O sorriso de Rico se alargou, revelando dentes brancos demais para uma cena tão suja. E então…

    Ele sumiu.

    Não foi um movimento rápido. O cara simplesmente desapareceu da minha retina. Antes que meu cérebro pudesse processar o vácuo onde ele estava, senti o deslocamento de ar na minha frente.

    Por puro instinto — o reflexo de sobrevivência gritando mais alto que a lógica — abri uma fenda negra entre nós no último milésimo de segundo.
    O punho de Rico mergulhou na escuridão do portal.
    Bloqueei.

    Mas o desgraçado não parou.

    Ele usou o impulso do soco preso no portal para girar o corpo.
    Com um chute lateral brutal, a perna dele conectou com as minhas costelas expostas.

    CRAACK.

    O som de osso estalando foi abafado pelo meu próprio gemido. O impacto foi tão forte que me tirou do chão. O ar foi arrancado dos meus pulmões como se tivesse sido sugado por um aspirador. Voei alguns metros para trás, rolando na terra batida, levantando uma nuvem de poeira ocre.

    Tentei puxar o ar. Nada veio. A dor era uma faca quente cravada no lado esquerdo do meu tronco.

    Levantei, cambaleando. Meus dentes rangeram, travados.

    Mas nem deu tempo de raciocinar. Rico já estava em cima de mim de novo.
    Ele não usava magia. Não usava truques. Eram punhos. Rápidos como balas. Pesados como martelos.

    Tentei levantar mais portais defensivos, criar barreiras de vácuo, mas ele era rápido demais. Ele contornava as fendas antes que elas terminassem de abrir.

    Bam. Um soco no estômago.
    Bam. Um cruzado na têmpora.
    Bam. Um chute na coxa que quase fez meu joelho ceder.

    Eu estava sendo espancado.
    Não havia palavra bonita para descrever. Eu estava apanhando feito um boneco de treino barato. Meu sangue manchava o chão a cada passo que eu recuava, escorria pela boca, pingava do nariz quebrado. Meu corpo parecia estar em chamas, cada nervo gritando para eu deitar e fingir de morto.

    Mas eu me recusava.
    Minhas pernas tremiam, mas não dobravam. Eu me recusava a ajoelhar para esse merda.

    Rico parou por um segundo, sem nem estar ofegante.

    — Tsc… durão na queda, hein, garoto do Clã da Escuridão — murmurou ele, rindo enquanto ajeitava os óculos que nem tinham saído do lugar. — Sabe… esse seu olho rosa… é bem bonito de olhar durante uma luta. Ele brilha quando você sente dor.

    Ele falava como se estivesse num passeio no parque, como se estivesse se divertindo genuinamente com a minha agonia. E a pior parte? Ele estava.

    Respirei fundo, sentindo a pontada aguda na costela. O gosto de ferro na boca era insuportável.
    Mas ajeitei minha postura. Levantei os punhos trêmulos. Não ia dar esse gosto para ele.

    — Ainda quer lutar? — continuou ele, inclinando a cabeça com aquele olhar cínico de pena falsa. — Pobrezinho… você ainda não percebeu a diferença entre nós, né?

    E ele veio de novo.

    A aura dele era sufocante. A pressão de um Rank A esmagava a arena, fazendo a gravidade parecer duas vezes mais forte. Mas para mim? Naquele momento, ele não era um Rank A. Era só um arrogante filho da puta que precisava sangrar, nem que fosse uma gota.

    Limpei o sangue do queixo com o dorso da mão e avancei.

    Rico preparou um soco direto.
    No último instante, quando a mão dele estava prestes a quebrar meu nariz de novo…
    Teleporte.

    A escuridão me engoliu e me cuspiu nas costas dele.
    Foi meu movimento mais rápido até agora. Sem pensar, canalizei toda a raiva, toda a dor, toda a frustração num único soco.

    Mirei a base da coluna dele.
    BAM!

    Acertei. Senti o impacto sólido.
    Rico cambaleou um passo para a frente.

    Mas foi só isso.

    O desgraçado parou. Girou o pescoço lentamente.
    E sorriu.
    Não um sorriso de dor. Um sorriso de quem achou engraçadinho o esforço do bebê.

