VIXI XVII ergueu os braços lentamente, de forma teatral, como uma marionete apresentando o início de um show de horrores.
    A aura ao redor dela vibrava como um campo elétrico carregado de loucura.

    Seus dedos percorreram seu próprio corpo — começando pelo pescoço, deslizando pelo peito, descendo pela barriga até parar entre as pernas.

    Ofegante.

    — Que delícia… — sussurrou com um sorriso distorcido, a voz tremendo entre prazer e demência.

    Solara, que até então só observava, puxou sua espada com força, e imediatamente uma explosão de chamas douradas tomou o campo.
    Era como se o próprio Sol estivesse emanando dela.

    — Abençoada pela Sol, hein? — disse VIXI, inclinando a cabeça de forma debochada, os olhos brilhando de desejo macabro.

    Mas no instante em que Solara avançou, pronta para um golpe cortante e direto…

    O braço direito de VIXI desapareceu.
    No lugar, surgiu um martelo grotesco, com cabo feito de correntes negras, tilintando como ossos se arrastando.

    BOOM.

    O impacto foi seco e brutal.

    Solara voou para trás como uma boneca desmembrada, o corpo atravessando o chão da arena e abrindo uma trilha de destruição.

    VIXI estalou o pescoço e soltou um gemido grave quando o braço começou a se regenerar.
    A carne brotava como vermes saindo da terra, músculos se formando em espasmos pulsantes, nervos trançando-se num espetáculo grotesco.

    — Ahhh… Isso me dá tanto tesão… essa dor… essa quebra… que coisa maravilhosa, não é? — murmurou, virando-se lentamente para Kaira.

    Kaira sentiu um calafrio.

    Não de medo.

    Mas de desprezo absoluto.

    VIXI lambeu os dentes como um predador ansioso — os olhos famintos e lascivos presos nela.

    Kaira respirou fundo, fechou a guarda e avançou com precisão cirúrgica.

    Mas VIXI puxou as correntes com força, o martelo rodopiando em um arco imprevisível.
    Kaira desviava, fluida como água, até que…

    O martelo desceu.
    Direto em sua cabeça.

    Mas um raio dourado cruzou a arena.

    Ative.

    Ele apareceu no último segundo, interceptando o golpe com o próprio corpo — e com isso, perdeu o braço direito.

    Sangue explodiu.

    A arena estremeceu.

    — Hahhahahahhahahah! Por que salvou a garota? — gritou VIXI, gargalhando. — Parabéns, heroizinho. Me conta… como é a dor? Hein? Tá excitado?

    Ative caiu de joelhos, o rosto sujo de sangue, a respiração irregular.

    O mundo girava, mas ele a fitou com os olhos semiabertos, entre os fios loiros colados de suor e dor.

    — Dói pra caralho, sua maldita… — cuspiu. — Mas eu vou te matar aqui. E…

    — Mas… que merda.

    A voz ecoou no outro lado da arena como um trovão abafado por desprezo.

    Todos viraram ao mesmo tempo.

    Um homem havia aparecido.

    Alto. Impecável. Despreocupado.

    Trajava um terno escuro perfeitamente ajustado, com cortes longos e elegantes, colete sem uma única ruga.
    A gravata, milimetricamente posicionada.

    O olho esquerdo era de um azul profundo — sereno, mas prestes a engolir tudo.
    O olho direito, cinza opaco, nunca completamente aberto.

    O cabelo escorria até os ombros, liso como tinta azul-petróleo escorrendo por porcelana.
    A pele era pálida, mas não doente — era a palidez de quem nunca foi tocado pela pressa do mundo.

    E o rosto…
    Um desgosto constante e silencioso, como se cada segundo de existência fosse um aborrecimento que ele tolerava por obrigação.

    A pressão mudou.

    Ative arregalou os olhos.

    O corpo dele congelou.

    O estranho virou-se lentamente em sua direção e abriu o olho azul só um pouco mais.

    — Você tem alguma habilidade de velocidade, né? — perguntou, com uma voz monótona. — Só de pensar em correr, já fico cansado.

    Ative não conseguia se mover.
    O corpo pesava. O ar parecia se transformar em concreto ao redor de seus membros.

    Mas ele viu.
    Os alunos começaram a correr.

    “Pelo menos eles vão ficar a salvo…”, pensou.

    Uma faísca elétrica percorreu seu corpo.

    Mas antes que pudesse agir…

    — Odeio falar meu nome… dá preguiça. Mas morrer por alguém que você nem sabe o nome… acho mais deprimente ainda. — disse o homem, suspirando.

    Ele esticou a mão, revelando uma pedra brilhante que pulsava como um coração podre.

    — Somnum Mortalis Desidia XIV. — falou, como quem avisa que vai trocar o canal da televisão.

    E soltou a pedra.

    Quando ela quebrou no chão, uma rachadura vermelha se espalhou como uma flor abrindo em câmera lenta.

    E então… o inferno explodiu.

    Demônios. Monstros. Aberrações que pareciam saídas de pesadelos começaram a surgir de dentro da rachadura, como se o próprio solo estivesse sangrando realidade distorcida.

