Capítulo 106 - Desespero [2/2]
Apesar de poder ver com a Revigoração, um núcleo de mana não era um órgão físico. Estava dentro do corpo humano, mas ao mesmo tempo não estava. Durante os anos que passou como curandeiro na vila de Lutia, ele curou inúmeras pessoas com feridas no estômago, mas nenhuma, não importa quão profunda, havia afetado um núcleo.
Lith teve que confiar em sua recém-descoberta sensibilidade de mana, enviando um fio de mana puro de seu núcleo para o da mulher. A princípio, nada aconteceu, o núcleo dela parecia estável, mantendo sua cor amarela apesar da inundação de energias alienígenas.
Mas alguns segundos depois, Lith pôde ver que a zona onde ele havia anexado o tentáculo estava ficando cada vez mais fraca. O amarelo estava se tornando laranja, espalhando-se lentamente para todo o núcleo.
A mulher de repente começou a gritar de dor, todas as suas veias e artérias saltando, como se estivessem tentando sacudir sua pele. O vermelho do sangue ficou azul como a mana que estava invadindo seu corpo.
Quando chegou à cabeça dela, ela começou a sangrar o líquido ciano dos olhos, nariz e ouvidos. Os gritos de agonia não mostravam nenhum traço de seu desafio anterior, apenas desespero..
Sua voz passou de estridente para rouca, até que não soou mais como uma voz humana. Ela continuou gritando e gritando, até que não tinha mais ar em seus pulmões, mas parecia incapaz de respirar novamente.
Lith parou, dando a ela alguns segundos para se recuperar e sentir o alívio temporário da falta de dor.
— Pronta para conversar agora?
Soluçando de terror, a mulher corpulenta jurou aos deuses que se conseguisse sobreviver, ela teria mudado seu modo de vida. Não mais trocando vidas por dinheiro, ela se redimiria.
— Meu nome é Melia. — Ela disse tentando estabelecer uma conexão, para forçá-lo a percebê-la como uma pessoa. Era um truque que tinha funcionado inúmeras vezes no passado, mesmo que ela nunca tivesse sido a única a tentar, mas Rodimas.
Ela sempre disse que todo homem sonha em ser o herói de uma mulher chorosa.
E dessa vez ela foi sincera, ela não estava apenas tentando apunhalá-lo pelas costas assim que ele baixasse a guarda.
— Eu não me importo. — Ele respondeu com um olhar frio.
— Quero dizer, quem são vocês? Mercenários? Caçadores? Assassinos?
— Mercenários. Fomos muito bem pagos para vir aqui, matar o máximo de feras possível e incriminar os estudantes por isso.
As palavras de Melia confirmaram sua teoria, mas não desencadearam nenhuma visão, nem aliviaram seus medos.
— Quem te enviou aqui e por quê?
— Não sei, juro! Sou apenas o músculo da equipe, Raghul é quem lida com nossos contratados, enquanto Rodimas é o cérebro de nossas operações.
— Raghul?
— Aquele homem. — Ela assentiu na direção dele.
— É tudo o que eu sei, por favor, deixe-me ir.
Deixá-los vivos estava fora de questão. Eles o forçaram a usar muito de seu verdadeiro poder, eles eram um fardo. Não importa suas promessas, assim que estivessem fora de alcance, eles o venderiam ao maior lance com um sorriso no rosto.
— Então não preciso mais de você. — Com um aceno de mão, Lith usou magia espiritual para girar a cabeça dela em 180 graus, quebrando o pescoço e acabando com seu sofrimento.
— Agora, senhor Raghul, podemos fazer isso ser indolor e rápido ou doloroso e lento. Diga-me o que eu quero saber, e eu lhe darei uma morte pacífica. Resista e… bem. Você viu o que acontece. — Lith removeu a mordaça de Raghul, permitindo que ele falasse.
“Não teria sido melhor deixá-la viva? Para dar esperança a eles?” Solos objetou. Ela realmente não gostava de Lith torturando pessoas. Toda vez que ele fazia isso, ela conseguia sentir algo dentro dele morrendo.
“Que esperança? Elas são profissionais, não algumas escoteiras. Eles sabem muito bem que eu nunca as deixarei viver, porque é isso que elas fariam no meu lugar.”
