Índice de Capítulo

    — Yura… Estou triste.

    A caminho do cinema, Ayeon falou enquanto caminhavam pelo parque perto do teatro.

    Eunha virou a cabeça de repente enquanto andava meio passo à frente dela. Ayeon congelou, observando-a com as sobrancelhas erguidas.

    — Aquele cabeludo… Você nunca disse nada sobre ser boa amiga daquele Grande Sábio, Igual ao Céu.

    — Boa amiga?

    — Eu ouvi tudo. Aquele cabe… Digo, o Grande Sábio, Igual ao Céu te chamando de irmã.

    Ayeon tinha visto o momento em que Eunha saiu da sede da Imortal. Aquele homem cabeludo a seguiu até a entrada e acenou com as duas mãos.

    — Até mais então, irmã…! Nos vemos de novo! — O cabeludo riu alegremente e continuou acenando até Eunha desaparecer de vista.

    Membros da guilda em mantos se curvaram noventa graus ao lado dele, dizendo — Até mais, irmã mais velha! — Era algo que ela só tinha visto em filmes noir. Os membros da guilda também haviam mudado suas atitudes, como o Grande Sábio, Igual ao Céu tratava a Princesa da Chama Negra.

    De qualquer forma, Ayeon sentiu uma estranha sensação de alienação. Era como se sua melhor amiga, que sempre almoçava com ela, de repente fosse ao refeitório com outra amiga sem avisar.

    — Eu não preciso de nada. Só não vá mais a um lugar tão fedorento.

    — Fedorento?

    — É podre. Fedia a suor e álcool. Ai meu Deus. — Ayeon abanou o rosto com uma expressão de nojo. Havia um ser que simpatizava fortemente com ela.

    【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas acena repetidamente, dizendo — Uau, faz tanto tempo que não vejo um humano que fala a mesma língua.】

    【Ela diz que não suporta o fedor sempre que você vai lá, e se opõe à sua visita à Guilda Imortal.】

    O gato detestava a maioria das pessoas ao redor de Eunha. Mas, estranhamente, era um pouco mais brando com Ayeon. Talvez realmente fossem parecidos. Com o apoio silencioso do gato, Ayeon começou a despejar todas as suas reclamações.

    — Você disse que era importante, então eu pensei, e daí se tem um portão na costa sul? Quero dizer, eles vão te pagar por isso? De jeito nenhum. Eu conheço bem a Associação. Vão te espremer até o osso e depois só te dar uma medalha com desculpas de patriotismo e blá blá blá.

    Caçadores não eram voluntários. Ayeon não queria ser uma heroína nem ganhar honra. Alguns poderiam chamá-la de egoísta ou imoral. Mas não importava. Porque ela não tinha a menor intenção de ser feita de boba. Além disso…

    — E eu não tenho a menor intenção de confiar naqueles caras que se escondem atrás do nome AGI ou CIA e bancam os heróis.

    Ayeon chutou uma pedra na calçada. A pedra caiu no lago com um ploft e fez círculos onde afundou. E então…

    — …

    — …

    Houve um estranho silêncio.

    Hã.

    Ayeon estava olhando a água ondulante quando ergueu o rosto de repente.

    Eunha a observava fixamente. Seus olhos negros pareciam perguntar: ‘Como você sabe disso?’

    A Associação não havia informado o público sobre o portão na costa sul para não semear ansiedade.

    E não era só o público. Entre os caçadores da Coreia, apenas alguns selecionados sabiam, incluindo as quatro guildas principais. Caçadores comuns desconheciam o fato, e mesmo aqueles que sabiam, mantinham silêncio…

    Uhm… Hmm… Eles também mandaram a mensagem pra mim.

    — …Pra você?

    Ahaha. Não falei? Eu sou na verdade uma caçadora de atributo Trevas. — Ayeon sorriu sem jeito e lançou olhares ao redor. — Você também ouviu, né? Que a Associação está procurando caçadores de atributo Trevas e Fogo — sussurrou Ayeon. Então, estalou os dedos depois de se certificar de que não havia ninguém por perto. E então…

    Psss…

    A sombra de Ayeon na calçada começou a crescer. Alongou-se até o tamanho de um poste de luz, depois acenou e entrou no lago. Mas Ayeon, a dona daquela sombra, permanecia imóvel.

    Armadilha de Silhueta. Era uma das Habilidades Únicas de Ayeon.

    — Eu tenho algumas habilidades relacionadas a sombras, e elas são de atributo Trevas.

    Havia a desvantagem de não poder usá-las em lugares escuros sem um único raio de luz ou quando chovia, mas eram otimizadas para o estilo de combate de Ayeon. Sua habilidade mais valiosa.

    Eunha abaixou o olhar e estudou a sombra nadando de Ayeon. Observando a sombra mover-se livremente como se tivesse vontade própria, Eunha abriu a boca. — Isso significa que você também vai participar da operação?

    — Nem pensar.

    Quando Ayeon gesticulou no ar, a sombra que nadava no lago saltou e voltou a se prender aos seus pés.

