Capítulo 2: Revelações
Quatro dias depois, em Valoria, o clima era tão pesado quanto a pressa do guarda que entrou correndo na câmara do rei. Sua armadura tilintava a cada passo, e o suor escorria por sua testa enquanto tentava recuperar o fôlego.
— Meu rei… tem um homem numa carroça lá fora… dizendo que precisa falar com o senhor com urgência. Ele tá nervoso… e parece que tem algo muito importante pra entregar.
Gregory estava sentado em seu trono, com a testa franzida e os dedos tamborilando nervosamente no braço da cadeira, refletindo a tensão e a ansiedade que o dominavam.
— De novo isso? Provavelmente é apenas mais um camponês desesperado em busca de abrigo. Mande seguir para a cidade e aguardar lá.
— Mas… meu rei. Ele mencionou o seu nome e disse que se chama Jack. Parece conhecer o senhor.
Gregory se levantou abruptamente, os olhos arregalados e o coração pulsando descontroladamente no peito.
— Deixe-o entrar imediatamente!
— Sim, senhor! — O guarda saiu em passos apressados.
Ao sair, Gregory viu Jack esperando, e seu coração apertou. A presença solitária dele só podia significar que algo terrível havia acontecido com Elion. A ansiedade o consumia, junto com um sentimento crescente de impotência. Ao se aproximar da carroça, percebeu o rosto abatido de Jack, marcado pelo sofrimento e cansaço.
— Onde tá Elion?
Com um gesto trêmulo, Jack apontou para a parte de trás da carroça. Gregory avançou lentamente, preparando-se para o pior. Quando finalmente chegou, o horror se materializou diante dele: Elion estava em um estado deplorável, à beira da morte, cercado pelos corpos mutilados de seus companheiros. Um choque atravessou seu corpo, e sua expressão rapidamente se tornou carregada de uma tristeza profunda e angustiante.
— TRAGAM OS MELHORES MÉDICOS AGORA! Preparem o salão principal e limpem imediatamente as feridas dele! Não podemos deixar ele morrer; façam tudo o que for necessário!
— Sim, senhor! — O guarda próximo fica um pouco desorientado com a reação de Gregory, mas logo corre para cumprir a ordem.
Enquanto observava a cena, Gregory sabia que, mesmo com os melhores cuidados, Elion talvez não sobrevivesse. Ainda assim, tinha certeza de que faria tudo ao seu alcance para salvá-lo.
Dois dias se passaram desde a chegada de Jack, e finalmente Elion começou a despertar. Seus olhos se abriram lentamente, piscando várias vezes até se ajustarem à luz suave do quarto. O teto abobadado decorado com ornamentos dourados chamou sua atenção, enquanto o cheiro de ervas medicinais impregnava o ambiente. Apesar da dor constante, tentou focar no que o cercava.
Ofegante e desorientado, seus olhos percorreram o quarto em busca de respostas. Ao lado de sua cama, Gregory estava sentado em uma poltrona acolchoada, com uma expressão preocupada, enquanto uma jovem empregada limpava suas feridas com cuidado. Elion sentiu um misto de alívio e gratidão ao perceber que foi salvo e estava sendo tratado para sua recuperação.
— Finalmente, você acordou. Fique calmo, Elion, tá tudo bem agora. Não se mexa muito para que as feridas não abram de novo. — Gregory desviou o olhar para empregada — Cristina, pode sair. Se precisar de você depois, eu chamo. Obrigado pela ajuda.
— Certo. — A empregada se levantou, fazendo uma reverência antes de sair.
— Guardas, podem se retirar. Fiquem atentos lá fora e não deixem ninguém entrar sem minha permissão!
Os guardas assentiram e saíram, fechando a porta atrás deles. Gregory voltou sua atenção para Elion, agora com uma expressão séria.
— O que aconteceu? Por quanto tempo fiquei apagado?
— Você ficou desacordado por seis dias, quatro durante o retorno e dois aqui no castelo, desde que Jack trouxe você de volta.
— Jack! Onde tá Jack? Ele tá bem?
— Calma, Elion. Não precisa se preocupar. Na batalha, ele perdeu dois dedos da mão esquerda e teve alguns hematomas, mas tá fora de perigo.
Elion deixou escapar um longo suspiro, sentindo a tensão aliviar, mesmo que por um momento.
— Onde ele tá agora?
