Índice de Capítulo

    Seus espiões trouxeram notícias de que uma guerra civil era inevitável; era o momento perfeito para começar a planejar sua invasão.

    Falando em seu nome, estava Ashun Dagfuur, Pena da tribo do Leão Vermelho, temporariamente nomeado Pena Suprema, o primeiro entre iguais e porta-voz das tribos. Ele era um homem alto, com cerca de 1,84 metros de altura, corpo magro e musculoso, pele morena e uma barba longa, porém bem cuidada.

    Como todas as outras Penas, ele usava calças e camisas brancas pesadas para suportar o frio da noite, e um turbante na cabeça, com um enorme rubi no centro para representar seu status na tribo.

    A reunião foi realizada em uma tenda cerimonial, de cor dourada, cujas laterais e piso eram cobertos por tapetes e tapeçarias que retratavam a história coletiva do deserto.

    O teto da tenda foi encantado para poder ficar invisível à vontade, já que o Benfeitor odiava espaços apertados, e dessa forma ainda era possível contemplar a lua e as estrelas.

    O espaço era perfeitamente iluminado por vinte e sete braseiros de ferro negro, um para cada tribo. Seus fogos eram alimentados pela magia de suas respectivas Penas, usadas tanto para simbolizar sua força quanto para votar ao final de uma discussão.

    Como sempre, Ashun falava com paixão, descrevendo todas as terras verdes e fontes de água, à espera que as tribos as tomassem dos fracos e estúpidos homens das planícies. Seus olhos negros buscavam a aprovação e o apoio da outra Pena, mas ele não encontrou nada.

    Depois que ele começou seu discurso, todos os olhos estavam fixos na figura solitária parada do outro lado da tenda, observando cada movimento.

    Era um pássaro vermelho-fogo, com três metros de altura, corpo de águia e penas da cauda que lembravam as de um pavão. A lendária fênix Salaark, também conhecida como a Benfeitora do deserto, que séculos antes havia unido todas as tribos sob seu domínio.

    Sussurrava-se que de cada uma de suas penas, uma arma incomparável poderia ser forjada, e que seu sangue continha o segredo da imortalidade. Para caber na tenda, ela havia encolhido consideravelmente e agora estava em seu estado mais vulnerável.

    Apesar disso, nenhum homem ou mulher entre as Penas sentiu qualquer tipo de emoção além de respeito e medo.

    Salaark ficou parada, com os olhos fechados, sabendo que não conseguiria se controlar se os abrisse.

    Quando Ashun terminou, ela fez uma pergunta simples.

    — Então, você vai deixar o deserto? — A voz de Salaark não era alta, mas ainda soava perfeitamente clara para todos os presentes.

    — Não, minha senhora. O Leão Vermelho jamais faria isso. — Ele ergueu as mãos e abaixou a cabeça em sinal de submissão.

    — Só estou propondo que nos vinguemos das planícies, e garantamos novos recursos.

    — Vingança? — Perguntou, abrindo um único olho. — Trazer a morte aos vivos não fará seus ancestrais sofrerem. Parece mais uma desculpa esfarrapada para ir embora, porque você não está satisfeito com o que tem agora.

    — Não vou embora e não sou ingrato. — Disse ele, tentando parecer forte e confiante, mas suor frio percorreu sua espinha.

    — Então, como você pretende manter as fontes conquistadas? De que serve um solo fértil se não for cultivado?

    — Bem, é claro que alguns dos nossos homens terão que ficar para trás com suas famílias. Mas apenas para estabelecer uma cadeia de suprimentos que beneficiará todas as tribos.

    — Não me importo com suas palavras doces, só com o significado delas. — Respondeu Salaark asperamente.

    — Você quer que seu povo se mude, que crie seus filhos em uma terra estrangeira, longe do deserto e de mim! Não tenho objeções ao seu plano. — A última frase deixou todos chocados; clemência nunca fora seu ponto forte.

    — Mas, ao mesmo tempo, não te darei apoio algum.

    — Aqueles que desejarem participar são livres para fazê-lo, desde que primeiro me devolvam todas as minhas bênçãos. — A segunda parte, por outro lado, estava perfeitamente de acordo com sua natureza, fazendo com que todas as Penas empalidecessem.

    — Só para esclarecer, você está falando como Alta Pena, como Pena da tribo do Leão Vermelho, ou apenas por si mesmo? — Os olhos de Salaark se abriram, liberando uma quantidade enorme de intenção assassina que fez Ashun cair de joelhos. Suas garras batendo no chão tinham o ritmo de tambores de guerra.

