Capítulo 101 - Iluminação [1/2]

— Minha alma? O que você sabe sobre ela? — Lith ficou surpreso com a proposta. Ele nunca tinha sido uma pessoa espiritual, mas depois de reencarnar duas vezes e seu encontro com a Scorpicore, não ter dúvidas sobre isso seria idiota.

— Guardiões são diferentes de monstros ou bestas mágicas. Não evoluímos por causa do poder, também ganhamos uma afinidade maior com a Grande Mãe. — Ela acenou para os arredores.

— Nós, Dríades, em particular, estamos profundamente ligados a todas as formas de vida em um nível espiritual. Posso dizer à primeira vista que a sua está danificada. Não tenho como saber como isso aconteceu ou como isso mudou sua vida…

“Acho que tenho uma ideia clara sobre isso.” Pensou Lith.

— Mas talvez, só talvez, eu possa lhe oferecer uma solução, ou pelo menos lhe apontar a direção certa.

— Como exatamente?

— Você já teve um déjà vu? Ou a sensação de estar no lugar certo na hora certa? Isso acontece quando sua alma consegue guiá-lo para uma encruzilhada importante em sua vida.

— Podemos mostrar onde e quando um evento-chave ocorrerá, mas o feitiço requer pelo menos duas dríades.

— Pelo menos? Quantos de vocês vivem nesta floresta?

A paranoia de Lith tomou conta, então ele começou a procurar por inimigos escondidos nos arredores, mas não encontrou nenhum.

— Só nós duas. — Ela suspirou. — Eu não teria deixado meu território se minha irmã não estivesse em perigo mortal. Nem teria entregado meu coração a você se tivesse outra escolha.

Irmã. Aquela palavra acendeu uma pitada de compaixão no coração de Lith. Ela havia assumido um risco enorme para proteger sua família, algo que ele respeitava profundamente.

Apesar de ela não conseguir nem se mover sem a permissão dele, seus olhos estavam cheios de orgulho e desafio.

Após ponderar sobre suas opções, Lith dispersou todas as energias escuras. Ele já tinha outro refém, caso a ruivan tentasse algo engraçado. Além disso, ele não tinha utilidade para elas desde o começo.

Se contrabandear uma flor brilhante era difícil, então como ele deveria explicar duas dríades o seguindo por todo lugar? Os tesouros naturais eram o suficiente para compensar todos os seus problemas.

Sem que a energia escura minasse seus poderes, a dríade vermelha conseguiu se vestir com um aceno de mão, conjurando um vestido matinal vermelho e dourado de cetim que complementava seus olhos.

Quanto mais tempo ela ficava em contato com a terra, mais forte ela se tornava.

Lith guardou os tesouros naturais, sem deixar as dríades saírem de sua vista. Desde que a segunda dríade apareceu, Lith sentiu uma sensação irritante de formigamento dentro de seu coração, algo que lembrava culpa.

Ele sempre agiu sem escrúpulos, matando sem distinção ou remorso, mas ele estava secretamente orgulhoso de nunca ter machucado alguém sem um motivo. Lith sabia que no momento em que ele começasse a matar simplesmente porque podia, ele teria perdido seu último resquício de humanidade.

Seguindo seu estilo de vida “viva esperando o pior”, dessa vez quase matou um inocente, forçando outro à escravidão. Mesmo para ele, isso era um novo ponto baixo.

Sentindo-se confuso, ele buscou o conselho de sua bússola moral.

“Você acha que exagerei desta vez?”

“Deixe-me ver.” Solus ponderou.

“Você quase foi morto por um monstro de tentáculos, e quando outro apareceu você tomou precauções. Essa foi a coisa certa a fazer. Mas quando você determinou que não era uma Abominação, não havia razão para ser tão cruel.

Criaturas mágicas são como humanos. Algumas são boas, outras são más. No entanto, você a rotulou sem fundamento como uma ameaça. Temos sorte de você estar mascarado, caso contrário, na próxima vez que nos encontrarmos, eu esperaria que ela nos atacasse à primeira vista.”

Ele concordou silenciosamente com ela.

— Faça o que for preciso. — Lith deu um passo para trás, permitindo que elas se aproximassem.

As duas dríades juntaram as mãos e instantaneamente seus olhos foram preenchidos por uma luz branca, enquanto uma poça de água se formou no espaço formado por seus braços, enchendo-o até a borda.

A luz desceu na água, formando uma esfera branca que girava sobre si mesma, transformando a água em um redemoinho e fazendo-a parecer uma projeção 3D de uma galáxia. Um pequeno fio preto saiu do corpo de Lith, fazendo-o de repente se sentir mais leve, como se parte de seu fardo emocional tivesse finalmente sido aliviado.

O fogo-fátuo entrou no vórtice, transformando-o em uma cor laranja escura de crepúsculo. Nesse ponto, as dríades soltaram suas mãos, deixando a galáxia moribunda ir.

Ele continuou girando sobre si mesmo, ou por um tempo, antes de se mover em direção a Lith, fundindo-se com seu corpo e forçando-o a reviver todas as suas três vidas.

A dor invadiu seu corpo enquanto sua mente estava em chamas. Velhos ferimentos e hematomas apareciam e desapareciam em uma fração de segundo, enquanto as memórias de sua primeira vida inundavam seu cérebro.

Ele caiu de joelhos, arranhando o chão com tanta força que quebrou as unhas.

A dor, a raiva, o desespero pesaroso, a vingança e finalmente a paz. Então foi a vez da sua segunda vida, com sua loucura, a solidão e a fome.

Na lembrança de sua segunda morte, uma ferida aberta se abriu em seu peito. Lith tentou cuspir um bocado de sangue, mas só saiu saliva, a ferida já havia desaparecido, deixando apenas a dor diante do alívio da morte.

Então chegou sua terceira vida, e não era nada como ele se lembrava. Havia dor, fome, mas muita luz e alegria. Ele foi forçado a perceber todo o amor e afeição que as pessoas lhe deram, mesmo quando ele ainda as tratava como ferramentas, manipulando suas ações e sentimentos.

Começando com seu pai, depois Selia, Nana, Lark e finalmente seus amigos da academia.

Quando as imagens em sua cabeça alcançaram o presente, elas continuaram avançando, mostrando-lhe um lugar que ele nunca tinha visto antes, onde ele deveria estar a qualquer custo.