Capítulo 111
Assim que chegou ao Monte Bokgye, Eunha examinou os arredores. Graças às melhorias sistemáticas na administração e ao desenvolvimento das técnicas, diziam que os portões quase nunca eram invadidos no presente de 2031. Mas isso não era incomum nos tempos de Eunha.
— …
Eunha parou de andar e se agachou, varrendo o solo com a mão. Ele estava esfarelado, sem uma gota de água. A ponta de seus dedos se tingiu de vermelho-escuro, como se tivesse tocado tinta. Vendo o nível dessa contaminação, aquele lugar também devia estar negligenciado havia muito tempo. Seria Myrtle Berry? A membro da Guilda Rosa que guiava os candidatos também havia dito isso. Porém…
“Agora que estou na montanha, as condições são piores do que parecem vistas de fora”, pensou Eunha enquanto examinava seus dedos enegrecidos.
— Ahahaha…
Ela ouviu risadas ao longe. Provavelmente um grupo de caçadores reunido em algum lugar dali. Estavam tão tranquilos que poderiam ser confundidos com excursionistas num piquenique.
“Será que estou preocupada à toa?”
Apesar do alto nível de contaminação, os monstros da montanha não eram tão difíceis de enfrentar. Também não tinha encontrado nada estranho ainda. Não havia, até então, qualquer cheiro que pudesse presumir ser de sangue humano. Em outras palavras, ninguém estava ferido, pelo menos perto de Eunha.
Após se perder em pensamentos por um bom tempo, Eunha se levantou novamente. E então…
Flap…
Um objeto estranho pareceu passar de relance no canto de sua visão.
— …!
Eunha congelou, erguendo a palma reflexivamente naquela direção.
Ele desapareceu em um breve instante. Mas Eunha o viu. Asas enormes, verde-claras. Era definitivamente…
“…Uma mariposa-bruxa?”
Tem uma bruxa aqui? Eunha abaixou a mão que estava congelada e se lembrou dos dias no Centro de Treinamento.
— E-Eunnnnnha! Inseto! Um inseto!
Ijun, que controlava insetos como formigas com sua habilidade de feromônio, mas que os odiava mais do que qualquer um. Quando ficavam em acampamentos infestados de insetos desconhecidos, ele ficava pálido e até com lágrimas nos olhos. Por isso Eunha se levantava para pegar vários insetos com as mãos nuas e olhos semicerrados.
— Ugh… tomara que o verão acabe logo. Odeio insetos demais… — Ijun murmurava, desviando à força os olhos da carcaça morta de uma mariposa.
Eunha observou seriamente o modo como a bruxa, aquela enorme mariposa, desapareceu e mastigou a lembrança. Seu fôlego surgia como fumaça a cada expiração. Não sabia exatamente o quanto, mas era claro que a temperatura ali era muito mais baixa do que em Seul, a ponto de as rajadas ocasionais de vento fazerem suas orelhas arderem. Mesmo levando em conta que estavam em Cheorwon, Gangwon-do, ainda era estranhamente frio. Era estranho que aquelas mariposas voassem impunes nesse clima. Enquanto encarava a direção para onde a mariposa tinha desaparecido…
— Unnie, atrás de você.
Swoosh!
Chamas negras floresceram acima do ombro direito de Eunha. A chama voou para trás sem aviso. Um instante depois, houve um estrondo e uma explosão.
Eunha se virou devagar para ver os ossos do esqueleto desabado sem forças no chão de terra.
— …
Após lançar um olhar na direção por onde a mariposa sumira, ela dobrou os joelhos e pegou a esfera verde enterrada nos ossos.
Três horas depois…
【Um forte poder de dominação impregna o Nv. 5 Esqueleto.】
【O Poder de Ataque do Nv. 5 Esqueleto aumentou.】
【A Defesa do Nv. 5 Esqueleto aumentou.】
Swish! Swish! Swish!
Uma sombra negra saltava ágil entre os esqueletos em uma velocidade que um humano comum não conseguiria acompanhar com os olhos. Aconteceu em tão pouco tempo que pessoas normais nem perceberiam o que havia acontecido.
Tap.
Eunha parou de voar pelo ar e pousou no local. E então…
Crrash…
Os esqueletos que ainda estavam de pé caíram todos de uma vez. Todas as suas costelas haviam sido quebradas como se por um acordo. Eunha caminhou até eles e recolheu as essências no meio do monte de ossos.
“Esse é o quadrigentésimo.”
Já se passavam três horas desde que ela entrou na Colônia dos Mortos. Eunha havia conseguido reunir nada menos que quatrocentas essências. Não havia necessidade de usar suas chamas negras, a não ser em situações urgentes. Para ela, era simples o bastante apenas usar sua sombrinha.
