Capítulo 103
— Oh, senhorita. Aqui!
Ao sair da Guilda Imortal, Eunha viu Jehwi acenando da entrada, onde a aguardava.
Ela havia passado o endereço a Jehwi com antecedência, como Seong-yun sugerira, mas, se soubesse que nada(?) iria acontecer, pensou que não teria chamado, enquanto entrava no banco do passageiro e colocava o cinto.
Jehwi estava prestes a pisar no acelerador quando, ao volante, franziu o nariz e se virou bruscamente. — Uau, você está cheirando a álcool. Quanto você bebeu?
— Não sei.
“Como é que é?” Jehwi piscou, confuso. Ela… não sabia? Isso queria dizer que tinha bebido tanto assim?
Era fato: todos sabiam que o Grande Sábio, Igual ao Céu, era um grande beberrão. Por isso, quando Eunha enviou o endereço da Guilda Imortal, Jehwi largou o que estava fazendo e correu para buscá-la.
— Onde ela foi?
— E-Ela foi para a Guilda Imortal…
— Por quê?
— Não tenho certeza… Ai!
Foi também por isso que Si-u, ao saber da visita de Eunha à Imortal, arregalou os olhos. Mesmo beberrões famosos na indústria da caça diziam ficar de cama por dias com ressaca depois de beber com o Grande Sábio, Igual ao Céu. Havia até boatos de que o presidente da associação, conhecido por sua alta tolerância, evitava beber com ele.
— …
Jehwi analisou o rosto de Eunha. Ao contrário do que temia, ela estava tão calma quanto quando entrou na Guilda Imortal. Exceto pelo cheiro de álcool que se espalhava por todo o carro.
— Senhorita, eu já sabia que você gostava de beber, mas pelo visto também aguenta bem.
Enquanto falava, ela respondeu como se não fosse nada: — Já precisei beber muitas vezes no passado.
— Você… precisou?
— Precisei.
Uma época em que não era estranho morrer a qualquer momento, de qualquer maneira. Ela costumava beber com os colegas quando não conseguia manter a sanidade. Com o tempo, virou quase um evento dentro da equipe, e costumavam fazer uma festa regada a álcool sempre que concluíam um portão.
“Bem, pelo jeito nada aconteceu…”
Jehwi se tranquilizou, mas pegou o celular e começou a digitar com rapidez enquanto o trânsito estava parado. Havia uma pessoa esperando ansiosamente por notícias.
【Eu】 【21:49】
Acabei de buscar a srta. Lee e estou a caminho do apartamento dela.
Ela parece bem por fora.
A resposta veio em segundos.
【Sr. Shin】 【21:49】
Por que ela foi lá?
Era de se esperar que ele perguntasse isso. Jehwi largou o celular discretamente e olhou para Eunha.
— Ahem… Mas, senhorita, por que visitou a Guilda Imortal de repente? Tem a ver com o Portão Desconhecido do Mercado Jagalchi, em Busan, ou…
— Não. Foi outra coisa.
Eunha balançou a cabeça, recordando-se de Yuhwan pouco antes de sair da sede da Imortal.
— Oooh, Rose… Não aí…
Ele estava caído de braços e pernas abertos no chão, sorrindo com o rosto avermelhado. A cena devia ser deplorável, já que o gato praguejou furiosamente contra ele.
Eunha guardou aquela imagem inesperada num canto da mente e disse: — …Não conseguimos falar sobre os detalhes, porque o Grande Sábio, Igual ao Céu, desmaiou. Preciso visitá-los de novo em breve para continuar a conversa.
— Como é?
Jehwi arregalou os olhos, surpreso por ela dizer que voltaria à Guilda Imortal…
“Desmaiou? Ele?”
O Grande Sábio, Igual ao Céu? Inúmeros pontos de interrogação pareciam flutuar na cabeça de Jehwi. Quando ele ia abrir a boca para falar algo, uma buzina soou atrás deles. O sinal havia acabado de ficar verde.
“Não, espera…”
O fato de o Grande Sábio, Igual ao Céu, ter desmaiado nem era o mais importante. Jehwi virou o volante e decidiu sondar Eunha.
— Hm… Quando vai visitá-los de novo?
— Disseram que entrariam em contato. Amanhã, no mais cedo, ou dentro de alguns dias, no mais tardar. Enfim, sr. Park — disse Eunha, virando-se para Jehwi como se tivesse se lembrado de algo — o que são hot-butts?
