Capítulo 107
Em algum lugar de Gyeonggi-do, Coreia.
Naquele lugar que não tinha sequer uma pequena janela, apenas a luz alaranjada brilhava, em vez da luz do sol ou da lua. O espaço apertado estava impregnado de um leve cheiro de madeira. Talvez fosse por causa da pilha de livros ali, ou porque ficava no meio de uma floresta. No ar profundamente abafado, apenas o som ocasional do vento mostrava que havia uma passagem naquele espaço fechado.
— …Sério? Então a Princesa da Chama Negra vai mesmo participar. — Um sorriso de alívio surgiu nos lábios de Rose enquanto ela segurava o telefone. A risada de Yuhwan escapava pelo viva-voz. — Seja a previsão de que serão no máximo cinco portões certeira ou não, ela não será uma adição pequena. Bom trabalho, Yuhwan. E obrigado. Eu entrarei em contato de novo.
Rose desligou e abaixou o telefone da orelha.
— …
Quando Rose fechou a boca, o silêncio imóvel voltou a preencher o espaço. Ela se levantou lentamente da cadeira. A cada passo que dava sobre o piso de madeira, soava um rangido. Logo, chegou até a parede à esquerda, diante de uma grande moldura.
Rose fitou a foto com olhos sombrios. Estava velha e desbotada, mas a mãe e a filha na imagem pareciam deslumbrantemente felizes. Rose estendeu a mão devagar e acariciou com cuidado o rosto da menina sorridente no retrato.
Um quarto vazio. Uma voz gentil escapou de seus lábios vermelhos.
— Espere só um pouco, minha filha.
“A mais preciosa do mundo… Meu tesouro.”
— Oh, senhorita Yura. Já vai embora?
Eunha fechou silenciosamente a porta do quarto e saiu, então encontrou Suhyeon, que estava sentada em uma cadeira próxima.
— Vou sim. Minju acabou de dormir.
— Ah, entendo… Me desculpe. Ele anda pegando no sono muito fácil por causa dos remédios.
— Não tem problema. Já estava na hora de eu ir, mesmo. Certo, volto outra vez. — No momento em que Eunha assentiu levemente e estava prestes a passar por Suhyeon…
— Espere, senhorita Yura. — Suhyeon a deteve.
— Uhm… Sobre o portão da costa sul.
— Ouvi do Junhwan. Não falei nada para o Minju.
— Não, não é isso…
Os olhos de Suhyeon vacilaram como se escolhessem as palavras, então se fixaram nos de Eunha, como se tivesse tomado uma decisão.
— Que tal avisar a Associação e se juntar à nossa equipe da Legião? Haverá bastante pessoal de combate, então provavelmente nos moveremos em grupos. Mas você não tem guilda nem está afiliada a ninguém. — Suhyeon falou da forma mais convincente possível, mas, na verdade, pensava diferente.
Yura Lee era uma caçadora Rank F na superfície, e uma caçadora de conceito chamativa que usava um vestido como uniforme de combate.
Os membros da Legião, incluindo Suhyeon, e também o Grande Sábio, Igual ao Céu e a Doutora Planta, já suspeitavam de que Eunha não fosse uma Rank F comum, mas a maioria dos caçadores que se reuniria lá não teria essa noção.
Era uma operação tão séria que seria altamente provável que ela fosse criticada ou ridicularizada por algumas pessoas. Essa era a realidade do mundo. Não era exagero dizer que o rank determinava o status. Se alguém tinha rank baixo, deveria pelo menos pertencer a uma guilda famosa. Mas nada disso se aplicava a Eunha.
“Com a Legião, ela estaria bem.” Suhyeon tinha certeza de que poderiam protegê-la, já que ninguém ousaria apontar o dedo contra a Legião. Por isso, não duvidava de que a medida mais eficaz seria tê-los ao seu lado. No entanto…
— Obrigada pela preocupação — Eunha expressou gratidão em vez de dar uma resposta direta à oferta, como se entendesse o motivo de Suhyeon sugeri-la.
— Vou pensar na sua proposta. Mas não estou indo lá para ser ajudada.
Não importava se a vissem como uma Rank F.
— Só vou para fazer o que eu posso fazer.
Porque Eunha nunca se considerou uma Rank F. Esse fato inabalável era a raiz firme que a sustentava em meio às avaliações do mundo que caíam como chuva.
Ao mesmo tempo, na entrada do apartamento de Eunha.
— …
Si-u estava encostado no prédio e remexia os bolsos até tirar o celular. Eram 18:50, já perto das 19:00h.
— Quer dizer a senhorita Lee? Hmm, acho que ela disse que ia sair…
— Entendo.
— Normalmente, se nada acontece, ela volta por volta das 19:00h.
— Eu não perguntei isso.
— Entendido.
Si-u não desgrudava as costas da parede enquanto olhava à frente, abaixando o boné sempre que encontrava o olhar de um pedestre. Precisava ser cuidadoso. Seria um incômodo se a Lobo descobrisse que ele estava ali.
Cerca de cinco minutos depois,
Si-u viu Eunha vindo de longe. Estava de jeans e camiseta branca com um pequeno logo de estrela. Eram roupas que ela havia comprado com Si-u no shopping. Onde teria ido sozinha? Como estava de mãos vazias, não parecia ter ido à loja de conveniência próxima. Obviamente, ele não pensou que tivesse ido visitar o hospital do Trapaceiro.
Beep, beep, beep…
Eunha chegou à entrada do primeiro andar e começou a digitar a senha.