Antes que Gregory pudesse responder, seu rosto se transformou, tomado por uma expressão de tristeza profunda que pesava no ambiente.
— Jack resolveu ir pessoalmente até as famílias dos homens que morreram na batalha. Ele queria levar as notícias e os pertences como um gesto de respeito.
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Naquela mesma tarde, Jack se encontrou diante da primeira casa. Quando a porta se abriu, foi o pai de Eldric quem o recebeu. Jack explicou brevemente o que havia acontecido. Sabia que Eldric não era muito próximo de seu pai, apesar de ser praticamente sua única família. No entanto, ao entregar os restos de Eldric, Jack percebeu a dor profunda no olhar do homem, a tristeza de uma perda que, de algum modo, ele ainda não compreendia completamente.
Depois disso, Jack seguiu para a casa dos pais de Leon. A irmã mais nova de Leon estava brincando no jardim com algumas bonecas, sentada no chão. Jack se aproximou com um sorriso triste.
— Lirael, você cresceu muito desde a última vez que te vi. Quantos anos tem agora?
Lirael se levantou e, com um sorriso tímido, contou nos dedos, mostrando toda a naturalidade de uma criança.
— Sete! Já tô com sete anos! — Lirael abriu um sorriso radiante enquanto ergueu os dedos, exibindo-os para Jack.
— E onde tão seus pais?
— Tão lá dentro de casa.
Jack fez um leve aceno de cabeça em agradecimento e seguiu em direção à casa, com passos firmes, mas carregados de pesar.
— Você sabe onde tá o irmãozão? Faz um tempão que ele não vem brincar com eu.
Ao ouvir essas palavras, Jack congelou. O coração apertou como se algo o esmagasse, mas ele engoliu seco e se controlou.
— Ele tá cuidando de uma coisa muito importante agora, por isso não conseguiu vir.
Jack permaneceu de costas para Lirael, lutando contra as lágrimas. Sabia que, se olhasse para ela novamente, iria desabar.
Ele Bateu na porta e, quando a mãe de Leon veio atender, cumprimentou-a com a expressão triste no rosto.
— Preciso falar com vocês sobre Leon.
A mãe de Leon, percebendo a gravidade da situação, o deixou entrar. O pai de Leon, um soldado aposentado, estava sentado à mesa. Assim que o viu com uma bolsa na mão, compreendeu imediatamente o que havia acontecido. Seu semblante mudou instantaneamente.
Jack colocou os pertences de Leon sobre a mesa e, após explicar o ocorrido, o pai cobriu o rosto com as mãos e abaixou a cabeça. A mãe de Leon, incapaz de suportar a notícia, desabou em lágrimas.
O sol começou a se pôr, e Jack estava sentado em um banco, pensativo, com os restos de Roderick ao seu lado. Sua mão enfaixada cobria parte do rosto, enquanto as lágrimas escorriam sem controle.
— Droga, Roderick, por que deixou isso pra mim? Você sempre soube lidar melhor com essas coisas. — Jack levantou os olhos para o céu, buscando forças para seguir em frente. — Preciso ir.
Seu coração estava pesado a cada passo até chegar à casa de Roderick. Um aperto profundo tomou conta de seu peito.
— Roderick, eu não vou conseguir. — Ele permaneceu imóvel por alguns instantes, apertando sua roupa sobre o coração, até que uma voz próxima o chamou de volta à realidade.
— Jack, por que tá aí parado?
Ao se virar, Jack viu Selena, a esposa grávida de Roderick, caminhando em sua direção com uma sacola de legumes nos braços, recém-chegada da feira.
— Venha, já tá tarde, mas vou preparar um chá pra você.
Eles entraram na casa, e Selena foi direto à cozinha, guardando as compras e pegando os utensílios para preparar o chá. A cozinha era simples, mas acolhedora, com prateleiras de madeira carregadas de potes de ervas e especiarias. Uma chaleira de ferro estava pendurada sobre a lareira, e o calor suave se espalhava pelo ambiente, dando uma sensação de lar.
Jack permaneceu em pé, paralisado, observando o ambiente enquanto lutava contra seus próprios pensamentos.
— Se você já chegou, então Roderick também deve tá perto, não é? Deve tá muito ocupado pra ainda não ter vindo.
Jack ouviu Selena em silêncio, mas o peso da dor era tanto que ele mal conseguiu levantar os olhos para encará-la.
