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    Apesar da intervenção do Professor Marth, a situação piorou assim que Raaz e Linjos conseguiram se recuperar da violenta surra verbal que acabaram de sofrer.

    — Quem é esse lunático delirante e por que ele tem permissão para ter qualquer contato com os alunos? Ele não tem vergonha nem consideração pelos sentimentos dos outros! — Normalmente Raaz teria sido humilde e submisso.

    Para alguém que nunca havia deixado a pequena vila de Lutia em mais de trinta anos, a academia Grifo Branco era intimidadora. Raaz sabia muito bem que até mesmo um único tijolo do castelo valia mais dinheiro do que ele poderia ganhar em toda a sua vida.

    Raaz ainda não conseguia acreditar que um de seus filhos tinha conseguido ser admitido em um lugar como aquele. Ele suspeitava que, por trás de toda sua conversa corajosa, Lith estava na verdade tendo uma vida difícil, cercado por crianças ricas e mimadas.

    Em qualquer outra circunstância, ele nunca teria entrado, temendo que sua presença fosse suficiente para deixar Lith constrangido.

    Mas agora, depois que seu filho foi gravemente ferido por causa da incompetência dos chamados “Professores”, ele não só foi forçado a ouvir os discursos de Linjos sobre o prestígio da academia, mas também teve que suportar um jovem e bonito dândi1 tentando seduzir sua esposa diante de seus olhos.

    Essa foi a proverbial gota d’água que fez o copo transbordar. Ele não se importava mais se o homem na frente dele era o Diretor ou o próprio Rei, Raaz estava determinado a dar-lhe um gostinho de sua raiva.

    Por outro lado, Linjos não queria nada mais do que se juntar a ele e despedaçar Manohar membro por membro. Aquele homem sempre foi um pesadelo para as relações públicas, evitando eventos sociais ou fazendo bagunça nas raras vezes em que se dignou a comparecer.

    E agora, em menos de um dia, Linjos foi agredido e humilhado por ele duas vezes, ambas na frente de alunos e funcionários, destruindo qualquer orgulho e dignidade que seu papel deveria ter.

    “Eu queria poder dizer a ele que se a Diretora anterior que recrutou Manohar não estivesse morta, eu a mataria eu mesmo. Logo depois de jogar Manohar da torre mais alta da academia. Mas quando aceitei esse trabalho, eu sabia que havia um elefante na sala.”

    — Apesar de suas muitas, muitas falhas, posso garantir que o Professor Manohar é aquele tipo de gênio que aparece apenas uma vez a cada cem anos. Ele é um trunfo inestimável para a academia e o Reino, que já salvou inúmeras vidas, provavelmente até a do seu filho.

    Raaz não ficou satisfeito com a resposta, mas Elina apertou sua mão com força, fazendo-o parar.

    — Você está com muita dor, querido? — Ela perguntou a Lith, bagunçando seu cabelo.

    — Não, mãe. Pelo contrário, me sinto grogue, mas relaxado. — Ele respondeu, bastante surpreso por ter cabelo novamente. Ele ainda não tinha tido a oportunidade de se olhar no espelho.

    — Isso porque injetamos em você várias poções para ajudá-lo a dormir e se recuperar. — Explicou Linjos.

    Marth retornou, trazendo consigo cinco membros da equipe médica e o braço perdido de Lith. Normalmente, para um caso tão simples, um único Professor era o suficiente, mas eles queriam mostrar a Lith e seus pais o quanto se importavam.

    O braço estava completamente envolto em gaze de linho branco puro, não deixando nem as pontas dos dedos expostas. Sendo separado de um corpo vivo, não poderia ser curado, então estava fadado a ficar sangrento e queimado.

    Lith imaginou que cobri-lo seria outra forma de cortesia para com seus pais, já que nenhum curandeiro teria pestanejado ao vê-lo.

    No momento em que o braço estava a cinco metros dele, Lith sentiu que algo estranho estava acontecendo. Seu núcleo de mana começou a se agitar dentro dele, tentando liberar mana.

    Lith estava cansado demais para lutar sem um bom motivo, então parou de resistir.

    “Solus, você pode me descrever o que está acontecendo? Não consigo ativar a Visão da Vida sem inundar meus olhos com mana.”

    “Tendrículos de energia estão saindo do seu corpo e se conectando ao braço. Ele está… vivo?”

    Quando Lith sentiu a dor coceira das queimaduras, ele ficou tão surpreso que involuntariamente torceu os dedos da mão esquerda. Felizmente, Marth ainda estava andando, então o movimento repentino passou despercebido.