— Escuta, garoto, me desculpe por termos tentado te matar. — Seu terror arruinou sua cara de pôquer normalmente impecável, fazendo-o soar falso como uma nota de três reais.
— Você não precisa fazer isso. Você ainda é jovem, não se torne como nós.
Por trás de sua falsa empatia, Raghul só queria ganhar tempo, esperando encontrar uma saída para aquela situação. Mas ele descobriu que suas mãos estavam bloqueadas, ele não conseguia nem sentir a pedra mágica que escondia em sua bota para o caso de emergências.
Sua única esperança era encontrar uma brecha na moralidade do garoto e explorá-la para escapar.
— Tarde demais para isso. — Lith ignorou seus devaneios, colocando a mão sobre o núcleo de Raghul e enviando mana à força para ele. Raghul tinha um núcleo ciano, assim como Lith, então mesmo que ele fosse incapaz de controlá-lo, as energias do núcleo eram capazes de repelir os ataques desajeitados de Lith.
“Então, eu posso invadir livremente apenas núcleos mais fracos? É uma pena que eu não tenha tempo. Teria sido interessante descobrir o que acontece com alguém quando eu degrado seu núcleo, talvez até abaixo do nível vermelho.
Tirar a magia de alguém pode ser uma ameaça formidável, sem mencionar que isso me permitiria manter prisioneiros sem ter que temer nenhum truque da parte deles.”
Tomando nota mental para experimentar isso no futuro, Lith parou de desperdiçar sua mana pura, adicionando magia de escuridão a ele. As defesas de Raghul ruíram como um castelo de areia diante de um tsunami, a escuridão rapidamente se espalhou por todo o núcleo.
Assim como para Melia, suas veias saltavam, mas sua cor era preta. O sofrimento de Melia não era nada comparado ao de Raghul, pura entropia estava comendo cada uma de suas células.
Quando Raghul começou a sangrar sangue preto por todos os seus orifícios, Lith parou de enviar energia, mas a dor não parou.
“Que diabos?” Lith ficou pasmo. Tentando entender o que estava acontecendo, ele tocou Raghul novamente, usando Revigoração.
Ele então pôde ver que, mesmo sem seu comando, a escuridão ainda estava devastando o núcleo de mana, que agora estava cheio de rachaduras, à beira de entrar em colapso.
“Parece que a magia negra é poderosa demais para ser injetada diretamente. Preciso de uma abordagem mais suave para a mulher, ou todas as informações serão perdidas.”
“Lith, o núcleo está preto.” Solus parecia preocupada.
“E se você tivesse criado uma Abominação?”
Lith se recusou a acreditar que realizar tal feito acidentalmente pudesse ser tão fácil, mas, sendo cauteloso, ele continuou monitorando o status de Raghul enquanto ignorava os gemidos e soluços de Rodimas.
Depois de apenas alguns segundos, o núcleo negro se desintegrou, e o corpo de Raghul ficou flácido, sem vida. Lith suspirou de alívio. Os humanos pareciam não ser páreo para ele, mas as Abominações estavam em uma liga própria.
Ele já estava cansado daquele dia, só queria entender qual era a fonte do mal-estar que sentia, resolver aquela maldita visão e depois dormir por uma semana inteira.
Lith tinha acabado de se virar para Rodimas, pensando em qual elemento usar nela, quando um barulho repentino chamou sua atenção.
O corpo de Raghul tremia novamente, contorcendo-se como se tivesse sofrido uma convulsão.
Ao usar a Revigoração novamente, Lith pôde ver que sangue preto e vermelho estavam se acumulando onde o núcleo de mana estava, formando um novo, repleto de energias sombrias.
O núcleo de sangue estava sugando todos os fluidos restantes do corpo, fazendo Raghul ficar pálido como um fantasma, seus olhos brilhando com uma luz vermelha, como se uma tocha estivesse queimando atrás deles.
Lith podia ver seus caninos crescerem em presas, suas mãos e pés se libertando do chão de pedra, pois era apenas lama macia. Ele imediatamente recuou, conjurando uma barreira de vento para interceptar todos os projéteis de pedra voando em sua direção.
“O que diabos é um núcleo de sangue?” Solus quase entrou em pânico.
“A má notícia é que acho que acabei de criar um vampiro. A boa notícia é que pelo menos ele não brilha sob a luz do sol como uma bola de discoteca1.” Lith respondeu.
- referência a crepúsculo[↩]
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