Capítulo 24: O fim para um novo começo
No instante seguinte, antes mesmo que eu percebesse, ela foi arremessada para longe.
Vixi voou como uma boneca de pano, o corpo sendo rasgado no ar, girando e batendo violentamente contra o concreto. O som dos ossos dela quebrando foi seco, cortante. A pele se rasgou como papel, e a cabeça dela caiu para o lado, pendurada por um fio de carne no pescoço estraçalhado.
E mesmo assim…
Ela levantou.
Com os braços completamente tortos, estalando enquanto se regeneravam aos poucos, ela sorriu.
— Por isso… você é o melhor… — disse, com aquele brilho doentio de admiração nos olhos.
Meu corpo não era mais meu.
Uma aura rosa intensa e densa tomou o lado direito do meu corpo. Queimava por dentro. Consumindo tudo. A adaga em minha mão começou a vibrar, e então… se fundiu àquela aura, ficando maior, mais ameaçadora, viva.
Eu sorri.
Um sorriso largo, torto, cruel.
— Que prazer será te matar…
Vixi ficou… vermelha.
O rosto dela pegou fogo de tesão, de obsessão. Ela tremeu.
— Isso… Isso me dá tanto tesão… — arfou, com olhos esbugalhados — Eu podia me masturbar aqui mesmo… Mas… — ela fez um gesto estranho, enfiando os dedos no próprio crânio e arrancando um pedaço do cérebro.
Aquela massa pulsante se moldou… numa adaga.
Igual à minha. Rosa.
Formada de puro delírio.
— Vamos combinar, meu amor… — disse, sorrindo como uma psicopata.
Mas eu…
Eu não ouvia mais nada.
Minha mente gritava uma única ordem:
“Matar aquela garota.”
Um borrão rosa cruzou o espaço entre nós.
A adaga entrou direto no peito dela.
Rasgou Vixi ao meio como se ela fosse feita de seda.
Um chute.
O corpo dela voou, se regenerando no ar… só para se despedaçar ainda mais quando tocava o chão.
Ela levantava, sorria, se regenerava, e eu cortava, cortava, cortava.
Sem parar.
Eu já não era humano.
Eu era uma fera guiada pelo desejo de aniquilação.
Meu olho rosa queimava, liberando uma aura densa que fazia o ar vibrar.
E então…
Shin apareceu.
Parou. Me viu. E congelou.
— Ken…?
Logo atrás, Mina chegou.
Sangue nas roupas, o rosto assustado. Ela me viu e gritou:
— Ken!
Meus olhos viraram na direção dela.
E Vixi… percebeu.
Ela fez uma careta.
— Olhando pra outra garota…?
O tom dela mudou. A voz carregada de desprezo e ciúmes animalescos.
Ela disparou em direção à Mina.
Eu arranquei as pernas dela no meio do salto.
Ela caiu, se contorcendo no chão, e mesmo assim, rastejou com os braços, como uma criatura deformada e faminta. Ela ainda ia até a Mina.
Mas eu cheguei antes.
Enfiei a adaga no meio das costas dela, enterrando-a no chão, a centímetros da Mina.
Ela parou.
Mina me olhou… em choque.
— Ken… é você…?
Eu a encarei.
A adaga de cérebro da Vixi estava ao meu lado, pulsando.
Eu a peguei.
Esmaguei o corpo da Vixi com o pé.
E naquele instante…
Eu não via a Mina.
Só via um corpo. Um alvo. Um novo estímulo.
Eu ia matar ela.
Mas então algo bloqueou minha lâmina.
Shin.
Num único movimento, ele me lançou metros para trás, protegendo a Mina com o corpo.
Nas mãos dele estavam uma lamina envoltas em uma aura negra, vibrando com intensidade.
— Ken, o que tá acontecendo com você?! — gritou, a voz dele carregada de medo e raiva.
Eu o encarei. Não como um amigo.
Mas como um alvo.
E atrás de mim… Vixi começou a rir.
— Hahahaha… Que coisa maravilhosa… Então é verdade…
Ela se levantou, cambaleante, mas com um sorriso que me enojava.
— Você possui um dos Olhos do Pecado…
— O Olho da Luxúria.
Eu a queria morta.
Mais do que tudo.
Mas naquele momento… percebi algo ainda mais cruel:
Eu queria matar qualquer coisa… que lembrasse uma mulher.
Mas Vixi…
Era a principal.
