Índice de Capítulo

    Respiração após respiração, o úmero exposto deslizou de volta para baixo da pele e, em seu lugar, logo o corpo de Lith voltou ao normal.

    Rodimas mal reagiu à voz dele. Ver seus companheiros morrerem, ficar impotente enquanto Melia era torturada, tudo isso tinha sido uma experiência terrível. Mas ver a metamorfose de Raghul, sentir seu fedor de morte e decadência tinha sido demais.

    Ela não mordeu a língua só por causa da mordaça, mas gritou o tempo todo mesmo assim. Ela sabia que depois da morte de Lith seria sua vez de ser comida viva. Seus olhos só mostravam o branco, a pupila rolava quase para trás.

    Ela havia deslocado os dois ombros tentando se libertar das amarras. Suor, lágrimas e muco sujavam seu rosto, fazendo com que seu cabelo grudasse nela como uma máscara imunda.

    O terror a havia destruído completamente.

    Lith teve que jogar água fria em Rodimas para forçá-la a recuperar o foco.

    Sua voz estava rouca devido ao esforço, mas ainda clara.

    Ela explicou como o pedido não tinha vindo pelos canais oficiais da guilda mercenária, mas por um de seus contatos no mercado negro da cidade de Kandria.

    De acordo com os livros da Soluspedia, era simplesmente uma cidade mercantil, o centro comercial mais próximo da academia.

    O contratante era um comerciante, mas o pedido estranho somado à alta recompensa deixou os mercenários desconfiados. Após receberem um pagamento inicial considerável, eles investigaram o assunto, descobrindo que o comerciante era apenas um intermediário.

    De acordo com suas fontes, ele serviu à poderosa e nobre família Androse, famosa por seu legado mágico centenário. Naquele ponto, eles só tinham duas escolhas: devolver o dinheiro e recuar do trabalho, ou se envolver na luta política.

    Soluçando, Rodimas contou como votou na primeira opção, mas foi superada em número, porque o salário era muito bom e os riscos pareciam mínimos na época.

    Lith não sabia o que fazer. A história dela teria sido muito mais significativa, se ele pudesse fazer algo a respeito. O estranho era que, desde que ele havia criado sua própria versão do monstro de Frankenstein, a sensação de fracasso iminente havia desaparecido.

    — Isso não é tudo. — Rodimas conseguiu dizer depois de gaguejar um pouco.

    — Como conseguimos entrar e sair da floresta muitas vezes, depois de nos cumprimentar, nosso contratante nos deu outra tarefa. Nós deveríamos entregar um pacote amanhã.

    “O prazo está muito distante. Eu tinha mais de um dia para alcançá-los, então por que a necessidade de pressa? Ainda assim, a visão me mostrou que a academia está de alguma forma relacionada a isso. Seja lá o que for, pode ser útil para mudar o curso dos eventos.”

    — Está no meu amuleto dimensional.

    Lith tirou todos os amuletos saqueados, permitindo que Rodimas reconhecesse os seus e tirasse o pacote. Como itens mágicos só precisavam de um pensamento para funcionar, ele não libertou as mãos dela, apenas colocou na testa dela enquanto montava várias proteções com magia espiritual, só para ficar do lado seguro.

    Rodimas manteve sua palavra, materializando uma caixa de madeira do tamanho de uma maleta. Não tinha nenhuma marcação ou insígnia em particular, a única coisa notável sobre ela era a fechadura.

    Ele foi colocado ao longo do lado estreito e longo da caixa, e consistia em uma pedra em forma de octaedro, com várias runas gravadas ao redor, formando uma espiral. Usando Revigoração, Lith foi capaz de examinar seu pseudo núcleo.

    “Não é nada que eu já tenha visto antes. Aposto tudo o que não tenho que sem o código adequado ele vai se autodestruir, explodir ou algo assim. E se eu realmente quiser descobrir o que tem dentro, só tenho uma chance.”

    — Imagino que você não saiba como abri-lo.

    — Não, eu não sei. Por favor, não me machuque. — Percebendo que havia sobrevivido à sua utilidade, Rodimas chorou em desespero, sabendo que era inútil implorar por misericórdia.

