Capítulo 53 – Consequências

— O Fim do Covarde? — A sala de aula explodiu com exclamações de choque e indignação. Todos sabiam o que era, mas ninguém realmente o usava há anos, a ponto de ser considerado apenas um mito.

— Que desprezível! — A líder do bando tentava desesperadamente procurar uma saída. Esta era a primeira vez na vida que ela estava com as costas contra a parede.

— Você me fez dizer essas coisas, eu simplesmente caí na sua armadilha, é tudo culpa sua!

Lith riu muito.

— Sério? Essa é sua desculpa? ‘Ele me fez fazer isso’? Você fez tudo sozinha, e tudo o que aconteceu desde que entrei na sala de aula foi gravado. Duvido que alguém encontraria uma imagem minha implorando para levar uma surra.

Ela percebeu a idiotice do seu plano no momento em que o disse em voz alta, então decidiu por uma abordagem mais sutil.

— Olha, eu entendo. Começamos com o pé errado, mas ainda podemos consertar tudo.

— Mas é claro! Posso relatar tudo ao Diretor ou usar o Voto para pedir ajuda, de qualquer forma, você estará permanentemente fora do meu caminho para sempre.

A garota ficou pálida como um fantasma, mas se recusou a recuar.

— Você não tem vergonha alguma? Incapaz de fazer qualquer coisa sozinho, se escondendo atrás de uma muleta feita para aleijados e fracos? Não é surpresa que vocês, plebeus, não consigam nenhum respeito aqui, vocês não merecem!

Lith riu ainda mais.

— Jogando a carta do orgulho? Talvez se eu tivesse cinco anos, até poderia funcionar. Mas sabe de uma coisa? É muito bom ouvir um discurso sobre vergonha e incapacidade de você. O sujo falando do mal-lavado.

— Você é três anos mais velha que eu, e junto com seus amigos se uniram contra uma única pessoa. Para piorar as coisas, a única razão pela qual você fez isso foi para atormentar alguém que você considera um ser inferior, só porque você acha que é intocável.

— Você pode me chamar de covarde por usar um Voto, mas então qual é a sua desculpa? Vocês não são nada além de três garotinhas patéticas, acostumadas a se esconder atrás dos pais, que se encolhem de medo quando têm que enfrentar as consequências de suas ações tolas.

— Não é ser corajoso ou forte quando a única razão pela qual você é tão convencida é por causa do seu sobrenome. Isso é trapaça. Se você realmente acha que o que está fazendo é certo, você deveria me atacar, com ou sem voto, sem se importar com as consequências.

— Afinal, o Diretor é apenas um fantoche, suas palavras. Se o Grifo Branco está realmente em suas mãos, o que você tem a temer? Mas se você não fizer um movimento, é porque você sabe que está errada e que você é apenas uma hipócrita!

Ela queria matar aquele pequeno bastardo, enfiar todas as suas palavras goela abaixo, mas ela não podia, e nem seus amigos. Eles já estavam em risco de serem expulsos, a única opção restante era o controle de danos.

O diretor havia emitido uma política de tolerância zero contra o bullying, e todos na corte sabiam que a mão da rainha estava puxando seus cordões.

Seu pai, o duque Hertia, foi muito claro com ela.

— Faça o que quiser, eu te cobrirei, contanto que você não seja pega em flagrante. Eu não dou a mínima para a vida de plebeus ou pequenos nobres, mas trabalhei duro demais para perder tudo por uma razão tão mesquinha.

— Se você é tão incompetente a ponto de deixar provas, nossa família será colocada sob escrutinio, nossos bens congelados durante toda a investigação. Prefiro jogá-la aos lobos do que colocar o nome da família em risco. Eu sempre posso ter outra filha, afinal. Só o meu Ducado é insubstituível.

Muitos magos desertaram do Reino Griffon depois de se formarem nas academias, trocando todos os segredos que aprenderam pela promessa de vingança e riquezas.

O sistema provou ser corrupto décadas atrás, mas agora estava desmoronando sob seu próprio peso, saindo do controle cada vez mais rápido.

Apesar de as famílias nobres e as linhagens dos magos sempre terem se oposto às mudanças, depois de perder dois magos de nível Magus devido ao tratamento injusto que receberam, tanto a Rainha quanto a Associação dos Magos estavam em busca de sangue.

No ano passado, o filho do Duque Moniar foi considerado culpado de fazer com que um jovem mago brilhante se mudasse para o Império Gorgon, onde foi revelado que ele possuía um talento extraordinário.

O duque defendeu a ação do filho até o veredito e acabou cumprindo a mesma pena. A rainha o despojou de seu título e de todas as suas posses, passando-as para o parente mais próximo.