A centelha da minha loucura.
O estopim do inferno que queimava dentro de mim.
E eu…
Eu estava só começando.
Ela ria.
Ria com vontade.
Fazia gestos obscenos, balançava a cabeça de lado e mostrava a língua como uma criança perversa num parquinho macabro.
E então…
Eu fui.
Rápido como uma flecha, uma sombra rosa cortando o ar.
Num único movimento, minha lâmina atravessou o pescoço de Vixi.
A cabeça voou.
Rodopiando no ar, os olhos arregalados de prazer e surpresa.
Sem hesitar, arremessei a adaga feita do cérebro dela.
Impacto direto.
BOOM.
A cabeça explodiu como um melão podre, respingando matéria cinzenta e sangue espesso ao redor.
Eu recuei, arfando.
Pela primeira vez desde que essa loucura toda começou…
Achei que tinha terminado.
Mas eu estava errado.
Muito errado.
O corpo dela ainda estava de pé.
Sem cabeça.
Erguido como um manequim ensanguentado.
Mesmo sob o efeito do Olho da Luxúria, mesmo mergulhado na fúria…
Eu fiquei incrédulo.
Atrás de mim, Mina tremia no chão, os olhos arregalados em puro terror.
Shin estava paralisado, com o rosto virado de nojo.
Aquele tipo de coisa… era antinatural até para este mundo distorcido.
E então…
A carne começou a se contorcer.
Como uma massa viva, a cabeça dela se regenerava, nervo por nervo, osso por osso.
Quando a boca surgiu, Vixi puxou a própria língua para fora, esticando-a grotescamente.
Com um sorriso doentio, ela arrancou a língua com a mão esquerda, como quem puxa uma fita da embalagem de um presente.
A língua se transformou.
Virou uma espada larga, da cor da carne crua, brilhante, um tom rosa-escarlate que dava náusea só de olhar.
Ela completou a regeneração, respirou fundo e abriu um sorriso maior ainda.
Um sorriso que não tinha mais nada de humano.
— Essa é… a sensação de perder a cabeça…? — ela arfou, com um brilho quase romântico no olhar. — É a primeira vez que isso acontece… Será que podemos contar como a nossa primeira vez? Hihihi… Que coisa deliciosa.
Meu corpo congelou.
Eu não conseguia nem responder.
Nem reagir.
A insanidade dela parecia engolir tudo.
— Mas… perder a cabeça não tem muita graça. — ela estalou o pescoço. — Nem doeu tanto quanto eu esperava. Mas foi uma experiência… deliciosa.
O sorriso sumiu.
— Infelizmente, já perdi tempo demais aqui. Meu amor… eu tenho que partir. Mas antes…
Tudo escureceu.
Num piscar de olhos, Vixi surgiu à minha frente.
Eu nem vi o movimento.
A espada-língua perfurou minha barriga com facilidade.
Meu corpo travou.
Minha respiração falhou.
A aura rosa ao meu redor evaporou como fumaça.
Meus joelhos cederam.
Caí.
O chão gelado me recebeu, e a dor… a dor era como fogo líquido correndo por dentro de mim.
Vixi se abaixou, sentando-se em cima do meu corpo, com aquele olhar selvagem de sempre.
— Não se preocupe, — ela sussurrou no meu ouvido. — Não acertei nada vital… ainda.
A voz dela era melosa. Intensa. Doentia.
— Se quiser ver sua mamãe, Katarina, com vida… venha até nós.
— Camada -70.
— Pra facilitar, vai ter alguém te esperando na camada -31. Ele vai te dar um atalho.
Ela passou o dedo pelos meus lábios.
— Não importa quanto tempo demore. Um ano. Dois. Cinco. Se fortaleça, Ken… Porque, com essa força ridícula, você só vai morrer rápido demais.
Ela começou a se levantar, mas não saiu de cima de mim.
— Eu devia te levar comigo, já que possui um dos Olhos do Pecado…
— Mas como é meu novo amo… — ela mordeu o lábio, — Vou deixar passar. Por enquanto.
Foi quando tudo estremeceu.
Sem som. Sem aviso.
Um estalo.
Uma lâmina atravessou a cabeça dela com precisão cirúrgica.
A cabeça de Vixi foi arrancada com violência.
O corpo dela foi arremessado metros longe, se debatendo no ar como uma marionete sem fio.
E quando levantei meu olhar…
Vi a figura dele.
Ren Tianyū.
