Capítulo 89 - Magia dimensional [1/2]
Na manhã seguinte, Lith e Phloria estavam dando uma pequena caminhada antes de pegar o resto da equipe para o café da manhã.
Descendente de uma longa linhagem de Cavaleiros Magos, Phloria tinha mais experiência com espadas e, como precisou frequentar apenas um curso de especialização, foi sua principal professora entre as duas crianças.
Isso permitiu que eles passassem bastante tempo juntos, já que ambos tinham tardes livres para praticar esgrima. Na verdade, Phloria às vezes precisava estudar à noite para colocar os estudos em dia, mas era algo que ela fazia com prazer.
Ela não teria desistido das aulas de fim de semana sobre a primeira magia por nada no mundo. Além disso, quando conseguiu conhecê-lo melhor, ela realmente gostou da companhia dele. O mesmo aconteceu com Lith, até aquele ponto, ela era sua favorita.
Phloria era madura e equilibrada, falando o que pensava com tanta frequência que às vezes era rude. Ela também tinha vários interesses e hobbies, o que a tornava capaz de falar sobre quase todos os tópicos, não apenas sobre magia ou a vida na Corte.
Lith gostou das conversas, aprendendo sobre a nova mentalidade mundial e regras não escritas da sociedade. Tendo vivido a maior parte de sua nova vida em uma pequena vila, Lith poderia aprender mais com uma de suas anedotas do que com um livro inteiro.
Naquele dia, Phloria usou seus longos cabelos negros soltos, fazendo-os dançar em seu rosto toda vez que ela virava a cabeça de repente.
— Por que você ainda está deixando o cabelo crescer? — Lith perguntou. — Achei que deixá-los curtos era mais conveniente para um lutador.
— É, você acertou. Mas durante o último mês de férias, minha mãe continuou reclamando sobre eu não ser feminina o suficiente. Ela disse que se eu cortasse ainda mais, as pessoas me confundiriam com um menino. Que monte de merda! — Ela resmungou.
Lith só conseguiu ficar em silêncio, concordando interiormente com a mãe. Phloria era muito alta, até mais do que a maioria dos professores, e ainda tinha muito tempo para crescer mais. Ela também tinha ombros largos e força suficiente para levantá-lo facilmente, como durante o exame simulado.
— O que você acha disso? — Ela perguntou abruptamente.
— Espero que ela não tenha dito isso de forma tão cruel. Mas tenho que admitir que você é mais bonita assim. — Lith se esquivou da pergunta com um elogio.
—!Claro que não, minha mãe é de origem nobre, ela nunca seria tão direta. Ela apenas apontou o quão difícil é encontrar pretendentes para mim, acrescentando o quão assustada ela está com a ideia de que nossa linhagem morreria comigo e toda essa porcaria.
— Achei que você tivesse irmãos. — Lith levantou uma sobrancelha diante de tais argumentos. Ele claramente se lembrava de que os pais dela tinham três filhos.
— Eu tenho. E quando eu apontei isso, ela respondeu com a teoria falsa de que as mulheres são mais propensas a passar um grau maior de magia. Naquele ponto eu desisti. Você sabe, pais, você está sempre do lado perdedor de qualquer discussão.
Lith assentiu, sem saber o que dizer. Ninguém jamais tentou controlar esse aspecto de sua vida.
— Já que estamos falando nisso, você sabe que Quylla está apaixonada por você, certo?
— Sim. — Ele realmente suspeitava que Quylla estava desenvolvendo uma queda, mas esperava que com o tempo e sem dar a ela atenções especiais, isso passaria. Ele não queria rejeitá-la abertamente e ferir seus sentimentos.
— Mas não entendo o porquê.
— Bem, ela é órfã. Ela claramente tem problemas com o pai, e entre suas vibrações de irmão mais velho e sargento instrutor, eu diria que você é o candidato ideal.
— Mas por que eu e não um dos Professores ou algo assim? Quer dizer, eu não sou nada especial, só…
— Alto, bonito, talentoso e carinhoso? — Phloria o interrompeu. — Você está certo, é um mistério completo.
Lith olhou para ela com irritação.
— Isso não tem graça. Pare de me irritar.
— Bem, agora eu tenho que voltar atrás na parte de ser bonito e atencioso. Com essa cara, você é assustador.
A expressão de Lith voltou ao normal.
— Muito melhor. A propósito, eu também ficaria de olho em Friya. Não me surpreenderia se a família dela a mandasse atrás de você. Mágicos talentosos sem sobrenome são muito procurados.
— Por favor, sou apenas um aluno do quarto ano. — Lith zombou. — É muito cedo para esse tipo de travessura.
— Nah, você ainda é muito ingênuo. É o momento perfeito para começar uma abordagem para desenvolver no futuro sem parecer muito desesperado ou interessado. Durante o quinto ano seria tarde demais, é preciso uma vantagem sobre a concorrência.
— Não é como se eles fossem fazer você se casar, afinal, se você não corresponder às expectativas deles, eles sempre podem recuar a qualquer momento.
— Isso faz sentido. — Lith franziu a testa, pensando no problema inesperado.
— Obrigado pelo aviso.
— De nada. Mas, para ser honesta, você deveria agradecer ao meu pai. Foi só quando ele me perguntou se eu me importaria com um marido mais jovem que percebi o que estava acontecendo.
