Capítulo 98 - Lótus vermelho [1/2]

Graças ao seu talento extraordinário, na terceira aula, Quylla conseguiu executar Loop. Mesmo praticando noite e dia, Lith precisou até a quarta aula, terminando como o décimo a completar o exercício.

No começo, ele ficou frustrado por sua incapacidade de acompanhar Quylla. Apesar das aulas particulares dela sobre magia dimensional e das longas horas de trabalho duro à noite, ele sempre estava dois ou três passos atrás.

Mas então, ele entendeu que ser o décimo entre mais de duzentos alunos não era um resultado tão ruim, especialmente porque a maioria deles tinha um caminho a percorrer. Sem mencionar que sua sensibilidade de mana estava melhorando lenta, mas firmemente.

Foi uma experiência estranha, sentir a energia fluir com a mente em vez dos olhos. Feitiços dimensionais pareciam ter pontos quentes e frios ao mesmo tempo. O segredo para estabilizar um Portal era infundir magia de água apenas nos pontos quentes.

Usar muito ou afetar um ponto já frio faria com que a distorção espacial entrasse em colapso.

Quando chegou o fim de semana, Lith precisava desabafar sua frustração, então propôs uma viagem à floresta para esquecer as preocupações e buscar alguns ingredientes para ganhar pontos extras ou dinheiro.

Desde que foi admitido na academia, Lith parou de trabalhar e, caso precisasse tirar sua família do Reino e reconstruir suas vidas do zero, isso exigiria muito ouro.

Mas, além de Quylla, o resto do grupo teve que lidar com a dificuldade de entender a conjuração tripla e conseguir completar o feitiço Loop.

— Eu adoraria ir com você. — Quylla parecia realmente desanimada.

— Mas eu sou inútil em batalha, e você é um ótimo curandeiro. Sem alguém me protegendo, eu seria apenas um fardo. A melhor coisa que posso fazer é ajudá-lo com magia dimensional e praticar para o próximo exercício.

Ao ouvir essas palavras, o humor de Lith passou de bom para ótimo.

— Trabalhe duro por mim também. Se você encontrar algum truque ou atalho para isso, farei valer a pena.

Depois disso, ele só precisava ir até o portal que conectava o térreo e à entrada da academia. Antes de sair, ele precisava obter a autorização.

O funcionário da recepção, além das enormes portas duplas de madeira e metal, olhou para ele como se ele fosse um louco.

— Você vai mesmo sair sozinho? Onde está seu time? — Se isso era uma piada, ele não achou graça.

— Nenhum time, só eu. Posso ir agora, por favor? — Lith bufou.

— Você percebe que uma vez lá fora você está por conta própria? Fora do período de exames, você não é obrigado a encontrar bestas mágicas amigáveis. Você é apenas um aluno do quarto ano, você pode encontrar alunos do quinto ano também.

— Sem mencionar caçadores furtivos, aventureiros, monstros e sabe-se lá quem. A academia fica na floresta, mas não é dona dela. Ela é cheia de recursos, e todos querem um pedaço dela.

— Sem problemas, eu cuido disso. — Lith pegou seu Voto e recebeu um olhar de desprezo em troca.

— Isso não funciona fora da academia. A única coisa que você pode usar é isso. — O balconista mostrou a ele um pingente do tamanho de uma bola de gude.

— Em caso de problemas, basta empurrar o centro para gerar um sinal de socorro. Mas não é um Voto, de jeito nenhum. Primeiro, o pessoal de resgate terá que encontrá-lo, só então um Passo de Dobra pode ser aberto. Pode levar minutos!

Lith sorriu com a boa notícia.

— Por mim tudo bem. Só isso?

Resmungando sobre a idiotice dos jovens, o funcionário compilou um formulário e pediu para Lith assinar.

— Os portões do castelo ficam abertos 24 horas por dia, 7 dias por semana. Recomendo que você não vá muito fundo e volte para passar a noite. É o momento em que os grandes predadores caçam. Se você ainda quiser ir, isso custa duzentos pontos.

— Duzentos pontos?! Preciso pagar para arriscar minha vida?

— É a única maneira pra vocês, crianças, perceberem o quão importante essa decisão é. Normalmente, o custo seria dividido entre os membros da equipe, mas como você está sozinho…

Lith trocou os pontos pelo pingente, sem pensar duas vezes.

Uma vez atrás da cobertura das árvores, ele colocou o uniforme e tudo relacionado à academia na dimensão do bolso, vestindo seu antigo traje de caçador.

Com tudo o que estava acontecendo, era muito mais seguro aparecer como um estranho do que como um estudante. As palavras do funcionário foram as melhores notícias que ele recebeu em mais de uma semana.

Estando sozinho, enquanto ninguém fosse capaz de reconhecê-lo ou viver para contar a história, ele não tinha mais motivos para esconder seu poder real. Lith muitas vezes pensou em como esconder seu rosto, e veio com uma solução durante os quatro dias de intervalo.

