Capítulo 92 - Apenas um aviso
Após o término da aula, o grupo foi almoçar e encontrou Phloria esperando por eles na mesa de sempre.
“Eu realmente acho que me superestimei, pensando que seria capaz de manter minha fachada de cara legal por dois anos inteiros. Se não fosse pelo meu instinto de irmã mais velha, não sei quantas vezes eu já teria surtado.
Eu realmente não entendo esses caras. Para piorar as coisas, não importa o quanto eu me force, continuo sentindo que não pertenço a eles.” Lith suspirou interiormente.
Solus não tinha ideia do que dizer para fazê-lo se sentir melhor. Retornar à academia, logo depois de passar algum tempo com as pessoas que amava, deixou Lith deprimido.
— Olá, pessoal, como foi a aula? — Perguntou Phloria.
— O mesmo de sempre. — Yurial deu de ombros. — Vastor continua empurrando para frente aqueles que são bons, e espalha sal nas feridas daqueles que não são. E enquanto a classe luta com cada tarefa, esses dois monstros continuam correndo em círculos ao redor de nós, mortais.
— Como foi sua manhã? — Lith tentou mudar de assunto. Desde seu encontro com o Scorpicore, toda vez que alguém o chamava de monstro, ele não conseguia deixar de estremecer.
Ele percebeu que chamar o que aconteceu com ele de “reencarnação” estava longe de ser correto. Ele era mais como um espírito maligno de um filme de terror, possuindo os corpos de pessoas recentemente falecidas.
— Deprimentemente. Depois do discurso do Professor Rudd, eu estava ansioso para verificar se o assunto dele é realmente tão difícil quanto ele diz. Bem, ele mentiu. É muito pior do que isso. Passei as últimas duas horas tentando o ‘truque de salão’ que devemos fazer amanhã.
— Li o livro dele várias vezes, mas não consegui, nem uma vez. — Ela suspirou.
— Você está falando sério? — Friya perguntou. — Nós passamos da primeira parte do curso da Professora Nalear. Será que o feitiço requer algo que ela ainda não cobriu em suas aulas?
Todos na mesa ficaram sombrios. Duas horas eram a duração normal de uma aula, Phloria fracassar tanto era sem precedentes, para não mencionar um mau presságio. Se ela não conseguisse, era improvável que qualquer um deles conseguisse.
Até Lith estava no mesmo barco. Sem magia verdadeira ou Revigoração como muletas, ele não era muito melhor do que eles.
“Solus, qual é o tempo médio para ter sucesso no truque da pedrinha?”
“Mais más notícias.” Ela respondeu. “Os registros da escola não estão ajudando dessa vez. A única coisa relatada é o número de aulas para abrir um Portal.”
“Aulas, não horas? Isso é pior do que eu pensava. Quantas para gênios, e quantas para alunos comuns?”
“Os gênios geralmente precisam de cerca de três aulas, os outros, cerca de vinte.”
Lith quase se engasgou com pão quando ouviu essa notícia.
— Normalmente, eu proporia devorar nosso almoço rápido e ir praticar magia dimensional, para não deixar aquele velho idiota nos envergonhar. — Friya disse.
— Mas Phloria e eu ainda não fizemos nossa aula de Cavaleiro Mago hoje.
— Igualmente, tenho Forjaria mais tarde.
— Que tal nos encontrarmos no quarto de Quylla depois do fim das aulas? — Yurial propôs. — Aposto que com a velocidade de aprendizado dela, quando chegarmos lá, ela vai conseguir nos ensinar o básico.
Naquela tarde, para grande decepção de Lith, a Professor Wanemyre voltou às aulas teóricas. No primeiro trimestre, eles aprenderam como infundir um único encantamento em um objeto.
O tópico da nova lição era como misturar dois encantamentos, introduzindo um novo conjunto de runas e círculos mágicos cuja complexidade estava em outro nível. Ele estava ansioso para voltar ao laboratório e colocá-los à prova.
