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    Sede da Guilda Imortal.

    — Você chegou, Seong-yun Do. — Jaemin, que rondava pela área comum, encontrou Seong-yun parado no lugar como uma estátua. — E ela?

    — Lá dentro. — Seong-yun indicou com o queixo a porta à sua frente. A porta de madeira, coberta de padrões de goblins coreanos, era tão grande e espessa que um homem adulto não conseguiria abri-la com uma só mão. Jaemin passou por Seong-yun e colocou a mão sobre ela.

    — Mestre, sou eu, Jaemin Heo…

    — O que está fazendo? — Seong-yun o deteve rapidamente.

    — O Mestre está tendo uma conversa importante com ela. Não os interrompa.

    Interromper? Jaemin se virou com um olhar indiferente.

    — Ainda não entregamos isto para ele.

    Ele levantou o tecido que carregava.

    O fio de Theraphosa. O tecido nas mãos de Jaemin era um objeto tecido com um fio precioso, conhecido popularmente como fio oculto. O pano preto simples parecia comum à primeira vista, mas, ao olhar de perto, emitia um leve brilho próprio. O objeto, que se dizia ser fabricado apenas por alfaiates de primeira linha com habilidades especiais, podia limitar temporariamente a habilidade única de quem o vestisse. Por isso o fio oculto era usado para fazer uniformes de prisão para Despertos criminosos ou capas usadas em cúpulas internacionais, por questões de segurança e confiança.

    — O Mestre está lá dentro sozinho com ela, certo? Precisamos colocar isto nela, por precaução.

    “O que era exatamente o motivo pelo qual nunca forçavam um convidado formal a usá-lo.” Pelo menos, no senso comum de Seong-yun.

    Seong-yun falou de forma incisiva: — Ela veio com um convite formal. Não acha grosseiro entregar a ela um item de fio oculto?

    — Ela se envolveu com a Lobo, mesmo que por pouco tempo. É natural se preparar para emergências.

    — Jaemin Heo, já lhe disse várias vezes. Ela ajudou muito a nós, Imortais. E também será de grande ajuda neste plano, motivo pelo qual o Mestre se esforçou tanto para encontrá-la. Pense.

    Jaemin franziu o cenho, incomodado com as palavras de Seong-yun. Eram amigos de infância, mas realmente não falavam a mesma língua nessas horas.

    — Você é que deveria pensar. Este é o coração da Imortal. E se ela decidir se descontrolar? E se lutar com o Mestre de novo? Este prédio vai virar pó — acrescentou Jaemin, recordando a luta no Mercado Jagalchi.

    Embora tivessem duelado apenas com os punhos, sem armas, o que aconteceu depois? A Imortal teve de pagar centenas de milhares de dólares em reparos, e o Mercado Jagalchi ficou fechado por um mês.

    Jaemin admitia: a Princesa da Chama Negra não era uma simples caçadora de conceito de Rank F. E por isso não podia deixá-la sozinha com o Mestre bem no meio da sede.

    — Se ela não pretende usar as habilidades contra o Mestre, não vai se importar de colocar um pedaço de pano como este sobre si. — Jaemin empurrou o ombro de Seong-yun com força. — Saia da frente.

    — Não, não vou. — Mas Seong-yun não cedeu. Parecia determinado a não se mover nem um centímetro. Faíscas intensas voaram entre eles.

    — Está querendo me provocar? — No momento em que os olhos de Jaemin brilharam, lâminas vermelhas surgiram sobre seus ombros. As pontas geladas apontavam para Seong-yun.

    — Parece que é você quem quer transformar este prédio em cinzas.

    Apesar do tom calmo, Seong-yun agarrou o ar com força. O espaço em suas mãos vibrou, e logo faixas brancas de luz se tornaram flechas brancas.

    — S-Senhores! Não podem fazer isso aqui!

    — O que estão fazendo?! Parem os dois!

    Membros da guilda correram apressados e os separaram. Mas nenhum dos dois abaixou a arma primeiro. No entanto, ao contrário da atmosfera tensa do lado de fora, dentro da área comum…

    — Hahaha…! — A risada retumbante de Yuhwan ecoou.

    — Certo, já que aceitou meu convite, posso presumir que está interessada em participar?

    Eunha não confirmou nem negou a pergunta. Yuhwan interpretou o silêncio como uma resposta positiva e, satisfeito, serviu-lhe uma bebida.

    — Não recuse. Hoje é um dia para comemorar. Ah, e me avise se precisar de mais. Tudo ali atrás é bebida alcoólica.

    “…Tudo aquilo é álcool?” Eunha tomou um gole e olhou por cima dos ombros de Yuhwan. Mesmo sentado, ele tinha um corpo imenso como o Monte Taebaek, mas as pilhas de caixas atrás dele eram tão altas que o ultrapassavam. E mais: uma parede inteira estava preenchida com garrafas expostas.

    Impressionante.

    Uma admiração genuína brilhou de leve nos olhos indiferentes de Eunha.

    【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz — Hm-hm, Eunha? Seus olhos, seus olhos — e cutuca suas costelas.】

    Ah… só então Eunha piscou devagar. Por pouco não se deixara encantar.

    — Gosta daqui? — Yuhwan sorriu ao perceber a mudança na expressão dela. Eunha desviou o olhar da parede de garrafas e o fitou. — Pode vir quando quiser. Honestamente, estou mais feliz por ter encontrado uma boa parceira de bebida do que por você ter me procurado primeiro.

    Glu-glu…

    Yuhwan despejou o álcool no copo como uma cachoeira e o virou de uma vez. Era isso. Ele franziu o nariz satisfeito e, dessa vez, encheu o copo de Eunha.

    — Bem, não significa que deva se forçar a beber.

    O copo, feito para o tamanho de Yuhwan, tinha o dobro da capacidade de uma caneca de cerveja comum, e o peso e tamanho eram grandes demais para uma pessoa normal segurar com as duas mãos. Além disso, ele havia enchido até a borda, tornando-o tão pesado quanto um halter comum.

    — …Está ótimo. — Eunha abriu os lábios e esvaziou o copo de uma só vez.

    Tap!

    Ela pousou o copo vazio na mesa com firmeza, como que dizendo para Yuhwan ver, e ainda limpou levemente a boca com o dorso da mão.

    Oho? — As sobrancelhas de Yuhwan se ergueram em arco.

    Bzzz…

    Naquele instante, uma sensação aguda passou pela pele de Eunha. Não era que algo a tivesse tocado, mas sim uma hostilidade tão intensa que podia ser sentida no próprio corpo.

    — …

    Eunha lançou um olhar para a porta. A origem daquela hostilidade vinha de além da enorme porta entalhada com goblins.

    — Ah, deixa eles. — Yuhwan abanou a mão. Ele também devia ter sentido. Pegou uma nova garrafa de álcool de uma caixa e falou com indiferença: — É como briga de casal.

    — Tem um casal?

    Um casal de caçadores que trabalhava na mesma guilda? Quando Eunha perguntou, achando interessante, Yuhwan sorriu e respondeu:

    — Algo assim. Quer dizer que as brigas deles cortam a água como faca quente na manteiga.

    Mesmo enquanto conversavam, ainda se ouviam do lado de fora da porta: clang, clang, clang! Vruum, bang! Mas Yuhwan parecia desinteressado.

    — Normalmente você briga e fica mais próximo depois, ainda mais nessa idade.

    Pop!

    Ele abriu a garrafa com um estalo nítido e voltou a encher seu copo. Eunha desviou a atenção do barulho do lado de fora e se concentrou na nova bebida. O aroma era tão forte que quase dava vertigem e ardia no nariz. Não tinha certeza, mas parecia ser um licor bem potente.

    — Este é, hm, um licor que a Guilda Borboleta Tigre me enviou há alguns anos. Acho que guardei para hoje. Tome. — Ele riu alto e, de repente, estendeu a garrafa.

    — Obrigada. — Eunha estendeu o copo e respondeu de forma monótona. Yuhwan ergueu o canto dos lábios, divertido, enquanto servia.

    — Pensando bem, você fala comigo como se eu fosse seu amigo. — Não era uma crítica nem acusação de arrogância. Ela parecia ter pouco mais de vinte anos, e ele apenas achava curioso a franqueza com que falava com ele.

    Eunha esvaziou o copo e ergueu os olhos. — Porque você também fala assim.

    — Hmm. Quantos anos você tem?

    — Bom… mais ou menos o mesmo que você.

    “O quê…?” Yuhwan arregalou os olhos. Mas apenas por um momento, pois logo bateu no joelho e começou a rir com os ombros tremendo.

    …E cerca de uma hora depois.

    Incontáveis garrafas vazias já rolavam ao redor dos dois, sentados frente a frente. Era quase difícil acreditar que apenas eles tinham bebido tudo aquilo em uma hora.

    — …

    Tac.

    Yuhwan pousou o copo na mesa e ergueu o olhar lentamente. Parecia tão normal que era difícil acreditar que havia bebido tanto álcool.

    Era óbvio. Não era do tipo que ficava bêbado com aquela quantidade. Yuhwan tinha outro apelido, além de Grande Sábio, Igual ao Céu: o deus coreano do álcool. Em outras palavras, Dionísio Coreano. Tanto que corria o boato de que até Seong-yun, um grande beberrão, acabava engatinhando feito um lagarto quando bebia com ele. Yuhwan avaliou a expressão de Eunha à sua frente. Ela havia acompanhado seu ritmo muito bem até ali, o que já era digno de nota.

    “Agora devo começar.”