    — Ele não fala pela tribo da Águia Dourada. — Disse uma mulher de meia-idade, levantando-se da cadeira e ajoelhando-se no chão, com a testa tocando o chão enquanto seu braseiro ficava preto, negando as palavras da Alta Pena.

    — Ele não fala pela tribo dos Lobos Prateados. — Um após o outro, todos os Feathers se ajoelharam, a luz negra dos braseiros projetando uma atmosfera sinistra.

    — Ele não fala pela tribo do Leão Vermelho.

    Reconhecendo o fracasso de Ashun, os anciões que o acompanhavam repudiaram seu líder, na esperança de poupar seu povo de ser banido para sempre.

    Através de um esforço coletivo, eles conseguiram arrancar a chama do controle de Ashun, tornando-a negra e deixando-o sozinho. A reviravolta dos acontecimentos o chocou, mas não a ponto de não reconhecer o que havia acontecido.

    Por trás da tensão e do medo estampados no rosto de seus colegas, ele conseguia ver seus lábios se curvarem em um sorriso mal contido. Ele sabia que era impopular devido ao seu caráter autoritário, tentando beneficiar sua tribo às custas de todos os outros.

    Mas isso aconteceu porque, sob sua liderança, o Leão Vermelho se tornou uma das tribos mais populosas e fortes do deserto. Ashun usou isso no passado para pressionar as tribos vizinhas, para ganhar mais e dar menos, aumentando seu status na comunidade.

    Quando o nomearam Alta Pena, ele pensou que estavam finalmente prontos para se submeterem. Na verdade, tudo não passara de um plano para eliminá-lo sem guerra, em perfeita concordância com as leis do deserto.

    Qualquer que fosse o resultado do Conselho, eles teriam lucrado, invadindo novas terras ou eliminando um rival poderoso. Usaram o ego dele contra ele, transformando Ashun em um peão sacrificial involuntário.

    Ele sabia o que aconteceria em seguida: após ser destituído de seu título pelos anciãos, a Benfeitora tiraria dele todos os artefatos e livros que Salaark lhe dera ao longo dos anos. Por fim, isso o despojaria de sua bênção maior, o dom da magia.

    Ashun era um jovem sem talento antes de conhecer o Benfeitor. A fênix ficou fascinada por sua paixão e dedicação à tribo, compartilhando com ele seus segredos e sabedoria, transformando o garoto em um dos mais poderosos guerreiros mágicos do Leão Vermelho.

    E agora, ele tomaria tudo de volta. Ashun não sabia como Salaark havia aumentado sua capacidade de mana e força mágica; ele ficava inconsciente toda vez que o “tratava”. Mas ele já vira muitas vezes como isso revertia os efeitos.

    Um simples olhar e o corpo da vítima se contorcia e se contorcia, as veias ficavam azuis e saltavam, enquanto a mana era literalmente espremido através de uma dor excruciante, até que não restasse nada.

    Ashun viveu seus trinta e seis anos como guerreiro, um líder e um homem entre os homens. Ele não suportava a ideia de perder tanto e viver o resto da vida em desgraça. Antes que a sentença fosse executada, Ashun usou magia uma última vez, parando o próprio coração.

    Na morte, sua honra seria salva, e sua família seria tratada como os parentes enlutados de uma Pena morta, e não como os de um traidor.

    O Benfeitor olhou para o cadáver, concordando levemente com a decisão final de Ashun.

    Salaark gostava dele quando menino e o amava como homem, mas depois que ele se tornou líder, eles se distanciaram. Quanto mais poder ele adquiria, mais insatisfeito ficava.

    Primeiro roubando de sua própria tribo, depois torcendo os braços dos vizinhos para saciar sua sede de glória. E agora, ele teve até a ousadia de pedir que Salaark consentisse em uma guerra migratória sem sentido.

    Se a fênix alguma vez quisesse deixar o deserto, já o teria feito. Se quisesse banhar o mundo em fogo e sangue, Salaark não precisaria passar séculos ensinando magia às tribos e como prosperar no ambiente hostil que chamava de lar.

    — Eu sou Salaark, o sol do deserto, meu caminho é o único caminho! Minhas palavras são lei! — Ela rugiu, abrindo suas asas, incendiando toda a tenda e seus ocupantes, mas sem queimar ninguém.

    — Posso ser como o nascer do sol que anuncia uma nova era, ou como o pôr do sol que prenuncia uma noite escura. Invoque-me novamente por ganância mesquinha, e todas as tribos precisarão de novos Líderes.

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