Capítulo 16: Um Passo Além da Noite
Cavalguei em direção ao norte. As dores dos cortes pioravam, mas não me deixei abalar. Olhei para o alto e percebi que, pelos raios do sol alaranjados, restavam poucas horas antes de anoitecer. Precisava me apressar, pois, se viajassem à noite e saíssem da floresta, não conseguiria encontrá-los.
Serrei os dentes e apertei as rédeas. Bati os calcanhares contra os flancos do cavalo, e ele relinchou antes de disparar em galope.
Momentos depois, sem que eu percebesse, a noite começou a me envolver. Um pouco mais à frente, avistei uma luz. Imediatamente, parei, desci do cavalo e me esgueirei silenciosamente para observar. Ao me aproximar mais, distingui Darian e Richard sentados ao redor da fogueira. A carroça com o burro estava estacionada um pouco ao lado. Movi-me sem fazer barulho e, sobre a carroça, estava Clarice, deitada, amarrada e amordaçada.
Como os dois pareciam estar em melhor condição física para a batalha, o melhor seria agir com cautela, pois eu estava muito cansado e ferido. Se estivesse em melhores condições, não teria problema em enfrentá-los de frente. Ainda assim, senti certo alívio por tê-los alcançado.
— Ei, Darian, não seria melhor pegar algumas tochas e viajar à noite?
— Do que você tá falando? É muito perigoso viajar à noite nesta floresta. Assim que amanhecer, partimos.
— Mas e se eles nos alcançarem?
— Haha. Mesmo que encontrem o cavalo, apenas um deles conseguiria chegar a tempo. Você acha que não conseguiria lidar com qualquer um daqueles fracotes?
— E aquele garoto chamado Saito? Ele parecia ser forte. Não viu como matou aquele monstro?
— Aquele cara já deve ter virado comida daqueles monstros. Não viu quantos tinha? Seria impossível para apenas uma pessoa lidar com aquilo.
— Você tem razão. Nós vamos ficar ricos quando vendermos aquela garota.
Tinha que ser dois lixos. Senti isso assim que os vi cochichando quando Clarice curou Talia. Continuei me movendo nas sombras, sem fazer barulho, aproximando-me de Richard, que estava encostado em uma árvore. Seria mais rápido simplesmente matá-los, mas tinha pouco do meu fio mais fino. Decidi capturá-los e deixar que os outros decidissem o que fazer com eles.
Subi na árvore em que Richard estava encostado, peguei o que parecia ser uma fruta verde e a joguei um pouco mais à frente. Os dois se levantaram alarmados. Rapidamente, lancei meus fios ao redor do pescoço de Richard e saltei da árvore, puxando-o para cima com força. Esperei até que desmaiasse e, então, o ergui ainda mais, prendendo-o entre os galhos.
— Carai, isso me assustou. Você deve ter se cagado, Richard. Haha! — Ao se virar, não viu mais seu parceiro. — Richard, cade você? Isso não é hora pra brincadeiras! — Ele começou a olhar ao redor.
Movi-me agilmente pelas sombras, mas acabei quebrando um galho seco no chão, produzindo um ruído indesejado.
— Ei, Richard, aparece logo! Se foi mijar, avisa, porra! — Ele estava com a espada na mão, tremendo.
Peguei uma pedra e a joguei mais à frente. Quando Darian se virou para o barulho, aproximei-me lentamente por trás. No instante em que ele virou para o meu lado, chutei a espada de sua mão, lançando-a para longe. Ele caiu para trás, assustado.
— É você, Saito? Espera aí, escuta… Se a gente vender aquela garota, eu te dou mais da metade. Você não vai precisar de dinheiro pelo resto da vida.
Apenas o ignoro e me aproximo lentamente. Ele ergue as mãos à frente, assustado. Em seguida, acerto um soco firme com meu braço direito, fazendo-o desmaiar. Uso meus fios para enrolá-lo e, então, sigo até Clarice, que ainda estava na carroça.
Ao me aproximar, ela abriu os olhos e tentou falar, mas, como estava amordaçada, apenas grunhidos escapavam. Por um momento, considerei mantê-la assim até o fim da viagem para evitar que continuasse atrasando o grupo, mas logo descartei essa ideia.
Subi na carroça, desamarrei-a e removi o pano que cobria sua boca.
— Saito, você está bem? Por que saiu correndo sozinho daquele jeito? Fiquei preocupada.
Como ela ainda conseguia se preocupar com outra pessoa, mesmo nesse estado? Saltei da carroça e me sentei próximo à fogueira. Naquele instante, foi como se todo o cansaço e a fadiga acumulada me atingissem de uma vez.