Uma máscara teria sido legal, mas limitaria sua linha de visão. Capuzes eram bons apenas se obedecessem a algum princípio mágico, impedindo que caíssem enquanto se moviam em alta velocidade. Sem mencionar a visão lateral ruim.

Seu antigo eu que sempre amou heróis ficou realmente decepcionado, mas ele aprendeu há muito tempo que praticidade era muito mais importante do que parecer legal. Então ele fez sua mãe criar uma máscara de esqui, deixando apenas seus olhos expostos.

Uma vez que sua identidade estava segura, ele começou a voar entre as árvores, usando Life Vision para verificar o perímetro em busca de inimigos e presas. Estar livre depois de tantos meses, deu-lhe uma descarga de adrenalina.

Lith começou a se mover cada vez mais rápido, alternando voos curtos com movimentos de alta velocidade graças à Magia de Fusão.

“Solus, me avise se você sentir qualquer coisa com uma assinatura de mana enorme. Isso não é mais a floresta de Trawn. Não estamos caçando por comida, mas por ervas mágicas e cristais de mana.”

É uma pena que os livros da biblioteca não possam ser levados para fora. O herbário e o bestiário da floresta nos pouparia muito tempo…

Quem imaginaria que a magia dimensional fosse tão difícil? Não tínhamos um minuto disponível para copiá-los. Faremos com o que lembrarmos.”

Lith continuou se aprofundando na floresta, pulando de árvore em árvore com uma agilidade e velocidade que envergonhariam um ninja. A intenção de matar que ele emitia mantinha animais e insetos normais afastados, permitindo que ele se movesse sem impedimentos.

Depois de algumas horas vasculhando a floresta, sua paciência estava se esgotando.

“Recursos abundantes, minha bunda! Eu nem avistei uma única besta mágica até agora. Onde diabos estão todas as coisas boas?”

“Lá embaixo, olhe para a base da árvore à sua esquerda.”

Seguindo as instruções de Solus, a única coisa que Lith notou foi um grande arbusto no meio de uma clareira. Mudando para Visão da Vida, o cenário mudou completamente. O mundo se transformou em tons de cinza, enquanto o arbusto era a única coisa de um verde profundo.

No centro dela, havia algo que brilhava com luz roxa, a força mágica mais forte que ele já tinha visto. Ele flutuou para baixo lentamente, verificando se não havia competição pelo tesouro.

“Estranho, não há nada vivo por aqui, exceto árvores e plantas. Talvez essa coisa esteja sugando todos os recursos naturais.” Pensou Lith.

Ao se aproximar, ele conseguiu vislumbrar seu prêmio.

Parecia uma flor de lótus vermelha, e estava flutuando no ar acima do arbusto espesso, emitindo uma fragrância doce, como um canteiro de flores após a chuva de primavera.

Seu primeiro instinto foi estender o braço e pegá-lo, mas sua paranoia tomou conta do volante, forçando-o a parar.

“Espere um minuto. Eu entendo que estou bem fundo na floresta, mas essa coisa se destaca muito. Por que ninguém a encontrou antes? E como diabos essa coisa flutua? Mais importante, por que não há nenhum inseto zumbindo por aí? E desde quando as plantas aparecem coloridas na Visão da Vida?”

Como sua vitalidade era igualmente dispersa das raízes para as folhas, geralmente a Visão da Vida percebia as plantas pequenas como quase sem vida, enquanto as árvores grandes tinham apenas um tom de vermelho.

Quando ele criou esse feitiço, Lith planejou usá-lo contra humanos e animais, tornando-o mais sensível a coisas que tivessem um sistema circulatório ativo.

Não importa se era mana ou sangue, a sensibilidade da Visão da Vida era direcionada a coisas que se moviam rapidamente. O arbusto que apareceu de uma cor azul era algo que ele nunca havia esquecido. Com um aceno de sua mão, o espaço ao redor do lótus foi invadido por chamas, e um grito desumano encheu o ar.

O arbusto se moveu de repente, revelando inúmeros apêndices verdes escondidos no subsolo, que agora ele estava usando para abafar as chamas. Cada uma dessas coisas era tão grossa quanto os braços de Lith, movendo-se e se contorcendo tão rápido que ele não conseguia perceber se eram trepadeiras ou tentáculos.

O lótus vermelho balançava e se movia junto com a coisa-arbusto, revelando estar conectado a ela por um pequeno tentáculo. A coisa não parecia ter uma forma definida. Era uma massa viva de videiras que chicoteava o ar, tentando capturar sua presa.

Os apêndices verdes se moveram rápido como cobras, agarrando Lith pelos braços, peito e pernas, apenas para descobrir que ele já havia se movido, deixando para trás apenas uma imagem residual.

— Seja lá o que você for, eu não tenho material para a Hora H! Cai fora!

Com outro aceno de mão, ele liberou inúmeras lâminas de vento, cortando todos os apêndices que se aproximavam como uma faca quente na manteiga. A coisa gritou novamente, seu corpo não mais deitado revelou ter pelo menos três metros de altura, enchendo o ar com videiras estalando.