Capítulo 38: Ken Orquídea
Meu corpo congelou.
Eu não conseguia responder. Não conseguia reagir.
A insanidade dela era uma maré negra que engolia tudo, afogando meus instintos.
— Mas… — VIXI estalou o pescoço recém-formado, um som úmido de cartilagem. — Perder a cabeça não tem tanta graça quanto dizem. Nem doeu tanto quanto eu esperava. Mas foi uma experiência… deliciosa.
O sorriso dela sumiu abruptamente. O rosto ficou sério, quase triste.
— Infelizmente, já perdi tempo demais aqui. O Preguiça vai reclamar. Meu amor… eu tenho que partir. Mas antes…
Tudo escureceu.
Não houve som de movimento. Apenas o deslocamento de ar.
Num piscar de olhos, VIXI surgiu à minha frente.
Colada ao meu corpo.
SHLUCK.
Um som molhado e repugnante.
A Espada-Língua, feita de carne e músculo enrijecido, perfurou meu abdômen. Entrou logo abaixo do umbigo e varou as costas.
Meu corpo travou.
Minha respiração engatou na garganta.
A aura rosa ao meu redor, alimentada pela fúria, evaporou como fumaça num vendaval. A dor não veio de imediato; veio o frio. Um frio absoluto que se espalhou do buraco na barriga para as pontas dos dedos.
Meus joelhos cederam.
Caí.
O chão de concreto gelado me recebeu. E então, a dor explodiu. Era como se fogo líquido estivesse correndo pelas minhas veias no lugar do sangue.
VIXI não se afastou. Ela se abaixou comigo, sentando-se confortavelmente sobre o meu quadril, ignorando o cabo da espada de carne que ainda estava enterrado em mim.
Ela se inclinou, os cabelos lavanda roçando meu rosto suado.
— Não se preocupe… — sussurrou ela no meu ouvido, a língua (a nova, que já crescia na boca) lambendo o lóbulo da minha orelha. — Não acertei nada vital… ainda. Só o suficiente para você não me seguir.
A voz dela era melosa. Intensa. Doentia.
— Se quiser ver sua mamãe, a Katarina, com vida… e com os dedos no lugar… venha até nós.
— Camada -70. O Fundo do Abismo.
Minha mente girou. -70? Ninguém vai tão fundo…
— Pra facilitar… — continuou ela. — Vai ter alguém te esperando na Camada -31. Um amigo. Ele vai te dar um atalho. Procure pelo “Jardineiro”.
Ela passou o dedo indicador, manchado de sangue, pelos meus lábios pálidos.
— Não importa quanto tempo demore. Um ano. Dois. Cinco. Se fortaleça, Ken… Porque, com essa força ridícula de agora, você só vai morrer rápido demais. E eu quero que nossa brincadeira dure a noite toda.
Ela começou a se levantar, mas parou. Olhou para o meu olho direito exposto.
— Eu devia te levar comigo agora, já que possui um dos Olhos do Pecado… O Mestre ficaria feliz.
— Mas… como você é meu novo brinquedo favorito… — Ela mordeu o lábio inferior até sangrar. — Vou deixar passar. Por enquanto.
Foi quando o ar estremeceu.
Sem som. Sem grito de guerra.
Apenas um estalo de energia térmica.
VWOOM.
Uma lâmina coberta de fogo azul atravessou a cabeça dela com precisão cirúrgica.
O calor cauterizou a carne instantaneamente.
A cabeça de VIXI foi arrancada com violência cinética.
O corpo dela foi arremessado cinco metros para o lado, debatendo-se no ar como uma marionete que teve as cordas cortadas, antes de cair no chão.
Com esforço, levantei meu olhar turvo.
Vi a figura dele.
Ren Tianyū.
O professor estava de pé. O longo casaco preto chicoteava ao vento, e o símbolo da Águia na Montanha bordado nas costas parecia brilhar.
A lâmina que ele empunhava — uma espada reta, simples — estava envolta em chamas azuis que não queimavam, mas “apagavam” o que tocavam.
