Capítulo 116
— Você não sabe o que está acontecendo lá dentro?
Gwanghyeon Kim, um membro da Associação, olhou para Myrtle Berry, surpreso. Como integrante da Guilda Rosa e responsável pelo exame de qualificação do Monte Bokgye, ela abaixou a cabeça como se não tivesse nada a dizer.
— Estamos tentando entrar no Monte Bokgye de qualquer maneira possível, mas como pode ver… — Ela parou no meio da frase e lançou um olhar para a entrada da montanha.
Fumaça negra. Todos os seus sentidos diziam que ela nunca deveria tocá-la.
Myrtle Berry relatou a Gwanghyeon a situação até agora de maneira calma e organizada. Claro, não havia muito o que ela pudesse dizer, porque não havia muito que pudessem compreender do lado de fora.
— Fomos cortados dos membros da guilda que entraram com os examinados.
Além disso, as CCTVs posicionadas ao redor da montanha estavam todas mortas, como se algo invisível estivesse interferindo nelas. Por isso, só puderam chegar a esta conclusão.
— Ao meu julgamento, parece que… — comentou Myrtle Berry.
— Está se tornando uma masmorra — disse Gwanghyeon.
O presidente da Associação, Daeyun, que ouvia a conversa a certa distância, caminhou a passos pesados em direção a eles. Myrtle Berry se curvou profundamente para ele. Daeyun falou com a mulher que parecia uma pecadora.
— Nem mesmo o chefe de portão pode prever um fenômeno de conversão em masmorra. Isso não é culpa da Rosa, então levante a cabeça — disse, lançando um olhar amplo pela área.
Havia cerca de trinta caçadores que desistiram do exame no meio. Era altamente provável que o restante do pessoal ainda estivesse vagando pela montanha. Se eles não percebessem as condições de ruptura lá dentro e não interrompessem o fenômeno de conversão em masmorra, logo a masmorra estaria completa. Tudo o que podiam fazer do lado de fora era enviar uma equipe de busca no momento em que a masmorra fosse concluída e sua entrada aberta, para salvar as vítimas e os feridos o mais rápido possível.
“Mas…”
Havia algo que incomodava a mente de Daeyun.
“Por que tinha que ser hoje, justamente no dia do exame?”
Portões Desconhecidos que vinham aparecendo visivelmente com mais frequência, a profecia da AGI e o súbito fenômeno de conversão em masmorra. Seria apenas coincidência que todas essas coisas ruins se sobrepusessem, ou seria…
“Podia ser um sinal.”
Daeyun, que olhava o Monte Bokgye envolto em trevas com olhos pesados, voltou-se para Myrtle Berry novamente. — E a Doutora Planta?
— Está vindo para cá às pressas. Provavelmente chegará em cerca de uma hora…
Myrtle Berry não conseguiu terminar suas palavras.
— S-Senhor!
Zzzzzzz…
Pois faíscas vermelhas começaram de repente a voar por todo o Monte Bokgye.
Whooosh…!
Uma rajada de vento tão forte soprou que era difícil manter os olhos abertos. A floresta escurecida oscilava como ondas, e a fumaça espessa na entrada da montanha gradualmente se dissipava.
Será que tinha se transformado completamente em uma masmorra? Todos ali, incluindo Daeyun, olharam para a montanha com ansiedade nos olhos.
Foi então.
— A-Ali! É o Pistoleiro e a Brilho J!
— Uhul! — alguém gritou.
Todos os olhares se voltaram para eles.
Era verdade. Duas silhuetas cambaleantes saíam do lugar onde a fumaça se dissipara. Eram os caçadores de Rank B que participaram do exame, Pistoleiro e Brilho J. Com eles na frente, outros caçadores também saíam da floresta.
— A-Aqui! Por aqui!
Myrtle Berry se aproximou rapidamente deles e verificou suas condições. Diferente de Brilho J, que não parecia muito ferida, Pistoleiro, a quem ela estava apoiando, parecia sofrer com um ferimento nada pequeno.
— Você está bem? O que diabos aconteceu lá dentro?
— É que… Houve uma súbita notificação de conquista oculta, depois a conversão em masmorra… Espere, explico depois, por favor cuide dele primeiro.
— Ah, certo. Por aqui, por favor.
Myrtle Berry levou os feridos, incluindo Pistoleiro, para os barracões que haviam montado previamente. A entrada da montanha, que parecia um funeral, tornou-se caótica. Tirando alguns dos examinados que saíram da montanha, nenhum deles estava gravemente ferido.
— São todos? — Depois de ordenar os caçadores curandeiros diretamente da Guilda Rosa, Myrtle Berry remexeu a lista de participantes do exame e perguntou a Brilho J.
— Bem. Também foi caótico para mim. Acho que esses eram os caçadores que estavam no mesmo espaço que nós. Quanto aos outros, não tenho tanta certeza… Ah.
Brilho J parou de falar de repente e correu apressada para além de Myrtle Berry. Foi com tanta pressa que chegou a deixar sua varinha para trás, que praticamente era sua própria identidade.