    — Até que você é bem forte… para um Rank D — disse ele.

    Antes que eu pudesse recuar, a mão dele disparou e agarrou meu braço. O aperto era de ferro. Tentei puxar, mas era inútil.

    — Mas eu nem precisei usar meu Código Genético para te quebrar.

    E então…

    O punho livre dele subiu.
    Um uppercut direto no meu queixo. De baixo para cima.

    CRACK.

    Minha visão explodiu em branco. Depois ficou preta. Senti meus pés saírem do chão. O mundo girou em câmera lenta. O teto da arena, o céu, o chão… tudo se misturou.

    A próxima coisa que senti foi o impacto das costas na terra.
    O ar sumiu. A consciência começou a falhar, piscando como uma lâmpada queimada.

    Eu já tinha perdido. Isso era óbvio. O dano era massivo.

    Mas Rico… ele não ia parar.

    Através da visão turva, vi os sapatos dele se aproximando. Ele caminhava lentamente, estalando os dedos. Ele não queria vencer. Ele queria quebrar. Queria destruir meu espírito.

    E o maldito Observador, Natan’Zar?
    Ele estava lá. Encostado na parede. Sorrindo. Como se aquilo fosse o clímax de uma peça que ele adorava.

    Rico parou sobre mim. Ergueu o punho, carregando o golpe final. Mais dor. Talvez ossos quebrados de vez. Talvez… o fim.

    Fechei os olhos, esperando o impacto.

    Foi então que o ar mudou.
    Não houve som de passos. Apenas um estalo de vento e uma pressão súbita, densa e afiada.

    Levi Gressi.

    Ele literalmente apareceu entre nós dois.
    Sem hesitar. Sem aviso.

    Ele estava de frente para Rico, com uma mão levantada, parando o avanço do veterano apenas com a presença. O olhar de Levi, geralmente cheio de vaidade e brilho, agora estava escuro. Sério.

    A ameaça que emanava dele era tão intensa que a poeira no chão ao redor dele se afastou.

    — Se você mover mais um músculo… — A voz de Levi era baixa, sem a teatralidade usual. Era a voz de um monstro falando com outro. — Eu te quebro.

    Rico congelou. O sorriso dele vacilou pela primeira vez. Ele sentiu. A diferença entre bater num calouro e enfrentar o Top 2 do Terceiro Ano.

    Mas Levi não foi o único.

    Outra presença invadiu a arena. Uma pressão dourada, real, imperial.

    Alguém que, se eu estivesse plenamente consciente, jamais acreditaria ver se envolvendo numa briga de pátio.

    Solara Whitmore.

    Ela caminhava com a elegância natural de quem carrega uma espada com mais autoridade que muitos reis carregam cetros. Sua mão repousava casualmente sobre o cabo da lâmina na cintura, mas ela nem precisou sacá-la.

    Ela parou ao lado de Levi. A voz dela, fria e firme, ecoou pela arena como um decreto.

    — Acho que já deu, Rico.

    Rico olhou para ela, os olhos estreitando-se por trás das lentes.

    — Isso não é treino — continuou Solara, o olhar de desprezo perfurando o veterano. — Você não está agindo como um veterano ensinando um novato. Está agindo como um covarde sádico. E isso mancha a reputação da minha academia.

    Rico encarou os dois. Levi, pronto para matá-lo. Solara, pronta para julgá-lo.
    Ele soltou um suspiro longo, relaxando os ombros.

    O sorriso torto voltou ao rosto dele. Desdém puro.

    — Tsk. Que tédio. — Foi tudo o que disse.

    Ele virou as costas, caminhou até onde seu casaco estava caído, sacudiu a poeira com gestos lentos e saiu andando da arena, como se nada tivesse acontecido.

    Solara o observou partir até ele sumir de vista. Depois, virou-se também, sem dizer mais nada a ninguém, caminhando para a saída como uma sombra elegante e dourada.

    A tensão se dissipou, deixando apenas o silêncio.

    Levi ficou ali. Parado. O peito subindo e descendo devagar, controlando a própria fúria.
    Então, ele se virou para mim.