Ele não me olhava.
Os olhos vermelhos dele estavam fixos no monstro.
Era puro julgamento.
Mas a cabeça de VIXI… já estava voltando.
A regeneração dela era um insulto à vida. Em segundos, o crânio se refez, a pele se fechou.
Mas dessa vez… VIXI não estava rindo.
Ela estava furiosa.
A expressão mudou. O sorriso maníaco sumiu.
Veias saltaram na testa pálida.
— Maldito… — rosnou ela, os olhos azuis faiscando ódio. — Só porque é bonitinho e brilha, acha que pode me atrapalhar assim?! Eu estava num momento íntimo!
O ar vibrou com a fúria dela.
Ren deu um passo à frente. As chamas azuis cresceram, formando uma auréola ao redor dele.
A voz dele soou firme, carregada de um desprezo absoluto:
— Você tem chifres… e cheira a enxofre.
— E demônios precisam morrer. Não importa se falam ou se parecem gente.
VIXI riu, uma risada seca e debochada.
— Esses chifres? — Ela tocou a ponta de um deles. — São só decoração, querido. Souvenirs de um demônio Rank S que eu matei e comi. Ficaram lindos em mim, não acha? Agora fazem parte da minha alma.
Ren estreitou os olhos. Ele ia avançar para finalizar… mas não deu tempo.
Do meio das sombras, à esquerda de VIXI… ela surgiu.
Acara Achlys.
Não houve aviso.
Num piscar de olhos, VIXI foi atingida por um corte vertical monstruoso.
A Lâmina Soberana desceu pesada.
O lado esquerdo do corpo de VIXI foi dilacerado, quase separado do resto. O impacto a lançou longe, rolando na terra como lixo.
VIXI parou de rolar, já se regenerando, mas agora arfava de cansaço. Até a imortalidade dela tinha limites energéticos.
Acara parou ao meu lado.
Ela estava terrível.
O braço direito, que havia sido arrancado antes, agora estava lá — mas não era o braço dela. Era uma massa negra, feita de sombras sólidas e corrompidas, segurando a espada.
O olho ferido brilhava com uma aura escura e viva, substituindo a visão perdida.
— Desgraçada… — rosnou a Chefe do Clã, apontando a espada para VIXI. — Você fala demais.
O triângulo estava formado. Ren. Acara. VIXI.
Outra luta de titãs estava prestes a explodir.
Mas eu…
Eu estava preso no chão.
Minha consciência fragmentada tentava entender tudo. A dor na barriga era um universo à parte.
A aura do Olho Rosa tinha se apagado, deixando apenas um vazio frio e aterrorizante.
Foi então que VIXI riu.
Alto. Livre. Sem remorso.
E parou.
Do nada.
Como se um interruptor tivesse sido desligado.
Ele apareceu.
Somnum.
Ele não caminhou até ali. Ele surgiu entre Ren e Acara como se sempre estivesse ali, escondido nas dobras da preguiça do universo.
O terno estava levemente chamuscado, e havia um corte no braço, mas sua postura era de total indiferença.
— Já podemos… ir embora? — A voz dele era sonolenta, arrastada, sem nenhuma emoção. Irritante de tão calma no meio da guerra. — Estou ficando com sono.
Ren cerrou os punhos, as chamas azuis rugindo. Ele preparou o ataque.
— Você não vai a lugar nenhum.
Mas Somnum apenas o encarou.
Um brilho profundo, abissal, emergiu de seu olho azul cristalino.
— Como vocês conseguem ter tanto ânimo para lutar…? — disse ele num tom monótono, que cortava mais que gelo. — É realmente… exaustivo só de olhar.
Ele levantou a mão.
Com um movimento preguiçoso, como quem joga uma bolinha de papel no lixo, ele petelecou o ar na direção de Ren.
TACK.
Um estalo seco.
A perna direita de Ren… explodiu.
Um buraco perfeito, do tamanho de uma moeda, atravessou a coxa do professor. O osso quebrou.
O sangue jorrou.
Ren caiu de joelhos com um grunhido surpreso, o rosto torcido de dor, as chamas azuis vacilando.
— É uma pena… — murmurou Somnum, bocejando. — Sentir dor é tão chato, né? Tira a vontade de fazer coisas.
— Excitante. — corrigiu VIXI, arrastando-se até eles, o corpo finalmente inteiro de novo, mas coberto de sangue seco.
Somnum suspirou, segurando VIXI pelo ombro.
— Vamos, VIXI. Ainda temos muita coisa para fazer… Temos que entregar o lenço. Só de lembrar… me dá uma preguiça mortal.
Mas então…
O céu rugiu.
Não foi um trovão de tempestade. Foi um rugido de besta.
O teto de nuvens se abriu.
Uma luz branca cegante desceu.
Levi Gressi.
Ele descia dos céus como um meteoro, envolto na aura do Dragão Branco.
A pressão espiritual era tão grande que o chão ao nosso redor começou a rachar antes mesmo dele tocar o solo. Era o julgamento divino.
Somnum levantou o olhar devagar para a luz que vinha esmagá-los.
Pela primeira vez, ele levantou as duas sobrancelhas.
— Ora, ora… quanta energia. Que desperdício.
O impacto seria catastrófico. Nuclear.
Mas não houve impacto.
No último milésimo de segundo, antes que o punho de Levi tocasse o rosto de Somnum…
Eles desapareceram.
Simplesmente deixaram de existir.
Sem luz. Sem som. Sem fumaça ou portais negros.
Foi como se a realidade tivesse sido editada e eles tivessem sido apagados da cena.
BOOOOM!
Levi atingiu o chão vazio.
A cratera resultante engoliu metade da arena. A onda de choque nos jogou para trás.
Mas quando a poeira baixou…
Não havia inimigos.
Apenas o silêncio.
Aquele lugar, que há poucos segundos fervilhava em caos, sangue e loucura, agora só tinha ecos.
Finalmente, o fim havia chegado.
Eu olhei para o céu cinza, sentindo a vida esvair pelo buraco na minha barriga.
As palavras de VIXI ecoavam na minha mente.
Camada -70. Katarina.
Não era o fim.
Era o começo de algo novo. E terrível.
Para mim.
Para o Ken que morreu ali, sangrando no concreto… e para o monstro que renasceu naquele mesmo chão.
O silêncio que se seguiu à batalha não era de paz. Era o silêncio do trauma.
Os alunos feridos eram retirados dos escombros como bonecos quebrados. Os gritos de dor, antes agudos e frenéticos, foram substituídos por um zumbido baixo: gemidos contidos, choro abafado, o som de botas correndo sobre vidro e concreto moído.
A barreira laranja de Natan’Zar, aquela cúpula que nos prendeu no inferno, dissipou-se como fumaça ao vento, revelando o céu cinzento e indiferente. Guardas da Camada 4 invadiram os portões, suas armaduras reluzentes chegando tarde demais para salvar a inocência daquele lugar.
Eu estava lá. No centro da cratera.
Um espectador arruinado da tragédia que minhas próprias mãos ajudaram a esculpir.
A dor na minha barriga não era apenas física; era existencial. Latejava quente e úmida, uma batida constante que tentava me arrastar para a escuridão do desmaio. A aura negra de Acara havia estancado a hemorragia externa, mas por dentro… parecia que eu tinha engolido brasas vivas.
Virei o rosto lentamente. O pescoço estalou.
Meus olhos encontraram os deles.
Mina e Shin.
Eles estavam deitados no chão, a poucos metros. Sujos de poeira e fuligem.
Os corpos estavam imóveis, mas os olhos…
Estavam arregalados. Fixos em mim.
Não havia alívio neles. Não havia “que bom que você está vivo”.
Havia pavor. O pavor absoluto de quem viu um monstro vestir a pele de um amigo.
Eu quase matei eles.
A memória não estava borrada. Era nítida, em alta definição. A vontade de cortar a garganta de Mina. O prazer que senti ao imaginar o sangue de Shin.
A ideia se enroscou na minha mente como uma serpente venenosa e fria. Repulsiva, sim. Mas ao mesmo tempo… familiar. Parte de mim sabia que aquele impulso não fora algo externo. O Olho da Luxúria apenas abriu a porta; o monstro que saiu era meu.
A culpa afundou no meu peito como uma âncora de chumbo, pesada demais para carregar, impossível de ignorar.
— Vamos.
Acara não pediu licença.
Como se fosse capaz de ler a podridão na minha alma, ela me ergueu do chão com uma facilidade desumana. O toque dela era frio, impessoal. Não havia compaixão de enfermeira ali; apenas a eficiência de quem recolhe uma arma valiosa do campo de batalha.
Joguei minha cabeça sobre o ombro dela, o mundo girando. Ela caminhava carregando meu corpo como se eu fosse feito de papel. Os escombros não a impediam; ela flutuava sobre o caos com a graça de um predador alfa que já viu mil guerras.
Fomos parar em um corredor escuro, uma ala de serviço afastada do centro da destruição, onde as sombras se acumulavam.
Lá, encontrei o resto do “bando”.
Eriel e Noha.
Eriel, o garoto cego, estava sentado contra a parede.
Os dois braços dele… não estavam lá. Havia apenas tocos sangrentos na altura dos cotovelos. O sangue formava poças densas e escuras ao redor dele. Ele estava pálido, tremendo, oscilando entre o choque e a inconsciência.
Noha, o gigante, estava sentado no chão com dificuldade. A respiração dele era pesada, chiada, como um fole furado. O rosto estava inchado, marcado por hematomas roxos e cortes profundos que não paravam de sangrar.
Ainda assim… havia uma teimosia incansável neles. A recusa absoluta em morrer.
Acara me largou contra a parede oposta, sem cerimônia, como quem encosta uma vassoura velha.
Ela caminhou até Eriel. Abaixou-se.
No chão, ao lado dele, estavam os braços decepados. Pálidos e inertes.
A cena que se seguiu foi grotesca. Uma cirurgia feita no inferno.
Ela pegou os membros frios. Pressionou-os de volta contra os tocos sangrentos de Eriel com uma calma cirúrgica.
— Segure o grito. — ordenou ela.
Linhas escuras, finas como fios de cabelo feitos de sombra líquida, emergiram da pele de Acara e do corpo de Eriel. Elas se entrelaçaram, costurando carne, nervo e osso com a naturalidade de uma costureira remendando uma bainha rasgada.
SQUELCH.
O som era úmido, de carne sendo espremida. O cheiro de sangue fresco saturou o ar.
— Você não teve sorte, né, pequeno? — murmurou Acara, com um sorriso de escárnio, zombando da própria brutalidade.
Eriel ofegava, os lábios brancos, lágrimas de dor escorrendo por baixo da venda.
— Aquele homem… — gemeu ele. — O de terno… olho azul… Ele era forte demais.
A voz do garoto falhou.
— Eu não vi nada, senhora. Nada. Só… um piscar. Um momento ele estava lá, no outro, estava aqui. Como se tivesse editado o tempo. Foi… ridículo.
Ele olhou para os braços, agora reconectados, movendo os dedos lentamente.
— Obrigado…
Acara levantou uma sobrancelha, encarando a perna de Eriel. Havia um buraco nela. Não um corte. Um buraco de implosão.
— E a sua perna? — perguntou ela, num tom casual, como se falasse sobre o tempo.
Eriel soltou uma risada fraca, histérica.
— Quando ele descobriu que eu podia me costurar… ele estalou os dedos. E minha panturrilha… implodiu. De dentro pra fora. Como se a carne tivesse ficado com preguiça de existir. Foi uma sensação… estranhamente limpa.
Noha, que até então permanecera calado, ergueu a cabeça.
— Aquele desgraçado é imortal… — disse ele, a voz rouca de quem engoliu vidro. — Ou algo pior. Quando ele pisca… a realidade obedece. É só uma suposição… mas eu aposto meu outro olho nela.
Eu apenas os observava, encolhido na minha dor.
Cada palavra deles era um borrão na minha mente entorpecida. Minhas mãos tremiam, suadas e frias. O ambiente parecia se distorcer em tons de cinza.
Eu não pertencia mais à luz da academia. Eu pertencia àquela escuridão suja e sangrenta.
Acara se levantou.
Seus olhos roxos, vazios de emoção humana, analisaram cada um de nós. Peças quebradas. Brinquedos danificados.
Ela ficou assim por um tempo, imóvel, uma estátua de indiferença e poder.
E então, finalmente, ela se virou para mim.
O corredor sumiu. O som sumiu.
Só restaram os olhos dela.
— Ken Orquídea.
As palavras dela me atingiram como lâminas físicas.
— Agora que você sabe de tudo… — A voz dela baixou para um sussurro que ecoou nos ossos. — Que sabe quem é sua mãe. Que sabe o que você carrega. E, principalmente, que sabe o monstro que vive dentro de você…
Ela deu um passo à frente. O eco do salto dela no concreto foi o som de uma porta se fechando para sempre.
— Vou te dar uma escolha. A única que você terá.
Ela inclinou a cabeça, os olhos brilhando na penumbra.
— Você vem comigo… para as Camadas Superiores. Deixa tudo isso para trás. Vai treinar até seus ossos quebrarem e calcificarem mais fortes. Vai aprender a matar sem perder a cabeça. Vai se tornar uma arma digna do nome Nosfea.
— Ou… — Ela apontou para a saída do corredor, onde a luz do dia ainda brilhava fraca. — Você volta para lá. Tenta brincar de casinha com seus amigos assustados. Espera a Vena vir buscar o resto dos dedos da Katarina. E morre como um covarde.
Ela não terminou. Não precisou.
A imagem de Katarina mutilada. A imagem de Mina me olhando com pavor.
A imagem de mim mesmo, coberto de sangue, sorrindo.
— Eu irei.
Minha voz cortou o ar.
Era baixa, rouca, mas firme como aço temperado. Uma afirmação que saiu da minha boca antes mesmo de eu processar o pensamento.
— Eu preciso… ficar forte. Mais forte que a Vena. Mais forte que esse Olho maldito. Mais forte que tudo isso.
Por dentro, eu tremia. Eu era uma criança apavorada.
Mas algo já tinha sido decidido. Talvez no momento em que quase matei a Mina… ou talvez muito antes, quando nasci com esse olho vazio.
Acara me observou por um segundo longo demais. Ela procurou hesitação. Não encontrou.
E então… ela sorriu.
Não era um sorriso gentil. Não era maternal.
Era sutil, predatório. O sorriso de um lobo que vê o filhote dar a primeira mordida na carne viva.
— Então… — ela riu, um som suave, carregado de uma satisfação sombria. — A partir de agora, Ken Orquídea está morto.
O ar no corredor ficou pesado, denso como chumbo.
— O garoto da academia morreu nos escombros. Deixe-o lá.
— Um novo ser vai nascer nas sombras.
Silêncio.
Eu não disse nada.
Não precisava.
Eu olhei para as minhas mãos. Ainda havia sangue seco de VIXI nelas. E sangue imaginário dos meus amigos.
Ela sabia.
E eu… também sabia.
Algo havia se quebrado de forma irreversível.
A vida normal, os lanches na cantina, as risadas com o Shin, a timidez da Mina… tudo aquilo tinha sido incinerado junto com os demônios no pátio.
A dor. A culpa. O medo.
Tudo seria enterrado fundo.
Porque a partir daquele dia — naquele instante exato, naquele corredor escuro — não havia mais volta para a luz.
Levantei-me, ignorando a dor na barriga.
E dei o primeiro passo em direção à escuridão.

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