Capítulo 12: Beleza que Nega e a Mão que Sustenta
Finalmente chegou o dia.
A irmã do Shin tinha vindo — e pra ser bem sincero, ela era completamente diferente do que eu tinha imaginado.
Ela era alta, com aquela postura firme que chamava atenção sem nem tentar.
Usava roupas tradicionais, tão bem cuidadas que parecia até ter saído de alguma pintura antiga.
Os cabelos negros, mesmo presos em um coque cheio de enfeites cor de jasmim, ainda desciam soltos até a metade das costas, balançando suavemente quando ela se movia.
Era meio difícil de acreditar que aquela mulher elegante fosse a irmã superprotetora que o Shin tanto temia.
Como um bom curioso que sou, não ia perder essa oportunidade.
Claro que trouxe a Mina Mei comigo — não ia fazer papel de espião sozinho, né?
Pra conseguir o visto de saída da academia, precisei usar um truque.
Falei pra professora Helena que ia chamar a Mina pra um encontro.
Helena, sendo a romântica incurável que é, quase chorou de emoção e arrumou na hora duas permissões pra gente.
Sério, ela precisa parar de assistir novelas…
E aqui estávamos: escondidos atrás de uma das enormes pilastras de Gui’ori, na praça central da capital da camada quatro.
Eu e Mina, agachados feito dois criminosos amadores.
— Eu não conheço muito bem o Shin — sussurrou a Mina, ajeitando o vestido enquanto tentava espiar — mas ele parece ser uma pessoa legal… já que é seu amigo, né?
— Só tô curioso pra ver quem é a garota que ele gosta — respondi, ainda espiando.
Dali onde estávamos, dava pra ver o Shin conversando com a irmã dele.
Não dava pra ouvir o que falavam, mas dava pra perceber a leveza no sorriso dele.
Algo raro… parecia que ele realmente ficava à vontade com ela.
A Kaede — o nome da irmã dele — tinha aquela aura que fazia as pessoas se sentirem meio pequenas perto dela.
Não era arrogância, era… natural. Como se tivesse nascido pra ser nobre.
Enquanto eu analisava a cena, percebi a Mina Mei olhando em volta, meio inquieta.
— O que foi? — perguntei, curioso.
Ela olhou pra mim, meio sem graça.
— É que… eu nunca andei pela capital da quarta camada assim, a pé.
Antes de entrar na academia, eu só circulava entre casarões… e, quando saía pras ruas, era sempre a cavalo.
Eu encarei ela por uns segundos.
Sério? Essa menina nunca nem pegou um trem?
Suspirei. Coisas de gente rica…
Enquanto esperávamos a misteriosa garota que o Shin gostava aparecer, decidi passar o tempo explicando as coisas pra ela.
— Bem… — comecei, olhando a praça ao nosso redor — como todas as camadas, Midgard, a quarta camada, é dividida em quatro grandes marcas.
Mina me olhou, curiosa, então continuei:
— A quarta marca é da agricultura. Não é imensa, mas é o bastante pra sustentar a população que vive de vendas. Diferente das camadas de baixo, aqui a agricultura é dominada por nobres e famílias de alto escalão.
A terceira marca é onde ficam os pontos turísticos. Midgard é bem famosa por isso, sabe? Muitos vêm aqui só pra viajar.
Já a segunda marca é a grande cidade que cerca a capital. Mais de cem mil pessoas vivem ali. É praticamente um mundo à parte.
E a primeira marca… é aqui. A capital.
Onde fica a academia Fjorheim, a Torre de Subida e Descida, e também dois palácios — o principal é o Palácio de Prata.
Mas, diferente dos palácios das camadas superiores, a família que mora lá não tem peso político ou executivo. É só status. Tá ali porque… sei lá, tradição.
Dei uma pausa, olhando ao redor.
A praça onde estávamos era parte externa do Palácio de Prata — pública, mas impecavelmente mantida como se fosse um jardim real.
Era aqui que rolavam a maioria dos grandes festivais.
Quando voltei meu olhar pra Mina Mei, me surpreendi.
