Capítulo 36: Luxúria
O caos não tinha apenas engolido a academia; ele a estava mastigando.
Demônios. Não as ilustrações dos livros didáticos, mas abominações saídas de um delírio febril. Criaturas com bocas verticais no peito, olhos que pingavam ácido, carne que pulsava como tumores expostos.
Eu corria pelos corredores, o ar queimando meus pulmões, tropeçando em escombros e… em partes de gente que eu conhecia.
Foi aí que senti.
Não era medo. Era gravidade.
Uma pressão branca, densa e quente, que fazia os pelos do braço se arrepiarem.
A aura do Levi.
Corri em direção à Arena 4.
Quando atravessei o arco destruído da entrada, meus pés travaram.
O que eu vi não era uma luta. Era um santuário de destruição.
Levi estava lá. No centro do olho do furacão.
Ao redor dele, centenas de carcaças de demônios. Alguns chamuscados, outros retorcidos, outros desintegrados. O chão de concreto estava vitrificado pelo calor.
Ele não estava de pé. Ele flutuava a meio metro do chão.
Seus cabelos negros tinham se tornado brancos como a neve virgem de Jotunheim, flutuando para cima como se estivessem submersos em água. Uma aura de luz sólida, branca e sagrada, girava ao redor dele, distorcendo a realidade.
Os olhos dele…
Não havia íris. Não havia pupila. Apenas dois poços de luz branca infinita.
Sem emoção. Sem ego. Apenas Poder Puro.
Ele girou o pescoço mecanicamente na minha direção.
— Garoto Orquídea. — A voz dele não veio pelo ar. Ecoou dentro do meu crânio, ressonante como um sino de igreja. — Rina, Holi e os civis já estão no bunker. Esta zona está purificada.
— Não se preocupe com este palco. Vá. Proteja os que ainda respiram.
Eu não reconhecia mais o Levi. O narcisista tinha sumido. Ali estava o Dragão Branco.
Mesmo assim, eu sabia: aquela era a coisa mais segura em quilômetros.
Assenti e corri. Saí da arena, indo em direção ao corredor principal.
Mas aí…
Um grito rasgou o barulho da batalha.
— AAARGH!
Virei o rosto.
Era o professor Geovan. O homem dos dreads de lâmina.
Ele corria, sangrando, tentando proteger um grupo de calouros.
Mas o chão sob ele explodiu.
Um demônio colossal surgiu. A cabeça era uma massa de carne cheia de agulhas de osso. A besta mordeu o braço de Geovan.
CRACK.
O professor foi arremessado contra a parede como um boneco de pano e arrastado para a escuridão de um corredor lateral, deixando um rastro de sangue.
— GEOVAN! — gritei, dando um passo à frente.
Mas meus pés travaram.
Outro demônio, uma minhoca gigante coberta de escamas e lodo, brotou do teto atrás de mim, a bocarra aberta pronta para me engolir.
ESTALO.
O ar congelou.
A minhoca parou no meio do bote, transformada numa estátua de gelo azul-escuro.
Luis Figui.
Ele apareceu ao meu lado, ofegante, o olho com o floco de neve brilhando perigosamente.
Mas havia mais dois vindo pela direita.
Sem pensar, o instinto assumiu.
Abri um portal negro no chão, engolindo Luis e a mim mesmo.
Saímos três metros à frente, desviando das garras.
Luis caiu de joelhos, tossindo.
— Valeu, Ken… — arfou ele. — Estamos cercados.
Eu olhei para os monstros que se aproximavam.
E então… pela primeira vez com intenção assassina real…
Levei a mão ao espaço dimensional.
Puxei a adaga.
A Lâmina Voraz.
O metal negro com veios vermelhos brilhou na penumbra do corredor. Ela pulsou na minha mão, quente, como se estivesse feliz. Como se tivesse esperado a vida toda por aquele momento de carnificina.
E, de forma estranha e assustadora… o nojo sumiu. O medo sumiu.
Só restou a certeza do corte.
Demônios surgiram à frente, berrando, cuspindo ácido.
Luis se colocou à frente, criando uma barreira de gelo.