— Chefe, você está aqui! Eu estava preocupada que tivesse ficado para trás!
…Chefe? Myrtle Berry rapidamente pegou a varinha de Brilho J e se virou com uma expressão confusa. Rose não havia designado nenhum chefe. Eles não eram companheiros de equipe, mas concorrentes de todos os caçadores reunidos ali, então não havia necessidade de um chefe. Ainda assim…
— Chefe, você se esforçou não só lutando, mas também descendo a montanha, então venha sentar-se no meu manto.
Brilho J sorriu radiante e fitou sua chefe, a Princesa da Chama Negra. Havia não apenas afeto, mas também respeito em seus olhos. Eunha sentia tudo isso enquanto descia a montanha, mas ainda não estava acostumada com aqueles olhos e desviou o olhar rapidamente.
— Não, está tudo bem.
— Por favor, não recuse. Ah, espere um segundo. Tem poeira aqui.
Independente da atitude desconfortável de Eunha, Brilho J demonstrava sua devoção, tirando a poeira das roupas dela e até lhe entregando um aquecedor de mãos que tinha preso por dentro da própria roupa.
— Chefe!
— Você está aqui! Aconteceu algo no caminho para baixo?
O mesmo fizeram os outros caçadores. Não apenas os que descansavam por perto, mas também os que estavam sendo tratados nos barracões, se aglomeraram ao redor para ficar ao lado de Eunha. Myrtle Berry observou a cena peculiar que se desenrolava diante de seus olhos e hesitou para abrir a boca.
— Ela é sua… chefe?
Então, Brilho J, que esfregava a palma da mão com um novo aquecedor, assentiu sem hesitar.
— É sim. Se não fosse por ela, teríamos ficado presos na masmorra. Foi graças a ela também que conseguimos deixar a montanha tão rápido. — Ela sorriu radiante e lançou um olhar para Eunha, a Princesa da Chama Negra. — Então, ela é a nossa chefe. Não é mesmo, pessoal? — Quando Brilho J perguntou em voz alta aos arredores…
— Uhuuul…!
Os caçadores ao redor gritaram como se já estivessem esperando por aquilo.
— …
Myrtle Berry piscou lentamente.
Em pouco tempo, a Princesa da Chama Negra, que tinha aquecedores já esquentados em uma mão e um chocolate quente na outra, um cobertor grosso sobre os ombros e baldes de água morna aos pés, entregava ao homem de meia-idade ao lado os objetos que recebia… Não, os prêmios que lhe eram dados.
Myrtle Berry lembrava-se distintamente da única Rank F entre os inúmeros candidatos, a Princesa da Chama Negra. Pelo que usava, chamava atenção no local do exame, e também por ter tanto o atributo das trevas quanto o de fogo, exatamente o que a Associação precisava. Além disso…
— Myrtle Berry, armazene os vídeos de CFTV1 da Princesa da Chama Negra separadamente.
A Doutora Planta parecia ter posto os olhos nela. E como sempre fazia, Myrtle Berry obedecia às ordens de sua mestra, não importando o motivo, mas havia em sua mente uma ponta de dúvida sobre o que tinha de tão especial naquela caçadora.
— Princesa! Princesa! Princesa!
Os caçadores a aplaudiam em ritmo, louvando-a. Era como se a tratassem como uma heroína que conduziu a guerra à vitória. Qualquer pessoa normal sentiria orgulho de si mesma, mas os olhos negros profundos de Eunha estavam calmos, sem um tremor sequer.
“…O que será que aconteceu na Colônia dos Mortos?”
A Princesa da Chama Negra deu um passo suave em direção a Myrtle Berry, que parecia desconcertada. — Com licença.
— S-Sim? — Quando Myrtle Berry ergueu o olhar apressada, um enorme embrulho, que parecia prestes a explodir a qualquer momento, foi enfiado diante dela.
— Onde devo entregar as essências que coletei?
Tum.
Uma esfera verde caiu pela abertura do embrulho. Os olhos de Myrtle Berry iam se tingindo de choque conforme verificava o conteúdo diante de si. Eram algumas centenas de essências, mesmo a olho nu. Uma quantidade tão absurda que parecia que Eunha havia praticamente aniquilado todos os esqueletos da montanha.
Enquanto isso, Gwanghyeon, que os observava de longe, sussurrou em voz baixa: — Senhor…
— Hmm. — Daeyun assentiu brevemente.
A Princesa da Chama Negra. Seus olhos estavam fixos unicamente em Eunha.
Ijun parou de repente.
— Princesa! Princesa! Princesa!
Ele ouviu os gritos dos caçadores à distância. Como assim? Instintivamente, Ijun se escondeu atrás de uma árvore sem ter sequer tempo de ajeitar o cabelo bagunçado.
Um vento frio soprou. Misturava-se densamente com os aplausos e vivas por uma única pessoa. Ijun colocou a mão direita sobre o peito, que subia e descia de forma descontrolada.
Ba-dum, ba-dum, ba-dum…
Seu coração ainda pulsava forte. Com a mão no peito, seus olhos se moviam freneticamente como se procurassem algo. E logo pararam, fixos em um ponto. Uma mulher de cabelos negros como breu até a cintura.
