Bruno e João começaram a ouvir os gritos vindo da casa ao lado. Eles sabiam que aqueles gritos eram de Pedro e Guilherme, os primos de Bruno, que estavam completamente perdidos, sem saber o que fazer. Bruno engoliu o choro, tentou se controlar, se levantou e saiu correndo em direção à casa de seus primos. Era a casa ao lado da sua, e ele pulou a parte mais baixa do muro que separava o da sua casa da casa dos primos.

    Dentro da casa, Pedro já estava tentando, com todas as suas forças, imobilizar sua mãe, que agora estava infectada. Ele ainda achava que ela estava apenas bêbada corredor ou drogada — algo que não era incomum para a família. Mas Guilherme, por outro lado, estava convencido de que sua mãe estava possuída, endemoniada, e tentava desesperadamente ligar para sua tia Nádia, mãe de Bruno. Ele achava que ela não estava em casa, porque mais cedo viu o carro dela parado na rua 40. O que ele não sabia era que quem havia saído com o carro era seu tio Jackson, e sua tia estava morta na casa ao lado. Enquanto isso, os gritos de sua mãe, Cecília, abafavam os gritos de choro de Bruno, tornando tudo ainda mais caótico.

    — Oh, mãe… não viaja, não sô… cê fumou pedra, porra? Me ajuda aqui, Gui, carai! — Pedro gritava, tentando não perder as forças enquanto segurava sua mãe.

    Guilherme, completamente fora de si por ter passado a manhã toda fumando maconha, estava completamente perdido na situação e, sem saber o que fazer, olhou para Pedro e perguntou:

    — Oh, meu fi, e você quer que eu faça o quê?

    Os braços de Pedro estavam tremendo de cansaço, e ele gritava mais uma vez:

    — Não sei, só me ajuda aqui, carai! Meus braços já tão cansando, porra!

    Foi nesse momento que Bruno entrou na casa. Ele correu pela porta e, ao se deparar com a cena, se impressionou. Sua tia Cecília, agora visivelmente infectada, estava sendo segurada com dificuldade por seus filhos. Eles ainda não tinham percebido o que estava realmente acontecendo, achando que era apenas um surto de drogas.

    Guilherme, ao ver Bruno todo sujo de sangue, se espanta com a aparência dele. Ele, ainda tentando processar a cena, pergunta:

    — Nó, viado… o que aconteceu com cê, Zé?

    Bruno ignora a pergunta de Guilherme, sem paciência para explicações. Ele pega uma colher na pia e, com um movimento brusco, enfia a colher na boca de sua tia. A mordida dela é tão forte que os dentes da frente se quebram ao se fechar com violência. Pedro e Guilherme ficam paralisados, sem saber como reagir ao que estavam vendo. Antes que eles pudessem gritar, xingar ou protestar, Bruno, já sem tempo para discussões, começa a falar sobre a situação real em que todos estavam:

    — Acho que depois dessa cena, fica mais fácil de entender que a sua mãe tá infectada. Tá um holocausto com essa doença que eu falei pra vocês ontem. O bagulho é o seguinte, a partir de agora, ou matamos ela, ou ela mata vocês. Eu não vou obrigar ninguém a fazer nada, tá ligado? Mas se ela infectar ou matar qualquer um de vocês, eu mesmo vou acabar com ela.

    Pedro, incrédulo, não queria ouvir as palavras de Bruno. Ele achava impossível que algo assim pudesse acontecer tão de repente. Olhou para Guilherme e, tentando se manter no controle da situação, disse:

    — Oh, Gui… cê tá tirando, Zé? Me ajuda aqui!

    A expressão de sua mãe, agora totalmente monstruosa, estava coberta com a mesma gosma preta que a mãe de Bruno havia expelido. Sua respiração, que lembrava a de um javali raivoso, era algo completamente diferente do comportamento dela quando estava apenas drogada. Bruno, mais uma vez, tentou convencer seu primo, confrontando-o com a realidade:

    — Desiste, Pedro… Sua mãe já tá morta, cara…

    Guilherme, finalmente vendo a gravidade da situação — os dentes quebrados de sua mãe e seus olhos completamente sem vida — começa a acreditar nas palavras de Bruno. Ele vê os movimentos frenéticos de sua mãe, tentando morder qualquer coisa que se aproximasse. Quando cai a ficha, ele simplesmente desaba. Ajoelha no chão, e começa a chorar, sem forças para negar o que estava acontecendo.

    Pedro, ainda teimoso, insiste que sua mãe só está drogada e que isso não justificaria matá-la:

    — Bruno, não viaja não, Zé… cê tá é tirando onda da minha cara, porra. A minha mãe não tá morta não, caraí! Ela só deve tá muito chapada ou drogada…

    Bruno, irritado com a ignorância de Pedro, perde a paciência e grita, completamente enfurecido:

    — Olha pra mim, Pedro! Sua mãe já era! Tá infectada… olha nos olhos dela, caralho… olha a boca dela espumando uma gosma preta e nojenta… porra, não dá pra fazer mais nada, e se você soltar ela agora, ela vai com certeza tentar matar você, seu arrombado! Me escuta, porra, solta ela e deixa que eu mesmo acabo com ela… Agora, Gui, corre para a Fiorino e Jão vai com ele.

    Pedro, pela primeira vez, observa o estado em que Bruno se encontra. Ao vê-lo suado e coberto de sangue, ele começa a perceber que talvez Bruno tivesse razão. A realidade da situação se impõe, e ele sente o peso daquilo que estava acontecendo.

    Bruno, sem hesitar, vai até sua tia, pega seus dois braços e os tira das mãos de Pedro. Ele a vira e a derruba no chão, pressionando seus braços para trás. Ela está de barriga para baixo, e Bruno se senta em suas costas, imobilizando-a. Olha para Pedro e, com uma expressão de urgência, insiste:

    — Olha pra mim… Eu tô encharcado de sangue, sangue de diversas pessoas, e tem sangue até da minha mãe e da minha irmã em mim!

    Depois de muito esforço, Pedro finalmente cede, mas com a voz embargada, ele diz:

    — Eu não consigo… eu não consigo matar a minha mãe!

    Bruno o olha com compreensão, mas com uma determinação implacável. Ele faz um sinal para que Pedro segure os braços de sua tia, e então, com a mão esquerda, puxa uma faca de aço inox, modelo Century 8 da Tramontina, da pia. Ele diz, com uma calma fria:

    — Serei rápido…

    Bruno pressiona a ponta da faca contra as costas de sua tia e, com precisão, enfia a lâmina na direção do coração, perfurando-o. Pedro, paralisado, começa a chorar em silêncio, sem fazer barulho, enquanto observa a morte de sua mãe.

    Bruno, então, se levanta de cima dela e põe a mão na cabeça de Pedro, tentando lhe passar algum conforto:

    — Fica tranquilo… vou cuidar de vocês…

    Pedro, com mãos trêmulas, puxa a faca das costas de sua mãe e vai até a pia para limpá-la. Depois disso, os dois seguem para a Fiorino, enquanto o peso do que acabaram de fazer se instala entre eles.

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