— Vou te falar uma coisa, mas não diga a ele que te contei. Ele disse que tá pensando em parar de trabalhar logo. Pediu pra eu não contar pra ninguém, mas falou que daqui a uns anos a gente vai se mudar pra Lunaris. Lá tem uns campos de arroz enormes, e ele quer virar fazendeiro… Dá pra acreditar? — comentou ela, com um leve sorriso — o que tá fazendo aí parado? Vem, senta aqui um pouco.
— Selena, preciso te contar uma coisa. Pode sentar, por favor.
Ao ouvir o tom de Jack, o sorriso sumiu do rosto dela, dando lugar a uma expressão séria e preocupada. Ela se sentou, visivelmente tensa.
— O que foi, Jack?
Jack respirou fundo, reunindo a coragem que ainda restava.
— É sobre o Roderick… Ele… morreu.
Um silêncio insuportável tomou conta. Selena congelou, os olhos arregalados. Ao tentar se levantar, suas pernas mal a sustentaram.
— D-do que você tá falando, Jack? Não brinca com essas coisas. V-vou preparar a comida dele… Ele deve tá cansado da viagem.
Jack, com as mãos trêmulas, colocou os pertences de Roderick sobre a mesa.
— Me desculpa, não consegui proteger ele.
Selena caiu em prantos. Jack se aproximou e a abraçou, tentando encontrar algo para dizer, mas não tinha palavras. O peso da dor que ambos sentiam era insuportável.
✧༺⚔༻✧
Enquanto Jack lidava com a dor da perda e o peso de suas palavras, a mesma sombra de luto pairava sobre Elion. As palavras de Gregory, ecoando na sala, atingiam-no como uma lâmina afiada. A tristeza tomou conta de seu semblante ao perceber a profundidade da perda. Seus companheiros, homens que lutaram e riram ao seu lado, agora estavam mortos.
Elion olhou para suas mãos trêmulas, sentindo o coração apertado pela culpa e pela dor. O fardo da responsabilidade parecia insuportável, pesando como uma âncora em seu coração ao lembrar que havia escolhido aqueles homens para essa missão.
— Aquela coisa…
Gregory sentiu o medo de Elion percorrer seu corpo, fazendo-o tremer involuntariamente.
— Não precisa falar dos detalhes da viagem. Jack já me contou. Sei que foi horrível, mas vocês fizeram o que dava. — Gregory fez uma pausa, olhando para Elion. — Depois que você desmaiou, Jack recolheu o que pôde dos companheiros e, carregando você nos ombros, retornou à pousada. Ele fez o possível pra estancar seu sangramento e guardar os pertences dos outros. Naquela mesma noite, começou a viagem de volta. Foi uma jornada difícil… Jack não conseguiu dormir em momento algum.
— Quando aquele monstro veio na minha direção, por um momento eu congelei… Não sabia o que fazer. Fui atacado tão rápido que só senti a dor alguns instantes depois.
Gregory ouviu em silêncio, sua expressão marcada por preocupação enquanto escutava atentamente o relato doloroso de seu guerreiro.
— Se Jack não tivesse corrido para o atacar por trás, eu não taria aqui. No entanto, ele foi atingido antes mesmo de conseguir acertar, mas por sorte, o monstro se virou pra ele e abriu uma brecha. Foi nesse momento que consegui cravar a espada no peito da criatura antes de apagar. Depois disso… não me lembro de mais nada.
Gregory fechou os olhos e cerrou os punhos, tentando aliviar a pressão.
— Elion, como meus piores temores se concretizaram, chegou a hora de contar tudo o que sei. É uma longa história, e você precisará ouvir cada detalhe com atenção.
Elion assentiu com uma expressão séria, ciente de que algo ainda mais sombrio estava por vir.
— Houve uma era antiga em que quatro raças míticas viviam nesta terra: os Elfos, os Anões, os Místicos e os Elementalistas — começou Gregory, preparando-se para narrar a história.
Os Elfos viviam nas florestas. Construíam casas no alto das árvores para fugir dos perigos do chão e tinham uma ligação forte com os espíritos da natureza. Podiam sentir e interagir com eles com facilidade. Eram conhecidos pelas orelhas pontudas e pela incrível longevidade, que os fazia viver por séculos.
Já os Anões viviam em cavernas subterrâneas. Criavam armas e equipamentos lendários, com uma força física impressionante. Apesar da baixa estatura, eram corajosos e habilidosos em combate.