— …
Ijun finalmente relaxou um pouco e se apoiou na árvore.
— Eu vi uma nuvem negra cobrindo o Monte Bokgye. Ela estava em pé sob as nuvens negras.
Quando ouvira aquilo de Andrea, ele se levantou num salto e correu para fora. Não tinha memórias do que aconteceu depois disso. Era como se tinta branca tivesse se espalhado em sua mente.
Normalmente, ele não faria algo assim. Não havia necessidade de passar pelo incômodo de vir pessoalmente. Poderia ter pedido para Catherine entrar em contato com a Guilda Rosa. Ou poderia ter fingido que não sabia, que não ouvira nada, e fechado os ouvidos como se não estivesse interessado.
Mas ele não conseguiu.
Pensando bem, sempre fora assim. Desde muito tempo atrás, sempre fora assim quando se tratava dela.
— Uoooo! Chefe! — alguém gritou. Ijun levantou um pouco a cabeça da árvore em que se apoiava e olhou naquela direção.
— O que estão fazendo? É uma cerimônia, uma cerimônia!
— Chefe, venha por aqui!
Os caçadores estavam se juntando em um ponto e puxando alguém.
— Não, está tudo bem. — Seu tom era firme e inabalável, mas Ijun sabia que, na verdade, havia constrangimento e confusão em sua voz. Ele não podia não saber.
— Ah, venha logo, chefe.
— Isso mesmo, chefe! Você é nossa salvadora! Isso, venha por aqui!
— Não, eu realmente…
Flash!
Os caçadores levantaram Eunha. Em seguida, começaram a jogá-la repetidamente para o alto e a aparar.
— Viva a Princesa da Chama Negra!
Eunha ficou imóvel, aceitando a cerimônia com o corpo inteiro. Mas ainda devia se sentir desconfortável, pois logo ficou séria e se desvencilhou deles.
Ela sempre fora assim. Não hesitava em fazer coisas que chamavam atenção, mas se sentia desconfortável quando as pessoas a olhavam. No dia em que fez o juramento como representante dos aprendizes, no dia em que se formaram no Centro de Treinamento, no dia em que um jovem pegou suas duas mãos e chorou de gratidão por ela ter salvo seus pais, Eunha sempre tinha aquela expressão.
— Chefe? Chefe! Onde está indo?
— …Ao banheiro.
— Não é por aí!
Não era tão longe. Mas também não tão perto, onde Ijun a observava sem parar. Não conseguia desviar os olhos dela. Cercada por todas aquelas pessoas. Nem um pouco.
Swish…
Outra rajada de vento. O vento, misturado a gritos e risadas, soprou forte contra o cabelo, as bochechas e o peito de Ijun. E quando o vento cessou…
— Maestro?
— …!
Ijun, que estava fascinado, virou-se subitamente ao ouvir a voz repentina.
— Aaah! — Gwanghyeon, o dono da voz, deu um pulo sem perceber. Seu corpo enrijeceu num instante. Definitivamente não foi um engano. Por um breve momento, parecia ter sido contido por algo invisível.
— …Foi você? — murmurou Ijun em voz baixa.
Swoosh.
A aura carmesim que floresceu agressivamente ao seu redor se dispersou no ar como se nunca tivesse existido.
Gwanghyeon baixou os ombros tensos. A sensação de restrição que envolvia todo o seu corpo desapareceu por completo.
— O-O que o traz a um lugar como este? Não ouvi que o Maestro estava visitando a Colônia dos Mortos…
— Vim apenas verificar algo.
— Verificar? — Gwanghyeon piscou e então disse — Ah — um instante atrasado, acenando com a cabeça. O Maestro também devia ter ouvido sobre o fenômeno de conversão em masmorra no Monte Bokgye e veio até aqui. Boa hora. — O presidente da Associação também está aqui, então venha comigo. Poderá ouvir os detalhes diretamente dos participantes do exame.
— Não. Tenho que voltar agora.
— O quê? — No momento em que Gwanghyeon, que já se virava, olhou de relance para Ijun…
— Você não viu nada hoje.
Swoosh.
Um perfume tão intenso de feromônio que deixava a mente turva se aproximou dele.
— Certo?
Quando seus olhos se encontraram, os olhos cinzentos de Ijun se curvaram de forma derretida. A mão em uma luva de couro preta estava logo ali, a um sopro de distância.
As pupilas de Gwanghyeon se dilataram e seus olhos límpidos se apagaram. E então…
— …H-Hã?
Quando voltou a si, Gwanghyeon estava sozinho. Olhou ao redor com um ar vazio. Parecia que estava conversando com alguém até agora… Foi só impressão?
— Ah, céus, acabei esquecendo. Eu ia buscar uns arquivos no carro. — Sua mente andava vagando muito ultimamente. A menos que estivesse completamente possuído por algo, devia ser hora de se aposentar. — Ugh, a vida é…
Gwanghyeon suspirou fundo e deixou o lugar coçando a nuca.
- Circuito Fechado de Televisão, as câmeras de segurança locais.[↩]

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