    “Agora a mana está substituindo o sangue, reativando a fusão de luz remanescente de antes de ser cortado. Pelo meu criador, ele está se curando sozinho!”

    Solus estava livre para expressar seu choque, mas Lith teve que manter seu comportamento calmo, agindo como se tudo estivesse normal em vez de entrar em pânico. Só para ter certeza de que não era tudo um sonho louco, Lith tentou dobrar o dedo mindinho esquerdo.

    Ele se movia à vontade.

    Lith estendeu a mão restante para Elina.

    — Mãe, estou um pouco assustado agora. — Lith tentou transmitir seus verdadeiros sentimentos sem levantar suspeitas, ao mesmo tempo atraindo toda a atenção para si. Enquanto se concentrava no calor de sua mãe, ele tentou chamar de volta as energias do braço, mas sem sucesso.

    Quanto mais perto ficava, mais forte era a conexão.

    O processo de recolocação ocorreu sem problemas, seguido imediatamente pelo de cura. Lith teve que permanecer cuidadosamente parado o tempo todo, um único espasmo trairia seu novo e inoportuno segredo.


    Na noite anterior à sabotagem no salão de treinamento de magia dimensional, algumas centenas de quilômetros ao sul da fronteira do Reino Griffon, o Alto Conselho das tribos do deserto se reuniu, tentando defender seu caso ao Benfeitor.

    O Deserto de Sangue era o maior dos três Grandes Países no continente Garlen, os outros dois sendo o Reino Griffon e o Império Gorgon. De acordo com muitos, também era o mais forte e o mais perigoso.

    A razão era que, apesar do clima severo, o Deserto de Sangue era o mais rico em termos de tesouros místicos e recursos naturais. Enquanto em outros lugares para encontrar cristais mágicos, era preciso cavar montanhas ou explorar vastas florestas, no Deserto de Sangue era o suficiente encontrar um oasis.

    Os gêiseres de energia do mundo que estavam escondidos em todos os outros lugares e só podiam ser encontrados por pura sorte ou recorrendo a artefatos poderosos como Solus ou o pincenê de Scorpicore, ali se manifestariam na forma de água, vegetação e vida.

    Entre suas dunas, era possível encontrar formações rochosas ricas em um metal raro, o Davross, que depois de fundido e forjado mudava de cor, de prateado para preto, conforme a exposição à luz, mas o mais importante: era capaz de cortar ferro como se fosse madeira.

    Davross era o material mais forte conhecido pelo homem.

    Apesar do nome, as areias do Deserto de Sangue não eram vermelhas, mas ouro amarelo. Elas eram derivadas das inúmeras vidas perdidas durante as guerras passadas, quando as diferentes tribos do deserto lutavam entre si ou contra os estrangeiros que tentavam roubar suas terras.

    A guerra era uma constante no deserto, porque nenhuma quantidade de cristais de mana ou Davross conseguia tornar o clima úmido, saciar a sede de humanos e gado ou tornar a terra fértil.

    Apesar de todas as riquezas que possuía, comida e água sempre foram a única moeda que tinha algum valor real no deserto. No passado, as tribos lutariam pelo controle do oásis, seja por sua própria vontade ou manipuladas pelo povo das planícies, desejando explorar suas necessidades para perseguir o monopólio dos recursos.

    Mas não mais. Após a chegada do Benfeitor, o deserto foi unificado e a palavra competição foi substituída pela estranha “cooperação”.

    Os oásis agora eram compartilhados, e cada tribo periodicamente se revezava entre uma zona do deserto e outra, permitindo que todos aproveitassem ciclicamente tudo o que seu país tinha a oferecer.

    Cada um dos líderes da tribo, agora simplesmente chamados de Feathers, receberia sabedoria e poder, tornando-se fortes nos caminhos da magia, independentemente do talento com que nasceram. Mas o que agora poderia parecer um país divino, veio com um preço.

    As leis do Benfeitor eram as únicas leis, e a punição mais leve por quebrá-las era a morte. Os Feathers governariam acima de seu povo, mas qualquer mudança, pequena ou grande, tinha que receber a aprovação do Benfeitor.

    Até mesmo o Alto Conselho havia sido reduzido a uma mera formalidade, apenas um testamento realmente importava. Essa era a razão pela qual ele agora era realizado somente após o pôr do sol, quando o Benfeitor tinha um temperamento menos impetuoso.

    Naquela noite, os Feathers reunidos tentavam persuadir o Benfeitor sobre as muitas vantagens que as tribos do deserto obteriam ao invadir um Reino Griffon enfraquecido.

    1. Homem de bom gosto e fantástico senso estético, mas que não necessariamente pertence à nobreza[]
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