Por causa da Soluspedia, quando não se tratava de controle fino de mana ou de um momento específico para manipular energias voláteis, tais lições eram simplesmente redundantes para ele.
Ele já conhecia cada runa e círculo, então passou a maior parte da aula praticando como desenhá-los perfeitamente, em vez de ouvir. O segundo tomo de forjamento foi uma mina de ouro de inspiração para Lith.
Enquanto isso, Yurial estava diligentemente tomando notas sobre as matrizes que o Professor Tinnam estava introduzindo. Um Guarda tinha um papel de suporte, ele não podia conjurar magias aleatórias como a maioria dos magos.
Era importante entender em que circunstâncias uma formação mágica faria mais bem do que mal. Como o Reino Griffon estava em paz, Yurial havia escolhido tal especialização esperando ajudar no desenvolvimento do feudo de sua família.
Seu desejo era se tornar capaz de construir represas, pontes e estradas quase sozinho, economizando dinheiro para contratar mais curandeiros e professores. Um dos ensinamentos de sua bisavó era que sem seu povo, um país era apenas um pedaço de terra.
As novas matrizes eram ainda mais difíceis de executar e difíceis de controlar do que as do primeiro trimestre, mas pelo menos a velocidade de conjuração era a mesma. A maior falha de um Guarda era o longo tempo necessário para uma única magia.
Depois da aula, ele estava prestes a sair, quando foi abordado por um velho conhecido. Era Lyam Lukart, o cara com aparência militar que Lith humilhou durante a segunda aula de Trasque.
Yurial o conhecia porque ele era filho do arquimago Lukart. Eles tinham começado a academia juntos, três anos antes, mas rapidamente se separaram. A família Lukart era uma das mais antigas linhagens de magos, e eram bem presunçosas sobre isso.
Apesar de seus pais terem o mesmo status, Lyam nunca tratou Yurial como um igual, muito menos como um amigo. Seguindo os ensinamentos de sua família, ele considerava a casa Deirus uma família secundária, na melhor das hipóteses.
Tendo séculos de legado místico, uma família com apenas três gerações de magos era jovem demais para ser considerada uma verdadeira linhagem mágica. Lyam exigia respeito cego e lealdade daqueles que ele considerava inferiores.
A casa de Deirus, em vez disso, não dava a mínima para tradições, respeitando apenas talentos e conquistas.
Yurial não conseguia suportar a arrogância infundada de Lyam, então, depois de um tempo, ele educadamente, mas firmemente, colocou uma distância entre eles.
— Deirus, você tem um minuto? — Perguntou Lyam.
Yurial abriu seu melhor sorriso, tentando cortar a conversa. Chamar Yurial pelo sobrenome era uma maneira educada de ressaltar a diferença de status. O que quer que Lyam quisesse, ele não estava disposto a dar.
— Na verdade não, Lyam. A magia dimensional parece muito difícil. Estou com pressa para praticar para a aula de amanhã. — Recusar seu pedido geralmente era o suficiente. Para alguém como Lyam, ter que pedir duas vezes era semelhante a implorar.
— Então deixe-me acompanhá-lo por um tempo, prometo que não vai demorar muito.
Yurial ficou tão espantado que, por um segundo, perdeu a compostura, mas se recuperou rapidamente. Ele assentiu, incitando o outro a continuar.
— Você está aqui há tanto tempo quanto eu. O que acha de todas as mudanças que Linjos introduziu? — A pergunta era estranha, mas Yurial não tinha motivos para mentir ou se recusar a responder.
— Sinceramente, não sei o que pensar. Nenhuma prova final, aquele exame simulado assustador, os novos professores e seu sistema de pontuação. É muito cedo para julgar seu desempenho, mas devo admitir que até agora as coisas se tornaram mais interessantes.
Essa claramente não era a resposta que Lyam esperava ouvir. Seu lábio superior se curvou em uma expressão de desgosto, sem nem mesmo tentar esconder seus sentimentos.
— Entendo seu ponto. — Ele suspirou.
