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    — Hah!

    Martin, o filho mais velho do Barão Russell, riu. Cesar Lester olhou para o lado com uma expressão perplexa, enquanto Kevin Lester balançava a cabeça. É claro, eles queriam isso, afinal vieram com essa intenção. Mas não esperavam tal reação de Airen. Quem imaginaria que o — Nobre Preguiçoso — diria algo assim?

    — Parece bem confiante… bom. Vamos ver.

    Kevin Lester, o mais chocado entre eles, deu um passo à frente. O responsável pelo salão de treinamento olhava para eles nervosamente enquanto Kevin estalava as articulações, mas não havia nada que ele pudesse fazer. Não podia se intrometer nos assuntos dos nobres.

    Kevin Lester escolheu uma espada de madeira para usar e caminhou em direção a Airen Farreira. Ele balançou sua espada no ar com bastante habilidade, pois já treinava esgrima há seis anos.

    — Phew.

    Kevin abaixou a espada ameaçadoramente de novo e lançou um olhar penetrante. Ele não achava que perderia, afinal, mesmo que o garoto tivesse treinado na famosa academia de esgrima, havia apenas um ano de treinamento. Era pouco tempo para aprender algo valioso. Quanto a Kevin, ele treinava há muito tempo. Tinha um bom professor e já participou da expedição de caça três vezes. Ele até mesmo já havia matado um monstro.

    “Vou ensinar uma lição a ele.”

    Ele não pretendia terminar rapidamente. Queria prolongar, provocando e zombando dele. Depois, diria a Airen que talvez tivesse ficado confiante com seu tempo na Academia de Esgrima Krono, mas que tudo era inútil, e ele ainda era o mesmo Nobre Preguiçoso. E com esses pensamentos, Kevin estava prestes a balançar sua espada.

    — Hã?

    Mas acabou de imediato. A espada de Airen Farreira estava no pescoço de seu oponente, e Kevin Lester… não viu isso acontecer. Não pôde fazer nada. Parecia estar alucinando. O Nobre Preguiçoso olhou para ele em silêncio, abaixou sua espada e, em seguida, lançou um olhar para trás.

    — Próximo — disse Airen.

    — E-espera! Faça de novo! Isso não conta! — Kevin protestou.

    — Por quê?

    — Você não disse que íamos começar! Covarde, como se atreve a atacar…

    — Não trocamos olhares?

    — E acenamos com a cabeça? Isso não é um sinal?

    Kevin Lester rangeu os dentes enquanto Airen o interrompia. Kevin tinha muito a dizer, mas não conseguiu articular nada, pois sua raiva o impedia de pensar, e ele não esperava que o covarde fosse retrucar daquele jeito.

    O problema era a velocidade do ataque de Airen. Kevin queria negar, mas sabia que não teria bloqueado o ataque mesmo que estivesse pronto. Então olhou para seu oponente com frustração, irritação e choque, mas não conseguiu fazer mais nada. Foi então que uma voz grossa surgiu por trás de Kevin Lester.

    — Eu cuido disso, Kevin — disse Martin Russell.

    — O quê? Tá tranquilo! Esse idiota arrogante só…

    — Sei que você não estava pronto. Mas deixe que eu cuide disso. Esse imbecil. Preciso lidar com isso com minhas próprias mãos.

    Kevin Lester ficou em silêncio diante da voz baixa de Martin Russell e se afastou. Depois, falou com Cesar Lester ao lado.

    — Aquele covarde, eu não estava preparado… você sabe disso, certo?

    — Claro que sei. Olha só ele se gabando por ter vencido com um ataque covarde.

    Cesar Lester acalmou o irmão com um sorriso forçado. Não tinha escolha, pois estava tão chocado quanto Kevin. O ataque de Airen era um movimento impossível para alguém com apenas um ano de treinamento. Cesar estava confuso com vários pensamentos.

    “Tenho certeza de que o Martin não vai perder, mas…”

    Martin Russell agora estava no lugar de Kevin. Ele tinha um corpo grande e robusto, difícil de acreditar que também tinha apenas dezesseis anos. Estava em um nível diferente dos outros. Todos eles aprenderam esgrima de maneira similar, mas Martin tinha talento e físico que os outros não tinham.

    “Esmague-o! Só o esmague!” pensou Cesar.