O professor.
Com os olhos sérios, a presença sufocante.
A lâmina que ele empunhava ainda pingava sangue rosado.
— Cheguei tarde demais, — disse ele, com a voz calma como sempre.
Mas o olhar…
O olhar dele era puro julgamento.
A cabeça dela já estava de volta.
Se regenerou em segundos, como se a morte fosse só uma inconveniência para ela.
Mas dessa vez… Vixi estava com raiva.
A expressão mudou.
O sorriso sumiu.
Veias saltavam no rosto.
— Maldito… — rosnou ela, os olhos faiscando. — Só porque é bonitinho, acha que pode me desrespeitar assim?!
O ar pareceu vibrar com sua fúria.
Ren Tianyū deu um passo à frente.
O vento mexia o longo casaco dele, e o símbolo da águia na montanha costurado nas costas ondulava como se prestes a voar.
A voz dele soou firme, carregada de desprezo:
— Você é um demônio com esses chifres…
— E demônios precisam morrer.
Vixi riu debochada.
— Esses chifres? São só decoração. — ela apontou para a cabeça. — Souvenirs de um demônio que matei. Ficaram lindos, né? Agora fazem parte de mim.
Ren avançaria… mas não deu tempo.
Do meio das sombras… ela surgiu.
Acara.
Num piscar de olhos, Vixi foi atingida por um corte monstruoso.
A lâmina da Acara dilacerou o lado esquerdo do corpo dela, a rasgando ao meio e lançando-a longe com o impacto brutal.
Vixi rolou no chão como uma boneca quebrada, mas já começava a se regenerar.
Acara parou ao meu lado.
O braço que antes havia sido arrancado agora era negro, corrompido.
O olho ferido brilhava com uma aura escura e viva.
— Desgraçada… — ela rosnou, apontando a espada tingida de vermelho e preto para Vixi.
A tensão se condensava.
E então, Solara apareceu.
Descendo com precisão, os olhos dourados arregalados, sacando a espada com violência.
Logo atrás dela, professores e alunos de elite surgiam um a um, como um exército silencioso convocado pelo desespero.
Mas eu…
Eu estava preso.
Na minha própria mente.
A consciência fragmentada, tentando entender tudo o que havia acontecido.
O sangue ainda escorrendo da minha barriga.
A aura do olho rosa… completamente apagada.
Foi então que Vixi riu.
Alto.
Livre.
Sem remorso.
E parou.
Do nada.
Como se soubesse o que vinha a seguir.
Ele apareceu.
Somnum.
Surgiu como se sempre estivesse ali, escondido entre as dobras do tempo e da realidade.
— Já podemos… ir embora? — sua voz era sonolenta, arrastada, sem nenhuma emoção. Quase irritante.
Ren cerrou os punhos e se preparou para atacar.
Mas Somnum apenas o encarou.
Um brilho profundo emergiu de seu olho azul cristalino.
— Como vocês conseguem ter tanto ânimo… — ele disse num tom calmo, mas que cortava como gelo. — É realmente… preocupante.
Ele levantou a mão.
Com um movimento preguiçoso, como quem joga uma bolinha de papel, algo invisível foi lançado.
Um estalo.
A perna de Ren foi perfurada.
O sangue jorrou.
Ele caiu de joelhos com um grunhido, o rosto torcido de dor.
— É uma pena… — murmurou Somnum. — Sentir dor é tão ruim, né?
— Excitante, — completou Vixi, se arrastando até se apoiar no joelho, ainda se regenerando com o corpo em frangalhos.
Somnum suspirou.
— Vamos, Vixi. Ainda temos muita coisa para fazer… Só de lembrar… me dá preguiça.
Mas o céu rugiu.
Como um trovão branco cortando o firmamento.
Levi chegou.
Um dragão-serpente de luz branca desceu como uma avalanche celestial.
Somnum levantou o olhar devagar.
— Ora, ora…
O impacto seria catastrófico.
Mas não houve impacto.
Vixi e Somnum desapareceram.
Simplesmente sumiram.
Sem luz.
Sem som.
Sem fumaça ou portais.
Como se nunca tivessem estado ali.
Silêncio.
Aquela arena, que há poucos segundos fervilhava em caos, agora só tinha ecos.
Finalmente, o fim havia chegado.
Ou melhor…
O começo de algo novo.
Para mim.
Para o Ken que morreu ali… e renasceu naquele mesmo chão.
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