Capítulo 103 - Lutando [1/2]
“Não entendi, como isso supostamente está
relacionado à minha alma? Claro, caçar um filhote é um ato vergonhoso, mas não vejo por que eu deveria me intrometer. Não é da minha conta.”
A visão de Lith ficou turva, sentindo sua cabeça girar novamente enquanto as imagens continuavam aparecendo e desaparecendo rapidamente. Ele observou as paredes da academia Grifo Branco rachando e desmoronando, até que o castelo inteiro caiu em ruínas.
“Que diabos? Outra visão?” Ele ficou pasmo.
“Deve estar te guiando em direção a algo relacionado à luta de poder que gira em torno da academia. Parece que sua alma é mais legal do que você, já que ela se importa com Linjos e as crianças.”
O tom de Solus era gentil e caloroso, esperando que ele abrisse seu coração para os outros, mesmo que só um pouco.
“Não vejo como as duas coisas estão relacionadas, mas quem ganha um centavo, ganha uma libra. Qual é o nível de poder dos caçadores?”
“Três núcleos de mana ciano, um verde e dois amarelos. É improvável que os últimos sejam magos, muitos músculos, muito pouca mana.” Solus respondeu.
Lith memorizou os oponentes com base na força deles, antes de bolar um plano de última hora. Não tendo muito com o que trabalhar, ele teve que manter tudo simples.
Matar a sangue frio seis pessoas só por causa de uma “profecia mística” estava fora de questão. Sua consciência ainda o incomodava pela forma como ele tratou as dríades, então ele precisava de uma abordagem mais suave.
Lith imediatamente trocou seu traje de caçador pelo uniforme da academia através da dimensão de bolso, tendo decidido desempenhar o papel do estudante ingênuo que defende a justiça.
Ele se aproximou dos caçadores a pé, enquanto tecia vários feitiços, prontos para serem liberados com apenas um pensamento, só por precaução. Quando chegou perto o suficiente, ele estalou os dedos, usando magia do ar para amplificar o som em um pequeno estrondo, chamando a atenção deles.
— Ei, o que você está fazendo tão perto da academia? Esta parte da floresta é reservada para os alunos. Saiam, antes que eu chame a segurança.
O barulho repentino os fez congelar por um momento, dando ao Byk a abertura necessária para escapar do cerco e fugir. Os seis caçadores se viraram para Lith, olhando para ele com olhos irritados e intenção assassina mal disfarçada.
Raghul, o líder do time de mercenários disfarçados de caçadores, estava gostando bastante de sua última tarefa. Ele nunca tinha sido tão bem pago para fazer um trabalho braçal. Durante os últimos dias, eles estavam matando bestas mágicas, não importava se grandes ou pequenas, já que o pagamento era o mesmo.
Ele não tinha ideia do motivo pelo qual seu contratante os enviou especificamente para aquela floresta, mas, de acordo com Rodimas, o mais inteligente da equipe, o objetivo era perturbar o equilíbrio da academia.
Com base nas informações que ela havia reunido, o Diretor tinha algum tipo de acordo com as feras.
Ela imaginou que matar aqueles mais próximos da academia e fazer os alunos parecerem os perpetradores arruinaria o relacionamento entre Linjos e o Senhor da floresta.
Se isso acontecesse, ele não poderia mais realizar as provas na floresta ou teria que arriscar a segurança de seus alunos.
Raghul não entendia que bem poderia sair disso, e mais importante, ele não se importava. A razão pela qual ele aceitou aquele trabalho, apesar da recompensa suspeitamente alta, era porque ele odiava as academias.
As lembranças do que ele havia passado, na época em que foi admitido no Grifo de água, ainda assombravam seus sonhos às vezes.
Quando um maldito garoto apareceu do nada, permitindo que sua presa escapasse, ele ficou muito irritado.
“Que azar. Como diabos essa praga nos encontrou nessa floresta enorme? Se formos expostos, perderemos a outra metade do pagamento.”
— Ei, garoto! Você tem alguma ideia de quanto dinheiro sua pequena façanha acabou de nos custar? Pelo menos dez moedas de ouro! Espero que você tenha o suficiente para compensar nossa perda, caso contrário, terei que lhe dar uma surra.
Raghul não ficou surpreso que o primeiro a reagir foi Terion. Ele era o tipo de homem que sempre pensava com sua carteira.
Lith viu um homem magro, com cabelos castanhos cacheados e um rosto cheio de sardas, caminhando a passos largos em sua direção, gritando algo sobre dinheiro.
— Vocês não têm vergonha alguma? Primeiro vocês se uniram contra um jovem Byk e agora tentam extorquir de um aluno? Vocês não são dignos de se chamarem caçadores.
Lith fingiu estar indignado, enquanto esperava pela próxima parte da visão. Salvar o filhote não teve efeito, e até agora, até mesmo interagir com os caçadores não teve efeito.
Enquanto os dois discutiam, Raghul percebeu que, apesar de toda aquela confusão, ninguém apareceu.
