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    Quando alguém ouvia falar da Câmara do Conselho do Rei, normalmente sua mente pensava na sala do trono.

    Com mais de vinte metros de comprimento e mais de dez metros de largura, um único tapete de seda vermelha com bordas bordadas em ouro ia das portas duplas de três metros de largura até os dois degraus que separavam o andar onde ficavam os nobres e o andar elevado para a família real.

    Dessa forma, mesmo sentados em seus tronos de ouro, esculpidos para se assemelhar a um grifo desenfreado, eles seriam capazes de olhar para todos os presentes, reafirmando seu status e autoridade.

    Todo o ambiente era iluminado por lustres de cristal, alimentados por magia, não deixando espaço para sombras ou necessidade de manutenção.

    Nas paredes, tapeçarias magicamente encantadas recontavam repetidamente os grandes feitos que o atual Rei havia realizado para ser considerado digno de seu poder. Tanto o piso quanto os pilares da sala eram feitos de mármore com veios dourados, o material mais precioso e robusto disponível no Reino Griffon.

    E esse alguém estaria completamente errado. A sala do trono era perfeita para realizar eventos sociais ou premiar um general ou nobre em particular. Mas quando se tratava de segredos de estado, era um pesadelo de segurança.

    Entre a entrada principal, as passagens dos criados, as passagens secretas e as sacadas para os espectadores, circulando pela sala, um pequeno exército de espiões poderia facilmente passar despercebido, mesmo depois de vasculhar todo o local com um pente fino.

    A verdadeira Câmara do Conselho ficava nos apartamentos privados do Rei, dentro de uma torre fortemente guardada. A sala tinha cerca de 6 metros de comprimento e 4 metros de largura, com apenas uma mesa redonda e cadeiras de madeira como mobília.

    A mesa redonda não significava que todas as opiniões tinham a mesma importância, era simplesmente a única maneira de ser ouvido de todos os lados da sala sem a necessidade de gritar sem parar.

    Além dos móveis, o quarto era vazio, sem janelas e apenas uma entrada. Tanto o chão quanto as paredes eram de um cinza claro, não havia cor alguma além daquela das pedras mágicas das quais o quarto era feito.

    A maioria das assembleias durava horas e, dada a natureza sensível dos assuntos que exigiam a aprovação direta do rei, a discrição era de vital importância.

    O lugar todo era encantado para impedir espionagem, seja por meios convencionais ou mágicos, sem mencionar todas as proteções necessárias para evitar que todo o alto comando fosse morto de uma só vez.

    Naquele dia em particular, a Câmara do Conselho não estava ocupada por ministros ou generais, mas pelos altos escalões da Associação dos Magos. Em tais ocasiões, era dever da Rainha presidir o debate.

    Para que a Coroa tivesse controle absoluto sobre questões políticas e mágicas, as responsabilidades eram compartilhadas como tal. Aquele do casal real mais versado nas artes mágicas se tornaria o chefe da Associação dos Magos.

    O outro, ficaria encarregado de todo o poder militar e supervisionaria as atividades dos ministros. Juntos, eles teriam todas as chaves do Reino.

    A rainha Sylpha usava um simples vestido matinal de cetim azul, com mangas longas cobrindo seus braços. Apesar de ter mais de cinquenta anos, era difícil pensar que ela tivesse um dia a mais de trinta.

    Com seu queixo quadrado e feições marcantes, ela não poderia ser considerada bonita, mas a aura de confiança e poder que ela exalava, juntamente com suas maneiras perfeitas, ainda a tornavam bastante charmosa.

    — Vossa Majestade, ainda não conseguimos encontrar Linnea. — Disse um homem careca de meia-idade com um cavanhaque grisalho. — Temos certeza de que ela ainda não cruzou as fronteiras. Ela nunca deixaria seus filhos para trás.

    A Rainha dilatou as narinas em aborrecimento.

    Ultimamente ela só receberia más notícias.

    — E? Eu quero resultados, não hipóteses! Se você não consegue encontrá-la, ela pode ter desertado para as tribos de Bloodsand ou até mesmo se escondido na minha bunda empinada, pelo que me importa. E o Império Gorgon? É verdade que eles estão desenvolvendo magia de clarividência?

    A ideia de que seu pior inimigo pudesse espioná-los de uma distância segura fez com que a Rainha perdesse o sono por causa disso.

    — Sim e não. — Disse uma velha com longos cabelos brancos, presos em um rabo de cavalo. — Sim, eles gastaram milhares de moedas de ouro para satisfazer a obsessão do Imperador com profetas, videntes e toda essa baboseira sobre prever o futuro.

    — Não, porque até agora todos esses chamados “médiuns” eram apenas fraudes. Alguns deles eram, na verdade, nossos agentes, que conseguiram drenar somas consideráveis antes de desaparecer.

    — Finalmente, algo deu certo! — Ela bateu na mesa com o punho com força suficiente para fazer vários cálices caírem.

    — E as grandes academias? — Um silêncio constrangedor caiu na sala, arruinando instantaneamente seu bom humor.

    — Vossa Majestade, talvez devesse reconsiderar sua linha de ação. — Disse uma mulher alta de meia-idade com cabelos ruivos curtos.

    — Tantas mudanças de uma vez são difíceis de aceitar.

    — Seria melhor implementá-las uma por uma ao longo do tempo.

    — Uma por uma, ao longo do tempo. — A Rainha ecoou, tamborilando com seus dedos finos no apoio de braço.

    — Diga-me, querida Bolna, há quanto tempo a Associação dos Magos tenta mudar as regras de forma fácil e agradável, para evitar distúrbios? — Seu tom era calmo e amável, fazendo com que os presentes estremecessem.