    Ative caiu de joelhos.

    Não pela dor.

    Mas pela culpa.

    — “Sou insignificante…”

    Foi tudo o que conseguiu pensar enquanto o mundo desmoronava ao redor dele.

    Enquanto Isso, do Outro Lado

    O som da gritaria veio como um tapa seco. Gritos. Correria. Desespero.

    Eu me virei por instinto.
    Alunos corriam em disparada, olhos arregalados, alguns caindo no chão sem sequer entender por quê.

    Acara deu um passo à frente, os olhos arregalados com algo que nem mesmo ela parecia esperar.

    E então — como se o ar tivesse se rasgado — vários demônios surgiram de uma só vez.

    Eram rápidos. Famintos.
    E começaram a matar.

    Alunos foram dilacerados no ato, alguns sem chance sequer de gritar.
    O corredor virou um matadouro.

    Eu congelei.

    Nem consegui reagir.

    Mas Acara…
    Ela desapareceu por um instante.

    Num único movimento — seco, preciso, brutal — varreu o corredor inteiro.

    Todos os demônios foram partidos ao meio antes que eu piscasse.
    Ela nem chegou a sacar completamente a espada. Só uma meia-lua de aço brilhou, e tudo acabou.

    No chão, a cabeça de um demônio rolou até parar aos meus pés.

    A criatura… parecia um bode.
    Mas os dentes saltavam para fora como facas tortas, e os olhos estavam revirados como se nunca tivessem pertencido a algo vivo.
    Era grotesco. Real.

    Meu estômago se revirou.

    — Ken Orquídea. — disse Acara, tocando meu ombro.

    Ela me olhava com seriedade, sem o menor traço de medo.

    — Não faço ideia do que tá acontecendo aqui… Mas vá para fora do prédio. Se tiver forças, salve quem puder.
    Ela apontou com a cabeça.
    — A fraqueza desses bichos? Estoura a cabeça. Só isso.

    No instante seguinte, ela já estava correndo em direção à Arena 2.

    Eu hesitei.
    Shin ainda estava lá.

    Quis voltar, mas… Acara estava indo pra lá.
    E se era ela… então talvez estivesse tudo sob controle.

    Talvez.

    Corri na direção contrária, entre chamas, corpos e gritos.
    A academia, outrora símbolo de glória e hierarquia, agora era só ruína.

    Alunos fortes enfrentavam as criaturas que surgiam aos montes.
    Luzes, poderes, gritos — tudo se misturava.

    Sevira, com as mãos sujas de sangue e os olhos arregalados, rosnava.

    — Mas que porra é essa!? Como surgiram tantos de uma vez?!

    Nevara, de expressão fria e lâmina ainda gotejando sangue, respondeu enquanto limpava o rosto com o braço.

    — Demônios… na camada 4? Isso é errado. Muito errado.

    Na arena 2

    Acara chegou em silêncio.

    O estrondo da batalha ainda ecoava ao fundo, mas ali — naquele momento — o tempo parecia parado.

    Do alto, ela olhou a arena.
    E o que viu foi puro pesadelo.

    O corpo de Ative estava caído. Sem vida.
    VIXI estava se curvando, se regenerando de forma nojenta, como carne mal costurada em movimento reverso.
    Metade de seu corpo ainda pulsava como um organismo estranho, mas em sua mão já surgia uma nova arma: uma foice branca, esculpida como ossos cristalizados.

    Ao lado dela, Somnum.

    Frio. Intocável.

    Ele deu meia-volta como se nada importasse.

    — Cuide. — disse com indiferença, como quem delega uma tarefa doméstica.

    VIXI entendeu.
    E o brilho insano em seus olhos aumentou.

    — Fique tranquilo… tô muito animada pra lutar contra gente forte. Eles me machucam muito… e eu amo isso…

    Acara saltou, e quando pousou na quadra, já estava com a espada desembainhada.

    O aço brilhou em vermelho e preto.

    Sua aura negra se espalhou como fumaça viva, densa, sufocante.

    VIXI estremeceu.
    Ficou vermelha. Ofegante.
    E apertou o próprio peito, os dedos cravando a pele com prazer evidente.

    — Isso vai me machucar muito, né? Espero… espero que doa tanto que eu chore…

    Acara avançou.

    Sem fala. Sem piedade.

    A lâmina brilhou, e num único golpe — a boca de VIXI foi cortada.
    Junto com as pernas.

    O corpo dela caiu como um boneco.

    Mas não.

    As pernas arrancadas se transformaram.
    Viraram lanças deformadas.
    Voaram em direção a Acara com precisão mortal.

    Ela recuou com um giro, desviando por centímetros.

    VIXI se regenerou.

    Mais rápido. Mais grotesca.
    O sangue escorria como tinta viva que voltava pro pincel.

    — Você… é a Acara Achlys, né? — disse VIXI, lambendo os lábios, os olhos brilhando. — A líder do clã da escuridão. Ai, que emoção…
    Ela girou sobre os pés, rindo.
    — Você é a Rank 30 desse mundo, não é mesmo?