    Cesar Lester, ainda parecendo chocado, olhava para o Nobre Preguiçoso com fúria. Era óbvio. Ele não considerava o Nobre Preguiçoso nem como uma pessoa, muito menos como um nobre, então vê-lo ali de pé, com tanta arrogância, o deixava furioso. Não podia mais conter essa raiva.

    Foi então que Martin Russell escolheu sua espada, ficou diante de Airen e falou.

    — Devemos começar?

    — Sim.

    Desta vez, eles concordaram verbalmente em começar. Imediatamente, a espada de Martin Russell atacou a cabeça do oponente. O som de espadas de madeira se chocando encheu o salão. Não parava. Era tão rápido que era difícil acreditar que eram apenas adolescentes.

    Mas foi só isso. A espada de Martin Russell nunca acertou o corpo de Airen, e todos os seus movimentos foram desviados.

    — Argh…

    O tempo passou, e o rosto de Martin se distorceu. Ele não conseguia evitar. Estava dando o seu melhor, golpeando tão rápido e pesado como sempre, mas não conseguia romper a defesa de Airen. O Nobre Preguiçoso não parecia sobrecarregado, nem suava. Esse fato frustrava Martin.

    “Isso não pode ser!”

    Ele não queria aceitar. Martin Russell era um espadachim melhor do que a maioria de sua idade. Orgulhava-se disso e ria quando ouvia que o Nobre Preguiçoso estava treinando esgrima. Mas agora, frente a frente com ele, não conseguia mais rir de quem costumava zombar.

    — Ugh…!

    A expressão de Martin Russell mudou de um sorriso falso para uma expressão vazia e, em seguida, para o nervosismo. Mas o Nobre Preguiçoso não mudou. Como no início, ele mantinha um olhar sério enquanto se defendia da espada.

    A negação de Martin diante da situação se desfez em frustração. Seus olhos agora mostravam medo.

    “Por favor, alguém acabe com isso. Não aguento mais. Não consigo continuar!”

    Os irmãos Lester também ficaram sérios ao ver a frustração não dita de Martin.

    — Já chega. Está feito.

    Então ouviram uma voz. Não era de um dos lordes, mas a voz parecia mais velha do que eles. Airen Farreira deu um leve salto para trás e olhou para ver quem falava, e Martin Russell tentou fazer um ataque, mas foi inútil.

    O homem sorriu levemente quando seus olhos encontraram os de Airen.

    — Você ficou muito habilidoso, Airen. Que tal fazermos um duelo também?

    — Mas com uma espada de verdade.

    Era o filho mais velho do Visconde Gairon, Ryan Gairon.


    Isso não é bom.

    O responsável pelo salão de treinamento olhava para Ryan Gairon com uma expressão preocupada. O filho mais velho dos Gairon parecia preparado, pois até trouxe uma verdadeira espada longa para Airen.

    “Tenho certeza de que nada de ruim vai acontecer, mas ainda assim…”

    O encarregado precisava se preocupar. Mas, como antes, não havia nada que ele pudesse fazer para impedir esses nobres.

    — É uma sorte que um de meus cavaleiros use uma espada longa. Sir Jack Stewart, poderia emprestar sua espada ao Airen? — disse Ryan.

    — Claro, meu senhor — respondeu Sir Jack Stewart, que estava atrás de Ryan.

    — Pois bem, é o que ele diz. Sinta-se à vontade para usá-la.

    — Mas não precisamos usar uma espada real. Se você está desconfortável por causa do peso, que é diferente do que está acostumado… ou se ainda não está preparado para usar uma espada de verdade.

    Ryan soava condescendente em suas palavras, mas Airen respondeu prontamente com um — Sim. — Ryan Gairon curvou os lábios.

    — Muito bem, então. Vamos lá — respondeu Ryan secamente.

    A atmosfera ficou tensa, mas Airen não se importou. Já esperava que isso acontecesse desde o momento em que o filho mais velho dos Gairon apareceu. O garoto respirou fundo e pensou em seu passado.

    Ele não conhecia muito sobre Ryan Gairon. Ryan estava frequentando a Academia de Cavaleiros há sete anos para treinar esgrima e só retornou há cerca de dois meses atrás. Airen só o vira uma vez antes, quando Ryan voltou para casa nas férias e visitou a Propriedade Farreira com seu pai.

    “Mas os olhos…” O Nobre Preguiçoso não podia esquecer seus olhos. O olhar de desdém. Ryan não tinha apenas um pouco de ódio, mas um olhar de desprezo intensamente concentrado.

