Capítulo 11: Correntes Visíveis e Invisíveis
Os dias começaram a passar numa velocidade absurda. A cada manhã que acordava, parecia que o exame de subida no ranking escolar estava ainda mais próximo, quase batendo na porta.
A rotina das aulas se misturava com treinos intensivos — sempre que sobrava tempo, eu treinava junto de Shin, sob a supervisão do professor Ative… ou do professor Ren, quando o universo decidia nos castigar.
O professor Ative era tranquilo, quase gentil. Sempre com aquele sorriso leve, ele até pegava um pouco mais leve nas sessões de treino.
— Vocês dois estão melhorando muito rápido. — ele comentou um dia, ajeitando os óculos no rosto enquanto nos observava. — É até uma surpresa… Mas Ken, você ainda precisa trabalhar melhor na formação do seu portal. — sua voz soou firme, mas não dura. — Lembre-se: usar um portal como teleporte não é algo leve. Cada salto desgasta o corpo, mas o que mais sofre é a mente. Assimilar o que acontece entre os espaços pode ser um choque grande demais.
Ele então virou o olhar para Shin, com aquele jeito quase paternal:
— Já você, Shin… precisa aprimorar sua precisão ao transformar objetos com sua aura sombria. Se conseguir transformar até mesmo uma simples folha em uma espada, vai ser um oponente perigosíssimo numa luta real.
Fazia sentido.
Mas… Ren era outra história.
Ele treinava a gente como se estivéssemos em guerra. Nada de explicações calmas, nem pausas pra respirar. Era pancada, exaustão, quase morte — e talvez fosse isso que nos fazia ficar mais fortes tão rápido.
Quando finalmente voltava para o dormitório, sentia o cansaço até nos ossos.
— Ainda bem que hoje não preciso ir no prédio roxo… — resmunguei para mim mesmo, arrastando os pés pelo corredor. — Maria não vai me examinar hoje…
O corredor estava quase vazio àquela hora. A luz suave que vinha das lâmpadas dava um tom meio sonolento ao ambiente.
Mais adiante, vi uma figura sentada no chão, encostada na parede. Era Holi.
Ela estava absorta, lendo um livro grande, quase do tamanho dela. Parecia uma cena de outro mundo — pequena, silenciosa, com o cabelo rosa espalhado sobre os ombros, balançando levemente cada vez que ela virava a página.
Quando me aproximei, ela percebeu minha presença e deu um pequeno pulo, fechando o livro às pressas e ficando toda tímida, como sempre.
— O que tá fazendo sentada no chão? — perguntei, abaixando um pouco a cabeça para olhar no mesmo nível que ela.
Holi baixou ainda mais o rosto, quase se enfiando dentro do próprio casaco.
— É que… minha colega de quarto tá com um garoto lá dentro… — ela disse baixinho, quase como se tivesse medo de ser ouvida.
Ah…
Entendi na hora.
Na minha mente, imaginei a cena: Holi abrindo a porta, vendo “algo” que não deveria e fugindo sem saber o que fazer, escolhendo o corredor como refúgio. Bem a cara dela.
Sem pensar muito — e talvez com mais inocência do que devia — ofereci:
— Quer esperar lá no meu quarto?
Assim que as palavras saíram da minha boca, me dei conta. Mas já era tarde.
Holi ficou vermelha na mesma hora, escondendo metade do rosto atrás do livro.
Mesmo assim, meio hesitante, ela se levantou e concordou com um aceno tímido.
Fomos andando juntos em silêncio até meu quarto.
Quando abri a porta, notei de imediato que Levi não estava — mas o cheiro do shampoo caro dele ainda impregnava todo o ambiente, como se ele tivesse acabado de sair.
Holi entrou devagar, quase como se tivesse medo de estar invadindo um território proibido.
Sentou-se na beira da cama, as pernas juntas e as mãos espremendo o livro contra o colo.
Nosso quarto tinha uma pequena cozinha embutida, então fui até lá e comecei a preparar um café para mim. Olhei por cima do ombro:
— Quer chá? Ou café? — perguntei, tentando quebrar o clima estranho.
