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    — A ideia do teletransporte nasceu depois de perceber as limitações do voo. Como todos vocês devem saber, é impossível mover um exército ou seus suprimentos dessa forma.

    — Não é uma questão de mana necessária, mas sim que levaria muito tempo. Sem mencionar que ofereceria um alvo perfeito para uma emboscada, já que não magos seriam alvos fáceis.

    — A primeira ideia era apenas mover um corpo muito mais rápido, mas acima de um certo limite de velocidade, a poeira se torna perigosa como uma flecha, insetos atingem como uma avalanche. Adicionar uma barreira forte o suficiente para suportar tais perigos tornaria o consumo de mana proibitivo, mesmo para um pequeno grupo de pessoas.

    — Então, algum idiota que leu muitos contos de fadas teve a ideia do teletransporte, ou seja, converter matéria viva em outra coisa que pudesse sustentar viagens em alta velocidade e revertê-la de volta ao destino.

    Rudd riu alto, como se fosse a melhor piada de todas, mas quando percebeu que era o único rindo, seu lábio superior se curvou em uma expressão de desgosto.

    — Como vocês podem ser tão burros? Vocês realmente não entenderam?

    Ele perguntou, sem receber nenhuma resposta além de olhares confusos.

    — Em um conto de fadas, é ótimo. Mas na realidade? Converter matéria viva em outra coisa é apenas uma palavra chique para dizer ‘matar’. Como você pode ter certeza de que a coisa que chega do outro lado é realmente você? E se uma parte do seu corpo, sua mente ou alma se perder?

    — Como você acha que poderia recuperá-lo? E mais importante, a coisa recém-nascida sequer notaria que não é a original? Uma coisa é teletransportar uma pedra, mas seres vivos são muito mais complicados.

    “Interessante.” Lith pensou. “É o mesmo enigma moral que o físico teórico tinha sobre o teletransporte na Terra. Alguém até fez um filme de Hollywood sobre isso1.”

    — E nem me deixe começar a falar sobre a necessidade de ter coordenadas perfeitas! — Continuou o professor Rudd.

    — Rematerialize-se um pouco alto demais, baixo demais ou perto demais de um companheiro de viagem e bum! Morte instantânea. Sem mencionar que os insetos, poeira e até mesmo animais mencionados acima não são obrigados a abrir espaço para sua chegada. O menor erro, e você tem uma mosca no lugar do cérebro.

    — O último mago que tentou se teletransportar, materializou-se no céu, esperando evitar tais problemas, apenas para que um bando de patos cruzasse seu caminho, fazendo-o morrer como o charlatão que ele era. — Desta vez, parte da turma riu do humor negro.

    — O que vou lhes ensinar é a arte de manipular o próprio espaço, permitindo que você chegue do ponto A ao ponto B com total segurança em um instante, mesmo que os dois lugares estejam a milhares de quilômetros de distância.

    O professor Rudd acenou com as mãos de forma circular, e logo dois pequenos pontos pretos apareceram. O primeiro entre as palmas, o segundo bem na frente da garota sentada no meio da primeira fila.

    A cada palavra mágica que ele falava, as manchas começavam a aumentar e a se esticar de forma especular; uma extremidade se tornava quase circular, do tamanho de um punho, enquanto a outra era tão fina e pequena que parecia uma ponta.

    Eles assumiram a forma de um funil, feito de energia, com ambas as extremidades girando a uma velocidade inacreditável.

    “Isso é um horizonte de eventos?!” Lith ficou chocado a ponto de se levantar para observar melhor o fenômeno.

    Depois de apenas um segundo, os funis de energia entraram em colapso, deixando em seus lugares duas fendas no espaço. O professor Rudd estendeu a mão dentro da primeira fenda, fazendo-a reaparecer logo acima da mesa da garota, tirando a caneta dos dedos dela.

    — Vocês entenderam agora? Dobrar o espaço requer a mesma quantidade de energia e foco que o teletransporte, mas é infinitamente mais seguro. Passar por um Portal é como passar por uma porta. O que entra, sai. Nem mais nem menos.

    — Mas não se deixe enganar pelas aparências. Mesmo um truque simples como o que acabei de mostrar tem muitas limitações. Primeiro, ele requer uma linha de visão clara, caso contrário, não se pode ter um foco claro dos pontos de entrada e saída.

    — Em segundo lugar, mesmo um pequeno Portal requer pelo menos a habilidade de conjurar três vezes, já que você tem que misturar e controlar as energias da magia da terra, do ar e da água. Esses são os elementos mais básicos para um Portal.

    — Adicionar mais elementos permite criar fendas maiores, e é a única maneira de torná-las estáveis o suficiente para deixar mais de uma pessoa passar por elas. Você precisará desenvolver um entendimento profundo desses três elementos, só para começar.

    — Apesar do que você possa pensar, magia dimensional não requer uma quantidade enorme de mana, como algumas especializações exigem. O requisito mais importante é a sensibilidade a pequenas flutuações de energia e espaço.

    — Não é algo que você pode forçar a passagem. Você deve ser capaz de sentir o Portal crescendo e se adaptar às suas mudanças. Se você não alimentá-lo com mana na hora certa e no lugar certo, ele nunca abrirá.

    — Magia dimensional não é uma especialização, não tem requisitos rígidos que não possam ser superados com prática e trabalho duro. No papel, é algo que todo bom mago pode fazer, mesmo aqueles com uma especialização ou nenhuma. Amanhã, começaremos com nada mais do que um simples truque de salão.