— Ken… sai do prédio! — gritou ele. — O Levi segura aqui. Deixa isso com seus veteranos. Vá para o pátio!
Hesitei por um segundo. Olhei para a adaga.
Eu posso lutar.
Mas o olhar de Luis era de súplica.
Confiei.
Corri.
E quando finalmente atravessei as portas duplas para o pátio externo…
O que me esperava não era um jardim. Era um campo de extermínio.
Corpos de alunos espalhados como lixo. Sangue manchando a grama bem cuidada. Explosões mágicas iluminando o céu cinza.
No meio do caos, vi Sayra.
Ela era um borrão dourado. Girava, pulava, ria e gritava, lançando seus escudos de energia como serras circulares, decapitando demônios enquanto protegia três alunos feridos atrás dela.
Um furacão de violência.
Mas meu estômago embrulhou. O cheiro de morte era insuportável.
Rostos conhecidos. Colegas de classe. Mortos.
Foi então que o céu mudou.
Olhei para cima.
No ponto mais alto da estrutura de vidro do Prédio Principal.
Lá estava ele.
Natan’Zar Herys.
O Observador de Lutas. O sádico.
Ele estava imóvel. De pé na ponta da torre. O manto dourado chicoteando ao vento.
Horrivelmente calmo.
— Me desculpem… alunos. Professores. — A voz dele foi amplificada magicamente, ecoando por toda a academia, pesada como uma sentença de morte. — Mas a matemática da guerra é cruel. Às vezes… é preciso sacrificar a peça para salvar o tabuleiro.
Ele ergueu os braços para as nuvens negras.
— Occhio do Caos: Prisão dos Nove Olhos de Maria.
O céu gritou.
Uma aura laranja, gigantesca, sólida, desceu sobre toda a academia como uma cúpula de vidro divino.
Um domo. Uma jaula.
Guardas da Camada 4 que tentavam entrar voando bateram contra a barreira e foram repelidos.
Ninguém entrava. Ninguém saía.
Estávamos trancados com os monstros.
Natan cuspiu uma quantidade alarmante de sangue. O corpo dele tremeu. O custo da técnica era a própria vida.
Ele esticou o braço direito para o pátio.
Pontos de luz azul começaram a brilhar na palma da mão dele, multiplicando-se como estrelas.
— Demônios têm almas diferentes das nossas. São estática. — sussurrou ele para o vento. — E se existe um Deus que nos criou… Ele me deu a dádiva maldita de apagar esse ruído.
Ele fechou os dedos com força.
Esmagar.
VWOOM.
Não houve barulho de explosão. Houve o som de vácuo.
Os demônios no pátio. Todos. Centenas.
Sem exceção.
Eles implodiram.
Explodiram em chamas azuis, luz, sangue negro e pó.
Num segundo, estavam rugindo. No outro… eram silêncio e cinzas.
Natan cambaleou no alto da torre.
Os olhos dele viraram para trás. Sangue jorrou de seus ouvidos, nariz e boca.
O corpo dele pendeu para a frente.
E caiu.
Caiu como um anjo morto, despencando do céu.
Mas, antes de atingir o chão e virar uma mancha… um círculo de luz suave o aparou, amortecendo a queda.
Ele estava inconsciente. Quebrado. Mas vivo.
Ele havia limpado o tabuleiro.
Suspirei. O alívio inundou meu peito.
Acabou. Estamos salvos.
Mas a paz durou exatos dois segundos.
KABOOOM!
Como se o próprio firmamento tivesse sido rasgado por um deus furioso, um impacto brutal desceu como um meteoro no centro do pátio.
A onda de choque me jogou no chão. O solo tremeu, pedras voaram, o ar foi expulso por uma pressão esmagadora.
Do meio da cratera fumegante, duas figuras surgiram.
Acara Achlys e VIXI XVII.
Elas não estavam lutando. Estavam colidindo.
Era impossível acompanhar.
Eram borrões de luz roxa e trevas vermelhas. Um choque constante de aço e poder que criava trovões no solo.
A guerra das gigantes.
Vi, de longe, quando VIXI girou duas espadas finas e vivas, empurrando Acara para trás com força bruta.
