Capítulo 32 – Um Novo Nível de Ameaça
Enquanto caminham pelas ruas devastadas, Bruno e Iris estão com os sentidos alerta. A tensão no ar é palpável, como se cada passo que eles dessem pudesse ser o último. O cenário ao redor deles é desolador, com casas em ruínas e ruas desertas, mas o mais perturbador para Bruno é o peso crescente de suas próprias lembranças. Ele se vê questionando a si mesmo o que aconteceu no dia anterior, tentando reconstruir os fragmentos de sua memória que se misturam e se perdem em um turbilhão. A ideia de que ele não é quem realmente se lembra de ser o incomoda profundamente.
Bruno tenta afastar esses pensamentos enquanto observa Iris ao seu lado. Ele sabe que ela também carrega seu próprio peso emocional, principalmente depois de sua primeira experiência matando um infectado. Ele sente um impulso de proteger a jovem, mas não consegue deixar de se perguntar: o que aconteceu entre eles? As palavras de Iris, a proximidade deles… tudo isso ainda ecoa na sua mente, mas ele sabe que, no fundo, não quer se perder nessa confusão.
O som do vento e o chiado de destroços sendo movidos à distância são os únicos sinais de vida nas ruas abandonadas. Eles continuam em silêncio, andando pelas sombras, cada um preso em seus próprios pensamentos. Quando ele observa o ambiente à sua volta, Bruno percebe que estão entrando novamente no bairro Paulo VI, onde ele se lembra de ter morrido em um pesadelo estranho e angustiante. Ele olha para o horizonte, onde a casa que ele havia acordado se encontra, distante, mas inconfundível. A casa que apareceu em seu sonho. Ele não consegue evitar o arrepio que percorre sua espinha.
Foi nesse momento que uma pergunta, que até então parecia trivial, brotou de sua mente.
— Posso te fazer uma pergunta, Iris? — A voz de Bruno era mais baixa do que o normal, quase como se ele estivesse tentando esconder algo. Ele suava frio, e pela primeira vez desde que estavam juntos, Iris percebeu o medo em seus olhos. Ela não sabia o que dizer, mas sabia que havia algo mais por trás daquele questionamento.
Iris olhou para ele com curiosidade, a expressão de seu rosto marcada pela preocupação. Ela sentia que algo estava errado, mas não sabia o quê. Bruno nunca parecia tão vulnerável, tão inseguro.
— Pergunta. — Ela respondeu com cautela, seus olhos analisando cada movimento de Bruno, tentando entender o que ele estava sentindo.
Bruno fixou seu olhar na casa à frente, a expressão tensa e distante, como se algo estivesse a consumindo internamente.
— O que você sente por mim? — A pergunta saiu de seus lábios com um peso que ela não conseguia compreender. Ela não sabia se deveria se surpreender, se fosse uma provocação ou uma expressão sincera de suas dúvidas. Mas o que estava claro era que ele estava buscando algo, e a resposta que ela daria poderia mudar tudo entre eles.
Iris ficou paralisada por um momento. A pergunta era direta, inesperada. Ela nunca imaginou que Bruno se sentisse dessa forma. Afinal, a relação deles era marcada pela tensão constante e pela luta pela sobrevivência, mas não havia um vínculo explícito que sugerisse que houvesse algo além disso.
Ela tentou organizar seus pensamentos, e a verdade escapou de seus lábios, quase sem querer:
— Eu… não sei, Bruno. Eu cuido de você, e não é só porque a gente tá nessa merda juntos. Eu me importo, de verdade. Mas é difícil dizer o que eu realmente sinto quando tudo ao nosso redor está desmoronando. Eu sei que, se não fosse por você, eu talvez não tivesse sobrevivido até aqui. E, por isso, não consigo te ver como… qualquer outra pessoa. Mas também não sei onde isso vai, ou o que significa exatamente.