No dia seguinte, ela recebeu uma ligação da Imortal. Era a notícia de que o Grande Sábio, Igual ao Céu estava inconsciente devido a uma ressaca terrível. Seong-yun pediu desculpas várias vezes e desligou dizendo que ligaria novamente no dia seguinte.
No outro dia, dessa vez, foi Ayeon quem entrou em contato, em vez da Imortal.
— Lembra do filme que você disse que queria assistir da última vez? Eu tenho um ingresso grátis. Quer ir comigo? — disse Ayeon, com a voz animada. O cinema que ela mencionou ficava perto do apartamento de Eunha.
— Claro, vamos sim.
— Eba! Mana, pode sair agora, então?
— Agora?
— Aham. Ainda falta bastante pro filme começar, então que tal a gente ir às compras? Bom, o fliperama também serve. Ah! Quer ir no parque de VR que tá na moda? Eu tenho desconto lá.
Eunha olhou para o relógio na parede com o celular na mão. Eram 16h30 de um fim de semana. Qualquer lugar estaria lotado.
— O cinema é por aqui, então vem até minha casa.
— O quê…? Sério…?
Ela ouviu um gemido emocionado do outro lado da linha.
— E-eu posso mesmo ir…?
— Pode. Não tem nada de especial, mas se você não se importar…
— Eu quero! Vou agora! AGORA!
Ayeon desligou como um raio e tocou a campainha cerca de meia hora depois.
— Oi!
— O que é tudo isso?
Eunha abriu a porta e olhou estranhamente para as sacolas de compras nas mãos de Ayeon.
— Ahm, é minha escova de dentes, pijama e caneca… Ah! Também trouxe meu tônico e loção, só uso dessa marca.
Ayeon colocou os itens sobre a mesa e começou a organizá-los. Eunha não sabia por quê, mas ela parecia muito empolgada.
Eunha ficou olhando fixamente para as coisas que Ayeon trouxe. Dizer ou não dizer… depois de uma breve reflexão, abriu a boca.
— …Eu nunca disse que você ia dormir aqui.
— Ah, vai que… Tenho que estar preparada. Tcharam! Também trouxe pijama pra você. Eu sou o Pato Donald e você é a Margarida! Bonito, né?
— …
— …
Ayeon olhou do pijama nas mãos para Eunha, e diante do silêncio dela, falou meio desanimada:
— …Vo-você quer ficar com o do Pato Donald?
Uns dez minutos depois, Ayeon terminou de organizar todas as coisas e finalmente olhou ao redor do apartamento. A luz da tarde entrava com intensidade pela janela de vidro da sacada. O piso de mármore brilhava como areia de praia. Até a iluminação da sala era antiga, lembrando um café aconchegante. Com o sofá de couro luxuoso, a TV enorme que cobria a parede e o tapete macio e felpudo, já parecia cheirar a dinheiro desde a entrada, mas por dentro ainda mais. No entanto…
— Você não mora aqui há muito tempo? Por que está tão vazio?
Não havia nada que desse a sensação de vida além dos móveis essenciais. Era como ver uma casa-modelo decorada.
— Senta. Vou pegar algo pra você.
— Ah, não precisa. Aposto que sua geladeira também está completamente…
“…vazia?” Ayeon arregalou os olhos. A geladeira estava cheia de acompanhamentos variados, temperos, congelados prontos para comer, pratos instantâneos, bebidas alcoólicas e refrigerantes. E não era só isso: ainda havia chás de frutas feitos em casa, como limão com mel, yuzu com mel e ameixa com mel, em garrafas de vidro fofas e organizadas por cor. Todos feitos pelo próprio Jehwi.
Eunha escolheu um prato de almôndegas prontas, colocou no micro-ondas e trouxe à mesa.
“Tem um ajudante secreto nessa casa.”
Ayeon teve certeza ao ver aquilo. Eunha não parecia ser do tipo que compraria e organizaria toda aquela comida sozinha.
— Mas você não ia pra academia hoje?
Eunha espetou uma almôndega com o garfo e respondeu de forma seca: — Eu desisti.
— Hã? Você desistiu? — Ayeon congelou com a almôndega a caminho da boca. Da última vez que se encontraram, Eunha disse que se prepararia para o exame de certificação. Então por que essa mudança repentina?
— Tenho algo mais importante.
— Algo importante… — murmurou Ayeon, antes de erguer a cabeça de repente. — Ah, já sei! Eu sabia, você vai continuar caçando, né? Ótimo. Já pensou em fazer dupla comigo tamb…
Rrrrr…
O toque veio do celular de Eunha.
