Capítulo 110
Assim que subiu no ônibus, Eunha apoiou o queixo e ficou olhando para fora. O ônibus nem tinha se movido ainda, mas o exame já havia praticamente começado.
— Eu tenho uma habilidade de restrição, então acho que devíamos amarrá-los primeiro com ela e caçá-los.
— Concordo.
— Mas os monstros de lá são Mortos-Vivos. Se não lidarmos com eles de um só golpe, vão continuar se regenerando…
— Eu trouxe alguns itens com efeito de veneno por precaução. Mas se usarmos e não tiver efeito, vamos ter que abatê-los fisicamente, de qualquer jeito.
— Espera. Como vamos dividir as essências? Isso não é o mais importante?
Os caçadores que já haviam formado grupos elaboravam estratégias minuciosas, dividindo funções de acordo com suas habilidades únicas, principais técnicas ou estilos de combate e juntando as cabeças.
Era algo bastante familiar para Eunha, já que em seus velhos tempos ela sempre se movia em veículos militares de transporte depois de terminar uma subjugação de portão e seguir para o próximo. Sempre havia uma pessoa que se sentava ao lado dela e puxava conversa.
— Eunha, você já foi para Gyeongju?
— Sempre tive curiosidade… Eunha, você fez contrato com alguma Criatura Mítica?
— Eunha, acho que o dragão combinaria mais com você entre as doze Criaturas Míticas. Porque é o mais forte.
Ela fechou os olhos devagar, apoiando o queixo na mão. Por trás das pálpebras, lembrava-se das costas de alguém orando sozinho diante do túmulo de sua mãe.
“No fim, não consegui segui-lo.”
Ela não pôde perguntar nada a ele. Desde aquele dia, visitara o túmulo da mãe algumas vezes, mas nunca se encontrara com Ijun.
Mas, por algum motivo, Eunha estava convencida de que em breve o veria de novo.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz: — Hmph, esses fracotes estão se divertindo! Não importa quantos grupos formem, nunca alcançarão nem a ponta dos pés dela — e olha para os caçadores ao redor com desprezo.】
Por outro lado, o gato estava assim fazia um tempo, como se estivesse firmemente descontente com algo. Presumivelmente, devia estar muito irritado por ninguém ter convidado Eunha para um grupo, ainda que fosse ela a levantar as garras no momento em que alguém o fizesse. Eunha pensou que nunca entenderia aquele gato direito.
【Ela suspira, dizendo: — Você acha que ela está no mesmo nível para estar no mesmo ônibus que vocês? Olhem só esses tolos.】
【Ela diz: — Você não é uma mera Rank F! Eles acham que você é fácil só porque está parada! — e põe as mãos na cintura como se estivesse te repreendendo.】
Antes que Eunha pudesse responder, outra janela de mensagem apareceu.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz: — Oh, espere… — e acaricia os bigodes.】
【Um momento depois, ela diz: — Essa é a sua chance! — e de repente ergue a cabeça.】
【Ela sugere mostrar de verdade a eles que você está em outro nível desta vez.】
【— Não aguento mais esse tipo de tratamento! Não fugi daquele lugar para ver isso — diz ela, batendo no chão com sua patinha rosada de almofadinha.】
Ding, ding, ding…
Vendo as janelas de mensagem pipocarem em sucessão conforme o gato ficava cada vez mais agitado, Eunha falou.
— Gato. Estou dizendo agora, eu nunca me considerei uma Rank F.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz: — Não, e daí! O mundo te vê como um porra! — e grita.】
Ele parecia enfurecido, mas o gato fazia sentido.
Eunha achava que não importava, já que os ranks não tinham importância para ela. Durante o tempo em que vivera como Eunha, não existiam essas classificações para caçadores.
Mas agora estava bem ciente. Do que precisava fazer. De que o mundo levava em conta os ranks até mesmo quando se tratava de salvar pessoas.
…Então, de bom grado.
— Você tem razão.
O que a Princesa da Chama Negra tinha que fazer primeiro não era derrotar monstros nem brandir sua sombrinha.
Provar.
— Agora devo mostrar a eles.
Certeza absoluta, sem espaço para objeções.
【…】
Então, as janelas de mensagem que surgiam em ritmo avassalador de repente pararam. E, após um momento…
Ding…!
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas pisca os olhos, perguntando se isso é verdade.】
【— Isso mesmo! Vamos trazer dezenas, quer dizer, centenas de essências! — diz ela, inflando o nariz rosado como se estivesse animada só de pensar em esmagar o orgulho dos outros.】
Ele parecia radiante. A janela de mensagem em movimento parecia até dançar. Enquanto engolia o sorriso ao olhar para aquela coisa invisível para os outros…
— Com licença, posso me sentar aqui…
Alguém se aproximou de Eunha. Era um homem de meia-idade em um terno elegante.
— Sim.
Eunha desviou os olhos da janela de mensagem e o encarou, acenando brevemente. Mas no instante em que seus olhos se encontraram, ela percebeu que ele parecia surpreso. Era como se tivesse visto um fantasma. A princípio, pensou que fosse por causa de suas roupas chamativas…
— Senhorita, quanto tempo. Você se lembra de mim?
O homem sentou-se ao lado dela com uma expressão alegre. Eunha ficou incerta no início, mas uma memória veio subitamente quando ela encarou o sorriso benevolente.
— Não esperava vê-lo aqui. Obrigada por aquele dia.
O Caçadores Estelares MAIS QUENTES que o Verão, especial de verão organizado pela Onhunt. Esse homem era o caçador de conceito que havia aparecido no mesmo programa especial. Ela quase não o reconheceu, já que hoje parecia um homem de meia-idade comum, diferente de quando estava vestido como palhaço no show.