Os Místicos evitavam conflitos e viviam em pequenas vilas nas montanhas. Eram poucos, mas tinham poderes telecinéticos capazes de mover grandes objetos. Seus corpos eram marcados por símbolos únicos que os diferenciavam dos humanos.
E, por último os Elementalistas, os mais poderosos de todos, mantinham a segurança e o equilíbrio entre as raças. Dominavam os quatro elementos da natureza: água, fogo, terra e vento. Com cabelos brancos e olhos dourados, eram símbolos de inteligência e sabedoria. Eles viviam em cidades muito mais avançadas.
Os humanos, por sua vez, mesmo em maior número, viviam isolados, sempre desconfiados e temerosos dos poderes das quatro raças míticas.
— hã? Isso é verdade?
— Calma, agora vem a pior parte. — Ele baixou a cabeça com um olhar sombrio.
Hirano, um elementalista, tinha uma ambição desmedida e achava que sua raça era superior às outras, achando que merecia mais privilégios e regalias. Ele tentou convencer os líderes de sua raça a aceitar suas ideias e dominar as outras, mas foi rejeitado.
Inconformado, Hirano resolveu assumir o controle da situação por conta própria. Com a ideia de se tornar o líder supremo dos elementalistas e dominar as outras raças, ele mergulhou em uma busca incansável por mais poder.
Vasculhando livros e pergaminhos, ele não encontrou a solução que procurava. Impulsionado pela sede de poder, partiu em uma jornada pelo mundo, acompanhado por um pequeno grupo de seguidores que compartilhavam sua visão.
Em um dia de sua jornada, Hirano e seus seguidores descobriram ruínas antigas escondidas em uma montanha. Ao adentrarem o labirinto de corredores subterrâneos, encontraram tábuas de pedra com letras que nunca viram antes. Animados com a descoberta, continuaram até se depararem com um caixão de pedra.
Sem hesitar, Hirano abriu a urna e encontrou ossos tão antigos que pareciam ter se tornado quase poeira. O tempo os corroera a ponto de mal manterem sua forma original, como se estivessem ali por milênios. Curioso com os fragmentos, encontrou um anel com símbolos estranhos e o guardou antes de seguir explorando.
As horas passaram dentro das ruínas, mas nada mais foi encontrado. Mesmo assim, Hirano e seu grupo acreditavam que as tábuas e o anel eram essenciais para conseguir o poder que queriam. Decidiram retornar, determinados a decifrar os símbolos e desvendar os segredos escondidos nas antigas ruínas.
Após dias de estudos intensos, Hirano ficou cada vez mais obcecado em descobrir o que estava escrito nas tábuas de pedra. Certa noite, imerso em sua pesquisa, ele voltou a observar o anel que havia encontrado. Movido pela curiosidade, colocou o anel em seu dedo. De repente, foi tomado por um estado de transe.
Foi nesse momento que Hirano percebeu a verdadeira natureza do anel. Com essa nova habilidade, ele finalmente conseguiu decifrar todas as escritas nas tábuas de pedra.
O que ele não sabia era que um dos membros de seu grupo, que aparentemente estava dormindo, acordou e ouviu tudo.
No dia seguinte, Hirano decidiu retornar às ruínas, sem revelar ao grupo o verdadeiro motivo.
Elion ficou completamente em silêncio, enquanto Gregory continuava, sua expressão ficando cada vez mais tensa.
Dentro das ruínas novamente, Hirano se posicionou diante de uma parede coberta por símbolos e começou a recitar um ritual. Enquanto Hirano falava, o clima ao redor ficou pesado e estranho.
De repente, o chão tremeu com força. No entanto, o mais assustador foi o que aconteceu entre os símbolos: o espaço começou a se partir em rachaduras. Na frente deles, uma fenda negra surgiu entre os símbolos na parede. Ninguém conseguia ver o que havia dentro do portal.
Dessa fenda emergiu um enorme monstro. Ignorando completamente a presença de Hirano, a criatura avançou ferozmente em direção ao grupo. Logo depois, outros monstros começaram a sair do portal, atacando brutalmente os membros do grupo.
Enquanto os gritos se espalhavam, o anel de Hirano brilhou forte. As almas dos que morreram foram sugadas, virando poder para alimentar sua energia escura.