“Talvez haja uma maneira de cortar nossas perdas. Se esse garoto veio aqui sozinho e Rodimas estiver certo sobre nossa missão, talvez matando-o possamos manter nossa cobertura e até ganhar um extra. As ordens são para não ser pego em flagrante, afinal.
Sem mencionar que é melhor evitar ter a equipe da academia no nosso pé.”
— Vamos, Terion. Dê uma folga para o garoto. Ele está certo, estamos muito perto da academia. Não estamos procurando problemas.
Terion reconheceu a palavra-código para assassinato, mas sua cara de pôquer estava impecável. Ele não sorriu, não parou o que estava fazendo nem por um segundo, conseguindo conter sua intenção de matar.
Ele virou as costas para Lith, resmungando.
— Você tá brincando comigo? Eu mereço meu ouro, então ou eu pego da sua parte ou nada.
Aproveitando o momento em que Lith não conseguia vê-lo, Terion desembainhou uma das facas escondidas sob sua jaqueta de caçador, antes de continuar a girar sobre si mesmo, cravando-a no pescoço de Lith em um movimento único e fluido.
Infelizmente, mesmo depois de seu encontro com as dríades e de perceber que sua terceira vida havia sido realmente abençoada, Lith ainda estava mais desconfiado do que um peru na véspera do Dia de Ação de Graças.
A faca apenas cortou o ar, já que seu alvo pretendido imediatamente recuou, conjurando quatro pingentes de gelo que perfuraram os braços e pernas de Terion, prendendo-o ao chão como um inseto.
Lith reagiu por instinto, mas agora parecia estar atordoado, incerto sobre o que fazer em seguida. Ele então fingiu estar lançando um feitiço mágico falso, mas os mercenários já haviam se recuperado do choque, ajustando rapidamente sua formação para cercá-lo.
— Recca, salve Terion antes que seja tarde demais! Cuidado, o idiota tem anéis mágicos, mas não o deixe fugir ou estamos ferrados! — Enquanto gritava ordens, Raghul agradeceu aos deuses pela boa sorte.
O garoto parecia hesitante em matar humanos, caso contrário a situação teria sido muito pior. Pelo mesmo motivo, Solus estava realmente preocupada. Foi a primeira vez desde que eles se fundiram que Lith mostrou misericórdia no campo de batalha.
Pior ainda, seus pensamentos pareciam estar em desordem, deixando-se encurralar facilmente.
O maior do grupo, com quase dois metros de altura e braços tão grossos quanto uma cabeça, avançou como um javali, bloqueando a linha de visão com sua enorme massa corporal.
De acordo com Solus, ele era o outro não-mago do grupo, mas se o mantivessem por perto, ele certamente teria mais de um truque na manga. Suas roupas emitiam um brilho amarelo, fazendo sua velocidade aumentar dramaticamente, seguido por um brilho vermelho que aparentemente não tinha efeito.
Lith desviou facilmente do ataque, mas conseguiu parar abruptamente, girando sobre a perna da frente para lançar um gancho rápido na tempora de Lith.
Lith foi pego de surpresa, a única coisa que ele pôde fazer foi pular para trás para enfraquecer o golpe e usar seu braço direito infundido com terra para bloquear.
— Peguei você! — Ela disse com um sorriso.
Pela voz, Lith entendeu que seu inimigo era na verdade uma mulher.
Com o impacto, a luva dela lançou um raio que percorreu o corpo dele, enquanto a força do golpe foi suficiente para fazê-lo deslizar vários metros para trás, bem na lança de seu companheiro de equipe que estava posicionado atrás dele.
Todos esperavam que seu braço fosse quebrado e seu corpo paralisado, mas Lith usou Guarda Completa (veja o capítulo 77), emitindo uma aura azul esférica com um raio de 10 metros, desviando da lança com um giro, sem nem mesmo olhar para trás.
Agora que estava longe o suficiente da mulher corpulenta, Lith pôde ver que o homem chamado Recca, provavelmente o curandeiro da equipe, havia corrido para o lado de Terion, envolvendo os dois com uma poderosa barreira de ar, para evitar novos ataques enquanto tratava o ferimento de seu companheiro.
— Peguei você. — Ele disse com um sorriso, estalando os dedos.
Um clarão repentino atraiu a atenção dos mercenários para seu camarada caído.
Uma bola de fogo detonou dentro da barreira, mas a cúpula de ar que deveria protegê-los impediu que as chamas se expandissem, fazendo com que aqueles que estavam lá dentro sofressem tanto com a explosão quanto com o recuo.
Os gritos agonizantes dos dois mercenários encheram o ar e, enquanto seus companheiros ainda tentavam entender aquela reviravolta repentina, Lith agarrou o homem armado com uma lança pelas costas.
Seu braço esquerdo formou um V, prendendo a garganta do oponente entre o antebraço e o bíceps, enquanto a mão direita agarrou seu queixo com um movimento rápido, semelhante a um chicote, quebrando o pescoço com um som de estalo.
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