— A tradição tem valor apenas para aqueles que contribuíram para criá-la e vivem por ela. Mas, veja bem, muitas pessoas se sentem diferentes sobre o que está acontecendo. Primeiro, a semente de uma maçã podre foi aceita em uma das seis grandes academias.
— Então, um membro destacado da sociedade mágica, como a Diretora Linnea, perdeu tudo em nome da diversidade, apenas para saciar a sede de vingança dos alpinistas sociais que chegaram muito perto dos ouvidos da Rainha.
— E agora a prestigiada Grifo Branco se livra de sua história, tratando-a como lixo, abolindo as finais em favor dessa farsa de sistema de classificação? — Lyam cuspiu no chão, indiferente aos olhares de desgosto que as pessoas lançavam para ele.
Ainda que sua voz estivesse calma e controlada, Yurial duvidava que alguém ao seu lado pudesse ouvir alguma coisa.
— Muitas pessoas, tanto na Corte quanto na Associação de Magos, não estão satisfeitas com o curso desses eventos. Elas gostariam que a Rainha reconsiderasse suas decisões, tomando seu tempo para refletir adequadamente antes de fazer algo tão… drástico.
Yurial sabia que havia pouca ou nenhuma confiança entre eles e que Lyam estava sendo sutil, sem citar nomes.
— O que tudo isso tem a ver comigo?
— Bem, alguns acham que todas as linhagens mágicas devem se unir e tentar corrigir essa situação. Pessoas como Linjos precisam ser colocadas de volta em seus lugares. E para isso, eu gostaria da sua ajuda.
— Eu não vou machucar meus amigos! — Yurial retrucou com raiva. — Nem vou deixar ninguém machucá-los! — Sua hostilidade só encontrou uma risada divertida.
— Seus amigos? É disso que você acha que se trata?
— Ninguém se importa com quem você escolhe como botineiro, ou que tipo de prostituta você prefere para esquentar sua cama, cada um com a sua. Cada um tem suas excentricidades.
— Ninguém vai tocar nos seus servos, não há necessidade. O que queremos é nos livrar de Linjos. Para provar que todas essas chamadas “mudanças” não fazem nada além de deixar ervas daninhas proliferarem, enquanto talentos reais são sufocados no berço.
— Vim até você hoje porque preciso que você convença seu pai a se juntar à nossa causa.
— Boa sorte com isso. — Yurial conseguiu dizer. — Faça o que quiser, mas me deixe fora disso. Seja o sistema antigo ou o novo, não é da minha conta. — Ele não sabia se deveria relatar tudo ao Diretor, mas não era estúpido o suficiente para revelar suas intenções.
Manter uma posição neutra enquanto decidia o que fazer era a melhor atitude.
— Que pena. — Lyam estalou a língua.
— Eu realmente esperava que você caísse em si. Escolher o caminho errado na vida pode ter consequências terríveis.
Yurial olhou ao redor, notando que o corredor estava vazio. Não havia mais ninguém por perto, apenas os dois permaneceram.
Antes que ele pudesse exigir uma explicação, Lyam the deu um soco no estômago, seguido de um gancho no queixo que jogou Yurial no chão.
De repente, várias pessoas se juntaram à surra, evitando cuidadosamente atingir seu rosto ou órgãos vitais.
Enquanto tentava se proteger, Yurial reconheceu alguns deles, todos herdeiros de nobres poderosos ou antigas linhagens mágicas.
— O lado bom da estupidez é que, até certo ponto, ela pode ser corrigida. Até cães idiotas aprendem suas lições com o treinamento adequado. — Lyam se ajoelhou, usando um poderoso feitiço de cura de nível três em Yurial para não deixar rastros da agressão brutal.
A dor, no entanto, ainda estava lá. Yurial precisava de toda a sua força de vontade para não dar a eles a satisfação de implorar para parar ou gritar em agonia.
Ele não tinha feito um som o tempo todo.
— Diga ao seu pai que isso foi apenas um aviso. Mal podemos esperar para ter uma conversa adequada com ele também.
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