Acara deslizou, as botas rasgando a terra por dez metros.
O quimono estava rasgado. Havia um corte profundo acima do olho esquerdo, e o sangue escorria, cegando-a parcialmente.
Mas ela não demonstrava dor. Nem cansaço.
A postura era impecável. Fria. Uma muralha de obsidiana.
Ela firmou os pés. A Lâmina Soberana em sua mão parecia vibrar, mais pesada, mais densa, reagindo ao sangue da dona.
E então… VIXI parou.
Ela estava a vinte metros de distância. O corpo dela fumegava, regenerando cortes profundos.
Ela sorriu. Um sorriso largo, insano, infantil e aterrorizante.
Com a mão livre, ela acariciou a própria barriga, sobre o lado direito.
— Senhor Fígado… — sussurrou ela, alto o suficiente para ouvirmos. A voz era carinhosa, doentia. — Vamos brincar também? Diz que sim… você está com inveja dos outros órgãos?
E então… ela fez.
Os dedos dela, terminados em garras, perfuraram a própria pele.
SQUELCH.
O som de carne molhada sendo rasgada.
Ela enfiou a mão até o fundo das entranhas. O sangue espirrou no rosto dela, e ela lambeu os lábios.
Com um puxão violento e um gemido de prazer sexual, ela arrancou o próprio fígado.
— ISSO! ISSO! ISSOOOO! — gritou ela, os olhos virando para trás em êxtase.
O órgão pulsante, roxo e sangrento, não ficou inerte.
Na mão dela, a carne se contorceu, cresceu, endureceu.
Em segundos, moldou-se numa espada curva, de um tom marrom-avermelhado, úmida, orgânica e viva.
— Vamos dançar, A… Ca… Ra… — soletrou ela, balançando a espada de carne como se fosse uma varinha mágica.
Acara limpou o sangue do olho com o polegar.
Ela sorriu. Um sorriso seco, curto, de quem aceita o desafio do Diabo.
— Maldita… você é criativa.
Acara avançou. A escuridão a seguiu.
O mundo parou de novo. Ou talvez tenha quebrado.
A velocidade. A precisão. A violência cinética.
Era sobre-humano. Era divino e profano ao mesmo tempo.
Um espetáculo grotesco de destruição entre duas entidades que pareciam ter reescrito as leis da física apenas para se matarem.
Cada corte da Lâmina Soberana de Acara era uma obra de arte letal — separando carne, tendão e osso com a facilidade de um pincel na tela.
Mas VIXI… ela se regenerava rápido demais. E com prazer demais. Cada ferida aberta era recebida com um gemido de satisfação, como se a dor fosse um presente de aniversário.
E isso me fez pensar, enquanto eu tremia atrás do pilar…
Se a minha adaga, a Voraz, tem a habilidade de cortar o que eu acredito… qual é a habilidade da espada da Acara?
Não tive tempo de descobrir.
Em meio ao turbilhão de golpes, VIXI fez algo que revirou meu estômago.
Ela levou os dedos em garra ao próprio rosto.
SQUISH.
Com um som úmido e repugnante, ela arrancou o próprio olho esquerdo.
O globo ocular, branco e sangrento na mão dela, começou a brilhar e se esticar. O nervo óptico endureceu, a esclera virou lâmina.
Em um segundo, ela segurava uma adaga branca, feita de visão e loucura.
— Você vai adorar ver isso de perto… — sussurrou ela.
ZUN.
Ela sumiu.
Reapareceu nas costas de Acara. Mais rápida que a sombra.
Ela cravou a adaga-olho no ombro direito da Lâmina da Noite.
— KABUM.
A explosão não foi de fogo. Foi de pressão biológica.
O braço direito de Acara — o braço da espada — foi obliterado.
Não cortado. Arrancado.
Carne, tecido e o quimono de seda voaram em pedaços numa chuva vermelha e preta.
Fumaça. Sangue vaporizado. Estilhaços de osso.
E, no meio da nuvem carmesim… Acara permaneceu de pé.
Imóvel.
O toco do ombro jorrava sangue, mas ela nem olhou para ele. O rosto dela continuava neutro, uma máscara de gelo. Nem um grito. Nem um suspiro de dor.
