Acordamos cedo sob a brisa fria, organizamos tudo, apagamos a fogueira e seguimos adiante. Segundo Dorian, bastava seguir a estrada para chegarmos ao porto. Conforme o tempo passava, cruzávamos com outros viajantes, sempre simpáticos e solícitos, que nos cumprimentavam cordialmente. Também nos deparávamos com animais exóticos e uma vegetação exuberante, cuja beleza era de tirar o fôlego. 

    — Saito, pra onde estamos indo? Meu mapa não mostra nada daqui. 

    — Estamos indo primeiro pra a cidade de Drakvar. 

    — Estou ansiosa pra conhecer, deve ser tão impressionante quanto a que nos passou. 

    — Deve ser, já que é uma das cabeças da Hydra. 

    — Hydra, o que é isso? 

    — Hydra é uma lenda sobre uma criatura gigante com três cabeças em um só corpo. 

    — Parece muito perigoso, acho melhor não irmos pra essa cidade. 

    — É apenas um mito, não existe. 

    — Então, por que você disse que é uma das cabeças da Hydra? 

    — Na minha mochila, tem um livro. Pegue ele e abra na página 73, você vai descobrir. 

    Clarice se arrastou até minha mochila, pegou o livro de Sylvain e começou a folheá-lo. 

    — Na página 73, tem a Hydra coroada. É esse? 

    — Sim, é esse mesmo. 

    — Gosto de ler em voz alta, posso? 

    — Sim. 

    A Hydra Coroada, esse foi o título que ecoou pelos séculos, atribuído à família Varethion. Um nome que se tornaria sinônimo de riqueza, poder e domínio absoluto sobre o comércio. 

    Mas para compreendermos a ascensão dos Varethion, é necessário retroceder no tempo até os anos turbulentos que seguiram a Grande Guerra, quando os humanos saíram vitoriosos sobre as demais raças. 

    Com essa vitória, a cidade de Baldorim, capital do reino de Duskrim, foi concedida ao governo de Ulthar Drakareth Varethion, um líder cujo destino estava profundamente entrelaçado ao desenvolvimento e à expansão da cidade. 

    Com a chegada de novos colonos, Baldorim revelou-se um local repleto de vida selvagem, um paraíso para caçadores e mercadores de peles. Rapidamente, a economia floresceu, e a necessidade de escoar essa abundância tornou-se evidente. 

    O comércio expandiu-se para além das muralhas, e a cidade começou a exportar suas riquezas para outros reinos. No entanto, havia um obstáculo que ameaçava seu crescimento: o transporte marítimo. O comércio com os reinos do Norte, seus maiores clientes, dependia de uma navegação instável e ineficiente, tornando cada viagem uma aposta entre fortuna e naufrágio. 

    Os mares ao redor de Baldorim eram traiçoeiros, repletos de correntes erráticas e tempestades imprevisíveis. Em certos trechos, a instabilidade das águas tornava o naufrágio uma certeza, ceifando navios e tripulações sem piedade. 

    Kael Thalvaren Varethion, determinado a dominar os oceanos e transformar essa fraqueza em força, dedicou anos ao estudo das marés, dos ventos e das rotas de navegação. Ele não fez isso de um salão luxuoso, mas arriscando sua própria vida, enfrentando os mares com coragem obstinada. 

    Foram várias viagens fracassadas, navios destruídos, tripulações perdidas, retornos aos portos com embarcações em pedaços. Alguns começaram a chamá-lo de louco, zombando de sua obsessão e afirmando que ele estava apenas se condenando à morte. Mas Kael não desistiu. 

    Ao seu lado estava Drakvar, seu mais leal companheiro e navegador de confiança. Além de auxiliá-lo na exploração das rotas marítimas, Drakvar teve um papel essencial na construção dos barcos, assegurando que os navios fossem resistentes o suficiente para enfrentar as águas traiçoeiras. Suas habilidades e experiência naval foram inestimáveis. Juntos, desafiaram mares impiedosos até que, em uma dessas viagens, o destino os separou para sempre. 

    Uma tempestade avassaladora engoliu o navio em que estavam. Kael foi resgatado por pescadores em uma praia dias depois, mas Drakvar jamais retornou, desaparecendo nas profundezas do oceano. A dor da perda foi profunda, mas Kael não permitiu que o sacrifício de seu amigo fosse em vão. Determinado mais do que nunca, ele finalmente descobriu a rota perfeita, um caminho seguro, livre das armadilhas das águas traiçoeiras. 

    Foi então que Kael tomou uma decisão audaciosa. Ele ordenou a construção de dois portos estrategicamente posicionados nos pontos mais seguros ao sul e ao norte, batizando-os de Lança do Porto Sul e Lança do Porto Norte. Mas um nome ainda precisava ser gravado na história. 

