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    Depois que o Professor Marth terminou de curar o braço de Lith, as bandagens foram removidas, revelando que ele havia voltado ao normal, exceto por um pequeno detalhe. Ao contrário do resto do corpo, que ainda mantinha a cor normal, estava pálido como se nunca tivesse visto a luz.

    Marth não deixou de notar a pergunta silenciosa em seus olhos.

    — Desculpe, não sei como Manohar consegue fazer isso.

    — Em teoria, é impossível que uma pele nova retenha qualquer tipo de bronzeado, mas isso não o impede de fazer isso de qualquer maneira.

    Então, sussurrou no ouvido de Lith:

    — É melhor você ir a Manohar mais tarde, se o problema de pele te incomoda. Não acho que trazê-lo de volta aqui seria uma boa ideia.

    Lith assentiu. Tanto o diretor quanto seu pai provavelmente não seriam capazes de suportar mais uma de suas conversas motivacionais.

    — Professor, o senhor ainda não me contou o que aconteceu depois que perdi a consciência. — Graças a Solus, Lith já sabia a resposta, mas precisava fingir estar curioso sobre ela.

    — Sim, de fato. Mas é melhor ouvir isso daqueles que realmente salvaram sua vida. Deu um trabalho e tanto forçar seus amigos a saírem da sua cama e descansarem um pouco.

    Os pais dele ficaram comovidos ao saber que o filho tinha amigos tão dedicados, Lith nem tanto, pois isso fez ruir mais um pedaço de suas crenças pessoais. Isso também levantou uma questão assustadora.

    “Solus, já que agora estou usando uma camisola de hospital, por favor, me diga que Manohar não me despiu na frente dos outros.”

    “Não, ele não fez isso.” Ela riu. “Mas não haveria nada de errado nisso, afinal vocês são todos médicos.”

    “Verdade, mas se a situação fosse inversa, você acha que alguma garota gostaria de ser vista nua por três de seus amigos homens?”

    “Depende dos amigos, eu acho.” Havia um toque de malícia em suas palavras.

    “Certo, é isso.” Lith decidiu resolver o assunto de uma vez por todas.

    “Solus, o que está acontecendo com você? Desde que chegamos à academia, de vez em quando você tenta me arrumar uma garota ou outra, diz algo inapropriado, como agora. As pessoas não são só pedaços de carne, elas também têm sentimentos.”

    “Que gracinha, vindo de você!” Pela primeira vez desde que se conheceram, Lith sentiu a raiva dela. Ele não respondeu, esperando Solus desabafar.

    “Desde quando você se importa com sentimentos? Tudo o que você faz é mentir para manipular todo mundo, lutar como um louco, acumular poder, repetir a dose e repetir. Já pensou nos meus sentimentos? Em como eu fico com medo toda vez que você faz alguma besteira, colocando sua vida em risco como se não fosse nada?

    Ou como tenho inveja de todos vocês, livres para falar, rir, caminhar ao sol, enquanto fico presa o dia todo dentro de um anel de pedra, vivendo minha vida através de vocês? E, para ser sincera, não é grande coisa.

    Você tem tantas pessoas que te amam, tantas oportunidades de se aproximar e se ter amigos de verdade, em vez de apenas fingir. No entanto, você sempre os rejeita como lixo, e isso me deixa furiosa.

    Sabe, talvez a Escorpicora estivesse certa. Talvez eu seja mesmo um objeto amaldiçoado, porque esta vida às vezes parece mesmo uma maldição.”

    Apesar de não ter lágrimas para derramar, para Lith era como se ela estivesse chorando copiosamente.

    Isso o fazia sentir-se terrivelmente culpado e impotente.

    Muitas vezes ele se fechará para ela, seja para estudar ou praticar, falando apenas para pedir sua ajuda. Estavam juntos há tanto tempo, mas ele ainda às vezes tratava Solus como uma espécie de eletrodoméstico.

    Lith não podia negar nada do que ela havia dito. Para ele, as pessoas eram apenas ferramentas, enquanto os sentimentos eram um fardo inútil.

    “Desculpe, Solus. Não sei o que dizer. Durante todo esse tempo, nunca parei para pensar em como você se sentia, sempre subestimando sua felicidade.”

    “Não é inteiramente culpa sua.” Ela farejou a mente. “Eu nunca compartilhei minhas preocupações com você, porque tinha medo de que você não se importasse ou entendesse. Obrigada por provar que eu estava errada.”