— Foi você quem colocou o prêmio na minha bolsa naquele dia. Eu o segui para fora da emissora tarde demais, já tinha ido embora. Não havia como conseguir seus contatos mesmo perguntando por aí…
Ele ficara tão surpreso ao encontrar o envelope estranho em sua bolsa. Só de lembrar daquele momento, ficou tão desconcertado quanto antes.
Eunha sorriu levemente e falou ao homem, que não sabia o que dizer e apenas coçava a bochecha de forma desajeitada.
— A Minji gostou do novo casaco acolchoado?
— …Ah.
O Sr. Palhaço ficou petrificado por um instante e piscou devagar. Mas logo voltou a si, remexendo nos bolsos e tirando o celular.
— Ela pulou tanto de alegria que achei que fosse atravessar o teto.
Swip.
No celular que estendeu diante dos olhos dela, sua filha Minji posava com um casaco acolchoado branco como a neve.
— Ela ficou ótima nele.
Quando Eunha murmurou, olhando para a menina na tela, o Sr. Palhaço abriu um largo sorriso como se tivesse esperado por aquelas palavras.
— Não ficou? — O Sr. Palhaço guardou o celular e continuou a falar sobre a filha. — Nem me fale. Ela está fazendo o maior escândalo dizendo que torce para que o inverno chegue logo. Só na semana passada, tive que impedi-la de ir para a escola com ele. Quero dizer, quem é que usa um casaco acolchoado no fim de outubro? Não é mesmo? — O Sr. Palhaço fitou Eunha.
Ao contrário do suspiro, seu rosto brilhava radiante. Era um sorriso tão feliz que até Eunha o captou ao observá-lo.
Eles conversaram trivialidades até chegarem à Colônia dos Mortos, no Monte Bokgye.
E logo, o ônibus parou. No instante em que Eunha desceu, ela se deteve.
“Isto é…”
Uma montanha negra. Essa foi sua primeira impressão. Embora ainda fosse dia, parecia que o sol especificamente não brilhava ali. Além dos membros da Guilda Rosa, que já começavam diligentemente a montar barracas temporárias de tratamento, ela podia ver as nuvens cinzentas cobrindo os picos da montanha. Mesmo sendo novembro, o frio era incomparável ao inverno de Seul. O som leve do vento parecia gritos. Seu nariz ficou paralisado pelo cheiro estranho das árvores podres. Que se danasse o exame, Si-u, que tinha um olfato melhor que o de Eunha, jamais teria colocado os pés ali. Eunha franziu levemente a testa e pisou no chão, tampando o nariz com a mão.
Tap…
O solo sob seus pés tinha a cor de sangue. Esse também seria o efeito do portão, mas a terra vermelha, não, negra, deixava claro há quanto tempo aquele lugar estava abandonado.
— Uau, olhem ali. É um esqueleto.
Quando alguém gritou, todos os caçadores voltaram os olhos na mesma direção.
Treme, treme…
Um soldado esqueleto, empunhando uma espada velha, caminhava em direção a eles. Um esqueleto andante? Apesar da aparência assustadora, digna de um filme de terror…
— Esse cara, parece fraquíssimo.
Pelo tamanho do corpo, menor que o de um homem adulto, e pelos movimentos lentos, não parecia tão ameaçador. Quando ela conferiu o nível pela janela do sistema, era apenas nível cinco. Em outras palavras, não seria difícil nem mesmo para um caçador de Rank F enfrentá-lo, só de olhar os níveis. E quando ele balançou a espada no ar…
Clatter…
Embora o esqueleto não tivesse sido atacado, desmoronou. Diziam que ele ficava incapacitado ao sair de certa área, mas vê-lo com os próprios olhos deixava-a um tanto desanimada.
— O quê, não é como se fossem blocos.
— Ele morreu? Como assim? Por quê?
Os caçadores observando à distância caíram na risada diante de sua aparência ridícula.
Tap, tap.
Alguns até chutaram a pilha de ossos caída com os pés.
Apenas uma pessoa parecia séria em meio a todos.
— …
Era o Sr. Palhaço. Eunha lançou um olhar ao homem ao seu lado. Ele parecia petrificado. Não só era um caçador de conceito de Rank E, como também não tinha muita experiência em combate, então era natural que estivesse nervoso.
— Ah.
No instante em que seus olhos se encontraram, o Sr. Palhaço sorriu sem jeito, como se não estivesse nervoso. — Vai partir agora?
— Eu devo.
Ele hesitou, abrindo e fechando a boca diante da resposta curta de Eunha. Então, voltou a encará-la e, como se tivesse tomado uma decisão, disse: — Uhm, senhorita. Gostaria de formar um grupo…
Mas durou apenas um momento. O Sr. Palhaço se encolheu, congelou e, em seguida, balançou a cabeça com um sorriso.
— N-Nada.
Seus olhos, que examinavam o esqueleto, voltaram a se fixar em Eunha.
— Vamos, nós dois.
Um parapeito sob o sol. A cortina que inflava redonda e depois murchava novamente. O homem parado atrás dela gemeu baixinho.
— …Ah.
Vidente. Codinome Andrea.
Ele abriu os olhos fechados. Sob a luz intensa do sol, os olhos normalmente esmeralda iam ficando vermelhos, gradualmente, a partir das bordas da íris.
Abrindo os Olhos Sábios.
Seus olhos, que pareciam fixos na janela, na verdade miravam muito além dela. O Monte Bokgye. A Colônia dos Mortos. Pensamentos negros e sinistros, chamas negras, e…
— Alguém que perdeu o nome…
Andrea sussurrou como se estivesse enfeitiçado.
A gaiola de pássaro sobre a mesa. O pássaro branco dentro dela piou como se estivesse ansioso.
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