Capítulo 106
Administradora Lua Prateada.
— …Ela foi de novo à sede da Imortal?
Si-u estava sentado na escrivaninha folheando os relatórios quando ergueu os olhos.
— Por quê?
— Uhm, ela não me disse exatamente o motivo, mas parece que…
Jehwi titubeou. Mas isso já bastava. Si-u baixou os olhos para os documentos de novo e murmurou em voz baixa: — Parece que o Grande Sábio, Igual ao Céu a convenceu.
Si-u não tinha ideia de como ele fez isso, mas ela devia ter decidido participar da operação do portão da costa sul.
— …Ela largou a academia?
— Sim. Pelo que ouvi, já pediu desligamento.
Os olhos de Si-u estavam fixos no relatório, mas sua mente estava em outro lugar. A lembrança de Eunha sorrindo enquanto acariciava o pelo de Si-u… não, do Lenço, estava vívida em sua mente.
“Ela gostava tanto disso, então por que…”
Quando apertou a ponta dos dedos sem perceber, o relatório que segurava se amarrotou levemente.
— E-Eu até tentei persuadi-la à minha maneira… — Jehwi olhou para Si-u e gaguejou. Mas ela era surpreendentemente teimosa, e era difícil convencê-la depois que decidia algo.
— Não precisa. Deixe que faça o que quiser.
A resposta de Si-u foi muito diferente do que Jehwi esperava.
— Perdão? M-Mas… — Jehwi hesitou e fechou a boca de novo. Porque Si-u certamente olharia sério e diria que ele estava sendo insolente.
Jehwi estava convencido, desde antes, de que o senhor Shin queria que a senhorita Lee levasse uma vida normal. Caso contrário, ele não teria encerrado o contrato no meio do caminho, tendo prejuízo. Não teria chamado Jehwi assim para perguntar sobre seu estado, nem faria algo trabalhoso como mandar revistas ou livros de animais de estimação por meio dele. Jehwi pensava que, se Si-u ouvisse que ela participaria da operação do portão da costa sul, ficaria furioso por ele não ter impedido. Jehwi já tinha se preparado mentalmente para isso quando veio.
Mas ele não ficou bravo. Pelo menos, não por fora.
— É só isso. Tem mais alguma coisa?
A voz que chegou aos seus ouvidos fez Jehwi voltar a si de repente.
— Mais alguma coisa? — …Ah. Jehwi piscou e entendeu logo. Si-u estava perguntando sobre como ela estava. Como sempre fazia.
— Agora que penso, ela fez uma amiga com quem se fala bastante. Ouvi dizer que também foi ao cinema…
— Cinema?
Si-u levantou os olhos do relatório, onde estavam fixos o tempo todo. Era só uma intuição? Mas seu olhar estava diferente.
— O nome dessa amiga é Yunho, por acaso? — Uma voz seca, quase sem entonação. Mas Jehwi viu. O cabelo de Si-u estava começando a ficar branco.
Jehwi deu um pulo e abanou as mãos.
— Não, não, não. Não era esse nome… Eh, como era mesmo? Ahyeon…? Enfim, era nome de menina.
— Entendo.
Whooo…
O cabelo embranquecido de Si-u voltou à cor normal. Ele abaixou os olhos de novo para o relatório com o rosto sereno. Foi quando Jehwi pôde, enfim, respirar aliviado.
— Mais alguma coisa? — Si-u virou a página do relatório e jogou as palavras no ar.
— Mais alguma… coisa? Uhm, hmm…
Jehwi olhou freneticamente ao redor e se esforçou para pensar em algo sobre ela. Nesse meio-tempo, Si-u não aguentou e abriu a boca outra vez.
— Bem, ela não está solitária ou algo assim?
— Como é?
“Solitária? Quem? A senhorita Lee?”
Si-u lançou um olhar de canto para Jehwi, que parecia confuso, e murmurou quase inaudível — …Lenço. — Flap. Ele virou mais uma página do relatório e pigarreou com expressão calma. — Será que ela, cof… sente falta do Lenço, ou coisa assim.
— Ah.
Os lábios de Jehwi começaram a tremer sozinhos. Ele não deveria, mas não conseguiu esconder o sorriso feliz. Foi um grande alívio que Si-u mantivesse os olhos pregados no relatório. Jehwi forçou a voz para não deixar escapar nenhuma pista do sorriso e abriu a boca novamente.
— Eu envio as fotos que salvei antecipadamente quando ela pede de vez em quando. Senhor Shin, por favor, tire mais fotos quando eu terminar os arquivos salvos.
— …Você. Você anda sorrindo assim bastante ultimamente.
Ugh. Jehwi se encolheu.
Quão amplo era o campo de visão dele? Si-u lia o relatório, mas deve ter percebido os lábios trêmulos de Jehwi. Talvez enxergasse até com o canto dos olhos.
— S-Sorrindo assim?
— Como um tio olhando o sobrinho fazendo graça.
— De jeito nenhum! Nunca, absolutamente não, senhor Shin! — Jehwi deu um salto. Já havia uma corrente de ar no escritório. — …Peço desculpas.
O dia terminou com Jehwi pedindo desculpas outra vez. Felizmente, Si-u não o repreendeu. Apenas perguntou de modo seco: — E quanto a hoje?
— Eu?
— Não. — Si-u franziu o cenho. — Ela.
Cerca de uma hora antes, Eunha recebeu uma mensagem urgente de Junhwan. Era a boa notícia de que Minju finalmente havia acordado. De acordo com Junhwan, não havia efeitos colaterais do tratamento até agora. A Guilda Rosa também declarou oficialmente que ele estava totalmente recuperado.
— Mas nunca se sabe.
