Pouco tempo depois, eles chegam à cozinha. Quando Bruno vai fechar a porta, é surpreendido e arremessado para trás por João Paulo e Camille, que aparecem do nada, desesperados.

    Extremamente irritado, Bruno manda João Paulo segurar a porta enquanto avalia as opções de fuga. Sem perder tempo, ele vai até a pia onde algumas facas lavadas estão e pega a maior delas. Virando-se para todos, ele diz:
    — Aê, cambada de filha da puta, a gente tem que agir rápido! Estamos sem tempo pra respirar aqui. Quero que todo mundo pegue uma faca, um porrete, qualquer coisa pra se proteger. E você, gordão, segura a porra da porta direito, seu arrombado!

    Com a tensão visível em seus olhos, Bruno encara todos os presentes. Ele cospe no chão e, com raiva, diz:
    — Mas que droga, não podemos ficar parados aqui ou vamos acabar presos nesse caralho de escola.

    Nesse momento, de um pequeno cômodo usado para guardar materiais, uma funcionária da cantina, agora infectada, sai correndo na direção de Bruno. O grupo todo se assusta, e Camille, em pânico, solta um grito estridente enquanto Bruno tenta se defender da infectada.

    A infectada pula em cima de Bruno, fazendo com que ele perca o equilíbrio e caia no chão da cozinha, em cima do próprio cuspe. As meninas, paralisadas pelo medo, não conseguem se mover para ajudá-lo.

    Quando João Paulo pensou em soltar a porta para ajuda-lo, uma pancada na cabeça o fez cambalear. Ele logo se viu lutando contra infectados, que foram atraídos pelos gritos de Camille e agora tentavam invadir a cozinha de qualquer jeito medindo forças com João Paulo atras da porta.

    Enquanto isso, uma infectada agarrou com força o pescoço de Bruno, que não conseguia respirar nem se soltar. Ele, vendo que as meninas estavam paralisadas pelo medo e que João Paulo estava fazendo o possível para evitar a invasão, lutava com todas as forças para pegar a faca que havia deixado cair ao ser derrubado.

    O rosto de Bruno, antes pardo, agora estava vermelho, suas veias dilatadas devido ao esforço de tentar se soltar da infectada, que tinha o triplo de seu peso. A respiração dele ficava cada vez mais difícil, mas, ele olha para o lado onde a faca de João Paulo havia caído, com um arrastar do pé esquerdo João Paulo manda a faca para perto dele a fim de ajudá-lo e Bruno com muito custo conseguiu puxar a faca em direção à sua mão. A infectada, inclinando a cabeça para trás, forçava um vômito, mas Bruno não se deixou abalar.

    Com um último esforço desesperado, ele agarrou a faca e desferiu um golpe, utilizando toda a força que ainda tinha. A lâmina cravou-se no pescoço da infectada, afundando até a metade. Ele, então, a derrubou de cima de si. Sem hesitar, pulou para cima dela, puxou a faca do pescoço e, num ataque de fúria, começou a desferir vários golpes, como se estivesse cortando bambu.

    O sangue espirrava por todo lado, pingando até nas meninas. Camille, apavorada gritou, tentando interromper sua fúria:
    — Agora já chega, Bruno! Para, ela já morreu!

    Silenciosamente, Bruno se levanta, com um olhar demoníaco. Ele se vira lentamente, encarando Camille com uma expressão quase leve e diz, com desprezo:
    — Sua nanica filha da puta, grita mais, vai porra! CHAMA MAIS ATENÇÃO AÊ DESGRAÇA!

    Camille, agora com menos medo, mas ainda nervosa, se aproxima de Bruno e o encara nos olhos. Sua raiva começa a superar o medo. Ignorando a situação caótica, ela decide enfrenta-lo por seu comportamento monstruoso para com as pessoas ali. Com firmeza, ela grita, exigindo respeito:
    — Escuta aqui, Mohammad, vai se foder! Filho da puta é você, seu merda!

    Bruno, sem paciência, olha para baixo, ainda encarando Camille diretamente nos olhos. Ele, tentando encerrar a discussão, responde com uma risada amarga:
    — Sério que você vai querer discutir comigo, ô sua anãzinha com o cu apelidado de buraco negro…

    A discussão é interrompida por João Paulo, que já estava sofrendo para segurar a porta. Ele está suando, lutando contra os infectados que tentavam derrubar a entrada. Seu cansaço e medo são evidentes quando ele grita:
    — Porra, caralho, eu não vou conseguir segurar a porta por muito tempo, anda rápido e me ajuda aqui, Mohammad!

