Capítulo 13 - Verdadeiro Monstro Enjaulado
Com um sorriso asqueroso e os cabelos desgrenhados, Ivana começou a dar voltas lentas em torno de Bruno, arrastando a ponta dos dedos sobre seus ombros e nuca como quem já possuía o direito de tocá-lo.
— Você deve estar confuso… — disse num tom debochado, inclinando o corpo e aproximando os lábios do ouvido dele. — Afinal, como uma completa estranha estaria te caçando, se a gente nunca se viu antes?
Ela riu baixo, um riso que parecia mais uma provocação que ecoava dentro dele. Em seguida, apoiou os cotovelos sobre os ombros dele, como se ele fosse apenas uma cadeira para se escorar.
— Meu nome é Ivana… e faz tempo que eu estudo os infectados. — seus olhos brilharam, quase fascinados. — Muitos chamam coisas como você de mutantes, esses monstrinhos que perdem a forma e viram bestas selvagens. Mas, pra mim… isso é uma graça.
Passou a unha devagar pelo pescoço dele, como se medisse onde seria mais fácil cortar.
— Quando descobri que vocês são só uma segunda geração, eu pensei: “ótimo, vou transformá-los nos meus cães de caça”.
Ela se ergueu, parou na frente dele e segurou seus cabelos, puxando sua cabeça para cima até obrigá-lo a olhar nos olhos dela.
— Até que eu conheci um de vocês… um de olhos vermelhos. Diferente dos outros, ele falava. Não era só um bicho. — sua voz se tornou mais baixa, quase um sussurro excitado. — E ainda assim… matou cinco dos meus homens e três escravos novinhos que eu tinha acabado de conseguir.
Ela deu uma risada seca e soltou os cabelos dele de repente, deixando a cabeça pender para frente.
— Foi preciso o Alfa Branco aparecer… com essa forma nojenta que você tá vendo aí atrás. Foi ele quem disse que aquele não era o verdadeiro Alfa, mas alguém que tomou o seu sangue.
Ivana inclinou-se outra vez, bem perto do rosto dele, e seu hálito quente roçou a pele dele.
— Adivinha só, docinho? — ela lambeu lentamente os próprios dedos como se tivesse provado sangue. — Esse “cara” prometeu que, se eu te capturasse, eu teria poder direto do MutaVirus vindo do seu sangue e sem prejudicar a minha aparência humana. Tudo que eu precisei fazer… foi identificar e capturar você!
— Diga alguma coisa, verme… — o alfa de olhos brancos rosnou, a voz grave vibrando dentro do peito de Bruno.
Ivana deslizou a mão no peito do monstro, como quem doma um animal. — Calma, grandão… ele não vai ficar calado por muito tempo. Eu ainda preciso quebrá-lo — disse quase emocionada, com um sorriso doentio.
Bruno manteve a cabeça baixa. O sangue martelava nos ouvidos, abafando as vozes. O gosto metálico ainda estava na boca. A respiração vinha curta, e os olhos… ardiam.
— Seja bom para os outros… — murmurou, a voz quase engolida pelo silêncio. Os dedos se cerraram nas cordas. — Ou a vida que eu te dei, eu mesmo vou tirar de ti… foi isso que a senhora disse, mãe.
As lágrimas pesaram nos olhos, mas o ódio era maior. A lâmpada acima dele tremulava, ofuscando tudo ao redor. Ele ergueu o rosto para a luz, como se encarasse o próprio fantasma.
De repente gritou, cuspindo cada palavra:
— Esse mundo maldito insiste em arrancar o pior de mim! — o eco bateu nas paredes. — Eles mataram a Íris… me forçaram a matar você, mãe… e a Haissa… — a voz quebrou, mas logo se transformou em urro. — Eu não aguento mais! Onde eu olho eu perco tudo, e cada vez sou obrigado a fazer coisas ainda piores!
Ele chutou o chão, a cadeira gemeu, o corpo inteiro em tensão. Os olhos brilharam vermelho.
— MAS QUER SABER? EU VOU MATAR TODOS VOCÊS!
Ivana abriu um sorriso largo, pior que o dele — um sorriso que parecia rasgar o rosto.
— Sério? Então permita-me incentivar você, meu caro demônio de olhos vermelhos. — Ela desviou os olhos para a porta fechada, como quem convoca um espetáculo. — Traga ela pra cá!
A porta rangeu. Um homem entrou, arrastando pelos cabelos um corpo miúdo que mal parecia humano: sem braços, sem pernas, o rosto coberto de sangue e hematomas que denunciavam tortura. Apesar da brutalidade, a coisa mais cruel era a semelhança do corpo com alguém de casa — a pequena estava ali, reduzida a sujeira e dor. O homem a jogou aos pés de Bruno.
No primeiro instante Bruno não reconheceu — o cabelo, o sangue, as marcas escondiam tudo. Só quando Beto, ao lado, ergueu as mechas encharcadas de vermelho, a face apareceu nítida como um soco no estômago.
— Samira! — o grito saiu arrancado da garganta de Bruno, uma mistura de choque e desespero. As palavras se quebraram numa garra de dor.