    Aquele olhar era tão repulsivo, quase tão ruim quanto o de seu pai, e isso bastava para virar de cabeça para baixo a boa reputação que Airen tinha dele. E agora ele o encarava com uma expressão ainda pior do que nunca.

    — Pode ir primeiro. Comecei a treinar esgrima bem antes de você, então vou deixar justo.

    — Não quer? Não precisa se não quiser. Se não…

    — Está bem. Aceito sua oferta.

    Os lábios de Ryan se curvaram novamente enquanto Airen o interrompia. Mas ele não perdeu a calma e sorriu.

    — Ótimo. Vamos lá então — disse Ryan, posicionando-se.

    Mas ele não estava sério em sua postura. Ainda segurava a espada apoiada no ombro, aparentemente porque menosprezava o oponente. Ninguém ali apontou isso, no entanto. Ele era conhecido como o gênio do reino. Até os servos da Propriedade Farreira estavam certos de sua vitória.

    Mas o garoto em frente a Ryan parecia comum. Não, parecia até pior que isso. Airen parecia um covarde, nada como alguém que havia acabado de derrotar Kevin Lester e encurralar Martin Russell. E, além disso, havia mais um detalhe.

    Airen fechou os olhos enquanto encarava o oponente, o que parecia terrível, como se ele nunca tivesse aprendido esgrima e estivesse extremamente vulnerável a ataques. Os irmãos Lester e Martin Russell estavam chocados, e Ryan Gairon também.

    — Haha.

    Não, ele estava perplexo. Seu olhar refletia o mesmo desprezo. Até os lábios de Ryan não conseguiam esconder a zombaria.

    Airen parecia estar desistindo, sem nenhuma chance de vencer. Mas, ainda assim, como podia estar tão despreparado, mesmo considerando que Ryan permitira que ele atacasse primeiro?

    Era absurdo, mas Ryan entendia. Esse garoto era assim desde o começo. Um lixo, um covarde, não importava a palavra que o descrevesse; todas se encaixavam, assim como o título de Nobre Preguiçoso lhe caía tão bem.

    Ryan então trouxe a espada à frente e caminhou em direção a Airen Farreira. Ele não ia atacar, apenas intimidá-lo. Caso contrário, o covarde parecia que ficaria daquele jeito para sempre. O sorriso de Ryan se alargou, e seu olhar se tornou ainda mais profundo.

    Foi então que os olhos do garoto se abriram, e sua espada se moveu. Ryan saltou para trás, colocando uma distância entre ele e Airen. Foi apenas um passo, mas ele se afastou bastante. E, nesse estado, levou a mão ao pescoço. Seus olhos mostravam medo.

    O que foi aquilo agora?

    Ele não conseguia entender. Sabia que algo ameaçador o havia feito saltar para trás… Mas não tinha certeza. Nada havia mudado.

    Não, havia algo que mudara. Ele franziu o cenho e olhou para frente. A espada de Airen Farreira havia sido abaixada.

    “Ele… não, isso não pode ser.”

    Sim. Foi uma coincidência, mas o poder que ele sentiu não podia ter vindo da esgrima de Airen. Ele estava longe demais. Além disso, Ryan não acreditava que tal garoto pudesse fazer algo assim.

    Então Ryan pensou em outra coisa. Em vez de continuar com aquela sensação estranha, olhou para a expressão hostil do Nobre Preguiçoso.

    “Seu idiota…”

    Ryan riu. O garoto balançou sua espada antes de Ryan se aproximar e provavelmente pensou que Ryan havia recuado por causa dele.

    “Isso é irritante.”

    Ele não conseguiu se conter, nem tinha motivo para isso. Em um acesso de fúria, deu alguns passos à frente e tentou balançar sua espada para se aliviar.

    Mas sua espada caiu. Ele não a derrubara; estava quebrada. Para ser mais preciso, a lâmina foi cortada de forma limpa, como se esculpida em gelo.

    Ryan Gairon parou. Os irmãos Lester e Martin Russell cessaram suas risadas. Jack Stewart, Aaron Gairon e todos os outros no salão de treinamento pararam o que estavam fazendo e olharam, chocados.

    Apenas o Nobre Preguiçoso permanecia no centro, em frente a Ryan Gairon, sem demonstrar emoção.

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