    Em homenagem ao homem que morreu ao seu lado nos mares, Kael nomeou a cidade do Porto Sul como Drakvar. Sob sua liderança, uma frota de embarcações foi criada, tornando o reino de Duskrim uma potência marítima. 

    Em poucos anos, os produtos de Baldorim cruzavam os mares com segurança e rapidez, consolidando a supremacia comercial da família Varethion. 

    Com o transporte assegurado, os Varethion firmaram um tratado com Arkanis, um reino estrategicamente posicionado para distribuir as mercadorias que chegavam pelos portos. 

    No entanto, foi Cassian Velmorian Varethion quem enxergou o próximo passo na ascensão da família. Desde jovem, Cassian demonstrava uma inteligência afiada, não apenas para o comércio, mas para a diplomacia. Enquanto outros viam apenas mercadorias e ouro, ele via oportunidades estratégicas. 

    Com extrema perspicácia, negociou diretamente com reis e lordes, costurando acordos vantajosos para a distribuição das mercadorias de Baldorim. Foram anos de alianças, tratados e promessas bem calculadas. Mas Cassian não se contentaria em ser apenas um intermediário, ele queria mais. 

    Após inúmeras negociações, ele adquiriu uma vasta terra no reino de Velkanis, um território estrategicamente localizado para o fluxo comercial. Foi ali que ele ergueu sua própria cidade, um bastião mercante que, em pouco tempo, tornou-se a maior cidade comercial do Norte. 

    Suas ruas tornaram-se um caldeirão fervilhante de mercadores, viajantes e negociantes de todas as partes do mundo, consolidando de vez o domínio comercial dos Varethion. 

    Para garantir que os produtos dos Varethion chegassem com eficiência e segurança aos mercados mais distantes, Cassian criou uma força de distribuidores altamente organizados, treinados para lidar com grandes volumes de mercadorias, proteger as caravanas contra saqueadores e manter os interesses da família sempre à frente dos concorrentes.  

    Esse verdadeiro exército de comerciantes, mensageiros e escoltas percorreu os quatro cantos do mundo, carregando a marca dos Varethion e garantindo que sua influência se espalhasse como nunca antes. 

    Com o tempo, a estrutura do império da família solidificou-se: Baldorim, governada pela Casa Drakareth, tornou-se o coração da caça e da produção; a Casa Thalvaren, com sua frota inigualável, controlava as rotas marítimas e a Casa Velmorian reinava sobre o comércio e a distribuição das riquezas. 

    E foi assim que a família Varethion recebeu seu título lendário: A Hydra Coroada. Três cabeças, um único corpo. Três pilares que sustentavam um império. 

    Unidos, tornaram-se a família mais rica e influente do mundo. Uma força implacável, impossível de ser derrubada. 

    Clarice se recostou na carroça, refletindo sobre cada detalhe da história. 

    — Uau, nem sei o que dizer. 

    — É isso, essa é a família mais rica do mundo. 

    — Espera, aqui menciona terras do Norte, mas no meu mapa isso nem aparece. 

    — Na minha mochila tem um mapa, pode pegar e dar uma olhada. 

    Clarice revirou minha mochila até achar o mapa. Quando o abriu, seus olhos se arregalaram de espanto. 

    — O quê? Essas terras realmente existem? 

    — Sim, esse é o mundo inteiro. 

    — É muito maior do que eu imaginava. Saito, vamos viajar por todos esses lugares? 

    — É difícil dizer, mas, se for necessário, sim. 

    — Mal posso esperar pra visitar cada canto… — Clarice deslizou os dedos sobre o mapa, um sorriso animado no rosto. 

    ✧༺⚔༻✧

    Os dias passaram tranquilamente. Não encontramos nenhum perigo, nenhum bandido ou animal selvagem. Pelo caminho, cruzamos com comerciantes viajantes, alguns escoltados por guardas sob a bandeira da família Varethion, a Hydra Coroada. Talvez por causa dessa forte segurança, a rota fosse tão segura e pacífica. 

    Clarice ainda hesitava quando eu caçava para conseguir carne, mas com o tempo, tornou-se um pouco mais flexível.  

    Após 18 dias de viagem, finalmente avistamos Drakvar, e além dele, o vasto oceano se revelava em toda sua grandiosidade. 

    Clarice parou no meio do caminho, seus olhos arregalados brilhavam com uma mistura de surpresa e admiração. O vento salgado bagunçava seus cabelos enquanto ela levava uma mão ao peito, como se tentasse conter a emoção. 

    — Que incrível… — sussurrou, sua voz quase se perdendo na brisa do mar.

    Uma obra de: Matheus Andrade.

    Mapa do Mundo.

    Abra este link se quiser dar zoom: https://ibb.co/1fdX60sM

    A escala não é exata, já que fui eu quem fez e não sou bom nisso kkk. É apenas para termos uma ideia de onde estamos. Ele vai se revelando ao decorrer da história.

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