    Sem perder tempo, Bruno pega outra faca e a entrega a João Paulo, ajudando-o a segurar a porta.

    Larissa, visivelmente assustada e suando, não queria ficar presa ali. Dando dois passos para frente, sem saber o que fazer, ela olha para Bruno e pergunta, com um tom de desespero:
    — E aí, Mohammad, o que a gente faz agora?

    João Paulo, suando e já irritado, também olha para Bruno, com sarcasmo em sua voz:
    — E então, diz aí, sabichão, não é você o bonzão? Vamos lá, fala que cê tem uma ideia ou um plano, porra!

    Bruno fecha os olhos, respira fundo e foca na maçaneta da porta. Seu olhar se fixa na chave e, então, ele percebe a tranca debaixo do braço de João. Ele balança a cabeça em negação, sem acreditar no que estava vendo, e murmura para si mesmo:
    — Não… não é possível, eu não tô acreditando no que estou vendo!

    Com ódio nos olhos e sarcasmo na voz, Bruno dá um tapa na cabeça de dele e dispara:
    — Olhem pra essa criatura e contemplem a inteligência de um gordo burro, que não sabe nem trancar uma porra de uma porta… não olha pra mim, imbecil, tranque essa porra!

    Os infectados começam a empurrar a porta com mais força enquanto João tenta desesperadamente fechar a entrada. Bruno se assusta e grita com João, sua voz carregada de pânico:
    — Tranca essa porra, seu asno do caralho!

    João, já exausto e suando, usando todas as forças para segurar a porta, responde com raiva:
    — Ô viado, cê tá na morte, caralho! Faz mais força aí, senão não vou conseguir trancar essa porra, não!

    Camille e Larissa, sem pensar duas vezes, correm para ajudar, pressionando com tudo contra a porta. Depois de um esforço conjunto, conseguem finalmente trancar a entrada.

    Bruno, exausto e com raiva, se senta no chão. Bufando de cansaço, ele comenta, olhando para a porta com frustração:
    — Puta que pariu, nem lembro a última vez que fiz tanta força assim.

    Larissa, visivelmente preocupada e aterrorizada, olha para todos e pergunta com um tom de pânico:
    — E agora…? Gente, estamos presos aqui!

    Bruno, com um sorriso travesso e aquele brilho de quem está prestes a aprontar, olha para João Paulo e responde:
    — Aê, bola 8, seu saco de bosta, já sei o que fazer, mano!

    João Paulo, furioso e já sem paciência, olha para Bruno, estressado pela atitude dele em meio ao caos:
    — Ô Zé, na moral, você vai ficar fazendo gracinha com a gente nessa merda toda? Vê se cresce!

    Bruno ri da cara de João Paulo, desdenhando totalmente da situação, e, sem ligar para o que ele disse, responde com um tom desafiador:
    — Tu vai querer ouvir o plano ou não?

    Camille, já no limite da paciência com Bruno, grita, cheia de raiva:
    — Para de gracinha e fala logo, caralho!

    Bruno, agora com uma cara fechada e mais séria, olha para Camille, sentindo o respeito dela por ele sumindo a cada segundo, e responde:
    — Mas vocês são chatos, hein… Aí, meu irmão, vou te dizer o que a gente vai fazer, beleza?

    Bruno se levanta, coloca a mão esquerda no ombro de João Paulo e, tentando segurar a risada, o leva até a janela da cantina da escola. Com um sorriso malicioso, ele diz:
    — Seguinte, tu vai pular por aqui, tá ligado? E, como tu é mais gordinho, sei que os caras vão te querer, mas tu corre com tudo maluco! Imagina que tem um negão com uma bengala imensa de fora correndo atrás de ti com ela dura, só que tu foge deles, some da reta deles e não vai atras da bengala não, morô?

    João Paulo acerta um tapa bem dado na cabeça de Bruno. Camille e Larissa não conseguem segurar o riso, vendo os dois se desentendendo. Porém, Bruno, repentinamente, muda totalmente a sua expressão. Ele fica sério, com o olhar fixo, e fala com total convicção, demonstrando que agora já não estava mais brincando:
    — Agora, falando sério, Larissa, dá uma olhada pela fresta da janela e me diz se ainda tem algum infectado ali na cantina.