— Eles te machucaram? — perguntei.
— Não, só me marraram mesmo.
Coloquei minha mão esquerda sobre o ombro direito, sentindo a ardência do corte, enquanto Clarice se aproximava cautelosamente.
— Vamos esperar pelos os outros, eles devem chegar amanhã.
— Saito, você tá cheio de sangue, eu vou te curar.
— Só foi alguns arranhões.
Ele se agachou atrás de mim e colocou as mãos sobre minhas costas. Assim que a luz dourada começou a irradiar, a dor no meu corpo foi desaparecendo aos poucos. Era impressionante. A fadiga permanecia, mas só de sentir aquela dor se esvaindo, era um alívio imenso.
— Pronto, acho que agora, os ferimentos estão curados.
— Obrigado.
— Melhor a gente tomar cuidado, os monstros podem aparecer.
— Eu mantei eles.
— O que? todos?
— Sim.
— Nossa, você é muito bom. Mas onde tá Richard?
— Ali — Apontei para cima.
— Ah… entendi.
Ela passou ao meu lado e sentou-se com um leve sorriso nos lábios, o olhar sereno refletindo um misto de alívio e admiração.
— Você viu o que acontece com pessoas diferentes como você. Ainda dá tempo de desistir.
— Não vou desistir, já tomei minha decisão. Apenas fui descuidada. Isso não vai se repetir.
— Tem certeza?
— Sim. E também viu como sou útil. Curei seu corpo ferido.
Sem dúvida, o poder que ela possuía era inegavelmente útil. Durante a luta contra o Corrompido, ultrapassei meus limites, confiando também em sua habilidade. Ainda assim, diante do poder que ele demonstrou, será que eu poderia derrotá-los? E se os outros fossem ainda mais fortes? Baixei o olhar, sentindo-me inútil. Passei a vida inteira treinando, mas, no fim, quando finalmente enfrentei um deles, nem sequer cheguei perto de matá-lo.
— Saito, não se esqueça, agora estamos juntos nessa. Você não precisa fazer tudo sozinho. Afinal, somos amigos, não somos?
— … Sim.
As palavras dela reacenderam uma centelha de ânimo em mim. Não podia desistir; aquilo era apenas o começo. Muitas batalhas ainda me aguardavam, e eu precisava me fortalecer para que, da próxima vez que os encontrasse, não recuasse, mas os eliminassem. Isso não era apenas por Yuri e tio Jack. Se o portal fosse aberto, o destino de todos neste mundo estaria condenado.
Antes de dormir, após bastante insistência de Clarice, subi na árvore, desci Richard e o amarrei firmemente com meus fios. Por mim, eu o deixaria lá mesmo. Ela posicionou os dois perto da fogueira, e eu peguei os sacos de dormir para nós. Então, nos preparamos para descansar.
Queria me manter acordado de vigia, mas o cansaço me venceu, e acabei adormecendo.
Com os primeiros raios de luz do amanhecer, levantei-me. Dormi como uma pedra devido ao cansaço da batalha, mas acordei renovado. Era estranho, pois a fadiga deveria durar por dias, e, no entanto, eu não sentia mais nada.
Olhei para Clarice, que ainda dormia profundamente, até mesmo babando. Apesar de tudo o que aconteceu, parecia que nada havia ocorrido no dia anterior.
Aguardamos algumas horas para ver se os outros apareceriam e, finalmente, os avistamos ao longe. Assim que nos viram, correram em nossa direção. Talia veio em disparada, chorando, e abraçou Clarice com força.
Relatei tudo o que havia acontecido e, com pesar, informei sobre a morte de Lucas. Omiti a parte do meu confronto com o Corrompido.
Nos organizamos, colocamos Darian e Richard na carroça e seguimos em frente. O dia transcorreu tranquilamente, sem nenhum problema no caminho. Acampamos ao anoitecer e nos alimentamos para renovar nossas energias.
Ao amanhecer, seguimos viagem. Algumas horas depois, chegamos a um morro. Ao subirmos, avistei uma luz intensa um pouco mais adiante. À medida que nos aproximávamos, finalmente alcançamos o fim da Floresta da Noite Eterna.
Todos arregalaram os olhos de surpresa, e eu também mal podia acreditar. Como descrever aquilo? Uma pintura? Não, era muito mais do que isso. Era simplesmente deslumbrante, uma paisagem que nem em meus sonhos mais profundos eu poderia imaginar que existisse.
Uma obra de: Matheus Andrade.
Mapa do Mundo.
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A escala não é exata, já que fui eu quem fez e não sou bom nisso kkk. É apenas para termos uma ideia de onde estamos. Ele vai se revelando ao decorrer da história.
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