— Tanto faz… — ela respondeu baixinho, a voz quase sumindo.
Enquanto a água fervia, me sentei na cadeira de frente para o espelho. O quarto ficou em silêncio. Um silêncio estranho, carregado de algo que eu não sabia muito bem o que era.
O reflexo no espelho mostrava Holi, com o rosto meio escondido pelo livro, e eu… sentado ali, tentando fingir que era tudo normal.
Mas era inevitável.
O coração batia um pouco mais rápido.
O ar parecia mais denso.
E, mesmo sem trocar palavras, era como se algo invisível estivesse preenchendo o espaço entre nós.
Enquanto ficávamos ali, no meio daquele silêncio meio constrangedor, meus olhos foram inevitavelmente parar nela.
Pensando bem… eu nunca tinha parado pra observar a Holi de verdade.
Ela era realmente bonita — mas não daquele jeito gritante que chamava atenção de todo mundo. Era um tipo de beleza mais quieta, mais… sincera.
Os cabelos rosa bem cuidados, brilhando sob a luz fraca do quarto, caíam sobre os ombros de maneira quase etérea. E o jeito dela se mover, até mesmo sentada ali toda encolhida, denunciava: ela veio da nobreza, sem dúvidas.
Cada gesto, cada detalhe, até o jeito de segurar o livro — parecia que tinha saído direto de um daqueles romances antigos que minha mãe adotiva, Katarina, tanto gostava de ler.
Lembrei dela do nada.
Katarina era durona no dia a dia — mandava eu treinar até cair e não aliviava nem um pouco.
Mas bastava um livro cair na mão dela pra se transformar numa manteiga derretida.
Já vi aquela mulher enorme chorar abraçada a um livro velho e ainda tentar esconder de mim.
Às vezes, quando terminava de ler, ela se animava tanto que vinha me contar a história… E o pai adotivo só dava uma risada e ia embora, como se já soubesse que ia levar sermão literário.
Esse pensamento me arrancou um leve sorriso enquanto mexia o chá.
O clima ainda estava meio estranho, então, para quebrar o gelo, resolvi puxar assunto:
— Tá gostando da academia? — perguntei, tentando soar casual.
Holi baixou um pouco o livro e respondeu com um sorriso tímido:
— Estou… Aprendendo muita coisa nova…
Era uma resposta meio genérica, mas eu também não sabia o que esperar. O ar ainda parecia pesado, como se a gente estivesse pisando em ovos.
Depois de alguns segundos, ela mesma, meio hesitante, me perguntou:
— Seu olho rosa… — começou, olhando rápido e desviando em seguida — Como era pra você quando era pequeno?
Eu me recostei na cadeira, encarando o teto por um momento antes de responder.
— Bem… — comecei, a voz meio arrastada pelas lembranças — eu cresci longe da capital da Camada 5, num lugar meio esquecido, sabe? Não tinham muitas crianças da minha idade…
Mas tinha uma mulher que morava perto. Ela adorava desenhar.
Vivia me usando de modelo pras pinturas dela.
Pra ela, meu olho rosa era uma coisa “mística”, especial.
Sorri de canto, lembrando das sessões intermináveis em que tinha que ficar parado por horas.
— Meu mestre, por outro lado… — falei, soltando uma risada seca — dizia que meu olho era meu “diferencial”. Sempre falava isso enquanto eu tava estirado no chão, todo quebrado, ou enquanto jogava fumaça de cigarro na minha cara depois de um treino brutal.
Olhei de relance para Holi. Ela escutava atentamente, como se aquelas memórias minhas fossem parte de uma história importante.
De repente, ela mesma desabafou, a voz tão baixa que quase precisei me inclinar pra ouvir:
— Falar do passado assim… — ela murmurou — sabe, eu… ainda não sei o que quero fazer, de verdade.
— Baixou a cabeça, encarando as próprias mãos. — Meus pais me mandaram pra cá pra eu aprender sobre o mundo. Porque… provavelmente vou herdar tudo da família um dia.
— Ela deu uma risadinha sem graça, quase triste. — Nasci com um código genético de combate, e pra eles isso é tudo o que importa.
