Ao entrarmos na cidade, fomos imediatamente absorvidos por um cenário vibrante, caótico e envolvente. Ruas fervilhavam de vida com comerciantes entusiasmados, carregando caixas e fardos, descarregando carroças abarrotadas de produtos exóticos e negociando com energia contagiante. O som das vozes misturava-se ao tilintar de moedas e ao ruído constante das rodas contra o chão de pedra, criando uma atmosfera pulsante e cheia de vitalidade.  

    O porto pulsava de vida com embarcações de diferentes tamanhos chegando e partindo continuamente, criando ondas suaves que batiam contra as docas. A arquitetura da cidade refletia a elegância dos reinos do sul, destacando-se em prédios altos feitos de pedra clara com varandas finamente esculpidas, janelas amplas que exibiam cortinas coloridas e detalhes meticulosamente trabalhados em madeira, dando à paisagem urbana um charme refinado.  

    As ruas largas eram repletas de tendas vibrantes, onde mercadores apresentavam tecidos luxuosos de cores intensas, especiarias aromáticas que perfumavam o ar, e joias que brilhavam ao sol, refletindo luzes cintilantes. O ambiente era uma explosão sensorial de cores, aromas e sons animados, transformando a cidade em um verdadeiro epicentro comercial e cultural.  

    — Primeiro, precisamos encontrar alguém interessado em comprar o burro e a carroça. 

    — O quê? Não! Você vai vender o Burrico? — Ela abraçou o pescoço do burro. 

    Ela realmente havia dado um nome ao burro? Fiquei observando Clarice por alguns segundos, intrigado e levemente impressionado com o carinho inesperado que ela demonstrava pelo animal. 

    — Não podemos levar ele no barco. 

    Após muita insistência, consegui convencê-la. Antes, decidimos perguntar o preço da passagem; assim, caso necessário, tentaria um valor melhor pelo burro e a carroça. Fomos até o porto, onde as pessoas corriam de um lado para o outro carregando mercadorias. Perguntei a alguns deles até descobrir um dos capitães e, com essa informação, fomos até ele. 

    Era um homem alto e imponente, de cabelos negros e sedosos que caíam até os ombros, emoldurando um rosto marcado por traços firmes e um olhar penetrante. Seus olhos castanhos tinham um brilho astuto, e sua postura ereta exalava confiança. Vestia-se com uma elegância impecável, trajando um manto ricamente bordado, e seus dedos eram adornados por anéis que reluziam à luz do sol. 

    — Olá, gostaria de comprar duas passagens pro Norte. 

    — Não estou transportando passageiros, apenas mercadorias. 

    — Por que? 

    — Está na época de alta demanda, por isso a prioridade é a carga até o fim da temporada. 

    — E quando acaba? 

    — Vai levar uns 3 mesês. 

    Droga… Três meses era tempo demais; não havia como esperar tanto. Meu olhar vagou inquieto pelo porto até que percebi dois homens, que conversavam animadamente no convés de um dos barcos, parecendo passageiros. Talvez ainda houvesse outra saída. 

    — Quanto você quer pra levar nós dois? 

    — Quanto? 

    — Sim, você deve ter um valor. 

    — Já que quer tanto assim, um cruzado por cada passagem. 

    Permaneci em silêncio, olhando fixamente para ele, surpreso com o valor exorbitante pedido. Com um suspiro profundo, baixei a cabeça e comecei a pensar intensamente sobre como conseguir aquele dinheiro. Talvez, se encontrássemos trabalho naquela cidade cheia de oportunidades, pudéssemos juntar o valor necessário. Porém, uma dúvida persistia: quanto tempo isso levaria? 

    — Saito, quanto é um cruzado?  

    — É 1000 cruzeiros. 

    — QUEEEEEEEE! Nunca vi tanto dinheiro! — O grito espantado de Clarice deixou meu ouvido zumbindo por alguns segundos. 

    — Me tragam dois cruzados ou aguardem até o fim da temporada, quando a passagem cai pra 100 cruzeiros. 

    Caminhamos até a praia e me acomodei na areia macia, fixando o olhar na imensidão azul que se estendia até o horizonte. O suave murmúrio das ondas acalmava minha inquietação, enquanto minha mente buscava freneticamente uma maneira de conseguir aquela quantia exorbitante de dinheiro. 

    — É muita água… Nunca vamos morrer de sede. Hehe. — Clarice estava em pé ao meu lado, observando o oceano. 

    — Não podemos beber essa água. 

    — Ué? Por que? 

    — É muito salgada. 

    — Você tá mentindo — Ela caminhou até a água, colocou o dedo nela e depois na boca. Com os olhos arregalados, olhou para mim — É verdade, é salgada… 

    — Falei. 

    — Quem foi o malvado que jogou sal nessa quantidade de água? 

    — Ninguém, já é assim naturalmente. 

    — Que desperdício… Pelo menos sal não vai faltar, hehe. Tem muita mercadoria sendo transportada, né? De onde elas vêm? 

    — De Baldorim… Espera! — Levanto-me rapidamente. 

    — Que foi? 

    Como não pensei nisso antes? Estávamos no epicentro da caça! Se partíssemos imediatamente para aquela cidade, nossas chances de obter o dinheiro necessário aumentariam drasticamente. Senti uma nova onda de esperança e entusiasmo tomar conta de mim. 

    — Vamos. 

    — Pra onde? 

    — Baldorim. 

    Caminhamos de volta até nosso burro, organizamos nossos pertences e consultei o mapa para confirmar o melhor trajeto. Antes de partir, compramos alguns suprimentos e aproveitei para perguntar sobre o caminho até Baldorim. Pelas informações, parecia ser um trajeto tranquilo, semelhante ao que percorremos anteriormente. Assim, deixamos a cidade de Drakvar rumo a Baldorim. A viagem levaria cerca de dez dias. 