As lágrimas começaram a correr sem controle. O peito dele apertou, o ar faltou. O mundo encolheu até restar apenas aquele corpo estendido aos seus pés. Antes que pudesse tocar, alguém arremessou outra peça macabra no chão ao lado: uma cabeça. A visão fez o vômito da mente dele — a boca abriu num som que não era bem um grito; era um rasgar.
A cabeça rolou e parou. Era João Paulo.
O quarto explodiu em silêncio — um silêncio tão pesado que parecia grudar ao ouvido. Bruno sentiu o chão desaparecer por um segundo; tudo tremeu: as mãos amarradas, o couro cabeludo latejando, o sabor do ferro na boca. A raiva subiu como lava. A vontade de arrancar, de destruir, de responder com violência pura pulou na garganta, mas havia correntes, havia risos ao redor, havia Ivana, se deliciando com cada segundo.
Ivana se aproximou devagar, o salto ecoando. Parou tão perto que ele sentiu o hálito frio.
— Agora reconheceu, não é? — murmurou ela, quase maternal, e sorriu como quem observa um experimento dar certo. — Senti que você iria reagir. Bom. Muito bom.
— Foi mal por só poder te mostrar a cabeça dele — disse Ivana, pisando na cabeça do corpo como se fosse uma bola de futebol, o som seco ecoando no quarto. — O corpo era pesado demais pra ficar carregando pra lá e pra cá.
Ela se aproximou, sorrindo de forma psicótica. — Se orgulhe da sua irmãzinha, afinal os olhos dela brilham vermelhos como os seus… igual aos dele. O branco disse que esses olhos tinham aparência humana. Provavelmente seriam muito próximos de você, já que você deu parte do seu poder a eles.
Ivana inclinou-se, passando a mão pelo ombro de Bruno, forçando-o a encará-la. — Tive que confirmar por conta própria. Sabe como é, não podia ter certeza… então fiz o que era necessário.
Bruno engoliu seco, o estômago revirando, enquanto cada palavra dela parecia arrancar pedaços dele por dentro.
— Olhe bem, Bruno — continuou Ivana, com um tom que misturava prazer e crueldade — esses olhos… essa força… é sua responsabilidade. Não é só sangue que se passa adiante. É poder. E eu garanto que ninguém, nem mesmo você, escapa ileso disso.
Ela continuou dizendo — Mandei espancar sua irmã. Mas a miserável tinha um terrível ódio no olhar assim como você e a velocidade com que ela se curava era mesmo incrível. Tão incrível que eu suportei e teve que cortar todos os membros do corpo dela, daí ela ficou assim‚ então meus homens a pegarem. — Pisou no corpo de Samira — E ordenei que eles a torturassem, que comessem a bunda magra dela até ela falasse quem deu sangue infectado a ela.
Ivana passa as mãos no cabelo o jogando para trás — Oito horas depois, ela abriu a boca. Daí então eu a matei. Para acabar com o sofrimento dela. Sorte que Lidya a conhecia daquela época em vocês estudavam no Amaro Ribeiro. Com isso ela sabia quem ela deveria para e por sorte você já tava no mesmo lugar que se infiltrou para mim.
— E aquele gordo imundo? Aquele porco? — O alfa de olhos brancos rosnou, seu olhar atravessando Bruno como uma provocação. — Eu mesmo arranquei a cabeça dele. E comi parte do corpo. Sabe o sangue, ah, o gosto era como o da ruiva, saboroso. — Cada palavra, era uma investida fria contra ele.
Cheio de ódio, raiva, tristeza e um desejo insano de matar, Bruno deixou sua fera interior assumir o controle. Suas veias começaram a se destacar, negras como carvão, pulsando com uma sede de sangue quase palpável. O cheiro metálico do próprio sangue misturava-se ao do chão sujo, e a sensação de poder brutal fazia seu coração disparar.
— Grrr… Aaaaah… Eu vou matar todos vocês! Juro que vão morrer… grrr… aaaaah! — sua voz saiu rasgada, carregada de dor e de uma demonia interna que parecia querer rasgar tudo ao redor. Cada palavra vibrava no ar, reverberando pelas paredes e fazendo o chão tremer sob seus pés.
O alfa de olhos brancos avançou com calma, como se estivesse brincando com a fúria dele. Cada passo ressoava pesado, calculado, e o olhar impassível analisava Bruno como uma fera diante de outra. Antes que pudesse reagir, o soco veio como um trovão: Bruno sentiu o impacto atravessando sua mandíbula e ecoando pelo corpo, um golpe preciso que o derrubou no chão com força.
— Chega de gritaria — disse o alfa, firme e impassível, enquanto Bruno caía atordoado. A dor se espalhava, mas a sede de sangue ainda queimava dentro dele, pulsando em cada veia. — Agora, colham o sangue dele enquanto o MutaVirus ainda corre em suas veias.
O ar parecia pesado, carregado de tensão e cheiro metálico. Cada segundo se alongava, e Bruno, mesmo nocauteado, sentia o rugido da fera interior ecoando em sua mente, prometendo que essa não seria a última vez que mostraria sua verdadeira natureza.
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