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    No subsolo do Hospital S de Seul.

    Como executivo da Guilda Lobo e braço direito inquestionável de Gwihun, Serra Negra Hagyun Lee fitava através da máscara grossa o jovem à sua frente: o pequeno líder da Lobo, o Lobo Branco, Si-u Shin.

    — Dizem que ele não tem muito tempo de vida.

    Ao contrário de Hagyun, que abriu a boca com peso, Si-u respondeu de forma leve e monótona. — É mesmo?

    Ainda tinha um fone preso em uma orelha e nem sequer olhava em sua direção. Hagyun falou de novo. — Que ele não vai durar mais de três meses.

    — …

    Dessa vez, não houve resposta. Si-u apoiou o queixo na mão e ficou encarando o nada sem dizer uma única palavra. O som baixo da música escapando pelos fones caminhava sobre o ar imóvel. Seu rosto parecia indiferente demais para pertencer a um filho diante da morte do pai.

    Não era como se Hagyun não esperasse que Si-u reagisse assim. Na verdade, era até um alívio ele não ter dito ‘E daí?’ e se levantado da cadeira.

    “Não, ao contrário…”

    Hagyun o encarou fixamente por trás da máscara. Era a primeira vez que lembrava de Si-u responder ao seu chamado de imediato. Si-u sempre o ignorava tanto que, se Hagyun o chamasse dez vezes, talvez o visse uma única vez, e ainda assim, hoje aparecera de imediato, por algum motivo. Talvez tivesse mudado de ideia. Hagyun precisava se agarrar a essa chance mínima.

    — Jovem mestre, muitos membros estão confusos.

    Só neste ano, duzentos membros da guilda entre sede e filiais locais deixaram a Lobo. Os executivos ainda mantinham suas posições, mas era óbvio que estavam ansiosos por dentro. Alguns sondavam cautelosos o momento certo para se transferirem, e outros discutiam que deveriam eleger um novo mestre entre os executivos.

    Dentro da Lobo, que se mantinha firmemente no topo da indústria de caçadores da Coreia, uma divisão silenciosa já começara.

    Era natural que um grupo sem cabeça passasse por guerra ou se fragmentasse. Até abelhas operárias, simples insetos, buscavam novas rainhas quando perdiam a sua. Se falhassem, a colmeia ficaria vazia. Em outras palavras, era apenas questão de tempo até que o Lobo que reinava sobre a indústria de caçadores coreana caísse. Havia apenas uma maneira de impedir.

    — É hora de você se erguer.

    Colocar alguém que todos seriam obrigados a reconhecer no trono.

    Swish.

    Si-u mantivera silêncio até se recostar na cadeira. Então perguntou suavemente: — A Lobo é tão importante assim para você?

    Hagyun se perdeu por um instante diante da pergunta inesperada. Si-u abriu a boca de novo, a voz monótona.

    — Ou é apenas o Sol da Meia-Noite que importa?

    — … — Hagyun não respondeu de imediato.

    Si-u fixou os olhos nele, que mantinha a boca cerrada, e apoiou o queixo no braço da poltrona. — Há algumas décadas, meu pai o tirou dos escombros de um portão e o criou. Você pretende retribuir esse favor?

    — …Acredito que devo minha vida ao Mestre. Mas a Lobo é um pouco diferente. — Hagyun suspirou baixo e ergueu a cabeça para encarar Si-u de frente. — A Lobo é tudo para mim.

    Tique, taque. Tique, taque…

    Depois que o ponteiro dos segundos deu algumas voltas, Si-u assentiu brevemente.

    — Entendi.

    Gostando ou não da resposta, mostrou mais uma reação apática. Era impossível ler sua mente no rosto inexpressivo. Mas Si-u estava, na verdade, bastante satisfeito.

    “A Lobo é tudo na vida dele.”

    “…Talvez ele seja mais útil do que eu imaginava”, Si-u percebeu ao encará-lo. Vontade forte se tornava tenacidade, e tenacidade logo virava obsessão. Essa fora a única lição de seu pai. Se Si-u desmantelasse a Lobo ou mudasse tudo nela após a morte de Gwihun, e se Hagyun, ex-sub-líder, o enfrentasse, teria grande influência. Se Si-u usasse bem essa devoção de Hagyun pela Lobo, talvez ele fosse uma boa carta no futuro.

    “Devo testá-lo?”