Entretanto, o elementalista que Hirano acreditava ter fugido estava escondido à distância, observando o massacre de longe. Horrorizado pelo que viu, ele decidiu voltar à capital dos elementalistas para relatar os terríveis eventos.
Hirano, sabendo que o anel lhe dava o poder de controlar as criaturas, começou a reunir um exército de monstros. Assim, deu início a uma guerra devastadora contra as quatro raças.
A guerra liderada por Hirano foi um verdadeiro banho de sangue, com incontáveis vidas sendo perdidas. Os monstros não paravam de sair do portal, surgindo em números sem fim.
Os elementalistas e os anões, após muito esforço, conseguiram criar um mecanismo capaz de selar o portal de onde Hirano convocava as criaturas. No entanto, para reunir a energia necessária para o selo, as quatro raças tiveram que sacrificar uma enorme quantidade de sua própria energia vital. Finalmente, o portal foi selado e, com o tempo, os monstros foram derrotados. A luta contra Hirano foi intensa. Ele causou muitas mortes, mas no final acabou derrotado e morto.
O anel, por ser indestrutível, foi guardado em um local secreto e seguro, conhecido apenas pelos líderes das quatro raças. Eles prometeram manter o anel selado para sempre.
Buscando reparar a confiança das outras raças após o desastre causado por Hirano, os elementalistas decidiram fragmentar a chave do selo em quatro cristais. Cada cristal foi confiado a um líder de uma das quatro raças, garantindo que ninguém pudesse ter controle sobre o selo.
— Mas o que aconteceu com essas raças? Em toda a minha vida, nunca as vi.
Gregory respirou fundo, encostando-se na cadeira e olhando para Elion com uma expressão séria.
As quatro raças, depois da guerra, estavam fracas e viraram alvo do ódio humano, que as culparam injustamente pelos ataques dos monstros. Mesmo com os elementalistas mandando guerreiros para ajudar, os humanos começaram outra guerra.
A guerra foi cruel e desigual. As raças lutavam com quase nenhum poder restante. Uma a uma, foram derrotadas. Os elementalistas lutaram bravamente, mas acabaram caindo.
As lendas criadas pelos humanos retrataram as quatro raças como bruxos malignos, aumentando ainda mais o ódio que sentiam por elas. Com o passar do tempo, essas raças foram praticamente exterminadas, poucos conseguiram escapar para lugares em que os humanos não conseguiam acessar.
Gregory baixou o olhar, deixando o peso da tragédia se espalhar pelo ambiente, preenchendo a sala com um silêncio carregado.
— Gregory, como você sabe de tudo isso?
Com movimentos lentos e precisos, Gregory começou a retirar a coroa e a faixa que adornavam sua cabeça, enquanto Elion observava atentamente, sem desviar o olhar.
Quando Gregory finalmente expôs suas orelhas, Elion arregalou os olhos de surpresa.
— Essas orelhas… você é um elfo?
— Sim, Elion. Mais especificamente, sou filho de uma elfa e de um humano.
Elion mal conseguia processar o que estava ouvindo.
— Como você fez pra se esconder por todo esse tempo, e ainda se tornar rei?
— No passado, ajudei o antigo príncipe, e nos tornamos grandes amigos. Quando ele assumiu o trono, me tornei seu conselheiro. Antes de sua morte, ele me nomeou como rei. — Gregory baixou o olhar, relembrando seu passado. — Como raramente saía da capital, criei uma estratégia pra esconder minha verdadeira identidade. No castelo, eu era o rei; na cidade, me disfarçava como meu próprio filho. Com roupas jovens, voz alterada e um comportamento despreocupado, todos acreditavam que o filho do rei assumia o trono.
— Mas e agora, que tá velho?
— Agora que não posso mais passar por um jovem príncipe, comecei a trocar frequentemente os serviçais e guardas para que ninguém suspeitasse da minha verdadeira identidade.
Elion compreendeu as razões de Gregory, mas uma sombra de tristeza invadiu seu coração.
— Entendo… Isso significa que o portal foi aberto de novo?
Gregory balançou a cabeça negativamente.
— O portal ainda não foi aberto. Se isso tivesse acontecido, uma horda de monstros já teria atacado. Mas esses monstros são diferentes. Eles parecem pensar e planejar, enquanto os que saem do portal buscam apenas destruição, matando o que veem pela frente.