Ele tirou a própria vida no dia seguinte, incapaz de aceitar a perda.

O impasse entre Lith e as meninas durou até o Professor Trasque entrar na sala. Lith caminhou até ele, o Voto ainda na mão.

“Por favor, não seja um idiota. Meu dia mal começou, mas ainda há muito tempo para sair da frigideira e ir para o fogo. Por favor, não seja um idiota!” Ele desejou o mais forte que pôde.

Quando Lith recuperou a calma, ele percebeu que o Professor Trasque era bem jovem. Ele era bem bonito, tinha cerca de trinta anos, um metro e oitenta e dois centímetros de altura e tinha a constituição de um atleta.

Seu cabelo castanho escuro tinha um corte militar, mas ele tinha um pouco de barba por fazer, não usava túnica e as mangas de sua camisa estavam enroladas até os cotovelos, revelando seus braços musculosos.

“Parece mais um aventureiro do que um acadêmico. De qualquer forma, a julgar pela idade, ele deveria ser um dos professores que o diretor escolheu a dedo. Preciso de um pouco de sorte!” Ele pensou

Lith fez uma profunda reverência a ele antes de falar.

— Professor Trasque, por favor, preciso me reportar ao Diretor. Meu nome é Lith, de Lutia e…

Uma luz estranha brilhou nos olhos de Trasque com aquelas palavras.

— O garoto atrevido! Eu sabia que reconhecia seu rosto de algum lugar. Cara, você realmente conseguiu se meter em confusão antes mesmo do primeiro período? Essa academia é muito pior do que eu pensava. Quem é o babaca dessa vez?

Ainda atordoado pela atitude do professor, Lith conseguiu apontar para as três garotas.

— Hmm. Não tenho ideia de quem eles são. É meu primeiro ano também, sabia. Mas tenho certeza de que com o fim do covar… quero dizer, o Voto, resolveremos tudo num piscar de olhos. Vá buscá-los, tigrão. Vou esperar seu retorno antes de começar a aula.

Depois de quase afogar Lith com suas palavras, o tagarela bateu o pé esquerdo, abrindo um Passo de Dobra direto para o escritório do diretor. Assim que Lith cruzou a soleira, ela se fechou atrás dele.

Lith o cumprimentou com uma pequena reverência, deprimido demais para seguir a etiqueta, entregando-lhe o Voto de Sentença sem dizer uma palavra.

— Já? — Linjos ficou ainda mais chocado que Lith.

— Sim. Não sei o alcance dessa coisa, mas eles chamaram de ‘boas-vindas adequadas’. Tanto para um ambiente seguro.

Linjos pegou o Voto, colocando-a em um pequeno tripé. Ela projetou um holograma 3D da gravação, começando do momento em que Lith a tirou do depósito de algemas.

Ao contrário das expectativas de Lith, até essa frase ficou perfeitamente audível ao ajustar as configurações de áudio.

Quando terminou, Linjos estava escondendo o rosto entre as mãos, cheio de vergonha e constrangimento.

— Sinto muito, eu não tinha ideia de que a situação era tão terrível. Como um diretor que não tem conhecimento ou controle de sua própria academia, devo parecer um idiota aos seus olhos.

“Isso é um eufemismo” Pensou Lith, mas como toda a sua carreira acadêmica dependia de Linjos, ele decidiu lhe dar o benefício da dúvida.

— Diretor, não quero ser rude, sério, mas aquela era a filha de um duque. Agora, o que realmente me preocupa é o que vai acontecer com ela, comigo e, mais importante, o que você pode fazer para garantir a segurança da minha família.

Lith estava seriamente preocupado com as consequências daquele choque, mas não podia recuar de novo e de novo por medo. Nem mesmo a forjaria valia a pena ter sua autoestima e seu coгрo quebrados toda vez que algum garoto rico queria se divertir às suas custas.

Linjos não deixou de notar o quão deprimido e abatido Lith estava, e isso doeu ainda mais do que apenas seu orgulho. Ele havia falhado com outro de seus preciosos alunos.

— Não se preocupe com isso. Os três serão punidos de acordo com as regras. Como eu disse a você no dia em que nos conhecemos, eu não faço favoritismo. Você é a vítima, nada vai acontecer com você.

— E sua família está segura. Como estudante, cada um deles está sob a proteção da Associação dos Magos, nem mesmo um Duque ousaria desafiar a vontade deles.

— É, certo. — Lith zombou. — Como se eu devesse estar seguro aqui, nobres não deveriam abusar de seu status, e assim por diante. Novamente, não quero desrespeitar, Diretor, mas a realidade não dá a mínima para ‘deveria’ e ‘poderia’.