— Holi encolheu os ombros, como se estivesse tentando se esconder.
— Mas eu… eu só queria… entender as pessoas. Entender o “porquê” delas.
Ela parou de falar, e eu vi a cor se espalhar pelo seu rosto.
— Ah… — ela disse rápido, nervosa — desculpa, tô falando demais, né? Isso nem deve te interessar…
Eu fiquei olhando pra ela em silêncio por alguns segundos.
O que eu poderia dizer? Nunca fui a melhor pessoa pra aconselhar alguém sobre a vida.
Mas… ouvir isso dela me fez entender um pouco mais.
Família rica. Códigos de combate. Uma vida já escrita antes mesmo dela escolher.
Suspirei e apoiei os cotovelos nos joelhos, encarando o chão.
— Holi… — falei, a voz saindo mais firme do que eu esperava — acho que todo mundo tem um motivo pra fazer o que faz. Seja pra vencer, pra proteger, ou pra conquistar alguma coisa. Todo mundo tem esse “porquê” dentro de si.
As palavras da minha mãe ecoaram na minha mente, como se ela estivesse ali do meu lado de novo.
Eu podia ver aquela cena nitidamente.
Katarina, com o avental amarrado de qualquer jeito, mexendo a panela enquanto falava sem nem olhar pra trás.
— Ken… — ela disse naquela época — você sabe por que os pássaros ficam no mesmo lugar, mesmo podendo voar pra qualquer canto do mundo?
Eu só balancei a cabeça, sem saber responder.
Ela deu uma risada leve.
— Porque eles têm algo precioso ali. Algo que conquistaram. Algo que eles não querem perder.
Eu lembro que perguntei, meio sem entender:
— Mas isso não os torna escravos desse lugar?
Katarina parou de mexer a comida por um segundo, pensativa.
— No fundo… — ela disse, com um sorriso meio triste — todos nós somos escravos de alguma coisa.
— Fez uma pausa, olhando pela janela. — Pode ser um sonho. Um desejo. A liberdade. O dinheiro. O amor.
— Suspirou. — Todo mundo é acorrentado por algo… só que alguns carregam essas correntes com orgulho.
Pisquei de volta pra realidade.
Olhei para Holi, que me encarava com aqueles olhos grandes e inocentes.
— No final… — disse para ela — ninguém precisa seguir o caminho que os outros esperam. Só precisa encontrar aquilo que quer proteger.
— Sorri de leve. — E aí… fica por escolha, não por obrigação.
O silêncio voltou a cair, mas dessa vez era diferente. Mais leve. Mais confortável.
Talvez… ali, naquela pequena bagunça de sentimentos e chá morno, tivesse começado alguma coisa.
Algo que nem os pássaros saberiam explicar.
Depois de um tempo naquela conversa meio estranha, eu continuei estudando no meu canto enquanto Holi voltava a mergulhar no livro que tinha trazido. O silêncio ficou confortável, daquele tipo que a gente nem sente passar… até que, do nada, ela se levantou com um movimento suave, fechando o livro devagar.
— Acho que minha colega de quarto já terminou. Até mais, Ken — disse com aquele sorriso doce, antes de sair pela porta.
Eu fiquei olhando ela desaparecer no corredor. Holi… é uma pessoa muito legal. Gente boa de verdade. Se a Mina tivesse visto isso, provavelmente teria surtado e feito algum drama exagerado.
Mas… se eu tivesse uma bola de cristal naquela hora, talvez eu enxergasse algo que meu eu de agora jamais acreditaria.
Assim que fechou a porta, Holi parou por um instante. Seus olhos ganharam um brilho sombrio, e um sorriso malicioso brotou no canto dos lábios. Como se estivesse se censurando, ela deu um leve tapa no próprio rosto, voltando a exibir aquele sorriso bobinho e inocente de sempre. Seguiu andando pelo corredor, a passos leves e ritmados, como se nada tivesse acontecido.
No fim do corredor, encostado na parede, Levi observava tudo de braços cruzados, meio oculto pela sombra.
Alguns minutos depois que Holi sumiu da vista, Levi entrou no quarto.