Mas havia um problema inesperado.
【Seu inventário está cheio.】
Eunha piscou lentamente diante da janela do sistema à sua frente.
“Já está cheio?”
Ela poderia expandir seu inventário com moedas. Graças ao generoso apoio do gato, Eunha já o havia expandido até a capacidade máxima. Mas ainda assim não tinha espaço suficiente…
Embora já tivesse vendido boa parte dos itens avulsos, como pedaços de couro, no leilão, ainda devia ter bastante coisa guardada.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas está surpresa com seus espaços de inventário explodindo.】
【— Não é como se fosse trocar por comida; itens inúteis só ocupam espaço, então por que não joga fora no chão? — ela sugere.】
Eunha refletiu sobre a sugestão da gata por um momento. Não sabia como aqueles itens poderiam ser usados, como da última vez que conseguiu vendê-los no leilão, então não queria simplesmente descartá-los.
Seus olhos preocupados giraram para outra direção. No momento em que avistou a velha capa que um esqueleto vestia, os olhos de Eunha brilharam.
“É isso.”
Eunha desenterrou a capa enterrada entre os fragmentos de ossos e a sacudiu. Então, colocou todas as essências que estavam em seu inventário, junto das recém-coletadas, dentro dela como se fosse um embrulho.
“Perfeito.”
Eunha sorriu, satisfeita com o nó firme, e jogou o embrulho no ombro antes de seguir novamente.
Na metade do Monte Bokgye, em algum lugar da Colônia dos Mortos.
— Droga, por que eles são tão persistentes?! — um caçador praguejou, irritado.
Smack!
Ele golpeou com o punho cerrado. O crânio do esqueleto, que girou como um pião, fez um baque e caiu no chão.
Clunk, clunk…
Mas o corpo sem cabeça não parou de se mover.
Ainda era lento. Não representava ameaça. Mas com certeza era irritante.
Já haviam se passado três horas desde que subiram o Monte Bokgye. Até agora, tinham coletado setenta e duas essências.
Não era uma quantia pequena, mas dividida entre os quatro membros da equipe, não dava nem vinte por pessoa. Em outras palavras, era difícil para cada um conseguir dez essências por hora.
— Sai da frente! — um dos membros do grupo gritou. E ao mesmo tempo…
Smack…!
O esqueleto foi esmagado com um baque seco. Uma pequena esfera verde cintilou entre os ossos. Era a essência.
— Com essa são setenta e três?
— Ouvi dizer que um grupo que passou por aqui agora mesmo já juntou mais de cem… Não podemos continuar assim. Disseram que é avaliação relativa. Nesse ritmo, vamos todos reprovar no exame.
Um caçador que os apoiava por trás se aproximou, roendo as unhas de ansiedade.
— Eu preciso passar e participar dessa operação. Tenho que pagar meu cartão de crédito.
— Calma. Ainda temos sete horas. Vamos tentar mais fundo.
— Por que não descansamos um pouco antes? Como você disse, temos muito tempo, então dez minutos não farão mal… Fiquei balançando minha arma sem parar e meu ombro tá dolorido.
— Eu aguento mais um pouco.
— Eu também.
No fim, se dividiram em dois grupos de dois. Concordaram que, enquanto dois descansavam sob uma árvore próxima, os outros dois continuariam coletando essências.
— Ugh, meu ombro.
O homem encostado na árvore girou os ombros e gemeu. Sua expressão parecia exausta, mas ele não tinha ferimentos, já que não poderia ser machucado contra um esqueleto de nível cinco.
Os esqueletos ficavam incapacitados ao sair de certa área, então eles aproveitavam isso para primeiro atraí-los para fora da floresta e lidar com eles ali. Mas o problema era que, quando os esqueletos saíam da floresta, desabavam e suas essências desapareciam junto. Em outras palavras, tinham que matar os monstros dentro da floresta para garantir as essências.
Era um jogo demorado. A chave estava em quantas essências conseguiam reunir no tempo limitado. Nesse sentido, formar grupos era uma escolha sábia.
O problema era que ali estava frio demais…
— Eu ficaria mais tranquilo se tivéssemos ao menos cem por pessoa…
— Cem seriam suficientes? Você vai ter que conseguir pelo menos duzentas.
…E que haviam avançado menos do que pensavam.
— Não viu? Também há caçadores de Rank B entre os candidatos. O Clava de Ferro e o Bardo até formaram seu próprio grupo.
Um grupo de Rank B? Não tinha certeza, mas eles deviam estar recolhendo essências aos baldes em algum lugar daquela montanha.
“Ugh, eu entraria no grupo deles se pudesse.” O homem, com o rosto enterrado nos joelhos, suspirou fundo.