Elion sentiu um leve alívio ao ouvir isso, mas a confusão ainda persistia.
— Então, o que tá acontecendo?
— Para ser sincero, eu não faço a menor ideia. Mas pode ser que alguém tenha descoberto como criar essas criaturas e esteja atrás das quatro pedras para reabrir o portal.
— Se você é um descendente dos elfos, então tá com uma das pedras?
— Infelizmente, não. Só os descendentes diretos dos líderes originais protegiam as pedras. Quando era mais jovem, saí explorando para tentar entender o passado das quatro raças. Descobri sobre a grande guerra e passei boa parte da minha vida tentando achar as pedras, mas nunca encontrei nenhuma pista de onde poderiam estar.
— Esses monstros tão atacando outros vilarejos e matando pessoas. Temos que enviar mais soldados pra acabar com eles. Parece que são fracos contra fogo. Minha espada em chamas matou um deles com facilidade.
— Não é tão simples quanto você pensa. — Gregory olhou para a espada de Elion, que estava encostada na parede. — Você só conseguiu matar aquele monstro porque sua espada possui um poder oculto, altamente influente contra esses monstros.
— Poder oculto?
— Enquanto pesquisava, encontrei um documento sobre armas especiais da guerra. Elas tinham símbolos quase invisíveis na lâmina, marca do anão que a criou. Quando vi essa espada, reconheci o símbolo e soube que era uma dessas armas. Após me tornar rei, entreguei ela pra um grande amigo meu, o seu avô.
— Então é por isso que ela tem sido passada de geração em geração na minha família.
Elion ficou com os olhos cheios de admiração enquanto observava a espada, mas logo seu foco retornou à urgência da situação atual.
— Temos que ajudar essas pessoas de alguma forma!
Cof, cof!
No entanto, sua exaltação foi interrompida por uma forte crise de tosse.
— Eu avisei para manter a calma. Agora suas feridas se abriram novamente. — Ele se vira levemente em direção à porta. — GUARDAS! Chamem Cristina para trocar as bandagens dele!
— Sim, senhor!
— Mas, Gregory, ela vai ver suas orelhas.
— Não tem problema. Cristina já conhece minha verdadeira identidade há muitos anos. Ela é uma órfã que encontrei roubando comida na cidade quando era apenas uma pequena criança.
Poucos momentos depois, Cristina entrou no quarto segurando uma bandeja com água e panos limpos. Com cuidado e delicadeza, começou a retirar as bandagens ensanguentadas que envolviam a cabeça e o peito de Elion, trabalhando com a precisão e o carinho de quem sabia exatamente o que fazer.
— Gregory, eu vou acabar com esses monstros!
— Não! Agora, temos que achar essas pedras antes deles. Com uma só, já teremos vantagem. Mas, se eles encontrarem todas antes, o caos vai tomar conta do mundo. Sem as quatro raças para ajudar, será um massacre sem ninguém para impedir.
— Partirei amanhã!
— Você tá louco?! — Ele pegou um espelho da mesinha próxima e o jogou na cama de Elion. — Olhe para você mesmo.
Elion pegou o espelho com relutância, e ao ver seu reflexo, o choque percorreu seu corpo como um raio. Aquele rosto devastado mal parecia o seu, e o pânico tomou conta de sua mente ao ver as partes expostas de seu crânio.
— Por sorte, você não perdeu a visão do olho esquerdo. Sua recuperação foi complicada, com infecções e febre que quase te mataram. Os médicos trabalharam sem parar pra estabilizar você. Ainda tá fraco e vai ser difícil levantar da cama por alguns dias. Espere melhorar antes de partir. — Gregory suspirou, passando a mão pelo rosto. — Cristina, cuide bem dele.
— Certo. — A empregada começou a limpar os ferimentos de Elion com carinho.
Gregory levantou-se, ajustou a faixa na cabeça, colocou sua coroa e caminhou até a saída do quarto.
— Talvez ele seja a única pessoa que pode salvar este mundo da destruição… — sussurrou baixinho. O peso da responsabilidade apertava seu peito. Ele sabia que Elion era forte, mas o que estava por vir era algo que ninguém podia prever.
Uma obra de: Matheus Andrade.
Mapa do Mundo.
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A escala não é exata, já que fui eu quem fez e não sou bom nisso kkk. É apenas para termos uma ideia de onde estamos. Ele vai se revelando ao decorrer da história.
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