    A rainha era muitas coisas, mas amável não era uma delas. Como qualquer política de raça pura, ela era capaz de esconder suas emoções e pensamentos sempre que necessário, mas sua natureza era a de uma mulher fogosa, apaixonada em tudo o que fazia.

    Ao falar sobre assuntos de estado com seus conselheiros, ela não media palavras nem perdia tempo com sutilezas. Sua calma significava que uma tempestade estava chegando.

    — Mais de quarenta anos. — A mulher engoliu um pedaço de saliva, forçando-se a responder sem tremer.

    — Mesmo antes da minha coroação, sim. E quantas regras foram realmente alteradas até agora?

    — Nenhuma.

    — Última pergunta. Quantos Magos em potencial perdemos durante todo esse tempo? — Sua voz ficou fria como pedra.

    — Pelo menos quatro. — Incapaz de retribuir o olhar da Rainha, Bolna baixou os olhos.

    — Todos eles desertaram jurando vingança.

    — Deixe-me ver se entendi. — A Rainha puxou sua cadeira para trás, levantando-se. Ela era uma mulher de estatura média, 1,62 metros de altura, com uma constituição esbelta.

    Apesar de preso em um coque, o longo cabelo preto ainda revelava seu incrível dom para as artes místicas, com todos os seis tons de cores marcando-a como abençoada por todos os deuses da magia.

    — Perdemos quatro exércitos de um homem só por nada além de ressentimentos mesquinhos, e sua grande ideia é continuar com o ‘
    “bom trabalho”? — A Rainha se moveu tão rápido que alguém poderia pensar que ela tinha usado o Piscar1, mas o borrão atrás dela contava uma história diferente. Ela simplesmente andou.

    — Você acha que quando o deus da morte retornar do Deserto de Sangue, liderando o exército de mortos-vivos que ele vem criando há todo esse tempo, ele se vingará aos poucos ou simplesmente nos massacrará?

    Sylpha disse enquanto a levantava pelo pescoço com apenas uma mão, apesar de Bolna ser mais alta e ter o dobro do seu peso. Ninguém ousou interferir. Todos os presentes eram arquimagos muito poderosos, mas havia uma razão para Sylpha ser a Rainha.

    Ela era capaz de conjurar vários feitiços com quase nenhum atraso, movendo-se mais rápido que uma fera selvagem e rasgando ao meio um cavaleiro totalmente armado com suas próprias mãos. Muitos suspeitavam que ela era, na verdade, um dragão em forma humana.

    — Fazer a mesma coisa repetidamente e esperar um resultado diferente é a própria definição de loucura. — Ela aproximou o rosto roxo de Bolna do seu.

    — Seus mestres deveriam ter treinado você melhor.

    Sylpha cerrou o punho, produzindo um estalo, antes de jogar o corpo em um canto da sala. A cabeça de Bolna agora estava inclinada em um ângulo não natural, seus membros esparramados sob o pesado manto de mago.

    — Agora que nos livramos do espião entre nossas fileiras, não devemos mais perder tantos agentes. — Ela disse voltando para sua cadeira.

    — Bolna era uma espiã?! — Todos ficaram chocados com a notícia, questionando e discutindo o que tinha acabado de acontecer.

    — Sim, ela era. — A Rainha esfregou a testa com uma expressão triste. Ela parecia cansada e magra, sem nenhum traço de seu vigor anterior.

    — As velhas famílias têm seus homens e mulheres plantados em todos os lugares. Academias, Corte, até mesmo a Associação de Magos não está fora do alcance deles. Eles sabem que investi muito dinheiro e energias na Grifo Branco.

    — Se meu projeto falhar, a responsabilidade será somente minha. Eu não teria outra escolha senão deixar tudo como está, esperando que meu sucessor tenha mais habilidade e sorte. Posso até ser forçada a renunciar como chefe da Associação dos Magos e deixar o cargo para um dos meus filhos.

    — Já tenho muitos fracassos sobre meus ombros, outro de tal significância e minha autoridade e papel seriam muito diminuídos. Até eu questionaria minha competência.

    Os ajudantes da Rainha não sabiam o que dizer, então esperaram em silêncio até que ela se recuperasse.

    — Os relatórios de Bolna eram todos falsos. A agitação está crescendo, muitos consideraram que seus filhos estavam com notas baixas ou sendo expulsos como ataques pessoais. Eles não aguentam mais não estar no controle.

    — Ela tirou várias pastas de um anel dimensional, passando-as para os velhos magos, para que eles vissem com seus próprios olhos o quão terrível era a situação. De acordo com os documentos e as conversas transcritas, o Reino estava à beira de uma guerra civil.

    Os novos nobres, aqueles que haviam ascendido em status graças ao seu talento e realizações, fossem elas de natureza militar ou mágica, não estavam mais dispostos a viver suas vidas sob o domínio de um sistema injusto.

    Os antigos nobres, por outro lado, sentiam sua posição ameaçada e temiam perder alguns de seus privilégios ou, pior ainda, serem forçados a compartilhar recursos que até então eram exclusivos deles.

    As duas facções estavam agora muito próximas em número e poder, era apenas uma questão de tempo até que o antigo equilíbrio desmoronasse.

    — Sei que, apesar de serem leais à Coroa, muitos de vocês não apoiam realmente minha ideia. — Sylpha suspirou.

    — Mas preciso que vocês entendam o quanto está em jogo. Não importa quais sejam suas crenças pessoais, se a Grifo Branco acabar sendo apenas mais um fracasso, teremos uma geração, na melhor das hipóteses, antes que o Reino mergulhe no caos.

    1. magia de “teleporte”[]
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