— Uhm… será que tem alguma vaga no grupo de vocês?
“Hã?” O homem ergueu a cabeça.
Um sujeito se aproximara deles, coçando a bochecha de forma constrangida. O membro da equipe examinou o homem diante dele da cabeça aos pés. Se tivesse habilidades, receberia qualquer um no grupo…
Mas esse cara, pelo visto, ainda não estava em grupo, parecia mais é que tinha sido rejeitado.
Era razoável desconfiar. Já tinham se passado três horas desde a entrada no Monte Bokgye. Tempo mais que suficiente para caçadores úteis se organizarem em times.
— Ele é um caçador de conceito. Chamado Sr. Palhaço, Rank E, acho? — como esperado, um colega sussurrou em seu ouvido.
O caçador que estudava o Sr. Palhaço fez um — Hmm — como se tivesse entendido, então semicerrou os olhos.
— Você tem essências?
— Aqui.
O Sr. Palhaço abriu o inventário como se já esperasse a pergunta. Esferas verdes, essências de esqueleto, brilhavam na palma aberta com um halo de luz.
— Pft.
O caçador riu, sem conseguir evitar. Apenas três. Ao ver a quantidade de essências que o Sr. Palhaço exibiu com orgulho, não conseguiu conter a risada. E por quê? Calculando, aquele sujeito só tinha coletado uma essência por hora.
— Sinto muito, mas entrar no nosso grupo é demais.
— Ei, amigo. Já estamos cheios aqui, procura outro lugar.
O Sr. Palhaço apressadamente estendeu a mão na direção dos caçadores, que já desviavam os olhos.
— Por favor. Eu preciso passar e participar dessa operação.
Ele parecia desesperado. Dava a impressão de que se ajoelharia se pedissem. Porém…
— Amigo, o mesmo vale para nós também.
O caçador falou sem desfazer a expressão firme no rosto. O Sr. Palhaço não teve escolha a não ser recolher a mão, suspensa no ar diante daquela atitude resoluta.
— …Ha.
O Sr. Palhaço parou, subindo sozinho pela trilha da montanha, tomado pela ansiedade de falhar no exame. Já havia sido rejeitado cinco vezes. Estava confuso. Se voltasse para casa daquele jeito, teria de começar a procurar emprego na internet no dia seguinte.
— …Poxa.
“Vamos procurar outros grupos.” Entre tantos candidatos, será que não havia ninguém disposto a aceitá-lo? Foi justamente quando criou ânimo e deu mais um passo…
Clink…
Ouviu um som arrepiante, como unhas num quadro-negro, vindo atrás de si. Ao virar bruscamente, viu um esqueleto segurando uma besta.
Havia dois tipos de esqueletos: os de ataque corpo a corpo e os de ataque à distância. Os de longa distância eram, obviamente, mais difíceis.
O monstro rangeu e apontou a besta para o Sr. Palhaço. Ele engoliu em seco sem perceber. Sabia que o monstro era lento, mas sua flecha não seria. Pelo menos, seria mais rápida que a Fanfarra do Sr. Palhaço.
Ele estremeceu ao ouvir o clique da besta. Atacar? Ou fugir? Pensou por um breve instante. Porém…
— Papai!
…Só havia uma resposta desde o começo.
Pewww…!
Com fumaça colorida, fogos de artifício explodiram na ponta dos dedos do Sr. Palhaço. E então…
Bang…!
O esqueleto…
— …?!
Explodiu…?
O Sr. Palhaço piscou, atônito.
“Eu… matei ele…? Com um único golpe…? Não, impossível.”
Quando atacou outros esqueletos com a mesma habilidade, nunca havia causado um golpe crítico de uma vez só.
Ou será que ele se auto-destruiu? Ou estava fingindo? Impossível um monstro sem inteligência fazer isso. Um farfalhar súbito, o som de passos na grama, chegou aos ouvidos do Sr. Palhaço em pânico.
— Ah, eu não sabia que já estava ocupado.
Era uma voz feminina. O Sr. Palhaço desviou os olhos do esqueleto carbonizado e lentamente encarou a origem da voz.
— Aqui.
Swip.
A essência do esqueleto foi entregue a ele. O Sr. Palhaço piscou, confuso, e levantou um pouco o olhar para encarar a dona da mão.
— S-Senhorita?
— …?
A Princesa da Chama Negra, Eunha, inclinou a cabeça com um enorme embrulho no ombro. O fardo que carregava era disforme e parecia prestes a explodir a qualquer momento.
— I-Isso é…
Pela abertura do embrulho, o Sr. Palhaço pôde ver a quantidade tremenda de esferas verdes.
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