    Acara estreitou os olhos.

    — Me responde uma coisa. Você está com… Vena Nosfea?

    VIXI congelou.
    E depois deu uma risada exagerada, teatral.
    Fez um gesto dramático, passando a mão entre as pernas, os ombros tremendo de prazer.

    — Ela é meu amor… minha vida…
    Ela levou a mão à boca, fingindo surpresa.
    — Ops, não podia falar isso… que vacilo, né? Mas enfim… só eu e o Somnum estamos aqui hoje.

    Acara sorriu.

    Frio. Perigoso.

    — Entendi.
    — Então eu vou te matar. Do jeito mais lento que conseguir.

    VIXI vibrou.
    Literalmente.

    — Ai, ai, ai… — ela sussurrou com um sorriso e os olhos arregalados de excitação. — E eu vou amar cada segundo disso.

    Enquanto isso na diretoria.

    A sala estava vazia.

    Silêncio… exceto pelo som de objetos sendo remexidos.

    Hizu Jorney, o vice-diretor da Academia, mexia em um armário de metal antigo no fundo da sala. Pilhas de documentos, caixas lacradas, livros antigos. Estava procurando algo — e parecia aflito.

    Seu rosto suava sob os óculos de armação prateada.
    Ele resmungou:

    — Onde tá esse maldito registro…

    Mas então —
    Barulhos distantes ecoaram.

    Passos correndo. Vidros quebrando.
    E então… um silêncio estranho.
    Um silêncio denso, como se o som tivesse medo de existir.

    Hizu franziu o cenho e ajeitou os óculos com dois dedos. Caminhou até a porta e a abriu devagar.

    E então parou.

    Ali, parado bem à sua frente — como se o mundo o tivesse plantado ali de propósito — estava Somnum.

    Impecável. Inexpressivo.

    — Sabia que andar cansa muito? — disse ele, com a voz rouca e arrastada, como se cada palavra fosse um fardo.

    O olho esquerdo, aquele azul profundo como um abismo sem fundo, brilhou por um instante.

    E só esse instante bastou para que Hizu sentisse o corpo recuar sozinho.

    — Você… — murmurou o vice-diretor, sem entender por quê.

    Somnum apontou com um único dedo.
    Direto para o lenço preso no colarinho de Hizu.

    — Viemos buscar isso.
    — É uma das peças de Or’sea.
    — Nós queremos ela.

    Hizu apertou o lenço.
    O tecido parecia tremer em sua mão.

    — Quem são vocês…? — ele perguntou, engolindo seco. — Como sabem sobre isso?

    Somnum suspirou.
    Longo. Entediado.
    E simplesmente entrou na sala.

    Sem pedir. Sem hesitar.

    Hizu estendeu a mão.
    A palma começou a brilhar, preparando sua habilidade genética. Mas…
    Apenas um cristal fraco de luz genérica se formou.

    Ele congelou.

    — Isso… Isso não é o meu código genético…

    Somnum passou a mão pela própria cabeça com um tédio quase teatral, e depois repousou sobre o olho azul.

    — Tenho um dos Olhos do Pecado.
    — O olho da preguiça.

    — Olhos do quê? — Hizu rosnou. — Me diga quem é você, agora!

    Ele tentou avançar, mas seu corpo estava pesado.
    Como se o próprio tempo tivesse desacelerado em volta de seus músculos.

    Somnum virou lentamente, quase sem interesse.

    — Sua habilidade é complexa, vice-diretor.
    — Esse olho simplifica tudo.
    — Não é isso que um preguiçoso faz? Facilita as coisas…

    Hizu tentou girar o corpo.

    Mas antes que qualquer reação fosse concluída —
    a visão escureceu.

    O mundo girou. O chão ficou distante.
    E, por um segundo, ele não entendeu por que não sentia mais o corpo.

    A cabeça dele caiu no chão, os olhos ainda piscando.

    Somnum ficou parado, sem emoção.

    — Arrancar a cabeça de alguém é… uma forma bem preguiçosa de matar, né?
    Ele deu de ombros.
    — Pensar cansa. Acho que vou descansar um pouco antes de ir… Vou deixar a Vixi brincar mais.

    Ele se agachou, pegou o lenço do chão — agora manchado de sangue — e o guardou com cuidado no bolso interno do terno.

    E então saiu da sala.

    Mas no momento em que virou o corredor…
    dois vultos surgiram.

    Noha, em pé, bloqueava o caminho.
    Ao lado dele, Eriel, em silêncio.

    O ar ficou denso, como se duas muralhas tivessem sido erguidas.

    Noha observou o corpo sem cabeça por um instante e depois olhou para Somnum.

    — Pelo visto… esse aí não era um demônio, né, Eriel?

    Eriel apenas assentiu com um olhar vazio, frio.

    Noha puxou duas de suas quatro espadas.

    O metal brilhou como dentes de fera.

    — Vamos cobrar da Acara por esse serviço extra.

    Somnum suspirou.
    Não com medo. Não com raiva.
    Apenas… cansado.

    — Mas… que preguiça.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota