Capítulo 1163: Juri

Caminhando por um mundo arenoso, uma mulher encapuzada parou abruptamente. Atrás dela, um enorme dragão carregava um grupo de pessoas em suas costas.

“Algo errado, Lyrica?” perguntou Vuldrin enquanto todos desciam de suas costas. Transformando-se em sua forma humana, ele puxou seu próprio manto e o vestiu.

“Não muito. Apenas senti uma onda de mana a oeste. Você mencionou que o Além é uma sobreposição do mundo real, certo? Só que este é mais próximo da mana.” Lyrica sorriu enquanto Vuldrin assentia.

“Sim, há algo errado com isso?” Vuldrin perguntou enquanto Lyrica balançava a cabeça.

“Não, nada está errado, mas algo interessante aconteceu. Você pode nos teleportar para o oeste? Vou te passar as coordenadas agora.” Lyrica sorriu enquanto Vuldrin, confuso, assentia.

Recebendo as coordenadas de Lyrica, um círculo mágico Tier 7 expandiu-se sob os pés de Vuldrin, e todos foram transportados pelo feitiço.

Chegando às coordenadas, Vuldrin sentiu sua mente ser dominada por uma mistura de medo e admiração. Rapidamente saltando para trás, ele transformou-se em sua forma de dragão e encarou a cena à sua frente.

Pela primeira vez em sua vida, ele se transformou por medo. Antes, ele não conseguia sentir o poder, mas agora que estava tão próximo, podia perceber tudo.

“A aura de um ser Tier 9! Minha mãe já me falou sobre esses seres antes. Achei que eles tivessem desaparecido há muito tempo.” Vuldrin rosnou enquanto as escamas em seu corpo tremiam diante da aura que ele estava sentindo.

“O que é um ser Tier 9?” perguntou Asher, curioso.

“Seres Tier 7 são Semideuses, entidades que acessaram o poder do divino. Seres Tier 8 são deuses; eles se fortalecem com a crença de seus seguidores e dominam o uso da energia divina. Claro, existem diferentes estágios de poder dentro disso. Minha mãe era um ser divino rank 2, o que significa que ela está no mesmo nível de deuses populares que você conhece, como Zeus ou Odin. Embora ela não soubesse até onde os níveis divinos podem ir, ela me contou sobre uma classe totalmente nova de seres. Os seres Tier 9, também conhecidos como os Primeiros Nascidos.

“Semideuses, Deuses e afins podem ser criados pela crença, mas isso não é o caso dos Primeiros Nascidos. Eles são a segunda coisa mais próxima do início de tudo. São o que alguns chamariam de deuses dos deuses. Não sei quantos Primeiros Nascidos existem, mas, se encontrar um hostil, você morreria antes mesmo de piscar”, Vuldrin explicou enquanto Lyrica se aproximava do centro.

À sua frente, o mundo parecia ter sido rasgado. Havia nove fendas no espaço, cada uma revelando um novo reino para Lyrica.

No entanto, enquanto outros poderiam vê-los apenas como rasgos no espaço, Lyrica podia sentir algo mais. Depois de estar no Além, seus sentidos já estavam no limite. Das fendas, ela podia perceber algo mais profundo. Algo primitivo.

Caminhando em direção às fendas, uma aura verde explodiu de seu corpo e se transformou em uma barreira protetora.

BANG! BOOM!

Energias invisíveis avançaram contra ela, enquanto a barreira protetora oscilava e, eventualmente, enfraquecia. No entanto, Lyrica não se importava. Algo a chamava de dentro da ondulação de energia e, se isso permitisse que ela se tornasse a espada de Shiro e agisse como sua vanguarda, Lyrica avançaria.

Segurando sua espada, ela fechou os olhos e pisou firme.

BOOM!

Uma aura afiada explodiu de seu corpo enquanto seu próprio Mundo do Trono se espalhava, ancorando-se no reino do Além e contestando as ondulações de energia.

Milhares de espadas surgiram em uma formação ao seu redor e avançaram enquanto ela mergulhava a mão em seu peito e puxava uma esfera azul-clara. Ao quebrá-la, todas as suas espadas se iluminaram com energia verde e azul, e sua forma também mudou.

Abaixando-se, ela disparou à frente, cortando as ondulações invisíveis de energia que buscavam tirar sua vida.

Franzindo o cenho, Lyrica percebeu que suas espadas se desintegravam ao entrar em contato com as ondas.

Percebendo isso, ela guardou sua espada atual e a substituiu por uma de seu Mundo do Trono.

Ao passar pela primeira fenda no espaço, Lyrica foi atingida por uma onda de energia que quebrou a barreira protetora ao seu redor.

Avançando pela segunda, ela sentiu seu corpo se desfazendo, mas, estranhamente, não havia nenhum aviso de perigo em seu coração. Na verdade, seu corpo quase aceitava aquilo.

‘Vida após a morte, criação após destruição. A energia neste arranjo me lembra Shiro, mas está impregnada de uma força caótica que desintegra tudo o que toca. No entanto, há um raio de luz após essa destruição. Nascimento, vida, morte, renascimento’, Lyrica refletiu enquanto avançava pela terceira fenda no espaço.

A energia que emanava da fenda imediatamente desintegrou seu corpo em pedaços, chocando todos os presentes. No entanto, da destruição, um raio de luz verde e azul atravessou a névoa de sangue e coagularam na forma de uma espada. Moldando sua própria forma, podiam ver vagamente a figura de uma elfa batendo a mão no chão.

Uma energia verde explodiu ao redor dela e criou uma barreira em seu entorno.

Com a barreira protegendo seu corpo, Lyrica avançou em direção à quarta fenda.

A quarta destruiu a barreira, a quinta fraturou a lâmina ilusória, a sexta a quebrou em pedaços antes de ser forjada novamente. A sétima concedeu à lâmina um brilho letal que cortava tudo o que tocava. A oitava despedaçou a lâmina mais uma vez. Agora, reduzida a um leve vestígio de energia, Lyrica aproximou-se da nona fenda.

Durante todo o processo, ela finalmente entendeu por que não sentia medo. Embora destruísse seu corpo, o processo temperava sua alma com as forças primordiais da destruição, e dessa destruição sua alma emergia mais forte. Vida após a morte, criação após a destruição.

De pé diante da última fenda no espaço, Lyrica pôde ver vislumbres cintilantes de Shiro lançando o feitiço no mundo. Com um sorriso nos lábios, Lyrica estendeu a mão e tocou a visão.

“Logo estarei aí”, murmurou Lyrica, antes de atravessar a fenda.

Diferentemente das fendas anteriores, essa não destruiu seu corpo. Em vez disso, despedaçou-se e começou a infundir a alma de Lyrica com poder.

Pouco a pouco, a luz começou a se desprender do corpo de Lyrica, revelando sua nova forma. Movendo um dedo, Lyrica se vestiu e olhou para o reflexo de sua aparência na fenda espacial.

Ela parecia um pouco mais velha, com cabelos verdes e azuis que brilhavam a cada movimento. Seus olhos haviam mudado, com as íris agora lembrando a roda do samsara.

“O Além não é apenas um reino mais próximo da mana. É um reino que conecta tudo. É a encruzilhada de todos os reinos do mundo e também a luz guia que me permite encontrar o inferno e o paraíso”, murmurou Lyrica, compreendendo a energia daquele lugar.

Estendendo a mão, ela cortou o ar.

BOOM!!!!!!!!!!!

Imediatamente, o mundo à sua frente se dividiu em dois, e as duas metades lentamente se transformaram em portais. O portal à direita emanava energia divina, enquanto o da esquerda irradiava energia demoníaca.

Franzindo os olhos, Lyrica pensou em entrar no portal à direita, mas interrompeu seus passos.

Teleportando-se de volta ao seu grupo, ela fez um gesto circular com o dedo, e uma barreira surgiu ao redor de todos. No momento em que a barreira apareceu, um portal gigante surgiu no céu, e dez guardas reais do Além emergiram, suas auras avassaladoras sendo sentidas até por Vuldrin.

Se não fosse pela barreira de Lyrica, eles poderiam ter sido mortos por serem fracos demais.

No centro dos guardas reais, uma única figura estava de pé.

Ela tinha cabelos vermelhos escuros e pupilas douradas. Padrões rúnicos cobriam seus braços, e ela vestia um vestido branco e dourado sem mangas.

“Me pergunto o que trouxe a governante do reino a um lugar como este. Espero não ter causado problemas.” Lyrica sorriu ao notar o nome da pessoa à sua frente.

Olhando para Lyrica, Juri estreitou os olhos antes de desviar o olhar para as fendas no espaço que ela havia criado.

“Posso aceitar você andando pelo meu reino. No entanto, se abrir tais portais sem cuidado, terei que bani-la”, Juri advertiu, enquanto Lyrica deu de ombros e sorriu.

“Nenhum dano, nenhum problema.”

Sem dizer mais nada, Juri assentiu antes de erguer a palma em direção às fendas no espaço.

Cerrando o punho, a mana do reino se agitou e imediatamente reparou os danos. Lançando um último olhar para Lyrica, ela se virou e partiu com seus guardas.

Desfazendo a barreira, Lyrica alongou o corpo. Havia um sorriso em seu rosto, pois aquele era um grande passo em direção ao seu objetivo. Tudo o que restava era consolidar seu poder e tocar o reino da divindade.