    — Mesmo que a Associação me pague muito em adicional de risco e de proficiência, eu pensaria duas vezes antes de ir. Eu nem considero negócios em que eu possa sair perdendo — disse Ayeon, fitando Eunha com um olhar desconfiado. — Só estou perguntando. Você está planejando participar?

    — …

    Eunha não respondeu.

    “Não, sério?” Ayeon piscou, incrédula.

    — Você não acabou de ignorar o que eu disse, não é? Por que você iria? Aquele cabeludo te convenceu? Só pode ser isso, ele convenceu! — Ayeon bufou e pôs as mãos na cintura.

    Aos olhos de Ayeon, Eunha era ingênua demais para o mundo. Aquele Grande Sábio, Igual ao Céu devia ter aliciado sua inocente Eunha.

    — Por que você não recusa logo? É óbvio que vai ser muito mais trabalhoso enfrentar isso, e eles vão te pagar uma miséria.

    Embora não conseguisse dizer na cara de Eunha, havia outras coisas que preocupavam Ayeon. O hábito de classificar uns aos outros por ranks era uma lei não escrita entre caçadores. Não importava o quão forte fosse, eles com certeza zombariam da caçadora Rank F de vestido. Ela não podia permitir que isso acontecesse com sua amiga. Ayeon estava desesperada para impedir Eunha.

    — É muito mais eficiente disputar um Portão Rank B e conseguir um item Heroico.

    Mas Eunha, ouvindo Ayeon em silêncio, falou brevemente. — Eu vou. — Eunha não vacilou ao acrescentar — Eu sou uma caçadora.

    — Não, como assim…

    Ayeon abriu e fechou a boca sem palavras diante de Eunha. Ela tinha que responder aos chamados da Associação só porque era caçadora? Isso era antigamente. Talvez Eunha não fosse caçadora há tanto tempo. Então Ayeon tinha que dizer isso firmemente.

    — Caçar é uma profissão hoje em dia. Assim como médicos não tratam pacientes sem dinheiro, caçadores não têm que arriscar a vida em trabalhos que não pagam.

    Caçar era uma profissão. Então, Ayeon defendia que ganhar dinheiro para viver era o objetivo, não contribuir com essas habilidades que você ganhou por sorte para a sociedade. O mundo te valorizaria por isso? Não, nunca. Iriam, sim, dar como certo, e você teria sorte se não fosse manipulada pela mídia. Ainda mais se uma Rank F contribuísse para a operação.

    — Por que você está tentando fazer algo que não precisa fazer? Você provavelmente não quer ser voluntária.

    Quando Ayeon perguntou como se realmente não entendesse, Eunha abriu a boca de modo distante, dizendo — Existem coisas que você não pode fazer neste mundo, mesmo com dinheiro.

    Aqueles olhos negros e profundos estavam afundados, como se rememorassem velhas lembranças.

    — Monstros vão transbordar quando o portão abrir. E… — Eunha olhou para suas duas mãos em silêncio, depois as fechou em punhos. — Eu posso matar todos eles.

    Naquele curto instante, Ayeon viu os olhos dela se tornarem afiados. O que passou por aqueles olhos negros? Era raiva? Ódio? Não, talvez expectativa.

    — Antes eu não podia, mas agora eu posso proteger qualquer coisa.

    Seus cabelos negros esvoaçaram com o vento que vinha. Os olhos de Eunha que voltaram à vista se curvaram levemente.

    — Por isso.

    — …

    Ayeon fechou a boca, que estava aberta sem saber o que dizer. Não havia mais necessidade de persuadi-la. Na verdade, não havia como.

    Ayeon, piscando devagar, moveu os olhos para o lago do parque, como se fosse atraída por ele. Seus reflexos na superfície da água. Seu rosto tremia sobre a superfície que ondulava suavemente com o vento.

    …Mas algo estava estranho.

    O reflexo de Eunha ao seu lado parecia, por algum motivo, não oscilar nem um pouco.


    — Como está o Mestre?

    Suhyeon, que havia entrado no hospital, perguntou sobre o estado de Minju no momento em que viu Junhwan.

    Alguns dias atrás, Minju tinha aberto os olhos por um breve instante. Mas, quando receberam a notícia e todos chegaram ao hospital, ele já havia desmaiado novamente. Eles tinham conseguido quebrar a maldição com o pó de fada, mas os resquícios dela ainda permaneciam em seu corpo, em seu sangue e veias, para ser exato.

    A Doutora Planta dissera que agora apenas o tempo o curaria. Em vez de responder à pergunta de Suhyeon, Junhwan lançou um olhar para Minju, que jazia na cama como se estivesse morto. Embora ainda não conseguisse abrir os olhos, as manchas negras que cobriam seu corpo haviam desaparecido, felizmente.

    — De acordo com a enfermeira que veio trocar o soro, ele está falando durante o sono agora. Você sabe, não é? Que o Mestre fala muito dormindo.

    Suhyeon encarou o perfil de Junhwan em silêncio e ergueu levemente os cantos dos lábios.

    “Certo, é claro que ele também estaria preocupado.” Ela aguardava a completa recuperação de Minju mais do que Suhyeon, mais do que qualquer um na família.

