Capítulo 14: Predador Oculto (Parte 1)
Não esperava encontrar um deles tão cedo. Havia aguardado muito por isso, mas agora não era hora de hesitar. Precisava dar tudo de mim. Abaixei-me e tirei uma carretilha reserva, com meus fios mais finos, que estava no manto. Abri uma escotilha no braço e troquei rapidamente, de maneira discreta. Peguei um cordão de linho e amarrei o cabelo. Nada podia me atrapalhar naquele instante.
Seus cabelos eram de um castanho médio, e seus olhos, de um cinza escuro penetrante. Ele vestia uma túnica escura e ajustada, com um capuz baixo que ocultava parte de seu rosto. As calças justas e as botas revelavam que cada detalhe de sua vestimenta era pensado para o movimento.
Ao seu lado repousava uma lâmina de tamanho intermediário, maior que uma adaga, mas menor que uma espada. Sua forma era peculiar, distinto de qualquer outra arma convencional.
— Deu coroa, com isso teremos que brincar. Não precisa ficar com essa cara de raiva, vai ser divertido.
— Foi você que matou todos que entraram na floresta?
— Eu apenas brincava com aqueles que perdiam no jogo.
— Que piada. Vai dizer que os deixava partir só por vencer nesse seu jogo?
— Sou um homem que acredita no destino, por isso decido tudo com isso. — Ele levantou a moeda, mostrando-a para mim.
Enquanto conversávamos, aproveitei e comecei a espalhar meus fios ao meu redor, movendo os dedos quase de forma imperceptível. Eu tinha que ser cuidadoso; primeiro, precisava descobrir que tipo de poder ele possuía.
— Então, por que nenhum deles retornou?
— Quem sabe? Talvez não quisessem voltar.
— Heh. Você deve ter matado todos.
— Estava entediado, já fazia um tempo que ninguém aparecia. Quando vi vocês entrando, quase não consegui me conter.
Então eu não estava errado; aquela sensação de estar sendo observado era real. Era ele esse tempo todo.
— Qual o motivo de ter esperado até agora? Poderia ter atacado à noite, enquanto todos dormiam.
— Assim não teria graça… mandei um dos meus bebês pra avaliar a força do seu grupo, e você foi incrível. o Matou, e não só isso, agora eliminou mais cinco deles sozinho. Você é muito bom.
Enquanto ele falava, um sorriso bizarro se formava em seus lábios, e seu corpo tremia levemente, como se estivesse se contendo.
— Você fala muito.
Ele começou a mover a mão em direção à espada, e eu me concentrei, sem desviar o olhar. No entanto, em um movimento inesperado, ele recuou a mão para trás do tronco, pegou algo e lançou na minha direção.
— Trouxe um presentinho pra você.
Logo percebi que era uma cabeça. Ela rolou até parar à minha frente, e só então reconheci: era a cabeça de Lucas.
Quando levantei o olhar, ele havia desaparecido. Não consegui acreditar; eu só havia desviado o olhar por um instante. Movi minha cabeça rapidamente ao redor, mas não o via em lugar nenhum.
O pânico começou a me consumir, e minha respiração ficou descontrolada. Eu precisava me acalmar. Respirei fundo, comecei a observar atentamente e a escutar os sons ao meu redor.
No instante seguinte, ao virar ligeiramente o rosto para trás, vi a ponta de uma lâmina se aproximando do meu olho. No último momento, ela parou a poucos centímetros de me atingir. Num reflexo, pulei rapidamente para o lado.
— Hã? O que é isso aqui? Fios? Ahh, então foi com isso que você matou meus bebês. Parecem ser bem afiados. — Ele falava enquanto passava sua lâmina sobre o fio.
O que esse cara fez? Do nada, apareceu atrás de mim. Que tipo de poder ele tem? Se eu não tivesse colocado um fio ali estaria cego agora.
De acordo com o mestre, parece que cada um deles possuía um poder diferente. Esse era o problema: como descobrir qual era o dele? Precisava analisar com calma, sem desviar minha atenção.
— Seu desgraçado, como fez isso?
