Índice de Capítulo

    Depois de entrar na casa, longe de olhares curiosos, Lith fez uso de seu novo conhecimento como curandeiro.

    Ele usou a Revigoração para localizar e consertar todos os danos ósseos, musculares e até mesmo nos discos intervertebrais acumulados nos corpos de seus pais ao longo do tempo, devido ao trabalho duro nos campos e ao envelhecimento.

    Ele também usou magia de nível quatro para não fazê-los se sentirem cansados por causa do tratamento, emprestando-lhes sua energia.

    — O quê? — Raaz se moveu, sentindo as mudanças sutis.

    — Sinto-me cheia de energia e meus nós desapareceram. Parece que tenho vinte anos novamente!

    — Fico feliz em ouvir isso. — Lith respondeu abraçando seu pai. — Aprendi muito em apenas um mês. A academia mostrou o quão limitados eram meus horizontes. Há muitas coisas que ainda posso melhorar.

    Ele também fez um check-up completo em Tista. Ela sempre esteve em forma, mas Lith nunca parou de se preocupar com ela.

    Eles falaram sobre seu exame simulado, do qual Lith deu uma descrição precisa, embora tenha removido o encontro com o Scorpicore da história.

    Em vez disso, ele deu ênfase especial à forma como desenvolveu um bom relacionamento com seus companheiros de equipe e com Phloria em particular.

    A versão adulterada da história tinha como objetivo evitar que eles se preocupassem com o fato de ele estar sozinho na academia, na esperança de ajudar a superar o sentimento de culpa de longa data por ele nunca ter tido amigos no passado.

    Seus pais continuaram acreditando que Lith tinha passado a infância sozinho, porque a família precisava de dinheiro e comida, forçando-o a se tornar um caçador primeiro e um curandeiro depois. Mas isso era apenas metade da verdade.

    Ele não tinha quase nada em comum com mágicos adolescentes, muito menos com crianças pequenas. O trabalho sempre foi uma desculpa, para evitar correr qualquer risco desnecessário de expor seu disfarce.

    Após resolver os assuntos com sua família, Lith decidiu dar uma volta na floresta. Ele precisava de um tempo sozinho, não apenas para resolver seus sentimentos caóticos, mas também para tentar converter tudo o que havia aprendido na academia e seus livros em magia verdadeira.

    Sabendo que ele também poderia estar sob vigilância, ele caminhou em direção à sua clareira particular na floresta de Trawn usando a Visão da Vida, enquanto Solus examinava os arredores com todos os sentidos à sua disposição.

    “Além de nós e dos animais, não consigo encontrar mais nada.” Ela relatou.

    “O mesmo. Acredito que seja possível para os homens da Rainha terem itens mágicos que escondam sua presença, mas duvido que eles possam evitar todos os nossos recursos combinados. Eu uso magia verdadeira, enquanto você, bem, me vence com o que você usa.

    Resumindo, acho que estamos seguros. Provavelmente eles foram enviados para ficar de olho em ameaças externas, não em mim.”

    “Sim, mas é melhor prevenir do que remediar.” Solus fez seu primeiro comentário paranoico.

    “A propósito, você lembra que antes do simulado eu falei sobre uma surpresa?”

    “Claro.”

    “Bem, hora de revelar meu novo presente. Precisamos de um lugar especial, então preciso que você siga minhas instruções.”

    Lith lançou seu feitiço de voo Corrente de ar, movendo-se em um padrão irregular em direção ao destino que Solus havia lhe apontado. Ao mesmo tempo, ambos estavam examinando os arredores.

    Segui-los em tal velocidade enquanto permaneciam escondidos deveria ter sido impossível. Eles logo alcançaram a parte interna da floresta, onde meses antes eles tinham ajudado os três reis contra o Wither.

    Ainda era um deserto, apenas grama e ervas daninhas tinham começado a crescer novamente.

    “Estamos livres. Não notei ninguém nos seguindo. Você escolheu esta zona porque ela não oferece cobertura para nossos perseguidores?”

    “Não, porque é um dos poucos lugares que podem servir ao nosso propósito. Graças ao meu senso de identidade, toda vez que recupero uma nova função, sempre sei como fazê-la funcionar. Este é especial e precisa de um lugar especial.”

    “O que há de tão bom nesse lugar? É deprimente e mais morto que Júlio César.”

    Solus riu.

    “Você já se perguntou por que o Wither se movia nessa direção toda vez que conseguia escapar?”

    “Normalmente eu diria que foi apenas desespero, mas aposto que você tem uma explicação melhor.”

    “Bingo! Percebi isso na primeira vez que viemos aqui, mas naquela época eu não conseguia entender nada sobre isso. Veja bem, com meu senso de mana, não sou capaz apenas de diferenciar pessoas, mas também paisagens.

    Isso porque o mundo está literalmente cheio de mana, e alguns lugares mais do que outros. Durante nossas viagens, notei vários pontos onde a energia do mundo estava muito mais abundante do que o normal, e este é um deles.

    Acredito que o Wither estava procurando por este lugar para sugar a enorme quantidade de energia mundial para sobreviver à luta.”

    Solus se separou do dedo de Lith em sua forma habitual de aranha, alcançando uma clareira a alguns metros de distância, antes de começar a cavar o chão.

    Diante de seus olhos atônitos, um pulso azul iluminou a clareira. A cada batida, algo saía do chão. Era como olhar para um vídeo acelerado, onde se podia ver uma semente se tornar uma flor em menos de dez segundos.