Perguntei pra ele onde tinha ido e, como sempre, ele respondeu do jeito mais teatral possível:
— Fui ver alguns amigos, Garoto Orquídea!
Ele disse isso colocando uma mão no peito como se estivesse fazendo uma declaração grandiosa.
Às vezes esqueço que o Levi realmente tem amigos espalhados pela academia… pra ser sincero, nem me passou pela cabeça.
Depois disso, os dias começaram a passar rápido. A rotina na academia não era só treinos e códigos genéticos como eu imaginava no começo — a gente também estudava coisas mais normais: política, economia, educação básica, etiqueta… parecia até escola comum às vezes.
Na aula de hoje, nosso professor, um cara com cabelos arrepiados que pareciam desafiar a gravidade, falava de um jeito animado pra não deixar ninguém dormir:
— Como vocês devem saber — começou ele, andando de um lado pro outro — o Palácio Esmeralda é responsável por interpretar e aplicar as leis. Julgar casos. Garantir os direitos dos cidadãos de todas as camadas.
O rei do Palácio Esmeralda, Aesyr Vharan, lidera o judiciário há mais de cinquenta anos! Se vocês quiserem trabalhar lá, não basta só saber lutar — têm que estudar até a cabeça doer!
Ele parou no meio da sala, encarando a turma inteira.
— A frase mais famosa do Rei Aesyr é: “Enquanto eu permanecer neste solo, toda injustiça será silenciada.”
O jeito que ele falou fez até alguns alunos sentarem mais retos, como se tivessem sentido o peso da frase.
Os dias seguiram acelerados. Entre uma aula e outra, finalmente Maria Donroxye conseguiu terminar o estudo da minha adaga. Eu já não esperava muita coisa… mas o que ela me disse me pegou de surpresa.
— Isso aqui é maravilhoso! — disse Maria, segurando a adaga com olhos brilhando de animação. — O metal é praticamente único! Procurei nos registros de todos os ferreiros, artesãos e escultores… e nada. Não existe nada igual.
Praticamente único, hein?
A adaga que minha mãe biológica me deixou… de alguma forma, ela deve ser mesmo especial. Meu mestre sempre disse que era só uma lâmina comum com aparência chamativa.
Mas vendo o brilho nos olhos da Maria, parecia que eu segurava algo muito mais raro do que imaginava.
Mina estava do meu lado, só me fazendo companhia, como sempre. Quando saímos do prédio roxo onde ficava o laboratório, ela me cutucou de leve.
— Por que você não vai atrás da sua mãe biológica, hein? — perguntou, olhando pra mim de forma meio séria. — Se ela não quisesse que você fosse atrás, ela não teria deixado essa adaga contigo, né?
Fiquei pensando nisso.
Na verdade… eu nunca nem perguntei o nome dela pra Katarina. Sempre aceitei como era. Mas… talvez esteja na hora de perguntar. Talvez, da próxima vez que encontrar a Katarina, eu pergunte.
Mas aí a dúvida bateu forte dentro de mim.
E se eu encontrar minha mãe biológica? E se… e se eu mudar?
Sacudi a cabeça. Melhor nem pensar nisso agora.
Mina, percebendo meu silêncio, abriu um sorriso tranquilo — raro vindo dela — e disse com uma naturalidade que quase me desmontou:
— De jeito nenhum! — falou, com firmeza.
Eu a encarei, meio perdido.
— Você tem uma mãe adotiva, né? — ela continuou. — Mesmo se você conhecer sua mãe de sangue, não vai deixar de amar a sua mãe adotiva. Não é assim que o coração funciona. Você vai amar as duas… ou talvez, só continue amando quem sempre esteve contigo.
Ela parecia tão certa disso…
Mesmo sendo tão ingênua às vezes, Mina conseguia, do jeito dela, acertar bem no centro.
Sorri de leve, sem conseguir responder.
Talvez… talvez ela esteja certa.
Cada dia que passava deixava o exame mais perto — uma sensação meio estranha, como uma tempestade se formando no horizonte.
Em um dia de folga, eu e o Shin fomos chamados pra ajudar a professora Helena a carregar umas caixas. Nada glamouroso… mas também nada que a gente pudesse recusar.