    Uma aura cálida se espalhou de sua consciência, o equivalente a um abraço.

    “Pelo meu criador, tudo era muito mais fácil quando nos conhecemos. Eu me contentava apenas em sobreviver, aprendendo coisas novas todos os dias. Mas agora, o conhecimento não é mais suficiente. Eu quero sentir, eu quero vivenciar, e você é minha única janela para o mundo.

    Eu é que deveria me desculpar por ter sido tão insistente esse tempo todo.”

    “Bem, talvez entre Necromancia e Forjaria, possamos encontrar uma maneira de lhe dar um corpo substituto.”

    “Um cadáver ou um golem? Valeu, mas não, obrigado. Eu já me sinto um monstro, às vezes, não preciso parecer um também. Além disso, acho que a vida não é um problema a ser resolvido, mas sim algo que preciso decidir se vale a pena ter.”

    Lith não gostou nem um pouco do rumo da conversa. Sua única amiga verdadeira estava sofrendo, e isso não era algo que ele pudesse aceitar passivamente.

    Depois de trocar de uniforme, ele deixou o Professor Marth chamar seus “amigos”, que, apesar do curto prazo, chegaram incrivelmente rápido.

    Normalmente, Lith teria encontrado uma maneira de evitar o inevitável abraço em grupo que se seguiu, mas as palavras de Solus ainda ecoavam em seus ouvidos.

    “Progresso, não perfeição.” Repetia mentalmente, como um mantra, resistindo à repulsa que o contato físico com aqueles quatro estranhos despertava em nível instintivo.

    Eles o afogaram em perguntas sobre sua saúde, repetindo mais de uma vez como pensaram que o tinham perdido. Elina se emocionou até as lágrimas ao ver o carinho deles pelo filho.

    — Pessoal, deixem-me apresentar a vocês meus pais, Raaz e Elina.

    Com essas palavras, eles finalmente o soltaram.

    Raaz apertou as mãos deles, enquanto Elina os abraçou com força.

    — Se vocês vierem à nossa aldeia, serão sempre bem-vindos em nossa casa. Nunca serei capaz de agradecer o suficiente.

    Depois de algumas gentilezas, Lith os levou a contar o que tinha acontecido depois que ele caiu na fenda espacial.

    Apesar de já saber de tudo, ele ficou impressionado com o foco e a dedicação deles durante um momento tão crítico, a ponto de se lembrarem dos mínimos detalhes. Obviamente, com Linjos presente, eles ignoraram toda a parte dos socos.

    Então foi a vez de Lith expressar sua gratidão. Um simples agradecimento e um aperto de mão bastaram para Raaz, que era um estranho para eles. Sem mencionar que ele estava bastante intimidado. Pelo que sabia, todos poderiam ser príncipes e princesas.

    Lith não teve escolha a não ser colocar um grande sorriso no rosto e abraçá-los um por um.

    Enquanto para os outros ele conseguiu dar um abraço de “entrada e saída”, quando chegou a vez de Quylla, ela o prendeu no lugar. Lith podia sentir as mãos dela percorrendo suas costas, enquanto ela afundava a cabeça em seu peito, soluçando um pouco.

    Depois de alguns segundos, a situação ficou realmente constrangedora. Todos desviaram o olhar, até que Raaz viu o pedido silencioso de ajuda em seus olhos e disse:

    — Filho, o que você quer fazer? Quer voltar para casa, mudar de academia ou ficar aqui? Respeitaremos sua decisão, seja ela qual for.

    Só então Quylla finalmente o soltou e se escondeu atrás de Friya, corando muito depois de perceber o que tinha feito.

    Lith refletiu por um momento. Apesar de todas as suas falhas, a academia Grifo Branco ainda era o lugar mais seguro para ele. Outras academias provavelmente o discriminariam por suas origens e passado, forçando-o a ficar constantemente em alerta.

    Além disso, ele ainda precisava resolver o mistério das caixas em sua dimensão de bolso, encontrar uma maneira de evitar a profecia da dríade e salvar Solus de seu sofrimento. Ela podia recusar a ajuda dele o quanto quisesse, Lith jamais desistiria dela sem lutar.

    — Eu quero ficar aqui, pai. Acho que preciso deles tanto quanto eles precisam de mim.

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