A voz de Iris era baixa e hesitante, mas suas palavras eram sinceras. Ela olhou para ele com um misto de preocupação e incerteza. Bruno a observava, absorvendo cada palavra dela, e o peso da sua própria dúvida parecia aumentar a cada segundo.
Bruno se afastou um pouco, desviando os olhos, e murmurou, quase para si mesmo:
— Entendo.
A resposta dele não parecia satisfatória. Havia algo mais que ele queria entender, algo que ele sentia profundamente, mas que não conseguia verbalizar. Ela não sabia como responder àquilo, mas podia sentir que havia algo muito mais complicado se desenrolando na mente de Bruno.
A resposta de Bruno parecia não ter sido o suficiente. Iris sentiu um nó no estômago ao vê-lo tão distante, como se ele tivesse se perdido em seus próprios pensamentos, em algo que ela não podia alcançar. O que ele realmente sentia? Ele estava tão confuso, e aquilo era palpável em seu comportamento. Ele não parecia mais o mesmo, não daquele jeito. Ela sabia que ele estava lidando com algo muito mais complexo do que qualquer um deles poderia entender naquele momento.
Bruno ainda parecia incomodado, como se sua alma estivesse em pedaços, tentando fazer sentido de tudo ao seu redor. Ele não estava apenas tentando entender a si mesmo, mas o que eles eram juntos. Talvez ele estivesse procurando algo, algo que explicasse o que ele sentia por ela, o que estava mudando nele, o que os ligava. Não fazia sentido, mas, ao mesmo tempo, parecia fazer todo o sentido do mundo para ele.
— Mas por que dessa pergunta aleatória? — A voz de Iris soava mais curiosa, mas havia um fio de receio nela, como se ela já soubesse que a resposta de Bruno poderia não ser fácil de ouvir.
Bruno respirou fundo antes de falar, e o peso de suas palavras foi tão grande quanto o silêncio entre eles. Ele olhou para a casa à frente, ainda hipnotizado por ela, como se algo ali fosse se revelar para ele. Ele estava tentando entender as conexões que se formavam na sua mente.
— Desde que eu acordei, me sinto estranho com relação a você. É como se tivéssemos algum tipo de vínculo poderoso, quase como se você estivesse carregando algo muito importante para mim. Algo que faz parte de mim, e, quando olho para sua barriga, é como se eu esperasse que tivesse algo meu ali. O que é estranho, porque nunca senti nada parecido por ninguém antes… E se isso fosse algo do tipo amor, eu não me perdoaria de jeito nenhum.
As palavras de Bruno saíram de forma confusa, como se ele estivesse tentando resolver um quebra-cabeça que se recusava a ser montado. Ele estava perdido, tentando entender como seus próprios sentimentos poderiam se conectar a algo tão intenso e complexo. A angústia era clara em sua voz, e Iris podia sentir a tensão crescente ao redor deles.
O silêncio pairou no ar depois que Bruno terminou de falar, e Iris, mais uma vez, se viu sem palavras. Ela sentia a dor nas palavras dele, mas também a incerteza. Ela sabia que ele estava tentando fazer sentido do que sentia, mas, ao mesmo tempo, a resposta dele parecia distante, quase como se ele estivesse se recusando a aceitar o que estava acontecendo entre eles.
— Seria tão ruim assim me amar? — A voz de Iris tremia levemente, a tristeza escorrendo pelas palavras. Ela não sabia bem o que ele queria ouvir, mas estava tentando entender. Será que, para ele, o amor entre eles era algo perigoso? Algo que ele temia mais do que qualquer outra coisa?
A pergunta dela foi como um golpe no peito de Bruno. Ele não sabia como responder, não queria responder, porque as palavras que ele tinha em mente não faziam sentido. Ele sentia algo forte, sim, mas não queria ser vulnerável a esse sentimento. Havia algo obscuro e perigoso sobre isso, algo que ele não conseguia controlar.