    Ela não podia mais se mostrar abatida diante dele, já que Junhwan estava assumindo tanto as grandes quanto as pequenas tarefas, como ir à Associação no lugar de Minju. Suhyeon sentou-se suavemente ao lado dele e começou a falar em um tom mais calmo.

    — …Claro que sei desses terríveis hábitos de sono. Eu coloquei o Mestre pra dormir até recentemente. Como eu não saberia?

    Ele era um garoto do ensino fundamental, não exatamente de uma idade em que não pudesse dormir sozinho. Mas Minju era particularmente relutante em ficar em lugares fechados e escuros. Claro, poderia dormir com as luzes acesas, mas, nesse caso, ficava acordado a noite toda construindo armas ou figuras. Mas, recentemente, Minju conseguia dormir bem mesmo com as luzes apagadas. Talvez por simplesmente ter amadurecido, ou por ter passado por alguma oportunidade positiva.

    Suhyeon abriu a boca enquanto olhava para Minju deitado na cama. — A Associação não disse nada?

    — Estão na mesma. Perguntaram como o Mestre estava.

    A Associação devia querer uma resposta definitiva sobre se a Legião participaria da operação do portão do sul.

    — Devem estar bem nervosos também. Eu deixei claro que os seis de nós, além do Mestre, participaríamos… — Junhwan coçou a cabeça e acrescentou: — Bem, provavelmente não ficaram satisfeitos. Porque eles não precisam de Ranks B ou A, eles precisam do Trapaceiro de Rank S. E nosso mestre é um caçador de atributo Fogo. É claro que estão desesperados. Só que eu não posso decidir por ele em questões tão importantes, então deixei em espera.

    Suhyeon o ouvia em silêncio quando lentamente ergueu a cabeça.

    — …Eu ainda sou contra — Sua voz soou resoluta.

    Junhwan se virou para Suhyeon. Ela fixou os olhos em Minju, deitado na cama, e abriu os lábios novamente.

    — Isso aconteceu por causa do Portão Desconhecido de Pohang. Mesmo que tenhamos quebrado a maldição com pó de fada, é uma maldição cuja causa não conhecemos, e precisamos observá-lo por enquanto.

    O pó de fada era um item capaz de quebrar maldições, mas apenas as quebrava; não servia para analisá-las. Portanto, a Doutora Planta e a família da Legião ainda não sabiam o que exatamente era a maldição.

    Os olhos de Suhyeon se voltaram diretamente para o pescoço de Minju. Havia uma marca vermelha e inchada em seu fino pescoço. Parecia como se tivesse sido picado por uma abelha ou mordido por uma cobra. Mas, segundo Junhwan, Minju não havia sido picado nem mordido quando subjugaram o Portão Desconhecido. Talvez aquela cicatriz peculiar fosse a pista da maldição.

    — De qualquer forma, o Mestre precisa descansar. Mesmo que abra os olhos amanhã, é cruel fazer um garotinho ou um paciente participar de uma batalha logo depois de sair do leito. Mesmo que não seja a Associação, mas a Doutora Planta quem peça, eu sou completamente contra desta vez. Gyeongho e o resto da família concordam comigo. — Suhyeon desviou o olhar de Minju e se voltou para Junhwan. — O que você acha, Junhwan Bae?

    — Eu…

    Foi justamente quando Junhwan abriu a boca…

    — Ooh, ugh… Barulhentos…

    Ouviram uma voz resmungona vinda da cama do hospital. Os dois se viraram ao mesmo tempo na mesma direção.

    — Mestre…?!

    — M-Mestre!

    E gritaram em uníssono, como se combinado.

    Minju esfregava os olhos como se tivesse acordado de uma boa noite de sono, quando se assustou com as vozes deles e olhou em sua direção. O cabelo bagunçado arrepiava-se como antenas.

    — Hã, mas o que diabos? O quê? O que vocês dois estão fazendo aí?

    Minju franziu o cenho diante da sensação latejante em sua cabeça. Junhwan abria e fechava a boca como uma carpa. Surpresa, felicidade, alívio, saudade. Todos os tipos de emoções o preenchiam e ele não conseguia falar direito.

    — M-Mestre… Como está seu corpo…

    — Meu corpo? — Minju saltou da cama como uma mola e ficou em pé no chão descalço, depois girou os ombros. — Uhmmm, acho que está pesado, ou bem…

    Clap!

    Um corpo enorme se aproximou dele antes que pudesse terminar a frase. Junhwan abraçou com força seu mestre, que era duas cabeças mais baixo que ele.

    — E-Eu realmente pensei que o Mes… Hic, Mestre ia morreeeer…

    Argh! Que nojo!

    — Que alívio… Snif, de verdade… Sério…

    O adulto crescido começou a chorar de verdade. Minju ficou sobrecarregado de constrangimento diante de uma cena que nunca havia presenciado antes.

    — Uahhhhh, Mestreeeeeee…

    Algum líquido quente, que era lágrimas ou catarro, tocou o topo de sua cabeça. Minju pulou e guinchou.

    — Suhyeon! O que há de errado com o Junhwan? Ei, chega! Me larga!

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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