    Mas no caso de Solus, a pequena pedra cresceu e virou uma torre.

    Uma torre insignificante e demolida, para ser mais preciso.

    Ela mal alcançava 10 metros de diâmetro, com uma única porta frágil o suficiente para ser levada por uma forte rajada de vento. A torre tinha apenas o andar térreo e nenhum telhado, escombros cobriam seu topo, como se tivesse desabado sobre si mesma.

    “Isso é realmente uma surpresa.” Lith ficou impressionado, no entanto. “Essa coisa vem com algum mecanismo de defesa? Se sim, onde quer que formos, sempre teremos um lugar para ficar, evitando humanos e feras.”

    “Primeiro de tudo, isso não é uma coisa, sou eu!” Solus estava bem puta por ser tratada como um objeto. “E sim, eu tenho mecanismos de defesa. Então, coloque sua bunda rude para dentro, para que eu possa ativá-los.”

    Lith fez como instruído, descobrindo que a estrutura interna era maior do que parecia do lado de fora. À sua direita, havia um conjunto de escadas em ruínas subindo, e outra que parecia descer sem impedimentos.

    Na frente dele havia uma única porta, que levava a um quarto quase idêntico ao que Lith havia construído em sua casa. No entanto, a cama era uma king size com dossel, e o quarto tinha um banheiro privado, assim como seu quarto na academia.

    “Deslocamento em massa?” Lith perguntou surpreso.

    “Sim.” Pela primeira vez, ele pôde ouvir a voz de Solus com seus ouvidos. “Apenas parte desta forma existe em nosso plano, o resto está na dimensão de bolso. Você gosta deste pedaço de casa longe de casa?” Ela estava claramente ansiosa por um elogio.

    “Muito, é uma réplica incrível. Não posso agradecer o suficiente por me dar um vaso sanitário de verdade, significa o mundo para mim.”

    Solus deu uma risadinha.

    “De nada. Mas essa não é a surpresa, só parte dela. Desça, por favor.”

    No porão havia mais duas salas, a primeira era uma cópia perfeita do salão de treinamento de forjaria, até o último pequeno detalhe.

    “Eu consegui reproduzir tanto a poção quanto os laboratórios de forjamento, até mesmo o equipamento.” Ela explicou. “Mas eu não posso criar ingredientes ou consumíveis do nada. Algumas coisas nós só podemos comprar.”

    Lith abriu a gaveta que supostamente continha anéis e amuletos para encantar, mas, assim como Solus havia anunciado, ela estava vazia.

    “Sem problemas.” Ele respondeu. “Não há muito que eu possa fazer com meu conhecimento limitado.

    Felizmente, quando eu disse à Professora Wanemyre que queria praticar por conta própria, ela me deu alguns anéis e uma garrafa do líquido para desenhar círculos mágicos. Temos o suficiente para algumas tentativas de aplicar magia verdadeira à forjaria.”

    O único feitiço de Mestre de Forja que Lith tinha visto era o de criar itens dimensionais. Ele desenhou os círculos e as runas com o máximo cuidado, não havia ninguém para ajudá-lo caso algo desse errado.

    Quando terminou, ele colocou uma pedra no centro. Ele não esperava ter sucesso, apenas estudar o fluxo de mana para reproduzi-lo com magia verdadeira.

    Então, em vez de cantar, ele usou Revigoração para invocar a energia do mundo e a enviou para preencher o círculo mágico. Foi fácil, e não afetou suas reservas de mana, já que ele estava empregando energias externas.

    Ao contrário da Professora Wanemyre, ele não preencheu os círculos até a borda. Sendo um experimento, quanto menos energia, melhor, sem mencionar que ele queria evitar criar anéis de nível superior depois de apenas um mês.

    De acordo com os livros, era suficiente dar mana aos círculos até que o ar começasse a crepitar para obter objetos dimensionais de classe mais baixa.

    Lith conhecia as treze runas e seus feitiços como a palma da mão e os havia executado inúmeras vezes durante as aulas e sozinho.

    Lembrando-se do sentimento característico de cada um, ele teceu os encantamentos das runas em rápida sucessão. Na mente de Lith, a performance de Wanemyre, embora excepcional, era como uma criança tocando piano, uma tecla de cada vez.

    Ele estava convencido de que, para maximizar os efeitos, os diferentes feitiços deveriam se complementar e integrar, como em uma sinfonia mágica.

    As runas se ergueram no ar uma após a outra, formando um anel perfeito ao redor da pedra num piscar de olhos. Lith então começou a comprimir a mana dentro das runas. Logo, toda a energia estava envolvendo a pequena pedra, tentando infiltrar-se para dentro.

    Agora era o momento mais crítico, Lith tinha que forçar energia e matéria a se fundirem. As coisas estavam indo bem, mas no fundo de sua cabeça havia um alarme constante de que algo estava errado.

    De repente, a massa de energia implodiu, pulverizando o seixo. Apesar de não conseguir escapar, a mana enlouquecida ainda conseguiu queimar o círculo, deixando uma rachadura no chão.

    “Ai! Isso doeu!” Solus disse.

    “Desculpe, foi mal.” Lith disse envergonhado por seu fracasso. “Alguma ideia do que deu errado?”

    “Logo de cara, posso citar pelo menos oito erros que você cometeu.” Ela realmente respondeu à pergunta retórica dele, deixando Lith impressionado mais uma vez.

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