— Por que isso te daria algum tipo de domínio sobre mim? E se algo acontecesse, eu sei que algo muito ruim despertaria dentro de mim… — A voz dele vacilou, como se ele estivesse lutando para entender sua própria confusão. — Agora, se esconda atrás daquele carro pra mim, por favor.
Iris olhou para ele, confusa, mas sua confiança nele ainda era inabalável. Ela sabia que algo estava errado, mas não sabia exatamente o que. Ela olhou para a casa novamente, tentando ver o que Bruno via. Mas, para ela, não havia nada ali. Não havia nada além de uma casa abandonada. Ela não podia sentir o que ele estava sentindo, mas a ansiedade em sua voz a fazia querer acreditar que algo estava prestes a acontecer.
— Por que você não para de encarar aquela casa? — O medo em sua voz era palpável agora. Ela estava começando a ficar realmente assustada. Não era apenas a tensão do mundo ao redor deles; era Bruno. O que ele estava vendo? O que ele estava sentindo?
Ele não respondeu imediatamente. Bruno estava fixado na casa, com os olhos arregalados e o corpo tenso, como se estivesse prestes a explodir. Sua respiração estava irregular, e o suor escorria por sua testa. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que algo estava prestes a mudar tudo, e ele não estava preparado para isso.
O silêncio entre eles aumentou, ficando insustentável. Iris observava Bruno com preocupação, seu olhar traindo o medo crescente em seu peito. O que ele estava vendo naquela casa? A ansiedade dela se misturava à tensão no ar, como se uma tempestade estivesse prestes a se formar. Ela não conseguia entender o que ele estava sentindo, mas a intensidade da situação a envolvia.
Bruno, ainda fixado na casa, parecia paralisado. Ele não conseguia desviar os olhos, como se algo naquelas paredes estivesse chamando-o, algo que ele não podia ignorar. Iris sentia uma mistura de frustração e preocupação. Ela queria ajudá-lo, queria entendê-lo, mas a distância que ele mantinha entre eles a impedia de fazer qualquer coisa.
— Bruno, o que você está vendo? — Ela finalmente perguntou, sua voz baixa e trêmula. Ela precisava entender, mas ele parecia distante demais.
Ele não respondeu de imediato, sua mente ainda rodando em busca de uma explicação para o que sentia, para o que estava vendo. A tensão era palpável. Era como se a casa fosse um portal, algo que ele não poderia escapar, algo que o estava chamando com uma força sobrenatural.
De repente, uma sensação de desconforto percorreu a espinha de Iris. Ela sentiu um arrepio estranho, algo que a fez virar a cabeça para a casa, tentando ver o que Bruno via, mas ainda não havia nada. A casa estava em silêncio, como todas as outras ao redor. Mas algo ali estava errado, algo que ela não podia identificar, mas que podia sentir com uma intensidade desconcertante.
— Eu não sei o que está acontecendo, Iris. — Bruno finalmente falou, a voz cheia de incerteza. Ele estava começando a suar, seu corpo tenso como uma corda prestes a arrebentar. — Eu… eu não posso ficar aqui.
Ele deu um passo para trás, ainda com os olhos fixos na casa, mas seus movimentos pareciam automáticos, como se sua mente não estivesse mais em controle total. Iris o observava com o coração batendo acelerado, tentando entender o que estava acontecendo. Ela queria gritar para ele, queria que ele voltasse a si, mas as palavras não saíam.
De repente, uma sombra se movia na janela da casa, algo que passou tão rápido que Iris não conseguiu ver claramente. Mas o que quer que tenha sido, foi o suficiente para fazer o sangue de Bruno ferver. Ele deu outro passo para trás, agora com o corpo tenso e os olhos arregalados, como se estivesse pronto para correr.
— Isso não está certo. — Ele sussurrou para si mesmo, sua voz grave e cheia de pavor. — Eu… não posso deixar que isso aconteça.