    Com certa hesitação ela se aproxima da janela e, após uma rápida espiada, diz:
    — Tá tranquilo por aqui. Só vi um infectado correndo pro pátio. Mas e aí, a sua ideia é todo mundo fugir pela janela e pronto? Só isso?

    Bruno se aproxima da porta trancada e, ao perceber que os infectados estão se acumulando lá fora, tentando derrubar a porta de metal, ele sorri levemente, como se já soubesse o que fazer.
    — Não é só isso, tu ta maluca mulher. A gente não vai sair correndo igual uns idiotas sem rumo, né? A escola tá toda fechada. A ideia é correr direto pra quadra. Tem uns buracos no muro lá que eu e os meninos usávamos pra sair de vez em quando, ou até mesmo pra pegar a bola quando ela voava pra fora da escola.

    João Paulo, com um olhar preocupado e já antecipando os possíveis problemas, questiona Bruno:
    — Beleza, e se a gente não conseguir chegar lá a tempo? E se lá estiver lotado de infectados, ou pior, se formos pegos no meio do caminho? Você não acha que não foi o único a pensar em fugir por ali?

    Bruno, com o semblante sério, coloca sua mão esquerda no ombro de João e o encara com uma intensidade que não deixava espaço para dúvidas. Seu tom agora é pesado, sem a provocação anterior, mas ainda com um toque de arrogância. Ele sabe que precisa agir rápido e suas palavras saem como um ultimato:
    — Aê, gordão, quem pensou em fugir por ali, com certeza já tá é longe. Isso aqui é o único plano que eu tenho pra tirar todo mundo dessa merda. Agora, se vocês não gostaram da minha ideia, eu posso simplesmente ignorar todo mundo, sair por essa janela, pular o muro do lado da cozinha. E eu sei que vocês não vão conseguir fazer isso, porque é coisa que eu já fiz várias vezes. Mas, se eu fizer isso, vou deixar vocês pra trás. E aí? O que vai ser?

    Os olhos de Bruno ardiam com a frustração, mas ao mesmo tempo, havia um foco nele, como se a situação não fosse nada mais do que um jogo sujo para ele. Ele sabia que estava no limite, e sua atitude calculista exigia que os outros seguissem sua liderança, por mais difícil que fosse.

    Com o peso de suas palavras ainda no ar, o grupo se vê sem muitas opções, e, depois de um momento de tensão no ar, todos concordam em seguir o plano. A expressão muda ligeiramente para algo mais calculado. Ele olha para cada um deles, seu olhar fixo, impessoal. Ele solta um suspiro, talvez de frustração, talvez de cansaço, e então fala:
    — Então é o seguinte, no 3 eu saio na frente. Se tiver infectado, eu abro caminho pra vocês. As meninas ficam no meio, e o Jão vai na retaguarda. Quando chegarmos no muro, tem um monte de areia ali, do depósito. Só pular em cima, que ninguém vai se machucar. Entenderam? Vou contar agora… 1… 2…

    O som do metal da janela se abrindo quebra o silêncio, e Bruno não perde tempo. Ele se lança para fora, e a sensação de liberdade dura só um segundo. O pátio à frente, porém, era um cenário grotesco. O chão estava coberto de corpos, não só de infectados, mas também de alunos que não tiveram tempo de reagir. O ar estava pesado com o cheiro de sangue. Cada respiração parecia ser mais difícil que a anterior, o cheiro metálico era forte demais. O pátio, que antes era apenas o lugar de uma escola cheia de risadas e gritos alegres, agora estava tingido de vermelho. Os infectados se concentravam em torno do portão da escola, ignorando a presença de novos corpos espalhados. Eles se agitavam, atacando uns aos outros na tentativa de alcançar a liberdade, mas não conseguiam. Alguns outros alunos, desesperados, corriam em direção à portaria, mas o portão estava fechado, como se tudo tivesse sido desenhado para ser uma armadilha mortal.

    Bruno, encarando o caos, percebe que está mais uma vez à frente do grupo. Ele respira fundo, mas a visão do beco da porta da cozinha é ainda mais desesperadora. Ele sente a pressão crescendo enquanto ouve os barulhos atrás de si: os infectados que estavam batendo na porta da cozinha agora estavam se movendo para onde ele e o grupo estavam. O som de pés pesados e gemidos ecoavam pelo pátio, e a tensão crescia a cada segundo. Com um grito, os infectados começaram a correr em direção à janela onde Bruno tinha saltado. Eles haviam sido atraídos pelo som, e agora estavam a poucos metros dele.