    Tinham bebido bastante, e ela poderia perder a consciência logo, então esse era o melhor momento para descobrir suas intenções. Yuhwan serviu mais um copo, fingindo indiferença, e começou:

    — Sabe, sempre tive curiosidade. Por que se chama de caçadora de conceito com essas habilidades? E o que foi essa avaliação de Rank F?

    Existe um motivo para o ditado ‘in vino veritas’. Nada melhor que o álcool para extrair informações e também para criar confiança e amizade. À pergunta de Yuhwan, Eunha tomou um gole e respondeu de forma distante:

    — Precisamos falar disso para seguir com o plano?

    Pausa.

    Yuhwan congelou com o copo a meio caminho da boca. Então ergueu os olhos e a encarou.

    “Ela está surpreendentemente normal.”

    Foi aí que percebeu que a cor do rosto dela estava igual à do início. Normalmente, quem bebia tanto já começaria a arrastar as palavras ou ficaria com o rosto completamente vermelho. Havia quem não demonstrasse no rosto, mas, vendo como ela respondia sem alterar a expressão, parecia não ser esse o caso.

    — …

    Yuhwan a observou em silêncio. Já sabia que ela era muito mais habilidosa que um simples Rank F e também sabia que era uma caçadora com atributos de Fogo e Trevas, essenciais para o plano. Ainda assim, havia perguntas sem resposta. Pretendia fazê-la falar pela força do álcool… mas isso não estava sendo tão fácil quanto parecia.

    — …Estou enjoado deste, então vou servir outro.

    Suas mãos, ao tirar outra bebida do armário, tinham um ar decidido. Quando viu a garrafa que ele trouxe, os olhos de Eunha se tornaram sutis. O design era incomum desde o início: pequenos diamantes incrustados no vidro, e o melhor do melhor em bebidas, custando cerca de trezentos mil dólares por garrafa. Para Yuhwan, que não economizava com álcool, era apenas uma bebida mais bonita e saborosa. E mais meia hora se passou assim.

    — Por que foi justamente a Lobo entre todas as guildas?

    Yuhwan virou o licor de trezentos mil dólares como se fosse soju barato e perguntou de novo.

    — Eu simplesmente os encontrei.

    — Como?

    — Literalmente. Eu os encontrei por acaso.

    “…Ainda não?” A sobrancelha de Yuhwan se contraiu.

    Seria só impressão dele que, quanto mais ela bebia, menos parecia bêbada e mais fria ficava?

    “Não tenho escolha.”

    Yuhwan tocou o ar com um dedo grosso. Abrir inventário. Um clarão brilhou na palma vazia, e uma esfera de luz surgiu. Logo, uma cabaça cor-de-pêssego apareceu onde a luz desapareceu.

    Sleep Walk1. O licor lendário que a Mãe Rainha do Oeste preparara com o orvalho das Montanhas Kunlun. Um objeto precioso que ele havia conseguido arrematar, quatro anos antes, por incríveis noventa mil moedas no leilão de caçadores.

    “Embora eu tivesse guardado para beber com ela um dia…”

    Ah, tanto faz. Yuhwan não hesitou em abrir. Com um estalo, o aroma doce de pêssego chegou ao seu nariz. Talvez ele já estivesse fora de si naquele momento.


    Click.

    A porta da área comum, que parecia que nunca iria se abrir, finalmente se abriu. Seong-yun estava de guarda por perto e correu até ela. Depois de uma batalha feroz com Jaemin, eles haviam decidido, no ‘pedra, papel e tesoura’, quem ficaria de guarda, e Seong-yun venceu, ficando no local. Mas havia algo estranho.

    Quem abriu a porta e saiu não foi Yuhwan, o Grande Sábio, Igual ao Céu, e sim uma mulher de vestido preto: a Princesa da Chama Negra.

    — Já vai embora?

    — Ah, sim.

    Seong-yun lançou um olhar para a mulher que respondeu de forma seca. O cheiro de álcool ardia em seu nariz mesmo à distância. Mas, estranhamente, a cor do rosto dela não havia mudado em nada desde o momento em que entrou. Como se não tivesse bebido uma única gota.

    “Não é possível.”

    Aquela sala não era uma área comum qualquer. Era o depósito de bebidas de Yuhwan. Desde a fundação da Guilda Imortal, ninguém além dele havia saído dali andando sobre duas pernas.

    — Voltarei em breve. Por favor, diga a ele que ouvirei o que não conseguimos terminar de conversar hoje, então.

    — Ah, claro, a qualquer hora…

    Eunha assentiu brevemente para Seong-yun, que piscou enquanto respondia, e passou por ele com o som seco dos saltos ecoando.

    — …Eh.

    Seong-yun ainda estava olhando para as costas dela quando voltou a si tarde demais e entrou na sala. E então…

    — M-Mestre?!

    Ele encontrou o Grande Sábio, Igual ao Céu (e ex-Dionísio Coreano), caído de braços e pernas abertos no chão.

    1. Sonâmbulo, Sonambulismo[]
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