<010-93XX-XXXX>
Não estava salvo, mas o número era familiar. Era, provavelmente, da Imortal.
— Com licença. — Eunha se afastou da mesa e foi para o quarto com o telefone.
Sozinha à mesa, Ayeon apoiou o queixo na mão e ficou girando uma almôndega com o garfo enquanto esperava. Seus olhos, vagando pelo ambiente, pararam em um ponto: uma bolsa embaixo do abajur de pé, ao lado do sofá.
“O que é aquilo?”
A curiosidade bateu ao ver aquela bolsa largada com o zíper aberto, destoando da organização impecável do apartamento. Ayeon se levantou e se aproximou.
Academia de Estética Canina de Haengwook Kang.
Ah.
Ayeon reconheceu o logotipo impresso na superfície e percebeu que era a bolsa da academia de tosa de Eunha. Dentro, havia vários tipos de escovas, tesouras, estojos e apostilas espalhados.
“Não é meu, então não devo mexer.” Ayeon se virou, mas estava prestes a voltar para a mesa quando…
— Oh.
Algo prendeu no seu pé. Era um caderno.
“Será que rasgou quando pisei?” No momento em que se abaixou para pegá-lo, Ayeon congelou na posição curvada.
O caderno aberto estava cheio de uma letra ruim. À primeira vista, parecia um caderno de anotações da academia, com informações sobre raças de cães ou como cortar unhas. As palavras preenchiam a página inteira, sem espaços. E, no rodapé, Ayeon viu uma frase curta rabiscada a caneta:
Boa sorte.
— …
Por algum motivo, Ayeon não conseguia desviar facilmente o olhar daquelas duas palavras. Enquanto permanecia imóvel, com a parte superior do corpo inclinada, Eunha, que havia entrado no quarto e fechado a porta, voltou.
— Sinto muito, mas acho que vamos ter que cancelar o filme. Tenho um lugar para onde preciso ir.
Eunha, que se aproximava passando a mão pelos cabelos, inclinou a cabeça ao ver Ayeon parada de forma estranha ao lado do sofá. — …O que você está fazendo?
— Ahaha, o caderno estava largado no chão…
— Ah.
O olhar de Eunha escureceu. Ela chegou a abrir a boca, mas a fechou em seguida, virando-se com uma expressão distante. — Não preciso mais dele.
Ayeon voltou os olhos para o caderno aos seus pés. As anotações eram tão densas que, de longe, parecia uma folha preta. Ela nunca tinha visto Eunha assistir às aulas na academia, mas só de olhar para aquele caderno conseguia sentir o quanto ela havia se esforçado. Mas, agora há pouco, ela tinha dito…
— Eu desisti.
Foi o que Eunha disse, simplesmente.
— Enfim, vou terminar isso e sair. É urgente. Vemos o filme na próxima vez — disse Eunha, espetando uma almôndega já um pouco fria. Ayeon, sentada à sua frente, também segurou o garfo.
— Vai demorar?
— Não. É só para conversar, mas acho que não vou conseguir chegar a tempo para o filme. Desculpa.
— Então a gente só adia. Quando vamos? Serve às dez da noite?
— Adiar? Como?
— Ué, como? É só entrar no aplicativo e mudar o horário!
Era realmente um mundo incrível. Eunha sentiu de novo o quanto a tecnologia tinha avançado.
Ayeon mudou o horário do filme e, ao guardar o celular no bolso da calça, perguntou: — Pronto. Você disse que vai acabar rápido, certo? Então vamos juntas. Acho que assim vai ser mais rápido.
— Por mim tudo bem… Mas acho que você não vai conseguir entrar na sede comigo.
— Sede?
Ayeon inclinou a cabeça.
…E.
“Senhor.”
Cerca de uma hora depois, Ayeon estava extremamente confusa ao chegar à ‘sede’ que Eunha havia mencionado. Um grande punho estava desenhado na bandeira vermelha que tremulava no topo do prédio. Eunha lançou um olhar para Ayeon, que ficou paralisada como pedra.
— Espere aqui um momento. Vou terminar logo e volto.
— …
Ayeon esqueceu até de responder e apenas piscou, atônita. Não, espera.
“Isso… É a Imortal?!”
O cheiro forte de suor e aquela orgulhosa bandeira rústica eram inconfundíveis.
— Espera, por que você estaria aqui…
Quando se virou, já era tarde: Eunha já havia entrado na sede.
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