    Os olhos negros dele se arregalaram levemente.
    Shin e Holi correram da arquibancada, gritando meu nome.

    Mas eu não respondi.

    Levi olhou para o meu corpo.
    Eu estava coberto de sangue. Meu rosto estava inchado. Minhas roupas, rasgadas.

    Mas…
    Eu estava de pé.

    Inconsciente.
    A mente tinha apagado com o último golpe.
    Mas o corpo… o corpo se recusou a cair. As pernas travadas, os punhos ainda cerrados ao lado do corpo.
    Eu estava apagado, mas me mantinha de pé, encarando o vazio onde meu inimigo estava segundos atrás.

    Levi soltou um suspiro trêmulo, e um sorriso orgulhoso, quase triste, tocou seus lábios.

    — Extravagante até no fim… seu idiota teimoso.

    — Ei, Natan’Zar — chamou Levi, ainda sério, com os olhos fixos nas costas do homem. — Você é o Observador de Lutas, não é? Por que não impediu isso antes que chegasse a esse ponto?

    Natan’Zar já caminhava para a saída da arena, com as mãos enfiadas nos bolsos do manto dourado. Ele parou e virou o rosto apenas o suficiente para mostrar o perfil e um sorriso enigmático.

    — Levi, certo? Você deve saber qual é o meu Código Genético, não? — respondeu ele, os olhos âmbar brilhando com uma luz que não era apenas reflexo do sol. — Eu tinha tudo sob controle. Se o golpe final fosse fatal, ele jamais teria conectado.

    Levi estreitou os olhos. O jeito extravagante e sádico do Observador parecia apenas uma fachada. Por trás daquele brilho preguiçoso, havia algo mais… algo calculista e perigoso, como uma armadilha pronta para disparar.

    Natan então mudou de direção. Ele caminhou lentamente até o meu corpo inerte, que ainda estava de pé, sustentado apenas pela teimosia.

    Ele colocou a mão sobre o meu peito.
    Um brilho alaranjado, quente e pulsante, emanou da palma dele. Uma onda de energia me atingiu, fazendo meu corpo ter um espasmo violento, mas não acordei.

    — Eu coloquei um selo nele — explicou Natan, recolhendo a mão. Por um breve segundo, Levi notou: os dedos de Natan estavam cinzentos e rígidos, com a textura de rocha vulcânica, antes de voltarem à cor normal da pele. Ele tentou esconder, mas o veterano viu. — Isso vai acelerar o metabolismo regenerativo. Os ossos quebrados vão se colar em dias, não semanas.

    Ele então se virou e foi embora, o manto dourado arrastando na poeira, sem dizer mais nada.

    Levi suspirou, balançando a cabeça. Ele se abaixou, passou meu braço por cima do ombro e me carregou nas costas, ignorando o sangue que manchava seu uniforme impecável.

    — Vamos, Garoto Orquídea. A enfermaria te espera.


    Quando acordei, o teto branco e estéril da enfermaria me encarava.
    O silêncio era reconfortante, quase irreal. O cheiro de antisséptico e ervas medicinais pairava no ar. Por um segundo, achei que ainda estava sonhando, flutuando no Vazio do meu próprio código.

    Virei o rosto devagar, sentindo o pescoço estalar.

    E ali estava ela.

    Holi.

    Sentada numa cadeira de madeira ao lado da cama, com um livro grosso de capa dura entre as mãos, lendo com uma calma que não combinava com a garota nervosa da arena. A luz da tarde entrava pela janela, iluminando os cabelos rosa dela.

    Assim que notou meu movimento, ela fechou o livro num estalo. Os olhos verdes se arregalaram e um sorriso veio sem freio.

    — Que bom que você acordou! — disse ela, quase pulando da cadeira. — Você dormiu por um dia inteiro!

    Pisquei, tentando processar.
    — Um… dia inteiro? — murmurei. A voz saiu rouca, como se eu tivesse engolido areia. O corpo doía em cada canto, uma sinfonia de hematomas, mas era uma dor surda, distante. — Eu nem sabia que isso era possível…

    — O Observador disse que o selo de cura consome muita energia — explicou ela, sorrindo de leve. — Fico feliz que esteja se recuperando bem. O Shin e o Levi vieram te visitar algumas horas atrás… ficaram um bom tempo aqui, mas o Levi teve que sair para pentear o cabelo e arrastou o Shin.