Enquanto equilibrava uma caixa meio pesada nos braços, o Shin puxou um papo meio aleatório.
— Sabe, Ken — ele começou, meio pensativo — minha irmã tá querendo vir me ver.
Ele baixou o olhar, como se carregasse algo mais pesado que as caixas.
Achei estranho. Isso não deveria ser uma coisa boa?
— Ué, isso é ruim? — perguntei, ajeitando a caixa no ombro. — Quer dizer, ela tá querendo ver você, né?
Shin soltou um suspiro comprido, meio derrotado.
— Seria… se ela não fosse super protetora… e ciumenta.
Antes que eu pudesse responder, uma garota de cabelo curto se aproximou de fininho. O rosto dela estava vermelho como um tomate.
Sem coragem de olhar nos olhos dele, ela estendeu uma cartinha na direção do Shin.
— Tô… toma… — gaguejou baixinho, antes de sair correndo como se a vida dela dependesse disso.
Shin só olhou a carta nas mãos, suspirando de novo.
— Isso tá ficando frequente demais… — ele murmurou, como se já estivesse acostumado.
Ele se virou pra mim com um sorriso sem graça.
— Pra falar a verdade, isso acontece desde criança… Você que tem sorte, Ken. Como tá sempre colado com a Mina Mei, as garotas não conseguem se aproximar.
Eu soltei um meio riso, mas por dentro me peguei pensando.
Sorte? Sei…
Mesmo assim, era verdade que andando pelos corredores eu sentia olhares sobre mim.
Mas prefiro acreditar que é só por causa do meu olho rosa — sério, é mais fácil lidar com isso.
Me veio à cabeça uma lembrança da Katarina, com seu sorriso debochado:
— Você é um garoto muito bonito, então toma cuidado pra não sair partindo corações na academia, hein? Hahahaha.
Revirei os olhos na lembrança.
Olhei para o Shin de novo. Não que ele fosse feio — muito pelo contrário. Ele era alto, tinha aquele visual impecável do Clã da Escuridão: cabelo negro impecável, olhos roxos hipnotizantes…
Naturalmente chamava atenção.
Mas, mesmo assim, nunca vi ele dando moral pra esse tipo de coisa. Sempre na dele.
Não segurei a curiosidade.
— Mas… por que você não gosta disso? — perguntei.
Por um instante, um pensamento bizarro passou pela minha cabeça, mas eu cortei antes que crescesse. Não, melhor não pensar besteira.
O Shin desviou o olhar, envergonhado.
— Acontece que… já tem alguém que eu gosto — ele admitiu baixinho, como se estivesse confessando um crime.
Eu parei de andar, encarando ele.
Shin deu um sorriso meio triste.
— Depois que nossos pais morreram, eu e minha irmã fomos parar num orfanato.
Lá, conheci uma garota… Ela é apotecária hoje em dia.
A gente cresceu junto. Ela sempre esteve comigo… então, sei lá, acho que esse sentimento ficou.
Fiquei um pouco em silêncio, digerindo as palavras dele.
Era fácil esquecer que o Shin não era só aquele cara bonitão e tranquilo — ele carregava suas próprias cicatrizes também.
Mas aí, algo me acendeu uma luz.
Peraí… ele disse que a irmã dele é ciumenta, né?
Mas tá nervoso… falando da amiga de infância…
Dei um sorriso de canto, sacando a situação.
— Por acaso… essa apotecária vai vir junto, não vai?
Shin travou. Congelou de um jeito tão óbvio que foi até engraçado.
— Q-que nada! — ele tentou desviar, balançando as mãos — N-não é isso… vamos mudar de assunto!
Tentei segurar o riso, mas foi impossível. Ver o Shin assim era raro, então, claro, aproveitei.
Enquanto caminhávamos de volta, com o peso das caixas e dos nossos pensamentos, mal podia esperar pra ver a cena: Shin, a irmã superprotetora… e a amiga de infância.
A diversão estava garantida.
Dois meses já tinham passado desde o começo das aulas.
O exame estava logo ali, batendo na porta.
Mas por enquanto… só queria ver o Shin se enrolando.
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