Capítulo 119 - Exórdio
Lith esperou que seus companheiros entendessem completamente a seriedade de sua situação. Sem a ajuda deles, ele temia ser forçado a expor a si mesmo e sua família a inúmeros perigos. Cada um deles foi forçado a uma escolha realmente difícil.
Ou para apoiar sua história, mentindo para o diretor e colocando suas carreiras acadêmicas e o nome da família em perigo, ou recusar, deixando-o arcar sozinho com as consequências de sua tentativa de impedir a ruína da academia.
— Sei que estou pedindo muito a vocês, mas, por favor, saibam que não estou fazendo isso levianamente. Se algum de vocês não quiser se envolver, eu entenderia e não guardaria rancor.
Um silêncio constrangedor se seguiu, a maioria deles não sabia como responder. Por um lado, eles se sentiam orgulhosos de seu amigo, não apenas disposto a arriscar tanto para proteger o País da guerra civil, mas também tendo confiança suficiente neles para revelar seu segredo.
Por outro lado, porém, eles se sentiram assustados com as consequências que ambas as escolhas teriam. Mas o mais importante, eles perceberam que ele estava pedindo deles um salto de fé. Se sua revelação provou alguma coisa, foi que eles realmente não sabiam nada sobre ele.
Lith já era assustador quando ele encarava o tempo todo, passando rapidamente pelas aulas e eliminando sozinho as feras mágicas no exame simulado. Mas agora, ele não tinha acabado de admitir que não era um humano normal?
Pelo que sabiam, sua velocidade e força sobrenaturais poderiam ser apenas a ponta do iceberg.
Essa não era uma situação que nenhum deles havia levado em consideração ao ingressar na academia Grifo Branco. Para Yurial, o plano sempre foi estudar bastante, ter o máximo de aventuras possível antes do casamento arranjado e herdar os bens da família.
O único objetivo de Phloria era se formar com notas altas o suficiente para evitar qualquer casamento arranjado e viver sua vida como quisesse.
Depois de descobrir que sua mãe não se importava com ela como filha, mas apenas como uma ferramenta para suas conspirações, Friya decidiu se tornar o mais bem-sucedida possível para mostrar o dedo do meio antes de deixar a casa para sempre.
Quylla, em vez disso, só queria nunca mais sofrer de solidão e fome.
As coisas tinham se tornado muito mais complicadas.
Contrariando a expectativa de todos, foi Yurial o primeiro a responder.
— Pode contar comigo. — Ele fez sinal de positivo com o polegar.
“Quylla provavelmente o seguiria mesmo que ele se revelasse um morto-vivo ou um monstro que muda de forma.” Yurial pensou. “Friya simplesmente virá junto. Aquelas duas são tão coladas que eu não ficaria surpreso mesmo se ela aceitasse participar de um trisal.
Isso deixa de fora apenas Phloria, mas ela parece muito limitada à honra e lealdade para abandonar um companheiro de equipe em apuros. Portanto, em vez de parecer um covarde, é melhor agir primeiro. Além disso, sem dor, sem ganho.
Quando for descoberto que “conseguimos” matar um monstro, minha reputação vai disparar, e se de alguma forma “nossa descoberta” impedir a guerra civil, eu também levarei o crédito por isso.”
Embora cínico, o raciocínio de Yurial estava no estádio. Ele havia antecipado Quylla por uma fração de segundo, e assim que ela falou, Friya concordou também, deixando a espantada Phloria parecendo uma idiota egoísta.
— Que porra… Quer dizer, eu estou dentro! — Ela corou tanto que quase parecia fofa.
Depois de agradecê-los, Lith continuou descrevendo a luta contra a Abominação, elaborando com a ajuda deles uma vitória de equipe crível.
Eles ainda estavam discutindo quando uma voz ressoou no ar, como o gongo das aulas, convocando-os para a sala do Diretor. Eles andaram o mais devagar possível, tentando acertar os últimos detalhes.