Lith estava com medo de fazer a pergunta, mas mesmo assim o fez.
— O que você respondeu a ele?
— Depois de enfatizar que não me importo com uma ‘pequena’ diferença de idade, não me entenda mal, não quero acabar me casando com alguém muito mais velho que eu, eu disse que consideraria. Nenhuma resposta foi a única resposta.
— Se eu dissesse sim, ele teria mandado minha mãe me fazer mudar de ideia. Se eu dissesse não, ele provavelmente teria começado a arranjar nosso casamento. Ele é meio cabeça-dura.
— Entendo. — Lith tentou manter a cara de pôquer, mas inconscientemente deu um passo para longe dela.
— Não se superestime, baixinho. — Ela riu da atitude dele.
— Eu sou minha própria mulher, posso me curvar em muitas coisas pelo bem dos meus pais, mas o amor não é uma delas. Se eles tentarem me forçar, estou pronta para me tornar independente depois da formatura. Se eu mantiver minhas notas como estão, as pessoas farão fila para me contratar.
Daquele ponto em diante, eles caminharam em silêncio, até baterem na porta de Quylla. Durante o café da manhã, todos expressaram sua curiosidade sobre as novas aulas e seus Professores, fazendo apostas sobre suas aparências.
Lith olhava furtivamente para Friya de vez em quando e só quando percebeu que nada havia mudado, conseguiu acalmar sua paranoia.
Como a magia dimensional era um curso obrigatório, ela acontecia na aula teórica do quarto ano.
Assim que o último gongo tocou, o Professor Rudd entrou.
Ele era um homem alto, com cerca de 1,78 de altura, com cabelos pretos com mechas grisalhas e olhos azuis gelados. Ele estava na casa dos cinquenta e poucos anos, usava o manto aberto e revelava uma constituição esbelta.
Além de Vastor, ele era o professor mais velho que Lith já conhecera.
— Bom dia, queridos alunos. — Ele falava cada palavra como se estivesse cuspindo veneno.
— Eu sou o Professor Khavos Rudd, e vou lhes ensinar magia dimensional. Como vocês podem ver, eu não sou uma dessas crianças sensuais que nosso amado Diretor Linjos colocou na academia. Eu sou um dos remanescentes da velha guarda.
— Um daqueles que, supostamente, consideram um desperdício de recursos ensinar magia àqueles que não pertencem à linhagem dos magos ou pelo menos a famílias nobres.
Com essas palavras, Lith, Quylla e Friya pegaram seu Voto de Sentença, colocando-a sobre a mesa. Depois de muitas “brincadeiras”, Friya decidiu seguir o conselho de Quylla e conseguiu sua liberdade de volta.
Sendo nobre, aquele discurso não foi dirigido a ela, mas ela ainda queria provar seu ponto. Friya não tinha medo de se arriscar por seus amigos.
Rudd continuou como se não tivesse visto nada, apesar dos três estarem sentados na linha de frente.
— Mesmo em tal cenário hipotético, pensei, eu ainda seria um profissional capaz de deixar seus preconceitos do lado de fora daquela porta. Espero que vocês façam o mesmo.
Todos os estudantes plebeus não acreditaram em uma palavra do que ele disse. Muitos começaram a se arrepender de não ter um Voto de Sentença.
— Magia dimensional é um assunto complexo e profundo, então não espere se livrar de mim depois de apenas três meses. Minha classe é onde separamos magos verdadeiros de pássaros simples. Até um mágico pode planar, mas apenas um mago pode voar.
Depois de um rápido aceno de mão e uma palavra sussurrada, Rudd desapareceu do fundo da sala, perto do quadro-negro, reaparecendo na frente da primeira fileira de alunos.
Suas mãos não pararam nunca, antes mesmo que pudessem suspirar, ele já havia desaparecido, materializando-se com os pés em uma carteira da segunda fileira, dando uma volta completa pela sala antes de retornar ao ponto de origem.
— Este feitiço é chamado de Piscar, um dos usos mais comuns de magia dimensional em batalha. É particularmente útil para Magos de Batalha e Magos Cavaleiros para avançar, já que eles usam armas. Mas todos podem usá-lo para escapar em apuros.
— Só para esclarecer, eu não usei nenhum artefato, apenas minhas habilidades. Se você não for capaz de fazer isso até o final do curso, você nunca passará. A boa notícia é que reprovar na minha classe não vai impedir você de se formar, apenas marcará sua reprovação como mago.
Ele sorriu olhando para os rostos preocupados dos alunos.
Uma mão se levantou da fileira do meio.
— O quê? Ainda tenho que começar a explicar e você já tem uma pergunta? Gostaria de saber como você foi admitido aqui. No entanto, fale livremente.
— Você vai nos ensinar teletransporte? — Perguntou um garoto ruivo e gordinho.
O professor Rudd caiu numa gargalhada alta, cheia de desprezo e espanto. A maioria dos alunos entendeu que ele não estava rindo da pergunta, mas do próprio garoto.
— Teletransporte? Não ouço essa palavra há anos. É um ramo murcho da magia, cujo único sucesso foi livrar o mundo de todos os idiotas que a praticavam.
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