    — Sério? — Forcei um sorriso fraco. — Eu… levei uma surra feia, hein?

    Holi desviou o olhar, brincando com a capa do livro.
    — Bem… ele é o segundo mais forte do Quarto Ano, né? — respondeu ela, meio tímida. — Então, meio que era esperado… Mas você foi incrível, Ken. Ninguém nunca viu um Rank D aguentar tanto.

    Ela se levantou devagar, ajeitando a saia do uniforme.

    — Mas, desculpa, Ken. Eu tenho que resolver umas coisas agora…

    Ela já estava quase saindo, a mão na maçaneta fria, quando parou. Virou o rosto por cima do ombro, os olhos brilhando com algo que eu não consegui decifrar.

    — Ah, antes que eu esqueça… aquela garota do Clã Misticia, a Mina, veio te visitar.

    Meu coração falhou uma batida.

    — Ela foi a primeira a aparecer aqui, logo depois que te trouxeram. Ficou parada na porta olhando você por um tempão. E… até o professor Ren Tianyū passou por aqui. A Helena e o Ative também. Você virou a celebridade da enfermaria.

    Meu corpo, ainda cansado, tencionou de surpresa.
    — O professor veio? — murmurei, atônito. — E… a Mina?

    Holi assentiu, com um leve sorriso enigmático nos lábios.
    — Pois é.

    Ela abriu a porta. Mas não saiu de imediato. Ficou ali parada… alguns segundos. Silenciosa. Como se quisesse dizer algo importante… mas a coragem faltou.

    E então, partiu.
    A porta se fechou com um clique suave.

    Fiquei olhando para o teto branco, a mente girando devagar como uma engrenagem enferrujada.

    O que será que aquela garota quer comigo…? Ela deve estar furiosa pelo soco.

    Suspirei, ainda confuso, e acabei voltando a dormir — com uma pontada de dor física no corpo… e outra, bem mais estranha e quente, no peito.


    A recuperação foi rápida. Graças ao selo de Natan, em apenas três dias eu estava de pé.

    Caminhava pelos corredores da academia com uma pilha de livros nos braços, tentando recuperar o tempo perdido. A professora Helena caminhava ao meu lado, saltitante como sempre.

    — Aqui está o que você perdeu, querido! — Ela dizia, sorrindo, apesar das olheiras profundas de quem não dormia há uma década. — Biologia das Camadas Negativas, Teoria de Fluxo de Energia… ah, e um deverzinho sobre a fauna de Jotunheim. Por favor, me entregue até o final de semana, sim?

    Assenti, agradecendo mentalmente por não ter sido reprovado por coma induzido.

    Quando estava chegando ao meu dormitório, no primeiro andar do Bloco C, prestes a subir as escadas… parei.

    Lá estava ela.

    Mina Mei.

    Parada bem no pé da escada, bloqueando meu caminho. O rosto ainda estava um pouco inchado na bochecha esquerda, um roxo leve manchando a pele perfeita — resquício da surra que ela mesma pediu. Literalmente.

    Ela parecia… irritada. Os braços cruzados, o pé batendo no chão impacientemente.

    — Você nem veio me pedir desculpas! — rosnou ela assim que me viu, apontando para o próprio rosto machucado. — Por isso aqui!

    Fiquei encarando-a por uns segundos, o cérebro travado.
    Sério isso?
    Tipo… era para eu me sentir mal?

    O quê? Foi mal por ter socado sua cara? Foi você que me chamou para um duelo! Foi você que tentou me fatiar com leques e flores!

    Claro, pensei isso. Mas não sou suicida o suficiente para falar. Apenas suspirei e tentei soar o mais decente e diplomático possível.

    — Foi mal por ter feito isso contigo, Mina. Eu sei que… peguei pesado. Mas era uma luta, e…

    Mas ela se aproximou de repente.
    Invadiu meu espaço pessoal.

    E, caramba…
    Ela era realmente bonita. De perto, o rosto levemente machucado e a expressão de raiva davam a ela um charme estranho, humano. Tentei manter a cara de paisagem, mas senti meu rosto esquentar um pouco.