— Senha incorreta. Por favor, tente novamente.
— Senha incorreta. Por favor, tente novamente.
— Senha incorreta. Chamando a segurança.
— …Ah.
O dedo de Eunha parou no ar sobre o painel. Si-u não conseguia ver sua expressão de onde estava, mas percebeu que ela estava confusa.
Si-u sorriu em silêncio à distância. Ela já morava ali há algum tempo, mas ainda não conseguia digitar a senha direito. Já era adulta, mas, além disso, devia ser bem ignorante em tecnologia.
— …Eu moro no 1701, por favor, abra a porta.
Eunha falou de modo constrangido no interfone ligado à portaria. Si-u a observou por um momento, então hesitou e deu um passo à frente.
— Sunbae.
Ring.
A porta da frente se abriu, e Eunha, que estava prestes a entrar, virou-se de repente. Quando viu Si-u, seus olhos se arregalaram um pouco. Ah, talvez não o reconhecesse por causa do boné e da máscara. Si-u levou a mão ao rosto, um instante tarde demais. No entanto…
— Si-u Shin?
Si-u parou ao tentar tirar a máscara. Embora estivesse com o rosto coberto, Eunha o reconheceu de imediato. Porque Si-u era o único que a chamava de ‘sunbae’ mas, mesmo assim, Si-u achou que esse fato era…
— …
Os olhos azuis de Si-u se perderam, vagando. Ele tinha ido até ali para encontrá-la, mas não sabia o que iria dizer. De repente, sua mente ficou em branco.
— Faz tempo.
Em vez de Si-u, que estava sem palavras, Eunha falou primeiro. Não fazia tanto tempo assim… mas ele assentiu devagar.
— …Pois é.
Ao encarar os olhos negros de Eunha, aquela estranheza voltou. Como era possível? Os olhos dela que Si-u conhecia eram originalmente assim…
“Lenço.”
Os olhos que se curvavam tão bem quando ela olhava para o Lenço se sobrepunham àquela visão. Si-u culpava isso pelo fato de sua boca não abrir como queria, e levou o dorso da mão à boca, esfregando-a.
Eunha o observou e perguntou de leve: — O que foi?
— …Eu tinha algo a dizer. Você tem tempo?
— Algo a dizer?
Eunha pareceu desconfiada. Não respondeu de imediato. Si-u sentiu o sangue secar.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas parece extremamente incrédula, cruzando os braços e dizendo — Ele é quem quis quebrar o contrato, então por que teria voltado aqui?】
【”Não, espera… Acho que já senti esse fedor de cachorro antes…? — Ela contrai os bigodes.】
Eunha, na verdade, hesitou em responder por causa da mensagem repentina do gato. Mas Si-u não tinha como saber disso, e apenas pensou que ela refletia se falaria ou não com ele. E fazia sentido: afinal, ele foi quem agiu como se nunca mais a veria. Não teria nada a dizer se Eunha simplesmente falasse que não havia mais nada entre eles e desse as costas. Si-u até preparara algumas desculpas aceitáveis:
1. (Naturalmente) Eu só estava passando e lembrei, então vim.
2. (Direto) Ouvi falar do portão da costa sul.
3. (Do nada) Está fresco, vamos dar uma volta?
— …
Rugas tênues surgiram no rosto de Si-u. Ao ver o rosto dela, sua boca não abria como queria. No instante em que encarava aqueles olhos, sua mente ficava branca, e as desculpas que pensara se tornavam inúteis.
…Ele era mesmo idiota. Podia simplesmente perguntar o que queria: se a decisão de participar da operação tinha sido dela, ou se alguém a havia pressionado. Como algo tão simples podia ser tão difícil? Pensando bem, não teria nada a dizer se Eunha ficasse séria e perguntasse por que ele falava daquilo, já que o contrato tinha acabado. Quando esse pensamento lhe passou, percebeu que a própria situação de estar ali era estranha. O que estava pensando quando veio?
Si-u abriu a boca com hesitação. — Não, su+nbae. Vou voltar…
E já estava de costas, quando…
— Você pode entrar. — Eunha apontou para a entrada do prédio.
Entrar? Onde? No apartamento dela? Si-u ficou surpreso e congelou.
— N-Não… — Si-u gaguejou de forma nada característica e se virou às pressas, olhando para outro lado. Podia parecer ingênuo, mas não tinha tempo de se preocupar com isso agora. Esforçando-se para manter a voz calma, abriu os lábios: — …Não há necessidade de ir até seu apartamento. Basta só dar uma volta aqui perto.
— Sério?
Quanto mais sentia o olhar dela em sua direção, menos conseguia olhar para ela.
Enquanto fixava os olhos no poste iluminado pelo pôr do sol, ela respondeu simplesmente:
— Tá bom.
O momento para a conversa surgiu muito mais facilmente do que ele imaginava. Talvez por isso Si-u achasse tão estranho estar sentado lado a lado com Eunha em um banco.
“…Eu disse algo cruel.”
É verdade que tinha o pretexto de tirá-la da Lobo, mas Si-u dissera palavras afiadas a Eunha quando encerrou o contrato.
Mas Eunha o tratava como antes, como se nada tivesse mudado. Ele sentia como se um canto de sua mente fosse apertado pelo perfil calmo do rosto dela. Talvez por isso não conseguisse abrir a boca com facilidade.
— O que você queria dizer?
No fim, foi Eunha quem falou primeiro de novo. Si-u não conseguia soltar as palavras, mas, por fim, abriu os lábios devagar, como se tivesse tomado coragem.
— Na verdade…
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