— As pessoas fazem as coisas simplesmente porque podem, especialmente quando sabem que ficarão impunes. O que você acha que teria acontecido se eu não tivesse o Voto? Você provavelmente estaria raspando meus restos mortais do chão com uma colher.

— Oficialmente, meu único patrocinador é o Conde Lark, e para piorar as coisas, um Duque é um título ainda mais alto que o de Marquesa. Não acho que o Duque Hestia ficaria muito impressionado com um pedaço de papel que basicamente diz ‘Por favor, não. Seja um bom homem.

Com essas palavras, Linjos ficou com uma expressão atordoada, então balançou a cabeça e respirou fundo.

— Sinto muito, Lith, esqueci que você não sabe nada sobre esses assuntos. Afinal, você apenas…

“Ele realmente vai piorar a situação?” Pensou Lith.

Mas Linjos parou a tempo e conseguiu se corrigir por um triz.

— …Desconhece o quão seriamente esse tipo de coisa é considerado. Veja, todo mágico, mas especialmente os estudantes que ainda não revelaram seu verdadeiro potencial, são todos considerados propriedades da Coroa.

— É por isso que todos os uniformes das academias são tão chamativos a ponto de serem quase cafonas. É um aviso, assim como para animais venenosos. Ferir um de vocês, ou usar suas famílias como moeda de troca, é considerado um ato de traição contra o Reino.

— Traição é o pior crime que alguém pode cometer, é o equivalente a ferir o próprio Rei. É punido com tortura e morte não apenas do responsável, mas também de sua linhagem até a terceira geração, sem exceções.

— É um segredo aberto na Corte, que uma vez que alguém é admitido em uma academia, uma equipe completa de espiões reais vigia seus entes queridos 24 horas por dia, 7 dias por semana. Isso serve ao propósito de protegê-los de inimigos internos e externos.

— Sem tais precauções, os enviados do Império Gorgon ou qualquer outra influência poderosa poderiam coagir nossos estudantes a trair seu país. Ninguém seria tão estúpido a ponto de deixar uma mina de ouro desprotegida.

— Por mais que me entristeça dizer isso, em toda a história das academias, as tentativas bem-sucedidas podem ser contadas nos dedos de uma mão. O problema real é o que acontece dentro dos muros da academia.

“Registros podem ser falsificados, e espiões podem ser subornados” Pensou Lith.

— Você tem certeza de que não é melhor eu largar a academia e fazer aulas particulares? Poder e prestígio não significam nada para mim se eu não tiver ninguém para quem retornar…

— Só por cima do meu cadáver! — O diretor pulou da cadeira. Era a primeira vez que Lith o via bravo.

— Eu não disse antes para não pressionar você, mas nossos laboratórios terminaram de analisar o veneno que você extraiu. Quando souberam que você também se candidatou para uma especialização de Mestre Curandeiro, bem, digamos que o departamento de Luz está com frio na barriga com a ideia de ter você entre suas fileiras.

— Você já foi marcado como um aluno de classificação A. Como tal, a equipe de segurança da sua família é composta apenas por membros das unidades pessoais da Rainha. Você gostaria que eu reforçasse ainda mais a segurança?

— Sim, por favor. — O diretor saiu da sala para dar as instruções adequadas, e Lith aproveitou a oportunidade para entrar em contato com a marquesa, explicando-lhe a situação e pedindo ajuda.

—;Duque Hertia, eu o conheço bem. — Ela disse. — Ele é uma cobra venenosa, mas é muito ganancioso. Ele prefere exterminar toda a sua família do que perder um centímetro de autoridade ou prestígio. Se Linjos disse que cuidará disso, você pode acreditar nele.

— Fiz uma verificação completa dos antecedentes dele e ele realmente é o cara legal que parece ser.

— Você ainda tem sua autoridade extraordinária? — Perguntou Lith.

— Sim, por quê?

— Se fosse sua família, o que você faria?

— Tudo o que eu puder, eu faço. Vou garantir que a Associação faça seu trabalho direito, e colocarei alguns guardas extras em Lutia. Se algo acontecer, vou garantir que você saiba.

Depois de agradecer profusamente, Lith interrompeu a comunicação.

“Uma patente, uh? Até agora tudo bem.” Lith pensou, mas não sentiu alegria com sua conquista.

“Eu me coloquei nesta gaiola dourada, é hora de colocar suas barras à prova. Eu não dou a mínima para duques, rainhas e política. Se algo acontecer com minha família, eu farei tudo que puder para varrer o Reino Griffon dos mapas!”