    Bruno não pensa duas vezes. Ele acena para o grupo, que começa a saltar pela janela, um a um. A adrenalina toma conta, mas a cada salto, a sensação de estar sendo seguido aumenta. O medo de ser pego é uma sombra constante atrás deles. Camille e Larissa são as últimas a pular, e ao olharem para trás, veem uma horda de infectados começando a avançar na direção delas, com a fome evidente nos olhos.

    O peso dos corpos de Bruno e dos outros ainda ecoava na terra enquanto eles corriam em direção à quadra. O chão estava coberto de uma camada fina de terra e detritos, mas mesmo isso parecia ser o menor dos problemas no momento. O pátio era um pesadelo, e a visão das criaturas vindo atrás deles os pressionava. Bruno olha para traz com um sorriso diabólico. Ele corria com a força de alguém que sabe que sua vida depende de cada passo. Seus pés batiam no chão com uma força quase animal, e sua respiração estava pesada, quase como se ele estivesse correndo por mais do que apenas sua vida, era como se ele gostasse disso.

    Chegaram à quadra e se espalharam, respirando ofegantes. O suor escorria pelas testas de todos, e a sensação de que estavam sendo caçados parecia nunca terminar. Mas a quadra estava silenciosa, um alívio temporário no meio do caos. Bruno deu uma olhada para os outros, os olhos apertados, focados, e disse:
    — Rápido, vamos atravessar e seguir direto para o muro. A areia vai nos ajudar do outro lado.

    Enquanto os outros ainda tentavam pegar fôlego, ele já estava se movendo para a direção certa. O som de passos rápidos ecoava na quadra vazia enquanto o grupo se movia como uma unidade, atentos, com os olhos sempre alertas. Cada passo dado parecia ser um risco, mas, ao mesmo tempo, uma vitória. E quando Bruno olhou para trás, viu uma mancha de corpos se formando à distância.

    Eles chegam até o muro da quadra sem problemas. A multidão de infectados, como uma massa desgovernada, se concentrou no portão da frente da escola, permitindo que eles atravessassem o espaço até o muro sem serem notados. Os infectados ficaram presos na quadra após João Paulo trancar o portão por onde eles haviam passado. A tensão do momento não os impediu de sair com relativa facilidade, mas o medo estava claro em cada gesto.

    Só João Paulo teve dificuldade em subir o muro. Ele hesitou na borda, olhando para baixo como se a altura fosse um precipício, os olhos cheios de dúvida. Mas, sem outra escolha, pulou com um suspiro pesado, o medo de se machucar quase tão forte quanto o medo de ser deixado para trás.

    Larissa, com os olhos nervosos, não queria ficar parada ali. Ela olhou para todos os lados, a rua silenciosa diante deles, mas o medo ainda pulsando forte em seu peito. Quando ela quebrou o silêncio, sua voz era baixa, mas urgente.

    — Bom, agora que todos saímos, o que vamos fazer?

    Bruno não parecia incomodado, mas estava plenamente ciente de que, a partir do momento em que eles saíram da escola, a corrida contra o tempo começaria. Ele não tinha tempo para hesitar, nem espaço para dúvidas.

    Com um olhar fixo à frente, ele disse, dando uma opção que soava mais como uma ordem, mas, ao mesmo tempo, uma chance de escolha para as meninas:

    — Bom, vocês podem fazer o que quiserem! Só que eu e o Jão vamos até a outra escola buscar nossas irmãs. Mas, olha, pelo comportamento da diretora na sala, parece que o vírus veio pelo ar. Essa área aqui ainda está limpa, mas… nada garante que se virar a esquina, a gente não seja cercado, ou que a rua não esteja tomada por infectados. Então, o que vocês vão fazer?

    Camille, mais calma, mas claramente incomodada com a postura de confiança de Bruno, rebateu, tentando diminuir a tensão da situação:

    — Cê sabe que o mesmo vale pra vocês também, né?

    Bruno não respondeu de imediato, apenas lançou um olhar reto em sua direção, um leve sorriso sarcástico se formando em seus lábios, mas a situação não dava espaço para brincadeiras. João Paulo, mais preocupado com o que estava por vir do que com o clima entre os outros, olhou para a rua com um semblante sério, seus olhos focados na linha do horizonte.

    — Verdade… — disse ele, já calculando mentalmente a melhor maneira de lidar com o que estava por vir.

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