Quando entraram no escritório, Linjos os esperava, de pé em frente à janela de vidro.
— Estamos prontos para reportar, senhor. — Phloria deu um passo à frente, reta como uma flecha, em uma pose de aparência militar.
— Não precisa. — Ele respondeu sem nem se virar, fazendo com que eles se aproximassem com um aceno de mão.
Enquanto eles obedeciam, cada um mais nervoso que o outro, Linjos girou o dedo indicador no ar, e toda a torre onde ficava o escritório começou a girar, até ficar de frente para uma região específica da floresta que estava completamente nua.
O grupo todo ficou chocado, se não fosse pela mudança na paisagem eles nunca teriam imaginado que a torre era capaz de se mover. Tudo aconteceu sem a menor vibração.
— Foi lá que a luta aconteceu, certo? — Perguntou Linjos.
— Sim. — Phloria respondeu engolindo um pedaço de saliva.
“Bons deuses, quão grande era aquela coisa? Quão forte Lith realmente é?” Eles pensaram como um.
— Normalmente eu não acreditaria em uma palavra da sua história. Muitas coisas não batem. Mas mesmo que aquela horrível cicatriz murcha não fosse prova suficiente, eu já contatei o Senhor da floresta, que confirmou tudo.
— Então, ou você está dizendo uma verdade digna de ser cantada por bardos, ou eu sou vítima de uma piada incrivelmente elaborada.
Quando Scarlett recebeu a ligação de Linjos sobre a Abominação, ela imediatamente entendeu o que estava acontecendo.
Sabendo o que os humanos fariam com um Desperto, e ainda interessado no desenvolvimento de Lith, o Scorpicore assentiu para tudo, até mesmo apresentando a Linjos a dríade resgatada antes de desligar a ligação.
— Animais podem falar? — Yurial não conseguiu evitar perguntar surpreso.
— Animais não conseguem. Monstros, por outro lado, falam fluentemente, assim como você e eu.
Linjos se virou e olhou Lith nos olhos.
— Isso me deixa com apenas algumas perguntas. Como Lith foi quem decidiu o que fazer com o que você encontrou?
— Porque a dríade sentiu que sua alma estava em perigo. — Phloria improvisou prontamente.
— Tudo o que encontramos parecia estar ligado ao seu destino. Simplesmente pensamos que não tínhamos nada a dizer sobre o assunto.
— E isso nos leva à segunda questão. Por que você contatou a Marquesa Distar em vez de vir até mim primeiro? Eu poderia esperar isso de Lorde Deirus ou Lady Ernas aqui, dando notícias e evidências tão importantes para suas famílias para ganhar o favor da Corte. Mas você?
— Você é apenas um plebeu, por que decidiu me ignorar? — Sua voz não parecia irritada, mas sim abatida.
— Com todo o respeito, senhor, não estou anulando sua decisão. — Lith respondeu.
— A marquesa Distar não é apenas a governante desta região, é também uma das que me ensinaram magia. — Ele se agarrou à mentira que o fez ser admitido na academia meses atrás.
— Além disso, acho que ela é mais adequada para lidar com o assunto, já que está mais distante do problema que você contribuiu para criar, ainda que apenas em parte.
— Explique. — Os olhos de Linjos endureceram, um toque de raiva apareceu neles.
— Na minha opinião, sua reforma do sistema acadêmico é um verdadeiro paraíso para aqueles que trabalham duro e plebeus, e esse é o problema. Você já ouviu a fábula do sapo fervendo?
— Se você colocar um em águas quentes, ele pulará para longe, para a segurança, mas se você aumentar a temperatura lentamente, ele morrerá sem nem perceber. O problema já estava lá, você tinha a solução certa, mas implementou rápido demais.
— Acredito que um homem com o seu conhecimento deveria ter sido capaz de prever isso e proceder com mais cautela.
Linjos já estava magoado com a falta de confiança deles, o último comentário atingiu um ponto sensível, deixando suas bochechas vermelhas de raiva e vergonha.
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