Os olhos dela brilhavam, cheios de curiosidade e encanto.
Era… meio fofo, na real.
Sorri de leve.
A capital podia não ser novidade pra mim, mas ver a Mina Mei se deslumbrando daquele jeito fazia tudo parecer um pouco mais vivo.
Agora… era só esperar pra ver quem ia chegar.
E conhecer a tal garota que fazia o Shin agir todo nervoso.
Essa história ainda ia render.
Depois de algum tempinho de espera, ela finalmente apareceu — a tal garota que o Shin gostava.
E, bom… acho melhor deixar os pensamentos da Mina falarem por mim dessa vez.
— Nossa, como ela é estranha… — cochichou Mina, com a expressão sincera de quem tentava ser educada.
— Como se você não fosse, né — retruquei com uma risadinha.
— Mas até que ela é fofinha — completou, franzindo o nariz como quem achava a própria crítica exagerada.
Não dava pra negar.
A garota era diferente.
Tinha aquele tipo de beleza exótica que a gente não vê todo dia:
Cabelos trançados num tom de ruivo alaranjado tão vivo que parecia incendiar sob o sol, o rosto cheio de sardinhas espalhadas de um jeito charmoso, e olhos verdes tão intensos que davam vontade de encarar por mais tempo do que o socialmente aceitável.
Quando ela sorria, dava pra ver os dentes da frente levemente separados — e, de algum jeito, isso só deixava ela ainda mais única.
Era baixinha, magrinha… definitivamente não tinha o “corpão” que muitos achavam indispensável.
Mas o Shin parecia hipnotizado só de olhar pra ela.
O jeito como ele ficava todo sem jeito, desviando os olhos e forçando um sorriso, era tão hilário que eu tive que morder a língua pra não rir alto.
Parecia claro que o Shin não ligava a mínima pra aparência física.
E sinceramente? Respeito.
Pessoalmente, também não me importava muito com isso.
Tendo um bom coração e sendo gente boa, já tá ótimo — embora eu tenha brincado mentalmente que “nessas condições eu já tava até casando”…
Só que quando olhei para o lado…
Mina estava parada, encarando os dois com uma seriedade quase científica.
Parecia que tava estudando alguma criatura rara de um livro de biologia.
O problema é que… com a nossa “espreitada”, algumas pessoas que passavam começaram a lançar olhares esquisitos pra gente.
Alguns riam, outros cochichavam.
Eu senti a vergonha chegando antes mesmo dela me acertar em cheio.
Então decidi que era hora de parar de brincar de espião.
Levantei, bati a poeira imaginária da roupa e encarei a Mina, sério:
— Vamos. Agora é nossa hora de nos divertirmos, né?
Já que você nunca andou por aí, tá na hora de mudar isso.
Mina piscou, surpresa, e no segundo seguinte parecia um gatinho depois de ganhar petisco: os olhos brilhando de animação.
Sério, era injusto uma pessoa ser tão fofa.
Mina Mei não era só fofa, claro.
Ela era absurdamente bonita.
Cada passo dela chamava atenção, fosse pela elegância natural, fosse pelas roupas tradicionais do Clã Misticia — bordadas com padrões sutis e tecidos que refletiam a luz com um brilho suave.
Sua beleza tinha aquele tipo de pureza rara que fazia as pessoas pararem só pra olhar.
Enquanto andávamos pela praça, era inevitável ouvir os comentários ao redor:
— Nossa, olha que casal bonito…
— Um do Clã Misticia e outro do Clã da Escuridão… parece até coisa de romance antigo!
Esses cochichos batiam nos meus ouvidos, mas eu seguia de boa.
Já a Mina… mesmo andando com toda a nobreza e delicadeza que pareciam naturais nela, dava umas vaciladas.
Às vezes tropeçava no próprio passo, às vezes ficava vermelha até a ponta das orelhas.
Era engraçado ver como ela, que parecia tão perfeita, também era cheia de pequenas imperfeições humanas.
E eu… eu gostava disso.
Depois de um tempo, enquanto explorávamos as ruas da capital, uma cena diferente chamou nossa atenção.
Perto de uma fonte decorada, vi uma garotinha parada sozinha.
Ela usava roupas tradicionais do Clã Misticia também — embora meio amassadas, como se tivesse corrido muito — e tinha cabelos negros curtinhos e olhos grandes de um azul tão claro que lembravam safiras puras.
Assim que nos aproximamos, a reação dela foi imediata:
Ela ficou toda desesperada ao ver a Mina, como se tivesse visto um fantasma.
— P-por favor, tia, me desculpa! — gaguejou a pequena, curvando-se num pedido de perdão — Eu só queria ver a capital! Não queria fugir… me perdoa!
Mina se agachou na altura dela, sorrindo com doçura.
— Não se preocupe, garotinha — disse, a voz suave como um sopro — a tia aqui não vai te morder, não.
Você está perdida? Qual é seu nome?
— M-meu nome é Mao Jins… — respondeu a menina, cabisbaixa — Eu não tô perdida… eu fugi mesmo…
A sinceridade dela arrancou um sorriso da Mina, que olhou de canto de olho pra mim com um sorriso… suspeito.
Eu já sabia que vinha bomba.
— Aquele tio ali — apontou, toda animada — vai te mostrar um truque, quer ver?
Mao arregalou os olhos, brilhando de expectativa:
— Sério!?
Droga, Mina…
Suspirei resignado e fui até a garotinha.
Não tinha muito o que fazer, então resolvi algo simples mas eficaz:
Concentrei meu código genético, invoquei um pequeno portal escuro do tamanho da palma da mão, algo que consigo fazer desde pequeno e…
Fiz desaparecer a presilha do cabelo dela.
No mesmo instante, ela reapareceu presa no cabelo da Mina Mei.
Quando Mina percebeu, ficou vermelha igual uma maçã madura, batendo no ombro como quem dizia “idiota!”.
Mas a garotinha…
Nossa, os olhos dela brilharam como se eu tivesse acabado de fazer mágica de verdade.
Ela bateu palminhas, empolgada:
— Uauuuu! Como você fez isso!?
Sorrindo, abaixei na altura dela.
— Um truque de amigos mágicos — falei, piscando pra ela.
A risada da Mao ecoou pela praça.
E, por um momento, parecia que o mundo inteiro tinha ficado um pouquinho mais leve.
Depois de um tempinho, surgiu uma mulher — também do Clã Misticia — se aproximando com passos firmes e expressão calma.
— Então é aqui que você tá, Mao — disse ela, num tom que misturava alívio com uma pontinha de exaustão.
A garotinha congelou no mesmo instante. O susto estampado no rosto dela foi tão exagerado que eu quase ri. Mao arregalou os olhos como se tivesse sido pega no meio de um plano secreto e ficou completamente estática enquanto a mulher se aproximava. Com delicadeza (mas ainda assim com autoridade), ela puxou levemente a orelha da menina.
— Me desculpe pelo incômodo — disse, olhando para mim e para Mina. — Ela tem esse costume de fugir de vez em quando…
A mulher então virou o rosto para nós, e por um breve segundo, seu olhar cravou em Mina. Foi só um instante, mas deu pra sentir o peso daquele silêncio. Um reconhecimento mudo. Não foi hostil, mas também não foi exatamente amigável. Sabe aquele tipo de troca de olhares que você não entende, mas sente que carrega alguma coisa? Pois é. Até eu achei estranho.
Depois disso, a mulher tomou Mao pela mão, que acenou para nós com a outra, ainda envergonhada. Eu sorri, devolvendo o aceno. Assim que elas sumiram entre a multidão, virei para Mina:
— Você conhece ela?
— Não… — respondeu ela, com um olhar pensativo. — Talvez seja só por sermos do mesmo clã. Acontece muito isso, né?
— É… comigo às vezes também rola, com gente do Clã da Escuridão.
Seguimos andando então, lado a lado, explorando a capital. Era meio engraçado ver a Mina Mei, toda delicada e elegante, se impressionando com coisas que pra mim já eram comuns. Lojas de utensílios, barracas de bugigangas, vitrines com objetos artesanais, bibliotecas que misturavam tradição e tecnologia. Passamos por uma rua inteira só com exposições de arte — parece que virou moda recentemente. Com a popularização das redes de informação, agora até arte virou item de comércio. Vê se pode.
Música de rua ecoava em algumas esquinas, misturando melodias tradicionais com batidas modernas. O cheiro da comida de rua era tão forte e tentador que até eu, que sempre fingia desinteresse, me rendi. Acabei comprando um crepe pra Mina.
— Você já comeu isso antes? — ela perguntou, curiosa.
— Claro que sim, uns cem vezes já. — Menti descaradamente, entregando pra ela.
A verdade é que eu nunca nem tinha visto um. Mas parecia bom. E era. Uma delícia, pra ser sincero.
Nos sentamos numa área da capital cheia de lojinhas de doces. Era um lugar tranquilo, mas animado — um cantinho perfeito pra dar uma pausa. Eu olhava Mina mordiscando o crepe com tanta empolgação que parecia uma criança experimentando açúcar pela primeira vez.
De repente, começou uma movimentação ali perto. Uma multidão se formava como se algo mágico estivesse prestes a acontecer.
— O que tá rolando ali? — Mina perguntou, ainda de boca cheia. Seus olhos brilharam com uma empolgação contagiante. — Vamos lá ver?
Quando ela se virou pra mim, toda animada, seus cabelos — presos até então — se soltaram. Foi um movimento suave, quase cinematográfico. As mechas negras deslizaram pelos ombros e caíram ao redor do rosto dela, como uma cortina de seda viva. E por um instante… eu fiquei sem reação. Meus olhos acompanharam o movimento, e pela primeira vez, percebi o quanto aquele brilho sutil nos fios dela combinava com a luz do entardecer. Era… bonito demais.
— Droga — resmungou ela, ajeitando o cabelo. — Acho que, de tanto andar, a presilha afrouxou…
A presilha da garotinha, a que tínhamos meio que roubado da garotinha fazendo a mágica mais cedo, tinha caído no banco. Peguei ela quase que por reflexo, sem pensar muito no que estava fazendo. Me levantei e fui para trás da Mina. E então… comecei a prender o cabelo dela.
Foi automático. Minhas mãos se moveram sozinhas, acostumadas com o gesto. Eu fazia isso com Katarina o tempo todo. E agora, ali, com Mina… simplesmente aconteceu.
Ela ficou completamente quieta. Não se moveu, nem falou. Mas seus ombros ficaram um pouco mais tensos, e mesmo sem ver o rosto dela, eu podia sentir o calor subindo pela pele.
Mina ficou vermelha. Não precisava ver pra saber. Era o tipo de silêncio constrangido, mas bom. Quente. Aquele tipo que você só experimenta quando algo inesperado… toca o coração.
E mesmo sem dizer nada, eu sabia. Ela estava feliz.
Deixei o cabelo da Mina em um coque alto, prendendo com a presilha caída. De propósito, deixei algumas mechas soltas nas laterais — moldando o rosto dela de um jeito que, sinceramente, deixou ela ainda mais linda do que já era. Mais… viva. Quando terminei, ela ficou parada, meio tensa, as bochechas tingidas por um vermelho tímido. Sem me encarar, ela se levantou de fininho e disse num tom trêmulo:
— V-vamos lá… pra… pra multidão…
Só consegui sorrir. Nem pensei muito, só estendi a mão e puxei ela comigo — de novo, automático. Katarina dizia que eu tinha esse reflexo, e ela sempre falava com aquele jeitão dela:
Katarina, estendendo roupa no quintal, com o sol batendo forte:
— Benzinho, sempre trate uma garota como uma princesa, mas saiba quando ser cavaleiro e quando ser parceiro. Não adianta viver bajulando nem fingir que não vê. Garotas gostam de quem é diferente, entendeu?
A voz dela ecoava na minha cabeça enquanto eu segurava a mão da Mina. Andamos no meio da muvuca. Gente pra todo lado. Risos, passos apressados, vozes altas de vendedores e instrumentos de rua ao fundo. Cheiro de comida no ar.
Mas ali, naquela esquina movimentada da capital, com ruas de pedra polida refletindo o sol, o mundo virou de cabeça pra baixo.
Porque na nossa frente, desfilando como num festival real, estavam vários membros do Clã Misticia. Era um cortejo. Homens do clã vestiam trajes formais, armaduras leves com detalhes brancos e cinzas, marchando com passos sincronizados. Guardas oficiais acompanhavam a comitiva.
Quando olhei de canto, vi Mina completamente estática. A mão dela suava na minha. O rosto pálido. Ela mal conseguia falar, mas ouvi o sussurro:
— Mãe…?
Ela tremia. Eu senti. Foi como um choque direto no peito. Algo despertou dentro de mim — aquela vontade incontrolável de entender. Eu sempre fui curioso, sempre busquei verdades… e dessa vez não ia ser diferente.
E então eu vi.
Ela.
Una Mei. Rank 4 do mundo.
Seus traços eram tão perfeitamente equilibrados que pareciam irreais. Beleza etérea. Cabelos negros longos, penteados com precisão, caindo como uma cascata de seda escura sobre as costas. Pele clara, contrastando com o vestido tradicional do Clã Misticia, decorado com bordados em prata. Seu olhar… aquele olhar. Intenso, puxado, misterioso. Como um lago parado no inverno, bonito demais pra confiar.
Segurei mais firme a mão de Mina e comecei a andar. Meu passo era firme. Chega. Eu precisava saber.
A multidão abria espaço à nossa frente por conta dos guardas. Mas antes que eu chegasse perto demais, um homem alto, moreno, com vestes formais do clã e expressão impassível, bloqueou meu caminho. O olhar dele era sério — tipo “você já foi longe demais”.
Mas eu ignorei.
Atrás de mim, Mina estava tremendo tanto que parecia prestes a desmoronar. Os olhos dela brilhavam, não de alegria, mas de algo mais fundo… quase desespero. Raiva? Esperança? Eu não sabia.
Eu falei. Voz firme, mas com um veneno que eu não controlei:
— Una Mei. Rank 4 desse mundo. Por que você não diz um oi… pra sua filha?
A frase cortou o ar. Tensa. Carregada. Por que eu fiz isso? Nem eu sabia. Mas era óbvio. Era só olhar pra Mina, ver ela daquele jeito. A mulher não tinha nem reagido até agora. Mas meu instinto me dizia — aquela mulher era a mãe dela. Eu podia sentir.
— Você… não liga pra sua filha, é isso? A Mina Mei está bem aqui na sua frente.
E então os sussurros começaram.
— “Filha da Una Mei?”
— “A mulher mais bela do mundo… tem uma filha?”
— “Mas dessa idade? Duvido…”
Olhares de todos os lados nos cercavam. Julgamento. Espanto. Deboche. E mesmo assim, Una não olhava pra mim. Nem mexia um músculo. Mas então, como se o tempo tivesse desacelerado, ela virou o rosto.
Seus olhos encontraram os de Mina. Aquele olhar frio, profundo e distante, como se enxergasse além do que a gente consegue ver. E então ela falou, num tom gélido, mas calmo:
— Eu não tenho… nenhuma filha.
As palavras não foram pra mim. Foram pra Mina. Direto. Cruéis. Sem hesitação.
E naquele instante… ela quebrou.
Mina não chorou. Não gritou. Mas o corpo dela tremeu, os olhos marejaram, e o chão parecia prestes a engolir ela. Se eu não estivesse segurando sua mão, acho que ela teria desabado ali mesmo. E no fundo, naquele exato momento… eu me odiei.
Por ter feito aquilo.
Por ter colocado ela na frente do mundo pra ouvir aquilo da boca da própria mãe.
E mesmo assim, ainda segurava sua mão. Como se fosse a única coisa que eu podia fazer direito agora.

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