    No trajeto, Clarice pediu para ler o livro de Sylvain, ela ficou fascinada com as histórias narradas. Sempre que avistávamos um animal diferente, ela folheava as páginas em busca de informações sobre ele.  

    — Tá vendo aquele ali na pedra, Saito? Aqui diz que é um Glimmuru. Não é bonitinho? 

    — Sim. 

    De alguns metros de distância, pude ver a pequena criatura sobre a pedra, rolando preguiçosamente em sua forma esférica. Seu casco tinha um padrão curioso, com manchas arredondadas que pareciam se mover levemente conforme ele se deslocava. Mesmo à essa distância, dava para notar a suavidade de seus movimentos e a forma tranquila com que explorava o espaço ao seu redor, como se o mundo não tivesse pressa. 

    Os dias passaram sem contratempos, e a movimentação intensa deixava claro que estávamos no auge da temporada de caça. Carroças abarrotadas seguiam em direção ao porto, transportando mercadorias recém-obtidas. 

    Após nove dias de viagem, as montanhas à nossa frente tornavam-se cada vez mais imponentes. Seus picos se erguiam majestosamente contra o céu, formando uma muralha natural que se estendia até onde a vista alcançava. A vastidão e a grandiosidade da cadeia montanhosa eram de tirar o fôlego, transmitindo a sensação de um obstáculo intransponível em nosso caminho. 

    — Saito, como vamos atravessar essas enormes montanhas? Vamos ter que subir tudo isso? Fico cansada só de pensar. 

    — Não se preocupe, não vamos precisar subir. 

    — Então como vamos passar. 

    — Espere que você verá. 

    Algumas horas depois, quando nos aproximamos mais das montanhas, avistamos a entrada que levava a Baldorim. Era uma enorme caverna, cuja imponência impressionava à primeira vista. Devido à grande quantidade de animais selvagens na região, os anões não construíram grandes muralhas, mas ergueram uma vasta cidade subterrânea. O mestre me contou muito sobre ela e, para ser sincero, eu estava bastante ansioso para finalmente conhecê-la. 

    Ao entrarmos no túnel, deparamo-nos com um corredor vasto, iluminado por uma infinidade de tochas dispostas simetricamente ao longo das paredes rochosas. No entanto, o verdadeiro espetáculo vinha das pedras incrustadas no teto e nas laterais, que emanavam um brilho natural em tons azulados e dourados, refletindo-se suavemente sobre o caminho à nossa frente. O jogo de luzes criava um ambiente quase mágico, uma mistura de sombras dançantes e cintilações hipnotizantes. Clarice observava tudo com olhos arregalados, completamente fascinada pela beleza singular do lugar. 

    Finalmente, avistamos uma luz no fim do túnel. Assim que a atravessamos, fomos envolvidos pelo eco vibrante de inúmeras vozes. Diante de nós, surgiu a majestosa cidade de Baldorim. Era uma visão impressionante. Os anões, sem dúvida, eram seres extraordinários, capazes de construir uma cidade magnífica e colossal nas profundezas da terra. 

    As paredes eram adornadas por incontáveis pedras incrustadas, irradiando uma luz suave e constante, tão intensa que fazia parecer dia, mesmo sem a presença do sol. O brilho refletia nas superfícies lisas das rochas, criando um efeito cintilante que se espalhava por toda a cidade subterrânea. Pilares colossais de pedra se erguiam imponentes até o teto abobadado, sustentando com majestade a grandiosa arquitetura desse reino escondido sob a terra. 

    Por todos os lados, casas esculpidas na rocha apresentavam formatos e tamanhos variados, compondo um labirinto arquitetônico hipnotizante. Túneis sinuosos se entrelaçavam, levando a diferentes setores, enquanto uma multidão de viajantes transitava incessantemente. 

    Além disso, ao longo das ruas, esculturas detalhadas de criaturas e heróis antigos decoravam praças e esquinas, homenageando histórias que pareciam vivas na memória coletiva da cidade. Fontes de água cristalina brotavam das paredes, rodeadas por pequenos jardins subterrâneos repletos de plantas exóticas que prosperavam sob a luz das pedras brilhantes. Música alegre ressoava dos bares e tavernas, misturando-se ao aroma de pratos saborosos que convidavam a explorar a culinária única dos habitantes locais. 

    Caçadores fortemente armados passavam carregando couro, presas e partes de animais abatidos, suas expressões exalando a dureza da vida nas profundezas. O burburinho constante da cidade misturava vozes, passos apressados e o tilintar metálico de ferramentas, criando uma sinfonia vibrante de um povo em movimento. 

    Fiquei boquiaberto diante da grandiosidade da cidade, incapaz de esconder meu fascínio. As luzes, os túneis e a arquitetura monumental faziam parecer que havíamos entrado em um mundo totalmente novo. Ao meu lado, Clarice estava igualmente maravilhada, seus olhos brilhando como se refletissem o próprio brilho das pedras incrustadas ao nosso redor. 

    Esta é Baldorim, uma das cabeças da Hydra e o coração pulsante da caça. Muitos chegam atraídos pela promessa de riqueza e glória, ansiosos pelas aventuras e desafios únicos que somente este lendário refúgio dos caçadores pode oferecer. Era impossível não se sentir fascinado pela intensidade e energia que permeavam cada canto desta cidade extraordinária. 

    Uma obra de: Matheus Andrade.

    Mapa do Mundo.

    Abra este link se quiser dar zoom: https://ibb.co/1fdX60sM

    A escala não é exata, já que fui eu quem fez e não sou bom nisso kkk. É apenas para termos uma ideia de onde estamos. Ele vai se revelando ao decorrer da história.

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