— Haha. Com certeza, você é um brinquedo interessante…
Num piscar de olhos, ele desapareceu novamente diante de mim, mesmo sem que eu tivesse desviado o olhar por um instante. Segundos depois, ouvi o estalo de um galho se partindo ao meu lado no chão. Instintivamente, me virei e desferi um soco no ar com o braço esquerdo.
— Uou! Essa foi perto. Você tem ótimos sentidos.
Foi então que percebi: ele não desaparecia. Seu corpo ainda permanecia ali, tornando-se apenas mais difícil de enxergar, mas ainda vulnerável a ataques. Era por isso que usava roupas leves, permitindo-lhe se mover silenciosamente e sem ser detectado com facilidade.
Num instante, se desfez no nada outra vez. Concentrei-me nos sons; por sorte, havia treinado bastante com o mestre para lutar contra aqueles monstros, que costumavam agir mais à noite. Meus fios já estavam estrategicamente posicionados pelo campo de batalha, quase invisíveis no ar.
Ouvi um leve movimento no chão à minha direita. Puxei um deles na diagonal, e ele se tensionou subitamente, cortando tudo em seu caminho. Ele surgiu por um instante e se esquivou, girando antes de lançar um ataque horizontal. Reagi instintivamente, recuando, caindo para trás.
— O que foi? Já vai cair com um simples golpe desses?
Ele começou a se reposicionar para atacar novamente, mas eu não me joguei para trás apenas para desviar do golpe. Já havia preparado alguns fios e, assim que minha costa encostou neles, usei o impulso para me lançar para frente, desferindo um soco com toda a força do meu braço esquerdo.
No instante em que meu golpe estava prestes a atingir seu rosto, ele se esquivou com uma velocidade impressionante, saltando para o lado e executando algumas cambalhotas. Meu braço atingiu o tronco da árvore à minha frente, que se partiu em pedaços instantaneamente.
A poeira e os fragmentos de madeira se espalharam pelo ar, dificultando minha visão por um breve instante. Respirei fundo, ignorando o ardor no rosto, e rapidamente recuperei o equilíbrio. Meu olhar se fixou nele novamente; não podia me dar ao luxo de desviar a atenção nem por um segundo.
— Você espalhou várias dessas coisas por aqui… E que força é essa? Destroçou a árvore só com um soco!
— Para de se esconder como um rato e vem pra cima de uma vez!
— Você é muito apressado. Quando se encontra um brinquedo divertido, é preciso ir devagar pra não quebrar ele rápido.
Ele pegou sua moeda e a lançou para cima. No instante em que ela começou a descer, ele se tornou invisível. Aparentemente, esse era o único poder que possuía, já que seus olhos permaneciam normais quando não estava oculto. Se minha memória não falhava, quando o poder dos Corrompidos estava ativo, seus olhos assumiam a mesma aparência daqueles monstros. Já havia espalhado vários fios ao meu redor, e se me concentrasse o suficiente, poderia detectar sua posição.
Eu posso vencer!
Senti-me confiante e esbocei um leve sorriso. Concentrei-me nos sons ao redor, mas antes mesmo que pudesse perceber, uma ardência cortante atravessou meu rosto. Ao passar a mão, vi sangue em minha luva.
Quando me virei, ele já estava atrás de mim, pronto para atacar com sua espada. Num reflexo, ergui o braço esquerdo à frente, bloqueando o golpe. O impacto lançou seu braço para trás junto com a lâmina.
Recuei rapidamente, impulsionando meu corpo com uma sequência de saltos velozes de costas, mantendo a atenção no inimigo.
— Agora entendi. Seu braço é de aço… Nunca tinha visto algo assim antes. Interessante. — Ele esboçou um sorriso, apoiando a espada no ombro.
O que foi isso? Foi rápido demais! Em poucos segundos, ele já tava atrás de mim. Ele realmente só está brincando comigo. Desde o início, poderia ter me matado a qualquer momento.
Minha confiança desmoronou em um instante. Um frio cortante percorreu minha espinha, enquanto o suor surgia em minha pele como um aviso silencioso do perigo.
Uma obra de: Matheus Andrade.
Mapa do Mundo.
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A escala não é exata, já que fui eu quem fez e não sou bom nisso kkk. É apenas para termos uma ideia de onde estamos. Ele vai se revelando ao decorrer da história.
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