    Si-u ergueu a cabeça do braço da cadeira e analisou Hagyun.

    — Você ouviu as notícias?

    — Notícias?

    — O portão da costa sul.

    No instante em que seus olhares se cruzaram, Si-u sorriu de leve.

    — Eu decidi participar.

    — …

    Hagyun fechou a boca. Ele decidiu participar? Quem? O jovem mestre? Justamente ele, que era extremamente relutante em atividades de caçador, que adiara o tutorial várias vezes e quase fora obrigado a fazê-lo neste ano… Ele decidiu se envolver numa grande operação sugerida pela Associação por conta própria…?

    — Por conta própria…?

    — Não. — Si-u ergueu os olhos oblíquos. — Já escolhi os participantes da Lobo. Uns duzentos.

    — …Como? — Inesperadamente, uma voz boba saiu da boca de Hagyun. Ele reuniu duzentos candidatos sem que ele soubesse? Não fazia sentido.

    Enquanto Gwihun estava no leito, enfermo, Hagyun atuava como substituto do mestre. Não havia como não saber do que se passava na Lobo. A menos que aqueles duzentos tivessem, de propósito, escondido dele e ficado de boca fechada…

    — …

    Naquele instante, a boca entreaberta de Hagyun se fechou com força.

    Os duzentos membros que saíram da Guilda Lobo este ano. Lembrou da lista espessa.

    “…Entendi. Então foi isso.”

    Ele fitou o jovem Lobo à sua frente com novos olhos. Si-u, recostado preguiçosamente, o analisava de frente com um leve sorriso nos lábios.

    — Há uma reunião amanhã sobre a operação. Quero que venha comigo até a Associação.

    — …

    — …

    O pomo de Adão de Hagyun subiu e desceu devagar no silêncio pesado.

    Hagyun Lee era o cão leal de Gwihun Shin. Não havia como Si-u não saber. Mas ainda assim disse que decidiu participar no portão da costa sul, que tinha duzentos homens para isso, e o convidou para a reunião na Associação no dia seguinte.

    O motivo de estender de bom grado a mão a alguém em quem não podia confiar. Pensando bem, a resposta era simples.

    “Ele está me perguntando…”

    De que lado vou ficar. Se vou proteger o futuro da Lobo, ou o velho mestre doente.

    “…para escolher aqui.”

    — O que vai fazer?

    Impaciente, Si-u abriu a boca de novo. Hagyun ergueu lentamente a cabeça e encarou o jovem à sua frente, o jovem Lobo. Cabelos negros caíam oblíquos sobre o rosto inclinado, e os olhos frios e azuis por baixo o perfuravam. Hagyun já vira olhos parecidos por muito tempo.

    — Hagyun. — O primeiro Rank S e caçador mais forte, o Sol da Meia-Noite Gwihun Shin, agora velho e enfermo, mas um dia como o céu para ele. — Na vida, sempre chega o momento da escolha. Então, priorize a Lobo, não importa quais sejam as condições. A Lobo tem que estar no fim de todas as suas escolhas. Entendeu?

    O único mestre que Hagyun já tivera.

    — Eu…

    Por fim, Hagyun abriu os lábios lentamente.

    — Tenha em mente que esse é o único modo de me retribuir.


    No dia seguinte. Associação de Jurisdição dos Caçadores Coreanos.

    — Senhor, acho que todos já chegaram.

    Gwanghyeon bateu algumas vezes na porta do escritório do presidente. Mas nenhuma resposta veio.

    — Senhor?

    Bateu mais algumas vezes, mas ainda assim não houve resposta. Não era incomum, então Gwanghyeon disse: — Com licença — e abriu a porta. E lá estava Daeyun, sentado no sofá enquanto encarava o enorme monitor.

    — Hm. Senhor?

    — Ah, você chegou.

    Daeyun finalmente ergueu os olhos para Gwanghyeon quando ele pigarreou bem ao lado.

    O que será que ele assistia tão atentamente? Gwanghyeon lançou um olhar para o monitor. O que estava na tela era…

    “A Princesa da Chama Negra?”

    Era a Princesa da Chama Negra, balançando sua sombrinha em meio à floresta densa. Parecia ser um vídeo gravado, baixado de uma câmera de CFTV da Colônia dos Mortos.

    Thwack…!