VIXI parou de sorrir. O brilho maníaco nos olhos vacilou.
Ela parecia… entediada com a falta de gritos.
— Que decepção… — reclamou ela, fazendo um biquinho. — Que reação mais… chata. Eu esperava pelo menos um “ai”.
Acara virou o pescoço lentamente. Olhou para o próprio ombro destruído como se fosse uma mancha de vinho na roupa.
— Eu te subestimei… — murmurou ela, a voz calma e assustadora. — Erro tático. Não vai se repetir.
Com a mão esquerda, ela pegou a Lâmina Soberana que caíra no ar antes de tocar o chão.
Mas VIXI não deu chance.
O braço da aberração mudou de novo. A carne se expandiu, ossos se entrelaçaram.
Um martelo colossal, feito de fêmures e músculos pulsantes, preso a correntes de veias negras.
BOOM.
Ela acertou Acara em cheio no peito.
A corrente se estendeu, envolveu o corpo da guerreira como uma jiboia e a arremessou.
Acara virou um projétil. Ela atravessou o ar, bateu contra a parede do Prédio Principal e atravessou o concreto armado, desaparecendo nos escombros com um estrondo que fez a ilha flutuante tremer.
Silêncio.
Poeira.
VIXI ficou ali… parada no centro da cratera, o peito subindo e descendo, o martelo pingando sangue.
Eu ainda estava escondido atrás de uma pilastra caída, prendendo a respiração, rezando para ser invisível.
Mas então… ela se virou.
O pescoço estalou.
Os olhos de VIXI — o único que restava e o buraco sangrento do outro — me encontraram.
E tudo nela mudou.
O olhar sádico. A energia demente de batalha. O frenesi assassino.
Tudo evaporou.
O que restou… foi um brilho estranho.
Encantamento.
Como se, de repente, ela tivesse visto um campo de flores no meio do inferno. Como se eu… fosse a coisa mais preciosa e quebrável do mundo.
Ela não sorriu com malícia.
Não gritou.
Apenas me olhou… com aquele olhar bobo, suave e apaixonado de uma adolescente vendo o primeiro amor.
E, pela primeira vez…
Me deu mais medo de ser amado por ela do que de ser morto.
Tentei correr.
Mas quando finalmente me movi — por puro instinto reptiliano — ela já estava lá.
VIXI.
Aquele demônio de sorriso lunático.
Ela atravessou o espaço como um raio de carne.
Num impulso desesperado, puxei minha adaga.
CORTAR.
Desferi um golpe direto no ombro dela.
SHHHK.
A Lâmina Voraz de Silvit atravessou o trapézio esquerdo dela, afundando até a guarda, rasgando músculo e pulmão. O som da carne se abrindo foi alto.
Mas ela não se mexeu.
Nem piscou.
Ela olhou para a faca cravada no próprio corpo e… sorriu. Mais doce ainda.
E então, ela segurou meus pulsos.
Com uma força hidráulica, ela me jogou no chão.
O impacto esmagou o ar dos meus pulmões. O peso do corpo dela me prendeu ali, imóvel, prensado contra os escombros.
Ela montou sobre mim.
As pernas dela prendendo meu tronco. O sangue dela pingando do ferimento no meu rosto.
Ela estava ofegante. O rosto próximo demais. O cheiro dela era de ferro e perfume doce.
— Me diga… — perguntou ela, entre respirações pesadas e quentes que batiam na minha boca. — Qual é o seu nome, boneco?
Eu… não consegui pensar.
O pânico era branco, absoluto.
Mas minha boca se moveu sozinha, traindo minha vontade.
— Ken… Ken Orquídea…
O nome saiu num fio de voz.
A reação dela foi aterrorizante.
O rosto de VIXI ficou completamente vermelho. As pupilas dilataram até cobrir o azul.
Ela riu. Uma risada genuína, feliz, borbulhante e insana.
— Eu não acredito… — Ela bateu palminhas, soltando meus pulsos apenas para segurar meu rosto. — Que a Vena tinha um filho tão lindo! Tão perfeitinho!
Vena? Quem é essa? Minha mãe?
