo, dinheiro, ódio, felicidade, raiva.
— É disso que se trata a vida humana.
— Você luta por um objetivo.
— No entanto, sem poder, esse objetivo se torna inalcançável.
— Torna-se um exercício fútil.
— Mas poder sem propósito leva apenas à tragédia.
— Um empresário poderoso que se foca em acumular cada vez mais riquezas para sua família acabará afastado dela.
— O amor de sua vida estava com ele por ele, não por seu dinheiro.
— Ao tentar prover, ele acumulou poder e abandonou seu propósito.
— Poder e propósito.
— Como Imperador da humanidade, você precisa de ambos.
— Você ainda é jovem.
— Suas escolhas ainda não foram feitas.
— Seu passado não dita seu futuro.
— Seu presente dita seu futuro.
— O que você vai escolher?
Silêncio.
Kiran olhou para a estátua antes de se levantar.
Lembrou-se de sua família.
Lembrou-se da cidade onde nasceu.
Lembrou-se dos conflitos constantes.
Lembrou-se do sofrimento que os Espectros infligiam à humanidade.
— Eu quero ajudar a humanidade — disse Kiran, por fim.
— Quero fazer com que nenhum humano precise sofrer novamente.
— E estou disposto a dar minha vida por esse propósito.
Então, Kiran ajoelhou diante da estátua.
— Obrigado por me ensinar.
A estátua permaneceu em silêncio por um tempo.
— Eu sou o Portador do Crepúsculo — disse a estátua.
O coração de Kiran estremeceu ao ouvir aquilo.
— Eu sou o inimigo do Sol.
— Meu propósito não é ajudar a humanidade.
— Meu propósito é matar o Sol.
— É por isso que preciso de você.
— Seu propósito é ajudar a humanidade.
— Você será aquele que conduzirá a humanidade à liberdade.
— Eu serei apenas a arma que você usará para alcançar esse objetivo.
— Você herdou parte do meu poder.
— Aprenda sobre seus novos poderes.
— Aprenda sobre o mundo que agora habita.
— Poder precisa de propósito, mas sem sabedoria, o poder não o levará à sua meta.
— Você deve aprender.
— Nos próximos anos, convocarei mais pessoas.
— Mas só falarei com você.
— É seu dever liderar a humanidade.
— Tudo estará em suas mãos.
No instante seguinte, Kiran sentiu a presença desaparecer.
A estátua ainda estava lá, mas de alguma forma parecia… sem vida.
Era apenas uma estátua.
— Eu não vou decepcioná-lo — disse Kiran.
Nick observava Kiran.
“Nasceu o Imperador da humanidade, mas ainda é jovem e inexperiente”, pensou.
“Preciso preparar provações apropriadas.”
“Ele precisa passar por muitas adversidades.”
Nos dias seguintes, Nick observou Kiran explorando a cidade subterrânea vazia.
Ele estava num mundo desconhecido.
Um mundo solitário e interminável de aço frio.
Eventualmente, encontrou os condensadores de água e pôde matar a sede.
Também encontrou fazendas individuais onde se cultivava comida.
Mas, acima de tudo, encontrou portas trancadas sem maneira de abri-las.
Ao longo desses dias, Kiran já havia se familiarizado com seus novos poderes.
A habilidade que Nick lhe concedera.
O poder das trevas.
Quanto mais escuro o ambiente, mais poderoso Kiran se tornava.
Num mundo sem luz, seus poderes eram multiplicados por cinco.
Naturalmente, Nick era muito parecido com o Nulo, mas também muito parecido com o Pesadelo.
Por isso, esse novo conjunto de habilidades surgiu.
Os poderes de Kiran não se baseavam em percepção, e sim no ambiente.
E nesse mundo sem luz, seu poder estava sempre no máximo.
Enquanto continuasse treinando e aprendendo, com uma habilidade tão poderosa como base, jamais perderia uma luta contra outro humano.
Kiran passou seus dias explorando, aprendendo e treinando.
Encontrou muitas armas, mas não conseguia levantar nenhuma delas.
Precisava de sua própria arma, e para isso, precisava aprender a forjar.
Havia fragmentos de conhecimento e sabedoria espalhados pela cidade que ensinavam coisas básicas.
Kiran absorveu esse conhecimento.
Também aprendeu o que era necessário para abrir o primeiro conjunto de portas.
Precisava criar um dispositivo elétrico que transmitisse um código às portas.
Havia muitas outras portas e baús que precisavam de eletricidade para funcionar.
E, quando finalmente funcionavam, faziam perguntas de qualquer campo de conhecimento.
Todas as respostas podiam ser encontradas numa grande biblioteca que Kiran ainda não havia achado.
Kiran estudou com afinco por meses, e finalmente conseguiu criar sua primeira arma.
Uma haste longa feita de metal levemente tratada com Zephyx.
E não podia ter sido em melhor hora, pois no dia seguinte descobriu que não estava sozinho.
Havia Espectros ali.
Filhotes de diferentes poderes.
Ao se deparar com sua primeira luta real, Kiran ficou apavorado.
Mas isso era normal.
Todos ficavam apavorados ao encarar seu primeiro Espectro.
Com dificuldade, Kiran conseguiu suprimir seu primeiro Espectro.
As Unidades de Contenção mais fracas precisavam apenas de um código para serem ativadas, e Kiran já havia encontrado esse código.
Mas, assim que conseguiu suprimir o Espectro, percebeu algo horrível.
Não havia apenas Filhotes naquele mundo.
Também havia Adolescentes.
E ele ainda não podia enfrentá-los.
Precisava de mais poder.
Mas sabia como alcançá-lo.
Teria que trabalhar com Espectros para se tornar mais forte.
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