    Mina inclinou a cabeça, me analisando de perto, como se estivesse olhando para uma espécie nova de animal.

    — Você é o primeiro garoto que aceita lutar comigo… e me dá socos. Socos de verdade. Sem piedade, sem hesitação. — O tom dela era confuso, genuinamente intrigado. — Você tem algum tipo de problema mental?

    Aquilo podia facilmente ser um insulto mortal, mas… vindo dela, soou quase como um elogio torto.

    — Não tenho nenhum problema — respondi, coçando a nuca com a mão livre. — E… bem, você queria uma luta justa, né? Se eu tivesse pegado leve, seria um insulto à sua força.

    Ela ficou em silêncio por um segundo, processando a lógica. Depois, os lábios dela se curvaram num leve sorriso satisfeito.

    — Justa, hein? Hmm… você tem razão. Um guerreiro respeita o outro com força total.

    Não sei por quê, mas senti que dar razão para ela fez algum botão esquisito se ativar na mente dela. O olhar dela ficou mais intenso. Quase brilhante.

    Ela estendeu a mão direita, com uma expressão que misturava confiança absoluta e uma realeza exagerada.

    — Decidi. Eu aceito você como meu subordinado. Ou como chamam mesmo os plebeus? Colega? É, isso.

    Fiquei encarando a mão dela, meio confuso.

    — Acho que o nome disso é “amigo”, Mina… — murmurei. — E ninguém usa “subordinado” fora de um exército ou de um feudo medieval.

    Sério… que garota estranha.

    — Uhum — respondeu ela, ignorando minha correção e abaixando a mão quando viu que eu não ia beijá-la. — Como você deve saber, eu sou do Clã Misticia. Uma nobre de alta linhagem vinda lá de cima. Então é natural que eu tenha seguidores e…

    Olhei para o relógio na parede.

    — Foi mal, Mina. Tô atrasado para a aula de combate com o professor Ative. Ele odeia atrasos. — Cortei o discurso dela sem a menor cerimônia. — A gente se fala mais tarde, beleza?

    Passei por ela e comecei a subir os degraus.

    Nem precisei olhar para trás para sentir a temperatura subir. A aura dela parecia ferver nas minhas costas.

    KEN ORQUÍDEA! — chamou ela, a voz ecoando no saguão, carregada de determinação teatral. — Você será meu rival e meu amigo, entendeu?! Não ouse me ignorar!

    Continuei subindo, apertando o passo.

    — Além disso… — ela gritou, a voz subindo uma oitava. — Você já me tocou durante a luta! Se aproveitou da situação! Tocou em partes impróprias! Então é sua obrigação de honra ficar por perto e assumir a responsabilidade! Hmph!

    Parei.
    Travei no meio do lance de escadas.
    Alguns alunos que passavam no corredor pararam e olharam para mim, cochichando.

    Sério? O que essa garota louca está falando em voz alta?

    Me virei devagar, respirando fundo, a paciência por um fio. Apoiei o braço no corrimão e olhei para baixo.

    — Escuta aqui, garota! — gritei de volta. — Não é porque você é da nobreza, ou filha de quem for, que pode sair berrando essas coisas em público! Sorte sua que o corredor está quase vazio!

    Ela cruzou os braços, empinando o nariz.

    — E olha… — continuei, apontando o dedo para ela. — Não é porque você é “bonitinha” que eu encostei em você com segundas intenções, tá ouvindo?! A gente estava lutando! Foi um acidente tático! Foi sem querer! Não viaja!

    Silêncio.
    O corredor ficou quieto.

    Mina ficou vermelha.
    Mas não parecia ser de vergonha. Era indignação… misturada com outra coisa.

    Mas no fundo… bem no fundo… eu vi o canto da boca dela tremer.
    Eu senti que ela estava se divertindo. Ela estava gostando daquilo.

    Que garota completamente fora da curva.

    Balancei a cabeça, sorrindo involuntariamente enquanto voltava a subir.

    E foi assim… aos gritos na escadaria do dormitório, que começou minha estranha — barulhenta e perigosa — amizade com Mina Mei.

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