Antes que eu pudesse reagir, ela levou os dedos longos, terminados em garras, até o meu olho direito.
Com uma delicadeza cirúrgica que contrastava com a violência ao redor, a unha dela pescou a borda da lente de contato.
Ela puxou.
Meu olho Rosa ficou exposto ao caos.
— Ora, ora… — sussurrou ela, paralisada. — Mas o que temos aqui…
Ela começou a tremer sobre mim. Um tremor de êxtase.
— Isso é excitante demais! São tantas informações! Eu não consigo segurar! — Ela arfou, curvando-se até o nariz dela tocar o meu.
Eu estava confuso. Paralisado.
Quem é Vena? O que ela quer comigo?
E VIXI continuou, a voz rápida, animada, despejando segredos como veneno:
— Bem, nossa missão aqui não era encontrar você, era só matar gente chata, mas… eu sei que Ela quer te ver. Ela comentou isso comigo na cama. Sua mamãe, Ken. Sua verdadeira mãe. Vena Nosfea.
— Ela sorriu. — Uma criminosa. Uma assassina linda. Ela matou as três famílias principais do Clã da Escuridão numa única noite… foi tão romântico.
Ela lambeu os lábios, os olhos fixos na minha boca.
— E ela roubou duas armas de Silvit. Uma delas… está com você, não está? Essa adaguinha que você enfiou em mim…
Ela olhou para a adaga ainda cravada no ombro dela, ignorando a dor. Depois voltou para mim.
E então, ela lambeu meu pescoço.
Uma língua áspera, quente e longa.
Subiu devagar. Lento demais.
Mordeu o lóbulo da minha orelha, forte o suficiente para tirar sangue, e sussurrou:
— Danadinho… Mas ainda não estou pronta para te devorar. Tenho que pedir permissão para a sua mamãe… Se eu te estragar, ela me mata.
Ela riu, colocando a mão ensanguentada na própria barriga, sonhadora.
— Mesmo que eu queira ter filhos com a Vena… infelizmente, ela é mulher e a biologia é chata. E o outro filho dela… é insuportável. Mas você… — Ela acariciou minha bochecha com a garra. — Você é bonito. Tão doce. Tão… violável.
Eu não consegui aguentar mais. O nojo e o terror se misturaram.
— Chega… — engasguei.
Era muita coisa. Muita loucura.
Mas então… ela soltou a frase final. A que destruiu o pouco que restava da minha sanidade.
— Ah! Mas… você não quer saber sobre a Katarina? Sua mãezinha adotiva? Aquela de cabelo laranja?
Tudo ao redor silenciou.
O som da batalha sumiu.
O mundo parou.
Meu coração congelou no peito.
VIXI sorriu. Um sorriso largo, cheio de dentes e crueldade.
— A sua mãe foi “convidada”… pela Vena. Ela a levou. Para garantir que você vá até nós. Um seguro de vida, sabe?
— Ela fez uma pausa dramática, inclinando a cabeça. — E… considerando como a Vena está impaciente ultimamente… e como ela gosta de brincar com facas…
VIXI aproximou os lábios do meu ouvido.
— Acho que a Katarina não deve ter… pelo menos quatro dedos da mão nesse exato momento. Talvez ela nem consiga mais cozinhar para você.
CRACK.
Um estalo.
Não foi fora. Foi dentro.
Como se alguém tivesse esmagado meu crânio por dentro. Como se uma represa de vidro tivesse estourado sob a pressão de um oceano negro.
O Olho Rosa pulsou. Doeu. Ardeu como fogo químico.
E então…
Eu ouvi.
Não era VIXI. Não era Acara.
Era uma voz feminina. Antiga. Imponente. Cruel e sedutora.
Vinha de dentro do meu próprio sangue.
> “Deixe o prazer de matar te consumir…”
> “Sinta. Não negue. A dor dela é o seu combustível.”
> “Sinta o Prazer de Matar.”
A voz atravessou minha mente. Rasgou minha moral, minha lógica, meu medo.
Tudo ficou vermelho.
E naquele instante…
O garoto assustado morreu.
Algo dentro de mim… acordou.

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