    — Um acordo é um acordo. — Lith deu dois tapinhas na cabeça e no coração dela com pingentes de gelo do tamanho de balas, para garantir que ela não sofreria.

    Ele estava prestes a sair quando um som de pancada o fez se virar, pronto para o combate, apesar de sua exaustão mental.

    Para sua surpresa, era apenas o jovem Byk novamente.

    — Você realmente tem talento para escapar. Como aqueles caçadores conseguiram encurralá-lo é um mistério para mim. — Lith disse com um tom irritado. Nas duas vezes em que precisou de ajuda, o Byk desapareceu, deixando-o em maus lençóis.

    Aos olhos de Lith, isso o tornava persona non grata.

    — Cara, isso é duro! Depois que você me resgatou, eu fiquei morrendo de medo. Além disso, você não parecia precisar de ajuda. Dessa vez eu não fugi, eu fui buscar ajuda. Você não tem ideia de quanto tempo levou para chegar até minha mãe.

    — Sua mãe?

    — Sim, de acordo com sua definição, ela é minha melhor amiga.

    — E eu não teria atrasado minha partida por um mero humano, se não fosse pelo fato de você ter salvado meu filhote e ter sido tão estúpido a ponto de perder o controle de seu próprio feitiço de necromancia. Portanto, como parte de sua recompensa, eu lhe ensinarei como não colocar a si mesmo e aos outros em perigo com magia das trevas.

    A mãe Byk era uma fera enorme, com pelo menos 1,8 metros de altura no ombro, com um peso próximo a uma tonelada. Seu pelo era marrom escuro com tons de preto por toda parte.

    Lith estava prestes a se defender, explicando que não era um feitiço, mas sim um experimento, quando percebeu o que havia acontecido.

    “Atrasar a partida? Então é por isso que eu precisava me apressar? Tudo o que aconteceu foi apenas um passo para falar com esse Bvk?”

    A mãe Byk se aproximou, cheirando-o com curiosidade.

    — Você parece um humano, mas tem algo diferente dos outros que conheci até agora. Qual é seu nome, filhote?

    — Flagelo. — Lith considerou mais sensato usar o nome que lhe foi dado pelos reis da floresta Trawn. Se a mãe Byk conhecia humanos, ele tinha que proteger sua identidade.

    — Nome forte para alguém tão jovem. — Ela bufou. — Um nome Byk, até. Isso é um bom presságio. Eu sou Kalla, e esse é meu caçula, Nok.

    Lith assentiu educadamente com a cabeça.

    — Escute bem, filhote. Há uma razão para a magia da luz e da escuridão serem tão escassas na natureza, e é porque elas são os elementos mais fortes. A luz nutre a vida, de acordo com as lendas, pode até ressuscitar os mortos ou criar novos seres.

    — A escuridão, em vez disso, é o elemento da morte. Não é mau por si só, é só que todos os seres vivos têm medo da morte, então eles a temem. E o medo pode facilmente se transformar em despeito e preconceito.

    Lith zombou interiormente daquelas palavras.

    “Ainda não conheci ninguém, humano ou não, que não considere o elemento em que é melhor como o mais forte. Quanto à magia da luz, é uma ótima ferramenta, mas poderosa não é a palavra que eu usaria para descrevê-la. Conveniente, na melhor das hipóteses.”

    “Tanto faz.” Solus revirou os olhos. “Por que você não fica quieto e escuta? Quando é que vamos encontrar alguém nos ensinando magia de verdade?”

    Kalla olhou para ele por um segundo, percebendo sua descrença.

    — Diga-me, Flagelo, quantas bestas mágicas você conheceu que usam magia de luz?

    — Nenhuma. — Ele foi forçado a admitir.

    — E quantos são capazes de magia negra?

    — Só um. Era um Byk, alguns anos atrás.

    — Zero e um, enquanto há inúmeras bestas que usam os outros elementos. Você já se perguntou por quê? Deixe- me mostrar um velho truque Byk.

    Kalla bateu no chão duas vezes com suas garras de peão esquerdo, enquanto uma energia escura girava em torno de seu corpo enorme.

    — Surgir.

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota