Índice de Capítulo

    Eu respirei fundo.

    O ar da arena estava denso — carregado com a tensão invisível que antecede uma luta séria.

    Sem hesitar, ativei meu portal.

    A distorção se abriu como uma rachadura na realidade, e em um instante, me movi.
    Apareci atrás dela. Rápido. Limpo. Cirúrgico.

    Mas Sahira…
    Ela não se virou.

    Ela apenas sorriu, e com um movimento gracioso, saltou por cima de mim, como se dançasse no ar.
    A ponta do pé dela encostou no meu ombro — e me empurrou para trás com uma leveza humilhante.

    Me virei na hora.
    E ela estava lá, de pé… de olhos fechados.

    — “Eu sou cega,” — disse Sahira, apontando delicadamente para os próprios olhos. — “Isso é uma desvantagem, sabia? Mas… você se teleporta? Que habilidade interessante…”

    Cega…?
    Aquilo não fazia sentido.
    Ela havia reagido ao meu teleporte como se tivesse olhos nas costas.

    — “Seu corpo…” — continuou ela. — “Você usa uma lente no olho direito, né? Sinto uma leve elevação ali.”

    Ela sentiu isso…?

    Entendi na hora: se ela era realmente cega, todos os outros sentidos dela estavam em níveis sobre-humanos.
    Mas isso também significava uma vantagem pra mim… com a movimentação rápida e os portais, talvez eu pudesse enganá-la.

    Avancei com velocidade. Só velocidade.

    Meus punhos voaram.
    E ela desviava de todos.

    Cada esquiva dela parecia parte de uma coreografia.
    Ela não lutava — ela dançava.

    Seus quadris balançavam suavemente, os pés tocavam o chão com precisão milimétrica.
    Era como tentar golpear a água. Ou o vento.

    Mas eu sabia que, em algum momento, ela teria que atacar.

    Esperei por isso.

    Quando ela finalmente levantou uma perna — alta, elegante, preparando um chute — me teleportei.
    Apareci atrás dela. Ela estava vulnerável, em equilíbrio sobre uma perna só.

    Minha chance.

    Avancei.
    Mas ela girou no ar.
    E o chute me acertou em cheio no abdômen.

    O impacto me fez perder o ar. Mas não recuei.
    A agarrei.
    Minhas mãos firmes a prenderam antes que eu fosse lançado longe.
    Com um grito abafado, a ergui do chão com força bruta e a arremessei para o alto.

    Abri três portais ao redor dela.
    Ela rodopiava no ar, mas sorria.

    E então…
    Eu surgi de um quarto portal — abaixo dela.

    Segurei sua perna em pleno ar e a joguei violentamente para baixo.
    Ela caiu girando — e pousou com graça, dobrando os joelhos, sem usar as mãos.

    Inacreditável.

    Nem me dei tempo de respirar. Ativei outro portal e apareci atrás dela de novo — mas, como se já esperasse, ela se virou no mesmo segundo.

    Era impossível.
    Estava começando a ficar… frustrante.
    Ela não usava as mãos. Nem uma vez.

    Ela estava vencendo sem lutar.

    Então me veio uma ideia.
    Ela era sensível ao som — mesmo os portais, que não emitem um grande barulho, ela percebia.

    Comecei a brincar com isso.

    Avancei direto, abrindo dois portais: um na frente dela, o outro atrás.
    Fingi que passaria pelo de trás, e desativei o da frente no último segundo.

    Ela, como previsto, se virou.
    Mas não fui por ali.

    Usei meu portal de corpo inteiro. O som do meu deslocamento veio de outro ponto — e, enquanto ela virava para a direção errada…

    Apareci nas costas dela.

    Criei vários portais ao redor, apenas para confundir a audição.
    Era meu momento.

    Ataquei.

    Mas…

    Ela desviou.

    Com uma leve inclinação, ela escorregou pelo meu golpe como uma folha ao vento.

    Eu congelei.
    Incrédulo.

    E então ouvi sua voz, suave, sorridente, sem arrogância — apenas alegria.

    — “Pela audácia e criatividade… eu deixo você ganhar.”

    O golpe dela veio seco.

    Um chute forte nas minhas costas me jogou no chão.
    Ela saiu pulando feliz da quadra, rindo como uma criança que venceu um jogo.

    Eu venci. Mas perdi.

    Não era sobre pontuação.
    Era sobre domínio.
    Ela me conduziu pela luta inteira.
    E no fim… ela escolheu o resultado.

    Me ergui devagar, ofegante.
    A arena parecia mais silenciosa.
    Ou talvez fosse só meu orgulho, tentando processar o que acabara de acontecer.

    Saí da quadra ofegante.
    Ainda dava pra ouvir o barulho das outras lutas ao redor, gritos, aplausos, impactos no chão — o tipo de som que gruda no corpo como suor depois de uma batalha.

    Logo depois, Rina saiu também.
    Nem parecia cansada. Nem uma gota de suor.

    — Acredito que venceu, né? — disse ela, casual, como se tivesse acabado de sair de uma caminhada leve e não de uma arena de combate.

    Eu só assenti com a cabeça.
    Usei portais demais… meu corpo inteiro estava pesado. Como se cada músculo reclamasse por repouso.

    Foi então que senti uma mão pousando com força no meu ombro.

    — Você foi muito bem, garoto Orquídea, — disse Levi, com aquele sorriso confiante de sempre. — Estou orgulhoso.

    Levi Gressi. Me elogiando.
    Talvez hoje o mundo realmente estivesse de cabeça pra baixo.

    — E agora eu tenho que… — Ken começou a falar, mas Rina o cortou antes que ele terminasse.

    — É só esperar. — Ela deu de ombros. — Aquele negocinho vermelho vai apitar de novo e aí você será chamado. Vai aparecer o nome do próximo oponente no papel.

    Olhei pro papel dobrado no meu bolso. Quando o puxei, a inscrição brilhava suavemente em vermelho.
    D-7.

    — Vou lutar contra alguém do primeiro ano, — murmurei. — Que sorte.

    Decidi sair da arena 4 por um tempo. Rina e Levi disseram que iam ficar por ali.
    Eu só queria água. E um pouco de silêncio.

    Mas é claro que o destino tinha outros planos.

    No meio do caminho, Shin apareceu do nada, surgindo atrás de mim como um fantasma tagarela.

    — Minha luta foi bem fácil, — ele disse com aquele tom despreocupado. — Era contra alguém que nem tinha código genético… Tranquilo demais.

    Cadê a humildade, meu Deus?
    Pensei em responder, mas meu cérebro estava mais interessado em água do que em ironias.

    A gente continuava andando, quando vozes começaram a ecoar pelos corredores:

    — Você viu?! Na arena 2! A Solara vai lutar contra a Kaira Misticia Ilyssan! Isso vai ser insano, cara!

    Pessoas começaram a correr na direção da arena 2.
    Muita gente.

    — Vamos? — disse Shin, já se animando, o brilho nos olhos igual ao de um fã vendo seus ídolos prestes a colidir.

    Fiquei pensativo por um momento. O nome “Kaira Misticia Ilyssan” me soava familiar… mas não lembrava de onde.

    — Quem é ela? — perguntei, ainda andando, tentando puxar algo da memória.

    — A mais forte do quarto ano, — respondeu Shin, quase como se fosse óbvio. — Ela é a A-1. Tipo… a melhor de todas. Nunca se importou em bater de frente com Solara, mesmo ela sendo a mais forte. Parece que as duas nunca lutarão.

    Meu corpo se encheu de adrenalina.
    Queria correr com ele, ver esse confronto histórico.

    Mas então… tudo parou.

    Foi como se o tempo desacelerasse.
    O som dos passos, das vozes, da multidão empolgada indo ver a luta… tudo ficou abafado.

    E então senti aquilo.
    Uma pressão absurda. Pesada. Intensa.

    Como se o ar ao meu redor tivesse ficado mais denso só pra mim.
    Uma aura escura, afiada como lâmina, se prendeu ao meu corpo como um manto invisível.

    Uma voz surgiu no meio do caos, firme e calma — mas só eu parecia ouvi-la.

    — Ken Orquídea… —
    — Por acaso tem um minuto? Quero falar com você.

    Meu coração congelou.

    Me virei devagar, cada movimento parecendo mais difícil que o anterior.
    E ali, em meio à multidão indo na direção oposta, ela estava parada. Imóvel. Como se o mundo estivesse girando em torno dela.

    Acara Achlys.

    Cabelos negros como carvão, presos em dois coques perfeitos, com longas franjas cobrindo parcialmente um de seus olhos.
    Usava um quimono tradicional, adornado com padrões florais em tons escuros e detalhes metálicos que refletiam sutilmente a luz fria do corredor.
    Cada passo dela parecia calculado. Cada parte de sua presença… era poder.

    Mesmo sem entender muito de hierarquias, de cerimônias ou de estilo…
    Eu sabia quem ela era.

    A chefe do meu clã.
    A líder do Clã da Escuridão.

    E agora…
    Ela queria falar comigo.

    Minha garganta secou.
    Minhas pernas ficaram bambas.

    E naquele instante, uma coisa ficou clara:

    Meu mundo acabava de ficar muito mais sério.

    Enquanto isso, na Arena 1…

    Com a saída repentina de Cael, o antigo observador das lutas, o clima na arena mudou sutilmente. Agora quem estava ali era o vice-diretor Hizu, que observava os combates com os olhos semicerrados e os braços cruzados.

    Ele se virou para Ren Tianyū, que estava próximo, analisando os lutadores como se pudesse ver através das suas almas.

    — Professor, pode assumir como observador? — disse Hizu, a voz firme como aço frio. — Vou até minha sala por um momento.

    — Tranquilo, — respondeu Ren, com seu tom calmo e quase preguiçoso, os olhos ainda fixos na arena.

    Sem dizer mais nada, Hizu se afastou, a longa capa negra arrastando levemente no chão de mármore liso. Cada passo seu ecoava como um lembrete de que algo mais sério estava se desenrolando longe dali.


    Enquanto isso, na Arena 2…

    Solara adentrou o campo com sua presença incandescente de sempre — cabelos dourados soltos, aura flamejante, passos firmes.
    Mas foi a figura que surgiu do outro lado que fez a plateia prender a respiração por um segundo.

    Kaira Misticia Ilyssan.

    A mais forte do quarto ano.

    Sua postura era impecável, reta como a lâmina que carregava.
    Cabelos longos num tom cobre-rosado, soltos como se desafiassem as tradições rígidas do próprio clã. O hakama branco, com o antigo brasão dos Misticia bordado em dourado nas mangas, ondulava com o vento, quase como uma bandeira de guerra.

    As sandálias de base elevada a tornavam ainda mais imponente, mas o que realmente cortava o ar era o olhar — olhos frios, analíticos, que pareciam medir cada pessoa ao redor como um possível alvo.

    Ela não exibia curvas ou delicadezas. Seu corpo era firme, esguio e objetivo.
    E sua presença… quase sobre-humana.

    Do lado de fora, Mina assistia tudo de longe, mas sua mente estava em outro lugar.

    — Será que eu devo falar com o Ken…?

    Ela apertou os punhos. A indecisão pesava. Mas então algo se acendeu em seus olhos.

    — Cansei de esperar. Vou até ele. E vou vê-lo lutar.


    No corredor…

    A movimentação tinha cessado. O fluxo de alunos indo para a arena 2 já havia passado, deixando o espaço vazio.

    Silêncio.

    E foi ali que ela estava, como se o tempo ao redor tivesse parado só para ela.

    Acara — Vou ser direta, sem formalidades, — disse Acara, sua voz cortando o ar como uma sentença.

    — Você vai sair da Academia Fjorheim.
    — E vai vir comigo. Vamos para as camadas superiores. Vou te treinar. Você está no meio de uma guerra invisível… e parece que é a chave dela.

    Ela se virou, e a bainha em sua cintura se revelou, com uma espada elegante repousando silenciosa.

    — Você tem uma adaga, certo? Preta e vermelha. Aquela que corta tudo que você “acredita” que pode ser cortado.
    — Foi um presente da sua mãe de sangue, não é?

    Meus olhos se arregalaram.
    Ela sabia. Sabia de tudo.

    Acara assentiu, como se minha expressão já confirmasse tudo que precisava.

    — Essa lâmina é uma das Gêmeas de Silvit, — continuou. — Forjadas pela antiga Rank 1, Julia Silvit. A sua é a segunda. A primeira está aqui comigo. — Ela tocou a bainha em sua cintura. — Essa foi roubada há dezesseis anos.

    Dezesseis anos. A minha idade.
    Minha mãe… tudo começava a fazer sentido.
    Ou… quase tudo.

    — Eu até deixaria você terminar o exame, — disse Acara, virando-se de volta pra mim. — Mas tem algo mais urgente. Surgiram demônios… na camada 10. E isso me deixou inquieta.

    Tudo estava indo rápido demais. Uma avalanche de revelações.
    Eu não podia simplesmente aceitar.

    Mas não tive tempo nem de responder.

    Mas na Arena 2 que começava o inferno

    O professor responsável pela arena, Ative, levantou a mão.

    — Podem começar.

    O som da multidão sumiu por um instante.

    Kaira puxou sua katana com precisão mortal, os olhos fixos em Solara.

    Solara também se moveu, a mão deslizando para a bainha presa à lateral de sua roupa.
    O choque seria épico.

    Mas então…

    — Hihihihihihi… Ora, ora que peninha, eu queria que vocês tivessem continuado para me perfurar e arrancar meus órgãos, me rasgar inteirinha, eu iria gozar tanto com isso.

    A gargalhada e a frase surgiu do nada.
    Aguda. Suja. Cruel.

    Uma aura vermelha e sufocante tomou conta da arena como uma névoa assassina.

    As duas recuaram instintivamente, como se tivessem sentido o cheiro da morte.

    E então… ela apareceu.

    Ela possui uma beleza que incomoda. Seu corpo é esguio, quase etéreo, como se pertencesse a outro plano. Os cabelos são em tom lavanda, caindo em ondas estranhas com pontas viradas para cima, como se dançassem com uma vontade própria.
    Chifres rubros se curvam de sua testa como ganchos demoníacos, com um brilho cintilante que parece pulsar com sangue. Suas orelhas são finas e longas, com pontas azuladas e retorcidas. A pele é extremamente pálida, quase translúcida — cheia de marcas sutis, como cicatrizes cirúrgicas fechadas há muito tempo.

    Veste-se com um vestido negro colado, cheio de cortes nas laterais e detalhes rendados que expõem mais do que escondem. As pernas cobertas por meias até as coxas completam um visual que mistura sensualidade com decadência. Seu sorriso parece constante — nunca alegre, sempre ansioso — como se estivesse prestes a rir ou chorar de prazer.

    Ela sorriu.
    Não era um sorriso alegre.
    Era o sorriso de alguém que vivia no limiar entre o prazer e o terror.

    — Muito prazer a todos, — disse ela, a voz aguda e ansiosa, os olhos azuis brilhando como brasas molhadas.
    — Eu sou VIXI XVII… e hoje serei a comandante desse espetáculo.

    Ela se curvou levemente, o rosto corado, como se estivesse prestes a desmaiar de excitação.

    — Muito prazer… mesmo. —
    E então ela riu.

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