    Rudd abriu dois pequenos portais, quase do tamanho de uma moeda, um acima do outro. Então ele deixou cair uma pequena pedra no portal inferior, e ela reapareceu do superior, caindo no portal inferior em um loop infinito.

    — Prevenção vale por dois. É melhor começar a ler seu livro a partir de hoje, se não quiser começar com o pé errado. Dúvidas?

    Yurial levantou a mão, recebendo permissão para falar.

    — Professor, você disse que teletransporte não existe, mas o que era Piscar então? Eu não vi nenhum Portal se abrindo.

    — Excelente pergunta, meu jovem. — Pela primeira vez desde que entrara na sala, o Professor Rudd sorriu gentilmente. Muitos estavam xingando interiormente, se perguntando se a pergunta era realmente boa, ou se ele estava apreciando o pai de Yurial.

    — Magia dimensional não é apenas uma questão de logística e transporte, nas condições certas também é uma ferramenta perfeita para defender ou atacar. Mas em tais cenários, você não pode esperar que o inimigo seja gentil o suficiente para esperar você terminar, tudo precisa ser rápido. Deixe-me mostrar o Piscar novamente, dessa vez lentamente.

    O anel da academia no dedo de Rudd conectou-se à magia do castelo, abrindo dois portais, um na frente do Professor e o outro no meio da sala de aula.

    Mas diferente de um Passo de Dobra, onde ambas as extremidades estavam paradas, o portal na frente de Rudd se movia para frente, fazendo-o chegar ao destino sem precisar dar um passo.

    — É assim que o Piscar funciona, só que muito mais rápido. Usar magia dimensional em combate é o teste final de habilidade para um mago. Outra aplicação útil, mas ainda mais difícil, é a seguinte. Por favor, levante-se, rapaz.

    Yurial fez como lhe foi instruído, mas assim que se levantou, viu-se observando o Professor Rudd parado atrás de sua mesa, enquanto ele agora estava no meio da sala.

    — Este feitiço se chama Troca. O nome é autoexplicativo, e requer dois conjuntos de portais, que se cronometrados corretamente, criam a distração perfeita. Às vezes até uma oportunidade de matar.

    — Na minha época, uma vez me vi cercado por arqueiros usando flechas encantadas. O comandante deles me fez o favor de ficar parado tempo suficiente para eu cronometrar a Troca, de modo que enquanto eu estava fugindo, ele se tornou uma ótima almofada de proteção contra as flechadas.

    Um sorriso cruel apareceu no rosto de Rudd, lembrando-se da expressão chocada dos soldados quando perceberam o que havia acontecido.

    — Mas não me entenda mal, Troca é ainda mais difícil de executar do que Piscar. Ele requer que ambos os alvos estejam parados, a uma distância de dez metros e com uma visão clara. Mas estou divagando. Mais alguma coisa?

    — É realmente possível para um único mago abrir um Portal para um local a centenas, senão milhares de quilômetros de distância? — Perguntou uma pequena garota.

    — Sim e não. Um único mago pode abrir um portal que leva a um destino muito mais distante, mas ele precisa ter mana suficiente para suportar a tarefa, ou um item mágico para compartilhar seu fardo. Além disso, não se pode ir a um local em que nunca esteve antes.

    — A visualização é um elemento-chave, assim como o conhecimento das coordenadas exatas. Além disso, abrir tal portão requer foco. Algo assim.

    De seu amuleto dimensional, o Professor Rudd tirou uma pequena esfera com muitas runas vermelhas arcanas gravadas nela.

    — Os magos dimensionais geralmente plantam faróis mágicos em seus destinos mais comuns, tornando a abertura de um portal muito mais fácil e consumindo menos mana. Como eu disse no começo da lição, meu assunto é realmente complexo.

    — É melhor evitar encher a cabeça com noções inúteis.

    — Concentre-se na tarefa em questão. Primeiro é preciso aprender a engatinhar, depois a andar, e só então se preocupar com a velocidade da corrida. Dispensados.

    Quase no mesmo momento, o gongo sinalizando o fim da aula ressoou. Muitos alunos tinham um olhar preocupado em seus rostos, e Lith era um deles.

    “Isso é muito ruim. Não só nunca pratiquei nada parecido, como a sensibilidade não é exatamente meu ponto forte.

    Sempre que eu encontrava uma dificuldade, eu trapaceava com magia verdadeira até entender a verdadeira essência do problema, ou confiava no piloto automático da magia falsa para entender o fluxo da magia.

    Qual é a taxa média de sucesso por ano para este curso?”

    “De acordo com os registros da academia, é um pouco menos de 60%.” Respondeu Solus.

    “Quantos alunos formados conseguiram tirar A apesar de terem sido reprovados?” Lith estava pensando em abandonar a disciplina, para evitar que afetasse suas notas. Ele sempre poderia copiar o livro e estudar no seu próprio ritmo mais tarde.

    “Nenhum.” A resposta o deixou desanimado. “Vire essa carranca de cabeça para baixo! Até o garoto mais experiente aqui tem apenas seis anos de prática mágica, você tem mais de doze. Sem mencionar a hexa-conjuração e a magia verdadeira.”

    “Eu sei, mas a prática não é tudo. Esta parece ser uma disciplina que requer bastante talento, e nós dois sabemos que não sou um gênio. Revigoração e magia verdadeira não podem me ajudar como ajudaram com Forjaria e Cura. Receio ter acabado de bater em uma parede.”

    1. Creio que o filme a o qual ele se refere é”Jumper”[]
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