    No momento em que a Princesa da Chama Negra girava sua sombrinha negra com força, ouviu-se um som seco e o esqueleto se despedaçou. A maioria deles era literalmente reduzida a pó de osso com um único golpe.

    Normalmente, caçadores de Rank E não tinham dificuldade em lidar com monstros de nível cinco. Mas os esqueletos da Colônia dos Mortos eram difíceis de eliminar, pois se regeneravam indefinidamente a menos que fosse usada uma força destrutiva considerável, o que significava que não eram inimigos que poderiam ser destruídos simplesmente com o balanço de uma sombrinha rendada.

    Wham! Flash! Whack!

    Mas, como se ignorasse esse senso comum, a Princesa da Chama Negra no monitor exterminava suave e impiedosamente dezenas, centenas de esqueletos com uma única sombrinha, sem esforço algum.

    Gwanghyeon, que observava a tela como se estivesse possuído, voltou a si de repente.

    — Senhor, todos já estão aqui. Devemos descer agora.

    — Hmm. Já está na hora.

    Beep.

    Daeyun apertou um botão no controle remoto para desligar o monitor, mas parou ao se levantar. Isso por causa da pilha montanhosa de documentos sobre a mesa. Eram relatórios recentes do Escritório de Administração do Portão da Costa Sul e relatórios sobre o fenômeno de conversão em masmorra da Colônia dos Mortos. Daeyun fitou a mesa com olhos pesados e logo deixou o escritório.

    Pouco depois, chegaram a uma sala de conferências especial no último andar do prédio anexo. Daeyun ergueu a cabeça, sentado à ponta de uma longa mesa, e percorreu com os olhos cada um dos rostos presentes.

    Doutora Planta, Rose Geum, líder da Rosa e a melhor caçadora de cura do país.

    O Grande Sábio, Igual ao Céu, Yuhwan, líder da Imortal e magnata dos afiliados de fortalecimento físico.

    Junhwan Bae, sub-líder da Legião, no lugar do Trapaceiro, Minju Song.

    E…

    Hagyun Lee, sub-líder da Lobo.

    “Não esperava que ele viesse.”

    Yuhwan cruzou os braços grossos e examinou Hagyun. Este podia sentir o olhar em chamas, mas não se moveu, apenas encarou à frente.

    Não havia como não perceber aquele olhar incandescente. Em outras palavras, Hagyun o ignorava.

    Crack.

    Uma veia saltou na testa de Yuhwan. Era por isso que odiava a Lobo. Não gostava de absolutamente nada neles.

    “Será que a Lobo é a unidade secreta que o presidente da Associação não mencionou? Por que não nos contou antes?”

    Os olhos de Yuhwan rolaram na direção de Daeyun. O ar se tornou pesado.

    — Ei, presidente. Eu não soube de nada sobre a Lobo vir hoje… — Yuhwan parou de rosnar e fechou a boca. Rose, ao lado, pousara a mão levemente sobre a dele.

    — Yuhwan.

    — …Hmm.

    Foi o suficiente para amolecer a expressão de Yuhwan. Uma mudança rápida, mas só possível porque era Rose. As orelhas dele ficaram escarlates enquanto pigarreava e desviava o rosto. Ao menos, a chance de uma briga diminuía.

    Não era a atmosfera mais harmoniosa, mas este era o encontro dos melhores caçadores da Coreia. Os reunidos eram aqueles que representariam cada unidade na operação do portão da costa sul, os capitães.

    Após conferir cada rosto em ordem, Daeyun lançou um olhar para Gwanghyeon, perguntando apenas com os olhos: “E o Trapaceiro e a Ladra Misteriosa?”

    Então, Gwanghyeon balançou a cabeça com um ar constrangido. De fato, estavam ausentes.

    “Bom, paciência.”

    A ausência não era pequena, mas aquilo já bastava. Sentia-se mais seguro. Além disso, ainda tinha uma carta escondida na manga.

    — Em nome da Associação e do governo coreano, agradeço a todos por participarem deste evento hoje. Primeiro, antes de prosseguirmos com a reunião em si, há alguém que gostaria de apresentar a vocês — disse Daeyun, abrindo a boca lentamente diante das portas fechadas da sala de conferência. — Entre.

    Click…

    A porta se abriu devagar. O som nítido de saltos ecoou pelo chão.

    — Esta é a Princesa da Chama Negra, e ela será a capitã da unidade de apoio.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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