Junhwan explicou que ele parecia bem por fora, mas havia algumas coisas que o incomodavam. Como o fato de que, ao contrário das manchas negras que desapareceram completamente após o uso do pó de fada, havia cicatrizes estranhas em seu pescoço. E o fato de que ele não conseguia se lembrar direito do que aconteceu naquele dia. Como era uma maldição de causa desconhecida, não custava ter cuidado.
A Legião parecia ter decidido manter em silêncio o incidente do portão da costa sul para seu mestre, o Trapaceiro. Devem ter prometido apoio à Associação sob a condição de não enviar o Trapaceiro.
— Então, senhorita Yura, por favor, mantenha segredo do Mestre.
Junhwan pediu novamente a Eunha, pouco antes de abrir a porta do quarto. Ela entendia agora o quanto eles prezavam e seguiam Minju. Seu incidente no Portão Desconhecido ainda era recente, então certamente não queriam forçá-lo a lutar de novo. Para eles, o Trapaceiro era família antes de ser um caçador Rank S. Para Eunha, também era assim.
Eunha assentiu, como quem dizia para ele não se preocupar. — Entendido.
Junhwan relaxou e sorriu depois que Eunha confirmou.
Click…
No momento em que a porta se abriu, algo saltou como se estivesse esperando.
— Yura!
Era Minju. Ele ainda estava de roupa de hospital.
— Mestre, não devia pular assim! A agulha do soro vai soltar de novo.
Suhyeon correu atrás de Minju e começou a repreendê-lo. Mas Minju parecia não ouvir nada.
Ele arregalou seus olhos redondos e castanhos e olhou para Eunha.
— Yura, você veio montar figuras, né? Eu preparei elas antes.
Tadã!
Minju apontou para a cama do hospital. Como ele disse, havia uma grande caixa de figuras sobre a cama.
— Vocês dois saiam agora. Vou brincar com ela.
Minju acenou para Suhyeon e Junhwan. Eles fizeram bico como se estivessem magoados, mas saíram do quarto sem reclamar.
— Certo…
— Então…
Junhwan lançou um olhar a Eunha pouco antes de fechar a porta. O sinal para não esquecer sua promessa anterior. Quando Eunha assentiu em silêncio, ele sorriu e fechou a porta.
— Yura, vem logo!
Assim que a porta se fechou, Minju começou a puxar sua manga, apressado. Ele estava tão inocente e animado que era difícil acreditar que tinha estado à beira da morte. Era o Minju que Eunha conhecia.
Enquanto Eunha andava na direção em que ele a puxava, seu fino pescoço entrou em sua visão. Mais exatamente, o lado direito da nuca. De longe parecia uma mancha vermelha. Se não tivesse ouvido antes de Junhwan sobre a cicatriz, teria achado trivial.
— Ah, isso? — Minju percebeu o olhar de Eunha e esfregou o pescoço. — Acho que fui picado por um inseto enquanto dormia. Não coça, mas incha um pouco se eu cutuco.
— …Sério? Não dói?
— Nadinha! — Minju sorriu e se jogou na cama. As mãos, menores que as crianças de mesma idade, começaram a abrir a caixa da figura com destreza.
Como Junhwan dissera, Minju devia ter esquecido metade do que aconteceu naquele dia. Diziam que ele se lembrava de ter entrado no Portão Desconhecido, mas suas memórias do meio estavam em branco.
— No fim, não conseguimos descobrir o que ele viu lá, ou o que aconteceu.
Eunha mastigava novamente as palavras de Junhwan. Ele era um garoto pequeno, mas Minju era um dos apenas seis caçadores Rank S da Coreia. E o fato de que ele voltou parecendo um morto só podia significar que…
“Havia algo lá.”
Eunha fitou a nuca de Minju. Aquela cicatriz. Era a única pista.
— Por que você está me olhando assim? Eu estou mesmo bem. — Minju pareceu sentir os olhos dela e abriu a boca alegremente sem parar as mãos pequeninas que abriam o pacote. — Ouvi do pessoal que fiquei bem doente enquanto dormia. — Minju levou a mão à boca e sussurrou em voz baixa: — Você conseguiu o pó de fada, eu ouvi!
— …
Parecia que Junhwan também tinha contado isso a ele.
— Eu vou te pagar com algo mais caro quando tiver alta. — Minju bateu no peito, como se dissesse para Eunha não se preocupar, e abriu a caixa da figura.
Suas mãos se moviam rapidamente, e no pulso fino preso a elas estava a pulseira de desejos laranja que Eunha lhe dera. Ele implorara a Suhyeon que amarrasse o objeto que havia se quebrado antes. Ele a amarrou às pressas, e a pulseira de desejos apertava tanto o pulso que quase não deixava o sangue circular.
— Uau, que brilho…!
Minju arregalava os olhos enquanto tirava as peças uma a uma. Parecia uma criança inocente, mas Eunha agora sabia que esse menino de sorriso puro era o mestre de um exército de sessenta mil. O pequeno mas forte líder que sacrificava o próprio corpo pela família.
Tap.
Eunha ergueu lentamente a mão e a pousou levemente sobre a cabeça de Minju.
— …?
Minju estava hipnotizado pela figura quando ergueu os olhos.
Acaricia, acaricia.
O cabelo cacheado alaranjado se bagunçou sob a mão de Eunha. Era como tocar em algodão-doce.
— Minju, vamos montar os modelos juntos?
Minju piscou os olhos redondos, confuso com o toque repentino, mas não afastou a mão de Eunha. Na verdade…
— Com certeza!
Ele sorriu.
Quando percebeu, Eunha também estava sorrindo, como se fosse arrastada pelo brilho de Minju e pela promessa que pensou que não conseguiria cumprir. Eunha e Minju completaram juntos um maravilhoso navio na ensolarada enfermaria, frente a frente.
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