Iris, confusa e assustada, deu um passo à frente. Ela queria saber o que estava acontecendo, mas antes que pudesse perguntar, Bruno se virou abruptamente, correndo para a rua, afastando-se rapidamente da casa. Ela o seguiu imediatamente, sem hesitar, o instinto a empurrando para trás dele, como se algo estivesse a chamando para longe da casa.
— Bruno, espera! — Ela gritou, mas ele não parou. A visão dele se distorcia à medida que ele corria, seus passos rápidos e desesperados. Iris teve que correr o mais rápido que pôde para alcançá-lo, mas ele estava longe demais, já quase desaparecendo na esquina da rua.
Ela parou, ofegante, observando o local onde ele desapareceu, o medo crescendo em seu peito. O que estava acontecendo com ele? O que ele estava vendo? E, mais importante, o que isso significava para eles?
A casa, agora distante, parecia guardar um segredo. Um segredo que Bruno sentia que precisava descobrir, algo que ele não podia simplesmente ignorar, mas que também o aterrorizava. Ele não sabia mais o que fazer com esse sentimento estranho, essa conexão que o ligava a Iris de uma maneira que ele não conseguia controlar. E ela, por mais que quisesse entender, sentia que estava se afastando dele a cada segundo.
— Sabe, é bom saber que você não sente nada sério por mim, porque isso significa que, se eu morrer, com certeza você não vai sofrer. — disse Bruno, com a voz arrastada e o olhar sombrio, enquanto caminhava na direção da casa, seus passos pesados como se estivesse indo ao encontro da própria morte.
Iris, ouvindo cada palavra dele e sentindo o peso da tensão no ar, se escondeu atrás de um carro, como ele havia pedido. O medo tomava conta dela, mas ela sabia que, naquele momento, não poderia fazer nada além de esperar e observar.
Bruno parou em frente à porta da casa, seu corpo tão pesado quanto o próprio fardo da morte. Uma presença sinistra emanava de dentro da casa, algo muito mais aterrador do que qualquer horda de infectados poderia causar. Ele podia sentir isso na pele, como se algo estivesse esperando por ele ali, algo que nem a dor ou o perigo conseguiriam afastar.
Com um movimento abrupto, ele girou a maçaneta da porta, e em um piscar de olhos, uma explosão de força o arremessou para trás. A porta foi arrancada das dobradiças com violência, e pedaços de tijolos e escombros foram lançados para o outro lado da rua, quebrando parte do muro de blocos que cercava a área. O estrondo foi ensurdecedor, deixando uma nuvem de poeira e sangue no ar.
Iris, agora em choque, viu tudo de longe. A poeira se levantava, e o som de destroços sendo espalhados ecoava pelos arredores. Ela correu até onde ele havia caído, seu coração batendo descontroladamente. Ao chegar perto, viu Bruno, seu corpo rasgado, com a boca, olhos, nariz e ouvidos sangrando abundantemente. Ele estava completamente mutilado, mas ainda respirava, a dor visível em cada movimento que ele fazia.
Antes que ela pudesse gritar por ajuda uma criatura enorme, de mais de três metros de altura, surgiu da casa. Seu corpo era puro músculo, assemelhando-se a um ogro gigante, com dentes afiados e ossos pontiagudos saindo dos seus antebraços. Seus olhos eram completamente brancos e negros, sem vida, como se fosse uma aberração sem alma.
Iris, enfurecida, queria atacar, queria vingar o que acabara de acontecer com Bruno, mas, ao ver a monstruosidade à sua frente, congelou no lugar. Seu corpo tremia de raiva e medo, sem saber o que fazer enquanto a criatura caminhava lentamente em sua direção, seus passos pesados fazendo o chão tremer.
Continua…
Minha fonte de inspiração é infinita, mas são vocês, leitores, que dão vida às histórias que escrevo, transformando palavras em imagens e emoções. Muito obrigado por embarcarem nessa jornada comigo!
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